José Maria Grácia Araújo
Faltam apenas seis dias para que a minha querida IRATI comemore o seu centésimo nono aniversário de emancipação política.
Parece que foi ontem que estávamos a comemorar nosso cinquentenário, logo a seguir, o centenário e, já na próxima semana, cento e nove anos, de gloriosa e pacífica existência, fazendo parte da constelação dos municípios paranaenses.{JIMG0}{JIMG2}{JIMG1}
O meu BOA TARDE a todos vocês, meus caríssimos ouvintes, ouvintes que há quase 15 anos me acompanham nestas minhas viagens às profundezas históricas deste nosso caudaloso RIO DE MEL que, com muito amor e orgulho, chamamos de IRATI.
No programa de hoje, não poderia deixar de dar continuidade à breve série histórica que iniciei a três semanas atrás, enaltecendo os feitos da nossa gente, dos nossos antepassados, bem como, à todos aqueles que vêm lutando e trabalhando para que a nossa querida IRATI seja, cada vez mais, acolhedora com todos os filhos seus e com aqueles que por aqui chegam e edificam os seus lares.
Por esse motivo e por muitos outros mais, selecionei algumas realizações que se destacaram indelevelmente, nesta longa caminhada que já percorremos nestes laboriosos 109 anos do nosso município.
NO LIGEIRO RECONCAVO QUE A SERRA
DELINIOU PARA DAR NASCENTE AO RIO
DAS ANTAS, IRATI, DIA 15 DESCERRA
O DA VITORIA MARCO LIZIDIO;
O marco zero da história de IRATI está plantado no começo do ano da graça de 1898, quando o eminente historiógrafo paranaense, Dr. Ermeliano Agostinho de Leão, demorou no Covalzinho, de regresso de uma viagem que empreendera a Guarapuavinha; contava, então, o povoado com pouquíssimas e toscas moradias, que permaneciam, por assim dizer, escondidas no recesso da mata virgem. Não se vislumbrava siquer, através de uma picada, o plano de abertura da sua primeira rua: os pinheiros, as imbuias, as canelas e os cedros, rompendo o emaranhado dos cipós, das trepadeiras e dos taquarais, dominavam o cenário, como gigantes e senhores da região desconhecida.
Além dos ranchos dos operários da estrada de ferro que se avizinhava do local, existia uma pequena casa de negócio do Senhor Francisco de Paula Pires, o pioneiro do lugarêjo e mais as moradas de Pacífico de Souza Borges, caboclo velho, com traços veementes de indio Guarani, José Monteiro, João Tomaz Ribas, José Pacheco Pinheiro e Lino Mariano Esculápio, todas situadas à margem direita do Rio das Antas, nas cercanias onde hoje encontra-se o Colégio das Canesianas. Também o rancho de José Monteiro, que alcançou rara longevidade, donde foi nos legado esta interessante e instrutiva lição: Tendo alguém lhe perguntado, certa vez, como venceram, ele e sua mulher, os embates da vida, tornando-se quase centenários, respondeu prontamente: – “Chegamos até a idade em que estamos hoje, tomando chimarrão… A herva-mate é o remédio dos pobres; cura tudo e dá mocidade ao vivente… Aqui em nossa casa, a cuia de chimarrão não esfria, por isso eu e minha velha estamos assim… querendo viver por muito mais tempo…”
RICA DE SEIVA E SEARAS A SUA TERRA
CONCEDE, QUER NO INVERNO, QUER NO ESTIO,
A ABASTANÇA E A VENTURA A QUEM SE AFERRA
Á LUTA, INDIFERENTE A CHUVA E AO FRIO;
O Covalzinho não era, então, nem mesmo quarteirão policial, estando sujeito às ordens do Irati Velho, hoje Vila São João, distante três quilometros ao sul, e mais desenvolvido em população, por situar-se em terras planas e secas; permanecia, assim, como um retalho verde do município de Santo Antonio do Imbituva, destendido entre o arroio dos Cochinhos e os contrafortes da Serra da Esperança. {JIMG6}
Com a chegada dos trilhos da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande, e a inauguração da estação IRATY, em dezembro de 1899, iniciou-se o fluxo de habitantes, tanto das redondezas, como de outras paragens, principalmente de Campo Largo da Piedade, que enviou numerosas famílias para a nossa vila. Formada a Colméia iniciou-se, desde logo, o laborioso trabalho para o seu rápido crescimento. Abriram-se diversas casas comerciais, sendo as primeiras as de Manoel Grácia, Braz Canderari, Firmino José da Rocha, Benedito de Morais, Francisco Ribeiro de Macedo, Luiz Miguel Shleder, David Justus Sobrinho, Manoel de Vasconcelos Souza e Julio Vieira Lisboa; Estabeleceu-se, na mesma época, como comerciante, em Irati Velho, o Senhor José Joaquim de Andrade, vindo da Bateias, município de Campo Largo.
