Irati já registrou 155 casos de dengue

São 103 casos autóctones contraídos no município e 52 importados. Todos os bairros registram pessoas…

09 de maio de 2024 às 22h20m

São 103 casos autóctones contraídos no município e 52 importados. Todos os bairros registram pessoas diagnosticadas com dengue/Texto de Karin Franco, com entrevista realizada por Rodrigo Zub e Juarez Oliveira

Irati já registrou 155 casos de dengue. Foto: Prefeitura de Irati

O município de Irati registrou um aumento de casos de dengue nos últimos dias. Até hoje (quinta-feira, dia 9), 155 casos haviam sido confirmados. A maioria (103) são de pessoas que foram contaminadas dentro do município. Outros 52 casos são importados.

Todos os bairros de Irati registram pessoas diagnosticadas com dengue. Foram registrados casos em Engenheiro Gutierrez (1), Conjunto Novo Irati (1), Lagoa/São Miguel (1), Iarema (3), Alto da Glória (5), Vila São Pedro (2), Vila Nossa Senhora da Luz (1), Jardim Planalto (6), São Francisco I (12), Jardim Kennedy (2), Choma (2), Canisianas (10), Colina Nossa Senhora das Graças (4), Vila São João (9), Vila São João/Santa Mônica (1), Joaquim Zarpellon (5), Rio Bonito I (2), Parque Aquático (2), Jardim Aeroporto (1), São Francisco III (2), Barra do Gavião (1), Arroio Grande (3), Eduardo Laars (5), Centro (3), Cruzeiro/Lagoa (7), Jardim Virgínia (1), Alto da Lagoa (1), Fillus (1), Pinho de Baixo (2), Faxinal dos Neves (1), Vila Matilde (2), CTG (1), Bogucheski (2), Rio Bonito II (2) e Ouro Verde (1).

A transmissão da dengue ocorre por meio do mosquito Aedes Aegypt. Em entrevista à Najuá, o enfermeiro Agostinho Basso, explicou como ocorre a transmissão. “O mosquito sempre existiu aqui em Irati. O que nós não tínhamos era alguém doente da dengue para começar o ciclo. A pessoa pode dizer mesmo: ‘Ah, mas todo ano eles falam, todo ano acontece a mesma coisa e sempre é do mesmo jeito’. Só que este ano houve algo extremamente diferente porque nós tivemos os primeiros casos, que são importados. Ou seja, viajaram, pegaram em outra cidade, vieram para Irati. O que acontece para começar o ciclo? Tem que se encontrar um mosquito Aedes Aegypti com alguém doente. Aquele mosquito pica essa pessoa e todos os demais que ele picar, já está transmitindo. Começou o ciclo da transmissão da dengue”, contou Agostinho.

Uma das formas de se proteger é o uso de repelente, para evitar a picada do mosquito. O enfermeiro destaca que a contaminação pode acontecer dentro de casa. “Esses primeiros casos importados vieram para Irati, encontraram o mosquito e o mosquito encontrou essa pessoa. Começou o ciclo da doença e começamos ter os casos autóctones, que é exatamente quando a pessoa não viajou, não saiu de Irati, ficou somente aqui. Alguns, inclusive, somente em casa e na casa aconteceu a transmissão”, disse.

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Desde fevereiro, o município registra casos de dengue em Irati. De acordo com a secretária de Saúde, Ismary Llañes, apesar do aumento de casos, o número está estável. “Nós estamos conseguindo manter estável a situação, mas não podemos baixar a guarda. Nós temos que tomar medidas. As principais medidas que nós temos que tomar é dentro da nossa própria casa”, solicita a secretária.

A agente de dengue, Solange Aparecida de Quadros, explica que a maior parte dos focos de dengue são encontrados nos pátios das residências. “Infelizmente, nós, população, não estamos cuidando direito do nosso ambiente, propiciando muitos criadores. Principalmente, pessoas que juntam a água da chuva para molhar as plantas, para lavar calçada. Pode fazer isso, mas tem que ter o cuidado. Elas estão descuidando porque estamos achando muita larva nesses recipientes. Infelizmente, em algumas ocasiões, nós achamos até na água dos animais, do cachorro, da galinha”, conta.

