Funcionários da empresa Transiratiense entraram em greve por tempo indeterminado nesta segunda-feira, 27. Principais reivindicações são o pagamento dos salários e vales-alimentação de dezembro e janeiro e do 13º salário de 2024/Paulo Sava

A população de Irati amanheceu sem a circulação dos ônibus do transporte público hoje, 27. Isto aconteceu por conta da greve dos funcionários da empresa Transiratiense, que deve durar por tempo indeterminado. Os trabalhadores reivindicam o pagamento do 13º salário, do vale-alimentação e dos salários de dezembro e janeiro, que estão atrasados. Assista a entrevista completa no Facebook da Najuá.
Representantes do Sindicato dos Motoristas, Cobradores e Trabalhadores em Empresas de Transportes Coletivos em Veículos Rodoviários de Passageiros Urbanos, Municipais, Metropolitanos, Intermunicipais, Interestaduais, Internacionais e de Fretamento de Ponta Grossa e Região (SINTROPAS) estão na empresa para garantir que nenhum ônibus circule enquanto a greve não terminar. Por conta disso, Irati amanheceu sem ônibus hoje.
Em entrevista à Najuá, o diretor-presidente do sindicato, Luiz Carlos de Oliveira, relatou que, até agora, não foi procurado pela empresa para resolver a situação. “Ninguém entrou em contato conosco para abrir um possível canal de negociação, um diálogo, silêncio total desde a aprovação da greve”, frisou.

O diretor administrativo da Transiratiense, Sérgio Ricardo Zwar, disse que já conversou com os representantes do Sindicato e confirmou à nossa reportagem que vai quitar os pagamentos atrasados para resolver a questão o mais rápido possível. Ele afirmou que, apesar de trazer transtornos para a empresa e a sociedade, a greve está prevista na legislação. “Realmente eles têm o direito deles, a empresa reconhece isto e está fazendo todo o possível para resolver esta situação porque temos os salários atrasados, que teria que ter pago no mês de janeiro e não foi pago integralmente”, comentou.
Justificativa para Irati amanhecer sem transporte público
O empresário alegou que as dificuldades financeiras enfrentadas pela empresa foram causadas pela lei que isentou idosos acima de 60 anos do pagamento de passagem para utilizar o transporte coletivo, sancionada pelo ex-prefeito Jorge Derbli, o que, segundo Sérgio, onerou os cofres da empresa. “É até chato a gente falar isso, mas a verdade precisa ser dita: ela é de corrente de uma lei que foi feita pela administração do senhor Jorge Derbli em 2018, isentando os idosos acima de 60 anos de pagar a passagem. O contrato que temos com a Prefeitura dá este direito ao idoso acima de 65 anos, de acordo com a lei federal. Eles fizeram uma lei na surdina, que foi aprovada e nem foi lida, que acabou trazendo muito prejuízo para nós. Na época, nós fizemos as contas e deu cerca de R$ 25 mil de prejuízo por mês”, frisou.
O empresário alegou que, se os recursos oriundos das passagens de pessoas com mais de 60 anos e menos de 65 continuassem entrando nos caixas da empresa, a situação do transporte coletivo de Irati poderia ser melhor. “O transporte até poderia ser melhor se este dinheiro estivesse entrando nas contas da empresa, mas o transporte não é melhor porque isto tem um custo. Quando o recurso não vem, reflete na qualidade do serviço. Pedimos a compreensão da sociedade iratiense, dizendo que nós estamos tentando resolver o problema”, destacou.
Reajuste
Ainda em 2024, a Transiratiense protocolou três pedidos para reajuste do valor das passagens de ônibus, que passaria de R$ 5,15 para R$ 6,35. No entanto, segundo Sérgio, os três pedidos foram negados pela prefeitura. “O último aumento foi no ano de 2022. De lá para cá, eu tive aumento de salário dos funcionários no ano de 2022, 2023, 2024, daqui a dois meses vou ter que dar aumento de salário para os funcionários novamente. Neste período, houve alteração de preços de pneus, peças, impostos e tantas outras coisas mais que subiram. A empresa não tem como absorver, ela já vem com uma dificuldade provocada por esta lei do idoso, e não tem como absorvermos isto, temos que repassar os aumentos. Eu protocolei, foram feitas várias reuniões na Prefeitura, foi conversado com o Jorge, que prometeu que me daria o aumento, mas não deu. Se este aumento de passagem tivesse acontecido no ano passado, a empresa certamente teria recursos para pagar os salários dos funcionários, mas não tem porque faltaram recursos por não poder repassar os aumentos dos insumos para se fazer o transporte”, lamentou.
Procurado pela nossa reportagem, o ex-prefeito Jorge Derbli, citado por Sérgio, disse que não se pronunciará a respeito de questões que envolvem a prefeitura.
