Jogos organizados pela Federação Paranaense de Desportos para Deficientes Visuais (FPDV) estão acontecendo no Ginásio Fortunato Colaço Vaz, no Rio Bonito/Paulo Sava

Irati está sediando neste fim de semana a Copa Paraná de Goalball. O evento, que começou na sexta-feira, 18, e vai até domingo, 20, está sendo realizado no Ginásio Fortunato Colaço Vaz, no Rio Bonito. A organização está a cargo da Federação Paranaense de Desportos para Deficientes Visuais (FPDV).
Participam da competição equipes de Ponta Grossa, Guarapuava, Londrina, Cascavel, Curitiba, Francisco Beltrão e Foz do Iguaçu. Todos os atletas estão alojados na Escola Municipal João Paulo II (CAIC), na Vila São João.
O professor Márcio Rafael, técnico da equipe de Londrina, ressalta que o Brasil é referência mundial na modalidade, tendo a equipe masculina como tricampeã mundial e campeã paraolímpica. “Temos os melhores atletas do mundo praticando Goalball no Brasil, e isto é muito legal”, frisou,
A modalidade conta com as categorias de baixa visão e cego total. Cada partida tem 2 tempos de 12 minutos cada. A partida pode acabar antes caso uma das equipes faça 10 gols. Se terminar com empate, há um acréscimo de 2 minutos para a definição do vencedor.
No Goalball, todos os atletas utilizam suas percepções táteis e auditivas durante as disputas. Márcio detalhou algumas características da modalidade. “Como são atletas cegos ou de baixa visão, todos utilizam óculos para ficarem em condições iguais, sem ver. A bola tem um sino, a quadra mede 18×9 m² (tamanho de uma quadra de vôlei), onde três atletas de cada time jogam a bola no chão para que façam o gol. Então, a equipe que fizer mais gols ganha o jogo”, comentou.
Fita adesiva e barbante são colocados nas linhas da quadra e nas traves para que o atleta possa se guiar de forma tátil. Além disso, pesos são colocados no fundo dos gols para evitar que o atleta os movimente na hora da partida. A bola contém um sino, o que possibilita que os jogadores saibam onde ela está. Para que os atletas possam se concentrar e ouvir em que direção a bola está indo, é preciso que todas as pessoas que estão na quadra ou acompanhando a partida fiquem em silêncio.

Quer receber notícias pelo WhatsApp?
Histórico – O Goalball chegou ao Brasil em 1986. Os professores Mário Sérgio Fonte e James Jeans, trouxeram a modalidade para o país. Joaquim Teixeira Batista, de 67 anos, morador de Sarandi, no norte do Paraná, está atuando pela equipe de Francisco Beltrão. Ele é um dos pioneiros da modalidade no estado e já foi campeão brasileiro por 3 vezes. O atleta contou um pouco da sua história à nossa reportagem.
“Antes de vir a bola, praticávamos o Goalball com uma bola de futebol de campo que tinha tampinhas de garrafa amarradas em um arame por fora. Foi uma pendura danada porque não tinha a bola, que chegou em 1986. Em 1987, veio o 1º campeonato em Curitiba e tive a felicidade de ser campeão. Eu fui tricampeão consecutivo e invicto dessa danada (em 1994, 1995 e 1996). Tive a felicidade de vestir a camisa da Seleção por 3 vezes”, frisou.
O Brasil também é campeão paraolímpico da modalidade. Por isso, Joaquim diz estar satisfeito com a evolução do esporte no Brasil. Apesar da idade, o atleta continua disputando campeonatos. “Continuo brincando ainda. Você sabe que a idade judia um pouco, mas eu faço uma peneira. Agora, se disser que, com 67 anos, joga o que jogava quando tinha 30 ou 40 anos, o cara está mentindo, pois não tem como. Eu brinco com a molecada e amo muito o que faço, o Goalball é minha paixão”, pontuou.
O atleta também atua ensinando e treinando jovens que têm interesse em conhecer a modalidade. “Estou ensinando a gurizada de Francisco Beltrão, mas o que mais me deixa alegre é trocar uma ideia com a rapaziada, mostrando que o esporte te dá boa saúde e evita a entrada na droga, na bebida alcoólica, nos vícios, pois isso é o que estraga a saúde. Se você não tiver uma vida bem regrada, não vai aguentar esse pulo. Tem que ter vários caminhos para trilhar e cuidar da saúde. O mais importante é gostar do que faz”, afirmou.
Joaquim também obteve conquistas internacionais antes mesmo do Goalball, quando integrou a seleção brasileira de atletismo. Ele iniciou na prática esportiva com 28 anos e já conquistou 236 medalhas.
“Abrimos as portas, e através do campeonato internacional, tenho este orgulho. Hoje eu tenho em casa 236 medalhas em um quadro que eu guardo com muito orgulho. Meus netinhos chegam e eu digo que podem pôr a mão, mas não tirem daí que isto é meu orgulho. É maravilhoso e gratificante e a prova disto é que eu estou aqui, o esporte é minha razão de viver”, ressaltou.
Fundação da Federação – O atleta foi um dos fundadores da FPDV no Paraná. Ele conta que a Federação foi criada com muita dificuldade, especialmente nas questões financeira e de organização. Na época, a Federação teve que organizar um campeonato para mostrar a real necessidade de sua fundação, o que acabou gerando despesas.
“Isto tudo gera despesa para pagar estatuto e aquelas coisas todas. Eu tenho que agradecer a Irati por nos acolher, porque não está fácil. Tem dias em que você vai fazer um projeto para pedir recursos ao governo, que promete que vem em um ano, mas acontece só dois anos e meio depois. Estamos fomentando com muita dificuldade, mas vai crescer, pois hoje, na região sul, Londrina é a nata do Goalball, então não tem por que o Paraná não crescer, já que a elite está aqui. É difícil sim, mas impossível jamais, pois aqui só tem cara que batalha e que tem vontade de vencer, tornando cada vez mais forte o nosso Paraná no Goalball”, comentou.