A fertilidade da terra, a abundância das madeiras e o mistério das causas veladas, atraiam incessantemente bandeirantes e agricultores, ávidos por criar um recanto próprio, onde o seu labor tivesse a recompensa imediata.
CORTAM-LHE A ESFERA OS SILVOS E OS RUMORES
DAS MÁQUINAS, E, AO LONGE OS LAVRADORES
ABENÇOAM A TERRA, CANTANDO A VIDA DE ABASTANÇA.
O Iraty havia nascido, e até o nome que lhe deram, lembra ainda a sua origem: Ira – MEL, ty – RIO; IRATY – RIO DE MEL, no idioma Tupi-Guarani. E a Colmeia do Rio das Antas fabricou, deste a sua mais tenra infância, o mais saboroso MEL do progresso e da felicidade.
A nova vila tornou-se, como era de se esperar, o centro comercial da região, recebendo, em cargueiros, único meio de transporte daquele tempo, os produtos agricolas, a herva-mate, o xarque, o toucinho e a farinha de milho, de Guarapuava, Bom Retiro, São Miguel, Assungui e Patos Velhos. As primeiras ruas foram destocadas, para o desenvolvimento da Vila, formando com isso, uma vasta clareira, no sentido da colina, que tinha como eixo a Rua Velha, hoje Rua 15 de Julho. {JIMG8}Em 1903 foi inaugurada a Capela de Nossa Senhora da Luz, no local onde hoje se encontra a Praça da Bandeira; e os homens simples e lutadores do vale do Rio das Antas, iam ali, fazer as suas preces, e cumprir os seus deveres espirituais.
Elevado a Distrito Judiciário em 21 de janeiro de 1904, Iraty já irradiava a sua pujança, como forte núcleo eleitoral, vindo a se tornar elemento decisivo nas atividades políticas de Imbituva, elegendo, nesta ocasião, dois Camaristas, nas pessoas do Cel. Emilio Batista Gomes e do Cel. Francisco de Paula Pires.
EIS O TORRÃO DA VIRGEM MARIA, ONDE O POVO,
SE TEM POUCA SAUDADE, POR SER MUITO NOVO,
TEM, POR SER VARONIL, MUITA ESPERANÇA. (Virgílio Moreira)
O desenvolvimento se operava com tanta rapidez, em todos os setores de atividades, que as viagens para Imbituva, para pagamento de impostos, retirada de documentos e atos judiciais e jurídicos, por trilhas Íngremes e impraticáveis, se transformaram em sacrifícios contínuos, que o povo do Iraty já não suportava mais.
Sentindo o latejar da seiva municipalista, completada nos bancos escolares pela inspiração da primeira professora, D. Rosalina Cordeiro de Araújo, o radiante futuro se avultuava, vislumbrando, em todas as direções, as luzes que iluminavam os prósperos caminhos, o povo, resoluto e entusiasta, despiu-se de suas vestes rudimentares e se atirou à campanha da sua autonomia política-financeira.
Francisco de Paula Pires e Emilio Batista Gomes, sob inspiração de Manoel Grácia, iniciaram ardorosamente os trabalhos que visavam à emancipação, para, em seguida, rompendo com os chefes políticos do Imbituva, revogarem seus mandatos como Camarista do Município Mãe.
Após dado esse importante passo, dirigiram-se a Capital do Estado, Curitiba, onde após luta renhida, conseguiram, durante o intervalo político, ocasionado pela morte do Dr. Vicente Machado, então Presidente do Estado do Paraná, o apoio decisivo do vice-presidente, Dr. João Cândido Ferreira, apoio esse necessário que culminou com a edição da Lei n. 716 que criou o nosso municipio de Iraty, assim como o proveu dos Distritos Judiciários de Fernandes Pinheiro, Bom Retiro e Rio Azul.
Em 15 de julho de 1907, o município foi solenemente instalado, com muita festa, ocasião em que a alegria popular se manifestou com grande intensidade.