Sérgio vem conversando com o prefeito Emiliano Gomes para resolver o problema do transporte público em Irati. “Ele quer resolver o problema do transporte público de Irati porque a cidade precisa de transporte público de qualidade. Ele tem se mostrado solidário e está lutando para resolver o problema. Conversou comigo ontem, na sexta-feira e várias vezes na semana passada, para tentarmos resolver este problema. O que ele pode fazer está procurando fazer para ajudar a empresa a quitar com suas pendências”, afirmou Sérgio.
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Mobilidade urbana
O prefeito Emiliano contou o que pode ser feito pela Prefeitura de Irati a respeito do transporte público. “Ao longo de muitos anos, a gente sabe que a empresa vem tendo dificuldades financeiras, e esta é uma questão muito clara que temos que pautar. A segunda questão é que temos um problema com o nosso Plano de Mobilidade Urbana, que foi feita desde 2021 uma contratação para realizar-se um estudo e este plano não foi entregue a contento. Nós fomos pegos de surpresa também, porque são 27 dias de gestão, e temos um problema muito sério a resolver”, comentou.
Como o plano não foi entregue, a solução possível para o município é refazer o estudo e depois abrir uma nova licitação para o transporte público, de acordo com Emiliano. “Como este plano não foi entregue, precisamos abrir uma nova licitação para entregar um novo plano, para que possamos, de fato, abrir uma nova licitação de concorrência, outras empresas participarem e a gente oferecer um transporte público adequado para a nossa população. É importante frisar que a administração não pode legalmente subsidiar a empresa justamente porque o contrato que foi feito em 1991, há 34 anos atrás, é de permissão de uso. Então, precisamos de um novo processo licitatório para podermos subsidiar a empresa e assim podermos fazer com que o transporte seja oferecido de maneira digna e a empresa possa correr o seu trabalho com tranquilidade”, afirmou.
Condições do contrato do transporte público de Irati
O procurador do município, Hermano Faustino, detalhou as condições do contrato vigente ente a prefeitura e a Transiratiense para operação do transporte público. “A Transiratiense opera hoje não através de uma concessão, mas sim de uma permissão que é de 1991 e já está vencida, de modo que hoje não tem a menor condição jurídica de ser pago algum subsídio com dinheiro público para ajudar esta empresa privada. Embora seja de interesse coletivo, a maneira como a coisa está delineada hoje não autoriza o município a usar o erário para enfrentar esta dificuldade. O município está tomando todas as providências para que tenhamos rapidamente este estudo, que seja adequado. Ele vai ser contratado dentro do que a lei prevê para situação emergencial. O estudo é uma demanda de um Termo de Ajustamento de Conduta que está rolando desde 2021. Ele vai ser feito de maneira célere para que, aí sim, possamos fazer uma licitação da empresa que vai ser concessionária. Aí sim poderemos pensar com certeza um subsídio municipal visando a melhoria (do transporte coletivo)”, comentou Hermano.
Uma licitação para a realização de um novo estudo de viabilidade urbana em Irati venceu no dia 16 de janeiro. Desde então, segundo o advogado Gustavo Pianaro, que atua no setor jurídico da Prefeitura, uma nova licitação emergencial está sendo elaborada para contratar a empresa que fará este estudo.
“Desde o dia 16 estamos em elaboração do documento de uma licitação em caráter emergencial para um novo estudo de mobilidade e aí conseguirmos fazer uma nova concessão com ampla concorrência para as empresas”, destacou.
Segundo Emiliano, o Executivo iratiense vem fazendo estudos para encontrar uma solução e melhorar o transporte público em Irati. “Nós estamos estudando as cidades que têm tarifa zero, inclusive Matinhos é uma delas, e é feito de acordo com o vale-transporte. Existe um fundo no município, este vale–transporte é destinado ao fundo e aplicado à empresa, fazendo com que este subsídio seja melhor e mais prático para a população. Estamos de olho no futuro para assegurar a toda a população que manteremos um transporte público correndo com legalidade, acima de tudo, e com segurança para as pessoas. Acima de tudo, é evidente que queremos também reduzir a tarifa, esta é a nossa missão”, comentou.
Emiliano ressaltou que, em poucos dias da sua administração, ainda não foi possível realizar o estudo e abrir uma nova licitação para o transporte público. “Falando claramente para a população, nós temos 27 dias, e neste tempo é impossível fazer um novo Plano de Mobilidade Urbana e ao mesmo tempo fazer um processo de concorrência de licitação. Este é o passo que temos que dar, primeiro o Plano de Mobilidade Urbana e depois abrir a concorrência. Neste sentido, a empresa que vencer o processo licitatório nós poderemos subsidiar, e vai ser desta gestão, que é um objetivo nosso, subsidiar parte do transporte para que os munícipes paguem menos e tenham um transporte de qualidade”, finalizou.