Pedro Abel, atleta da classe B1 (perda total de visão), de Foz do Iguaçu, já atua há muitos anos na modalidade e contou um pouco sobre sua experiência. “Eu já milito na área do Goalball há muitos anos e, para mim, já não é novidade. Eu entrei na década de 80 e hoje apenas estou colaborando, até pelo tempo e pela idade, estou somando com os meninos, mas faz muitos anos que estou colaborando com os meninos”, frisou.
Manoel Alfredo Schindler, estudante de Educação Física, está auxiliando a equipe de Foz do Iguaçu no evento. Ele contou como é a rotina de treinamento dos jogadores. “Eles treinam todas as quartas e sextas-feiras no IFPR das 13h30min às 15 horas. Temos equipe masculina e feminina e participamos de todos os campeonatos, é bem bacana”, pontuou.
Para Manoel, a prática do esporte é importante para o desenvolvimento dos atletas, para se adaptarem e fazerem mais coisas, é um esporte bem bacana. Conseguimos ver a força que eles têm. Eles não têm preguiça: vão, treinam e jogam, é um esporte lindo”, enalteceu.
Márcio diz que, com a realização da Copa Paraná, a federação visa fomentar o esporte no estado. Ele deu mais detalhes sobre a programação do fim de semana. “Hoje, acontece a parte classificatória e amanhã, domingo, as finais. Esperamos que o pessoal venha assistir e conhecer o esporte, ver atletas que se dedicam, treinam e buscam a excelência no esporte. Estão todos convidados e espero que o pessoal venha assistir os jogos e conhecer um pouco mais sobre o Goalball, um esporte apaixonante”, comentou.
O secretário de Esportes de Irati, André Demczuk, o Dedé, destacou que a ideia de trazer a Copa Paraná de Goalball tem o objetivo de mostrar que os deficientes visuais também podem praticar esportes. Ele informou que está pleiteando junto ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) a implantação de um Centro de Formação Paralímpico em Irati. Neste Centro, uma das modalidades seria o Goalball.
“Aproveitamos a oportunidade que surgiu o convite para que Irati sediasse este evento. Ficamos muito felizes por ser uma atividade que queremos trazer e proporcionar aos deficientes visuais da nossa cidade. Estamos felizes por tê-los aqui e podermos entender um pouquinho melhor e aprender sobre a modalidade. Ajudamos na arbitragem, auxiliando eles, o que faz com que a gente aprenda também. Fica o convite para quem possa vir acompanhar as finais, prestigiar, entender e trazer as pessoas que queiram aprender um pouquinho sobre esta modalidade diferente. Se Deus quiser, até o próximo ano poderemos formar uma equipe nossa para disputar esta Copa Paraná”, finalizou.