IRATI, UMA VEZ EU SONHEI
QUE EM BREVE AI TE DEIXAR;
NO SONHO TANTO CHOREI
QUE FOI TÃO DOCE ACORDAR. (Doris Rosa)
Consciente de sua grande responsabilidade, assumida na constelação dos municípios do Paraná, e como parte integrante da Comarca de Ponta Grossa, exigiu que Iraty ampliasse seus horizontes, conseguindo instalar os núcleos coloniais de Gonçalves Júnior e Itapará, com cerca de mil famílias procedentes da Alemanha, da Holanda, da Polonia e da Ucrania. Vinha, assim, o Governo Federal trazer o seu efetivo auxilio, á nova terra que, desde a infância, já se tornava uma potencial realidade paranaense. Alojaram-se, na mesma época, no topo da Serra dos Nogueiras, aproximadamente trezentas famílias de diversas nacionalidades que, vindas de Campo Largo e Araucária, formaram, desde logo, uma forte e produtiva comunidade agrícola.
A criação do Têrmo Judiciário, em 16 de março de 1913, veio facilitar a vida e o desenvolvimento da população do novo município, de vez que os atos judiciais passaram a ter seu curso normal, dentro das próprias fronteiras municipais, norteados pelo Dr. Antonio Fernandes Oliveira, primeiro Juiz Municipal. As edificações tiveram ritmo crescente com a facilidade do pinho serrado na primeira indústria local, a Serraria da Empresa Manoel Grácia & Cia. Que, logo a seguir, forneceu, também, a luz elétrica para a Vila. As lavouras se ampliaram, dia apos dia, alastrando-se a colonização para as zonas de Guamirim, Rio Preto, Barra do Gavião, Cadeadinho e Antonios.
Na Lagoa e Riozinho, estabeleceram-se núcleos industriais madeireiros, sob as seguras diretrizes dos senhores Caetano Zarpellon, Miguel Chechene e João Batista Anciutti, que contribuíram eficazmente para alicerçar o progresso e tornando-o decisivo ao progresso da região.
NESTA DATA ESPLENDOROSA,
Ó MEU QUERIDO IRATI GENTIL,
ES LINDO BOTÃO DE ROSA
NO ROSEIRAL DO BRASIL!
A 24 de maio de 1927 instalou-se a Comarca de Iraty, pelo magistrado Dr. Eduardo Xavier da Veiga, que aqui permaneceu até fins de 1934; com esse ato que repercutiu por todos os recantos regionais, Iraty se firmou como centro agrícola de primeira grandeza, deixando transparecer o seu potencial nos setores da indústria e do comercio, criando uma mentalidade cultural divulgada pelas colunas do Jornal “O SUL”, primeiro semanário dedicado aos interesses do município, que foi dirigido por Luiz Rezintal.
Iniciou-se, nesta mesma época, o ramal ferroviário de Guarapuava, que, partindo de Engenheiro Gutierrez, até a raiz da Serra da Esperança, a porção mais fertil do município, aumentando-lhe as possibilidades de produção e crescimento.
A revolução de 1930 veio encontrar Iraty em plena ascensão econômica, e constituiu pelos motivos que a originou, um marco divisório entre o passado e o presente.
De 1908 à 03 de outubro de 1930, governaram, sucessivamente, o município, os snrs. Antonio Teixeira Saboia, de 1908 á 1910. Sr. Manoel Grácia, de 1911 á 1912. Francisco de Paula Pires, de 1912 á 1916. João Braga dos Santos Ribas, de 1916 á 1920. Paulo dos Santos Xisto, de 1929 á 1924. Zeferino Salles Bittencourt, de 1924 á 1928 e José Durski Junior de 1928 á 1930.
Com a implantação do Estado Novo, chefiado pelo Dr. Getúlio Vargas, assumiu o Governo do Estado, um dos maiores administradores que nós paranaenses já tivemos até os dias de hoje. O dinâmico e inesquecível Manoel Ribas que, através dos bons prefeitos nomeados, deu ao município de Iraty todas as condições para que se transformasse num verdadeiro potencial de realizações, labor e riquezas; e o povo iratiense, ainda o reverencia na Praça da Bandeira, o busto clarividente, donde brotaram tantos benefícios para a nossa querida Irati. Desfiando o longo rosário de obras úteis oferecidas á nossa comunidade, naquele período, vamos encontrar a inauguração do prédio em alvenaria da Estação Ferroviária, em 10 de janeiro de 1937, o Telegrafo Nacional, em 10 de junho do mesmo ano, a Rede de Telefonia, em 20 de dezembro de 1938, e ainda, neste mesmo ano de 38, a inauguração dos primeiros quarenta quilômetros da ferrovia, Engenheiro Gutierrez – Guarapuava; Em 7 e 8 de outubro de 1939, o povo assistia, festivamente, a abertura de dois edifícios que pela grandiosidade dos seus fins, estão até hoje dignificando os nomes daqueles que os idealizaram e os construíram, – O Grupo Escolar Duque de Caxias e o já extinto Hospital de Caridade de São Vicente de Paulo.