Os terrenos baldios são espaços onde o mosquito pode se criar. Contudo, a agente conta que não são encontrados muitos focos nesses locais. “Nos terrenos baldios, estamos encontrando bastante lixo e entulho. Mas a quantidade de focos positivos nos terrenos baldios é mínima porque o mosquito não se interessa em ficar no terreno baldio. Ele precisa ter um ambiente onde ele encontra o alimento, que é o nosso sangue. Ele vai realmente nas residências, onde é o local que mais temos encontrados criadouros”, disse Solange.

Uma das maneiras de evitar o aumento de focos de dengue é não acumular água parada no quintal das residências. “A informação é sempre a mesma: evitar qualquer coisa que possa acumular água parada. Evitar um matagal muito alto. Nós vamos sempre repetir isso: aquele pedaço de telha que está lá e todo mundo pensa que é inofensivo. É exatamente ali que vai parar a água da chuva. Aquela tampa da garrafa, aquela garrafa com a boca para cima, o pneu velho, o pratinho de flor, algum tipo de calçada ou qualquer tipo de ferragens, que possam ter na minha casa, que possa servir de acúmulo de água, é exatamente isso que o mosquito precisa”, conta Agostinho.

O cuidado também deve permanecer nos terrenos baldios. “Quase sempre vira um local de entulhos, vira um local que o pessoal joga alguma coisa e pode acumular. As próprias plantas de casa, ornamentais, tem algumas delas que podem segurar a água. Tudo isso faz com que seja um possível criadouro das larvas e depois do mosquito da dengue”, explica o enfermeiro.

Em entrevista à Najuá, o enfermeiro Agostinho Basso, a agente de dengue, Solange Aparecida de Quadros e a secretária de Saúde, Ismary Llañes, falaram sobre as medidas preventivas para evitar a proliferação da dengue. Foto: João Geraldo Mitz (Magoo)

Espaços de acúmulo de água como caixa d’água e piscinas devem ser tampados. “Se tiver piscinas ou caixas que podem acumular a água, principalmente, o recipiente de água do cachorro, do gato. Sempre lavar, se for possível, todos os dias. Por exemplo, eu tenho um gato em casa. Toda noite, já é tradição, nós lavamos o potinho de água e vai trocando. Por quê? Porque serve de criador”, reforça Agostinho.

A agente de dengue explica que é preciso esfregar o pote com uma bucha para que os ovos da larva saiam. “A pessoa põe água para o bichinho e chega a ficar verde. Uma vez por semana, tem que esfregar a água do bichinho, o pote. Não adianta só você jogar aquela água fora e colocar uma nova. O mosquito coloca o ovo na parte seca do recipiente porque ele sabe que tem um pouco de água ali. Com o tempo, a tendência é que aumente aquela água. Nós temos que esfregar com uma bucha e que retire esses ovinhos do lado”, solicita Solange.

Os prédios comerciais também devem manter o cuidado. “Às vezes, por ser um edifício comercial, por ser uma loja, uma indústria, seja o que for, também merece cuidado porque eu posso ser susceptível. O mosquito não voa mais do que 200 metros a 300 metros de distância. Ele tem um hábito rasteiro, ou seja, ele não voa em grandes altitudes. Ele fica um metro para baixo. De um metro para baixo, não voa mais que 300 metros. Ou seja, se cada vizinho se preocupasse com seus dois vizinhos das laterais, o seu vizinho dos fundos do seu terreno e o da frente. E o outro também fizesse isso. Se cada um fizesse isso, a dengue estaria amenizada”, avalia o enfermeiro.

A orientação é que as pessoas recebam os agentes de saúde no momento da inspeção. “Recebam os agentes de endemias. Deixem os entrarem nos seus terrenos. Eles não vão pra notificar, eles não vão para multar. Não vão para nada disso. Eles têm que entrar para orientação. Nós só vamos nos livrar desta dengue – que, no Brasil, já tem muitos casos; no Paraná também está e Irati não é diferente – se nós tivermos a consciência e a sensibilização”, disse Agostinho.

A agente de dengue explica que os profissionais não realizam a limpeza e apenas fiscalizam como está o quintal. “Muitas pessoas acham que vamos pegar uma pá ou vai pegar um balde, um saco de lixo e vai tirar o lixo para eles. Não é verdade. Nós vamos na casa, fazemos toda a instrução, os cuidados que deve ter. Como manter limpa a sua residência, evitando os focos do mosquito. Nós pedimos que não deixem a água parada em local nenhum”, solicita Solange.

