Indígenas comemoram transferência para Casa de Passagem em Irati

Obra abandonada do Centro Cultural Denise Stoklos, onde os índios ficavam até novembro de 2019,…

04 de março de 2020 às 14h37m

Obra abandonada do Centro Cultural Denise Stoklos, onde os índios ficavam até novembro de 2019, oferecia condições precárias de conforto, segurança e higiene

Paulo Henrique Sava

Inaugurada no início de dezembro de 2019, a Casa de Passagem Indígena de Irati trouxe mais conforto para a vida dos índios da aldeia caingangue Terra do Ivaí, localizada no município de Manoel Ribas, que passam pela região para vender seus artesanatos e obter renda para as famílias. Com a transferência para o novo endereço, eles deixaram a obra abandonada do Centro Cultural Denise Stoklos (devolvida recentemente ao Governo do Estado), onde viviam em condições insalubres.


Casa de Passagem Indígena foi inaugurada em dezembro de 2019. Foto: Paulo Sava


O coordenador da casa, Antônio Spin, o “Toninho”, representante da etnia caingangue, está há 3 meses no local. Ele diz que a vida dos índios mudou muito no novo imóvel, que oferece mais condições de higiene e conforto. “Mudou bastante porque tínhamos pouco conforto. Lá estava bom, mas a higiene era precária, e aqui mudou 100%”, comemorou.

O coordenador diz estar satisfeito com o apoio recebido da sociedade e do Poder Público. “Da Assistência Social e da Prefeitura eu não tenho reclamações, e a comunidade também colabora conosco. Eu fico muito feliz, demoramos mas conseguimos. Fico contente com o pessoal que vem. Eles confiaram em mim e eu estou aqui”, comentou.

A Casa de Passagem conta com três quartos, dois banheiros, uma cozinha, uma sala, jardim, quintal, lavanderia e um abrigo onde os índios produzem seus artesanatos. A Prefeitura Municipal paga as contas de água, luz e gás de cozinha e banca a alimentação básica dos hóspedes. O restante dos alimentos é adquirido com o dinheiro da venda dos balaios pela cidade.


Imóvel possui dois banheiros, o que não havia na obra abandonada do Centro Cultural Denise Stoklos. Foto: Paulo Sava

Apenas um quarto da casa tem cama box. No entanto, os indígenas dormem em colchões colocados no chão, o que, conforme Toninho, faz parte da cultura deles. “Quando era para abrir a Casa de Passagem, a Alessandra (Colesel, coordenadora da casa) e a Sybil (Dietrich, secretária de Assistência Social) me perguntaram se nós queríamos cama, e eu disse que não e pedi que se elas conseguissem colchões para nós estava bom. Eu queria ter os móveis, mas se tiver uma cama já não cabe muita gente, então ficou bom assim mesmo”, pontuou. A casa também tem uma pia, um fogão e uma geladeira.


Apesar da doação de alguns móveis, como a cama box e a cômoda da foto, indígenas preferem dormir apenas em colchões. Foto: Paulo Sava


O Regimento Interno estabelece que cada grupo pode permanecer no imóvel por um período de 30 dias, prorrogável por mais 15. Os índios não podem ficar nas ruas após as 22 horas e é expressamente proibida a entrada com bebidas alcoólicas. Crianças e adolescentes devem estar sempre acompanhados de um adulto no local. Caso infrinja alguma destas regras, o indígena ficará suspenso por dois meses, não podendo retornar à casa neste período.


O primeiro grupo que chegou logo após a inauguração da casa tinha 43 pessoas. No entanto, segundo o regimento interno, o local pode abrigar até 35 hóspedes. Atualmente, 15 índios estão acomodados no imóvel.

A secretária de Assistência Social, Sybil Dietrich, diz serem notórias a satisfação e a gratidão dos indígenas com o novo local. “Toda a administração está feliz com este avanço do município, afinal somos referência neste fortalecimento do direito da população indígena, na instituição de políticas indigenistas no estado do Paraná. O que eu tenho ouvido e visto nas visitas até a casa, nas conversas com as lideranças é que eles são muito gratos ao Prefeito Jorge Derbli e a toda a administração por terem ouvido esta demanda, que é histórica e antiga, e terem olhado com muita sensibilidade para esta necessidade de um ambiente digno para que eles permanecessem em nosso município, garantindo a integridade física e mental, acesso à moradia e a um espaço acolhedor”, comentou.

A preocupação do município é de garantir também o atendimento à saúde e dar visibilidade à cultura indígena no município, fortalecendo o comércio com a venda do artesanato. “São vários pontos a serem trabalhados a partir da escuta, do diálogo e do espaço”, frisou.

O diálogo inicial com os índios iniciou com a percepção de que o espaço do Centro Cultural não era adequado para abrigá-los e da necessidade de permanência deles na cidade. Depois, o Executivo começou a buscar um espaço para recebê-los. “Procuramos em todo o município um imóvel no qual a Prefeitura pudesse alocá-los, e ao mesmo tempo fomos visitando aldeias, conversando com as lideranças e com os indígenas que aqui estavam para pensar em um local mais próximo de rodoviária e de outros equipamentos sociais, onde fosse mais viável a permanência deles. Conversamos para chegar num consenso do que seria melhor para ambas as partes”, frisou.


Os indígenas também participam de ações desenvolvidas em outros espaços da cidade, como o Centro da Juventude Nagib Harmuche, voltado para o desenvolvimento integral do jovem. “Eles também podem usufruir do espaço em várias oficinas. Esta integração entre a população indígena e os iratienses é o ponto chave, sempre fortalecendo e dando visibilidade à diversidade cultural, ajudando a divulgar e fazendo com que a população iratiense conheça e valorize a cultura indígena. É este intercâmbio cultural que nós pontuamos e trabalhamos, além da questão da ocupação de todos os espaços do município por eles, para que sejam cidadãos e possam ter seus direitos garantidos quando aqui estão”, ressaltou Sybil.


Apoio

Desde o início da elaboração do projeto, o município buscou apoio da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e do Ministério Público Estadual (MPE), solicitando sugestões e opiniões a respeito da casa. “Eles são atores que participaram deste processo e nos ajudaram a construir tudo isto”, finalizou a secretária.


Além de Toninho, a Casa de Passagem Indígena conta também com a pedagoga Alessandra Colesel na coordenação. Doações de alimentos e roupas podem ser feitas diretamente na Casa de Passagem Indígena, na Avenida Perimetral João Stoklos, próximo ao Fórum Eleitoral.

Área utilizada para produção do artesanato indígena. Foto: Paulo Sava

Fotos da área interna do Centro Cultural Denise Stoklos. Fotos: Paulo Sava

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