ESTE IRATI DE HOJE, CHEIO
DE GRANDEZA E BORBURINHO
JÁ NEM AO MENOS SE LEMBRA
QUE VEIO DO MODESTO COVALZINHO
Na gestão municipal do prefeito Manoel Alves do Amaral, concretizou-se, a 23 de março de 1941, conforme atesta a placa, ainda existente, no prédio onde á época funcionou a Farmácia Pessoa, esquina da Rua Munhoz da Rocha com 15 de Julho, a referência sobre as obras da pavimentação, com paralelepípedos, da Rua Munhoz da Rocha. Logo a seguir, em 19 de abril, daquele mesmo ano, iniciou-se o serviço de água e esgoto de Iraty.
Outras obras acontecidas, também, na gestão de Manoel Ribas, á frente do governo do Paraná, foram: O Parque Regional de Exposições de Animais e Produtos Derivados, localizado no Iraty Velho, hoje Colégio Florestal. Esta conquista iratiense repercutiu em todo o Estado, motivando o Governo de Manoel Ribas a acelerar a povoação dos campos do oeste, proporcionando, assim, o desenvolvimento da pecuária e a agricultura regional em bases seguras e lucrativas.
Dentre todas as obras de Manoel Ribas, nenhuma, talvez, se compara com a da abertura das estrada entre Irati e Palmeira: Homem de atitudes desassombradas, Manoel Ribas, resolveu ligar o esquecido sul do Paraná, com sua capital Curitiba, pedindo, em uma memorável reunião ocorrida no Cine Theatro Central, que o povo de Irati se mobilizasse, em peso, em seu apoio e, o povo atendendo à tão nobre conclamação, fundou, em quarenta e oito horas, a Cia. Paranaense de Obras e Melhoramentos, que tomou como responsabilidade própria construir a rodovia Irati-Palmeira, recebendo, para isso, apenas a metade do valor das obras entregues ao Governo do Estado. Este episódio se constituiria no principal fator de Irati se tornar, desde então, num dos principais entrocamentos rodoviários do sul do Paraná.
Este importante empreendimento, atravessou a gestão de Manoel Ribas, Moysés Lupion e Bento Munhoz da Rocha, e foram concluídos em 29 de novembro de 1956.
IRATI QUANDO ENTARDECE
E A BRISA FOGE LIGEIRA E FRIA,
CURVANDO A FRONTE, EM PRECE,
QUANTA SAUDADE NÃO TE CRUCIA.
DA CAPELINHA QUE FOI ERGUIDA
ALÉM, NO MORRO, COM TANTO ARDOR,
SANTO COMEÇO DA TUA VIDA,
RÉGIO PRESENTE DO TEU LABOR;
Não me é possível, em tão pouco tempo de programa, descrever toda uma trajetória de lutas e conquistas que nos impulsionaram rumo aos dias de hoje, mas é necessário que o nosso Irati de presente, volte seu olhar para o passado, lembrando sempre de todos os denodados iratienses que nos legaram esta aprazível e acolhedora Irati dos dias de hoje. É importante, ainda, que o nosso Irati do presente, sinta bem dentro do peito as palpitações desta nova era e se apropriem da história dos antigos desbravadores, que nos legaram através de muita luta, suor e sangue, o estandarte da vitória.
QUANTO AOS HOMENS DO PRESENTE, QUE SE COBREM DA MESMA GLÓRIA E QUE MARCHAM NO MESMO SENTIDO, QUE SOFREM E LUTAM, NA FAINA SUCESSIVA DE EMITAR OS HABITANTES DO COVALZINHO E DO IRATY (COM “Y”) HÃO DE TER AS BENÇÃOS E AS LUZES DE NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS, QUE EM PERMANENTE VIGÍLIA, NO TOPO DO MORRO QUE SE DESCORTINA PARA O VALE QUE O POETA, NUM FELIZ INSTANTE DE SABEDORIA, CHAMOU DE “PEROLA DO SUL”. {JIMG17}
DAQUELES FÉRVIDOS BANDEIRANTES
QUE ABRIRAM TRILHAS PELO SERTÃO,
E, AO PÉ DO FOGO, RINDO TRIUNFANTES,
CONTAVAM CASOS, NUM CHIMARRÃO…
MAS, TUDO PASSA NO MUNDO, CORRE
O TEMPO, O ORGULHO SE ESVAI AO LEU
SOZINHO, SABES QUE SÓ NÃO MORRE
UM GRANDE AMOR PELO MEU RIO DE MEL.
VIVA IRATI, NESTE PRÓXIMO DIA 15 DE JULHO, QUANDO ESTARÁ COMPLETANDO 109 ANOS DE GRANDIOSA E FELIZ EXISTÊNCIA.{JIMG18}