Um dos problemas enfrentados pelas agentes de dengue é a reincidência em locais que já foram notificados com focos de dengue. “Tem lugares que nós achamos um foco do mosquito e a pessoa se desespera porque ela se distraiu, não é porque é mal cuidado. Mas temos lugares que vamos e é reincidente. Foi uma vez, foram duas vezes e, no mesmo lugar, no mesmo pote, nós eliminamos [o foco]. Nós viramos as costas e a pessoa deixa o pote de novo, coloca de novo. Para essas pessoas, nós pedimos e eles concordam. Mas viramos as costas e eles fazem de novo. Eles acham: ‘Ah, mas em Irati é tão pequeno. Esses bichinhos toda a vida teve aqui, não vão fazer mal nenhum’. Só que estão fazendo. Eles acham que só em cidade grande que tem essas coisas. Mas quando a pessoa, o vizinho, parente fica doente, aí vem o desespero”, conta Solange.

Quando um caso de suspeita de dengue é registrado pela secretaria de Saúde, há um protocolo que os agentes de dengue seguem para evitar o aumento de casos. Nesse protocolo, os agentes fazem uma varredura nas residências que estão a 300 metros da casa do paciente que está com suspeita de dengue.

Segundo a agente de dengue, o protocolo é eficaz na prevenção. “Nessas residências que foi encontrado muita larva, após os agentes irem fazer o trabalho normal, nós vamos realizar a supervisão uma semana após. Nós observamos que a maioria eliminou os focos. Praticamente 95% foi eliminado. Os que não tem essa condição ou vontade de eliminar os focos das suas próprias residências, nós damos um prazo. Nós damos um prazo, dependendo da situação da casa. Às vezes, é pouco, às vezes, é muito. Nós damos um prazo de cinco a dez dias e retornamos. Já deixamos avisado que nós vamos retornar tal dia e se vocês não tiverem eliminado todos os focos, nós vamos entrar em contato com a Vigilância Sanitária, que é a nossa parceira e eles têm o poder de multa. Vocês serão multados”, explica.

Na Vigilância Sanitária, o processo é similar. “Na primeira vez que vamos, nós fazemos a orientação. A segunda vez, se não resolveu, nós notificamos e depois de notificado, vai gerar uma multa. Essa multa, se for, por exemplo, de terrenos baldios, a prefeitura tem até a autonomia para fazer essa limpeza e cobrar depois do proprietário no IPTU. Então, existe todo esse trabalho”, conta Agostinho.

Sintomas: Os principais sintomas de dengue são dores nas articulações e febre. A secretária de Saúde ressalta que ao sentir sintomas é preciso procurar atendimento. “Todo o paciente que tiver sintomas que procure as unidades de saúde, que procure atendimento, que não comece a pensar que é só uma febre. Pode ser uma gripe? Pode ser, mas pode ser dengue também. Pacientes com sintomas como dor no corpo, dor atrás dos olhos, dor nas articulações, dor nos músculos, febre. Às vezes, pode aparecer lesões na pele, avermelhadas. Por favor, procurem as unidades de saúde, procurem se informar sobre a doença, procurem ajuda”, conta.

Uma das razões para procurar atendimento médico logo no início é que os pacientes com dengue não podem fazer uso de remédios anti-inflamatórios, como uso de ibuprofeno. O uso de Aspirina também não é recomendado em caso de suspeita de dengue.

Atualmente, o diagnóstico de dengue é feito clinicamente, sem a necessidade de exames. Agostinho explica que isso acontece por causa das características que a transmissão de dengue atingiu no município. “Não precisa mais do exame para ser diagnosticado dengue. Por quê? Porque, a partir do número X de casos e a partir de três semanas consecutivas, que esses casos só aumentam, Irati entra numa caracterização de transmissão sustentável ou sustentada. O que significa isso? Todos os profissionais de saúde, a partir desse momento, podem usar o critério clínico. Ou seja, a clínica sempre é absoluta, no sentido, de que apenas os sintomas de dengue, característicos da dengue, e nesses municípios aonde já tem a transmissão sustentada, não se faz necessário mais nenhum tipo de exame”.

De acordo com o enfermeiro, a realização do exame pode não detectar a tempo a doença, podendo atrasar o início do tratamento. “Mesmo esse exame, que é feito nos laboratórios, demora algum tempo ainda para a confirmação. Ou ele pode pegar essa pessoa, no que nós chamamos de janela imunológica, aonde ela começou com os sintomas, mas não aparece exatamente no exame. A partir do momento que nós temos três semanas consecutivas de aumento de casos, a partir do momento que já entra na transmissão sustentada, todos os médicos, enfermeiros em qualquer unidade de saúde, ele pode usar o critério clínico e epidemiológico. Para quê? Para diagnosticar a dengue”, revela Agostinho.

Os exames são realizados para o controle da transmissão no estado. “A pedido do próprio Governo do Estado e do Ministério da Saúde, nós temos que coletar, no mínimo, seis amostras para o que nós chamamos de Sentinela. O que é o Sentinela? Sabemos que a dengue está aqui. Agora, nós temos que saber qual vírus está atuando. Se teve mutação, se não teve. Se é o mesmo que está atingindo o Oeste do Paraná, o Norte do Paraná. Então, pacientes internados, pacientes graves e seis amostras, nós temos que coletar para mandar para o Lacen, o Laboratório Central do Estado, para estudo epidemiológico e não para tratamento”, explica o enfermeiro.

O tratamento da dengue é feito com medicamentos que agem diminuindo os sintomas, como febre e dor. Agostinho destaca que não há um medicamento que cure a doença. “Tanto a dengue, quanto a gripe e também a Covid têm sintomas muito parecidos. Por serem doenças virais, não existe remédio específico. É diferente de uma doença bacteriana que você usa um antibiótico e mata a bactéria. Resolve o problema. As doenças virais são o que nós chamamos de autoimunes. Elas vão ter que ser resolvidas pelo sistema imunológico da pessoa. Se tiver vacina, é muito melhor. O que é o remédio, o que é o tratamento dessas doenças? É o sintomático. Tenho febre, então antitérmico. Tenho dor, então o analgésico. Tem outro tipo de desconforto, náusea, vômitos, é um remédio específico. Também, a hidratação. Ou seja, não se não se depende de um exame para dizer que é dengue. O critério clínico já é absoluto”, detalha.

Agostinho ainda alerta que as pessoas precisam ter cuidado com as informações divulgadas na internet, especialmente as que prometem curas milagrosas. Conforme o enfermeiro, vídeos que prometem plantas milagrosas ou receitas caseiras para dengue não trazem informação verdadeira e as pessoas precisam procurar atendimento médico. “Por exemplo, aquela planta que se você plantar na cidade inteira. Teve um vídeo de um programa jornalístico da cidade de Sorriso, no Mato Grosso, que se espalhou no final de semana. Só que já foi comprovado cientificamente que aquela planta não combate à dengue. Qual é o risco de eu acreditar na planta? De eu acreditar naquelas promessas milagrosas? É que eu deixo de fazer aquilo que eu posso fazer”, conta.

O ideal é que as pessoas pesquisem antes de compartilhar as informações. “Quando aparece soluções mágicas, sempre pesquise no Google. Pesquise sobre aquilo para ver a quantia de artigos e que desmente aquilo. Não existe solução fácil para problema difícil e nem solução mágica quando se refere à doença e, principalmente, transmissíveis”, salienta Agostinho.

O enfermeiro ressalta que a dengue é grave e que, se não houver cuidado, pode desenvolver para casos de óbitos como já aconteceu no estado. “A dengue é uma doença grave, porém, quando é a dengue clássica, que nós falamos, ela tende a não assustar muito. Mas o grande problema é que existe a dengue hemorrágica. Ninguém sabe quem terá dengue hemorrágica ou a dengue clássica. Aí que está o grande problema porque no Paraná, principalmente, na região Norte e Oeste do Paraná, a dengue está uma verdadeira epidemia. Muitos casos e óbitos. Esses óbitos não escolhem idade, não escolhem classe, não escolhe nada. Eles vão acontecendo”, disse.

Denúncias: Os moradores de Irati podem fazer denúncias sobre suspeitas de locais com foco de dengue. Nos casos de entulhos, matos, terrenos baldios ou crescimento de vegetação, a denúncia precisa ser feita na Secretaria de Ecologia e Meio Ambiente. O telefone é (42) 3132-6285.

Nos casos de água parada, quintais com materiais que podem acumular água ou residências com reincidência, as denúncias devem ser feitas na Secretaria de Saúde. O telefone é (42) 3132-6322.

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