Médico cardiologista, Júlio Nahas, dá dicas de como prevenir doenças cardiovasculares
Dados do Ministério da Saúde mostram que os homens são 60% das vítimas de doenças cardiovasculares no País. De acordo com o médico cardiologista, Júlio Nahas, que foi entrevistado no programa Meio Dia em Notícias, o risco também aumenta em mulheres de mais idade. “Consideramos a idade do homem a partir dos 49 anos, o risco aumenta. Por incrível que pareça, a partir dos 57 anos, as mulheres se igualam aos homens. Por que isso? A média de menopausa, geralmente com 48 anos a 52 anos, e depois de sete anos, pela perda hormonal, por causa do estrogênio, ela chega a se igualar aos homens. O risco realmente é alto”, conta o médico.
Uma das dificuldades é que a doença cardiovascular é silenciosa e pode não trazer sintomas para o paciente, até que ele infarta. “30% dos infartos são assintomáticos. A pessoa nunca sentiu dor no peito. Nunca teve falta de ar. Nunca sentiu nada e infarta de uma hora para outra. Aí vem a dor no peito, vem o susto. A melhor forma realmente é prevenção e a mudança do estilo de vida”, explica Júlio.
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Não há uma única explicação para a causa das doenças cardiovasculares, mas uma combinação de fatores. “Essas doenças ocorrem pelos mesmos motivos que chamamos de inflamação crônica subclínica – o paciente inflamado não dá sintoma – e a oxidação do nosso corpo que vai acontecer conforme vamos envelhecendo. Tem uns agravantes que são a hipertensão, apneia do sono, pacientes obesos, o paciente que fuma, o paciente que é alcoólatra, que bebe demais, o paciente que vive estressado, que acorda cansado e que dorme mal. É multifatorial”, disse o médico.
Além da atividade física e da alimentação saudável, a prevenção da doença cardiovascular também inclui ter um sono regular, evitar o estresse e equilibrar os hormônios, já que a alteração hormonal pode trazer riscos ao paciente.
Na alimentação, um dos principais itens a serem evitados são os lanches de fast-food e as comidas industrializadas. “[O risco] não é só relacionado a um infarto. É relacionado a doença neurodegenerativas, como Parkinson e o Alzheimer, como câncer, com infarto, com AVC. O produto processado tem que tirar porque sabemos que faz mal”, conta.
Para a prevenção, ainda valem as dicas já conhecidas por grande parte da população: reduzir o consumo de carboidrato, consumir mais legumes e verduras, além de consumir carne vermelha e branca, variando o consumo e dando preferência para carnes menos gordurosas. O consumo de carnes com gorduras boas, como no caso do atum, salmão e peixes, também é recomendável para ter uma alimentação mais saudável.
A atenção no preparo dos alimentos também é importante. A recomendação dos especialistas é que se use banha de porco ou óleo de coco ao invés do óleo de soja ou canola, muito utilizado na cozinha. “É mais natural e são gorduras saturadas que não leva a oxidação. Quando você coloca um óleo de soja ou canola, ele é uma gordura hidrogenada e quando você aquece, ela oxida. Você está consumindo uma gordura oxidada que vai alterar o teu perfil do colesterol”, disse.
Outra gordura boa é o azeite extra-virgem. O médico recomenda o consumo de uma colher, três vezes ao dia. “O ácido oleico, que é o ômega 9, tem estudo mostrando que o paciente que consome o abacate três vezes por semana, diminui o risco do infarto”, explica.
Júlio ainda alerta que a redução do sal está mais ligada aos alimentos consumidos do que o sal colocado na comida para temperar. “O problema da dieta rica em sal é o produto industrializado. Porque tudo tem muito sal”, disse.
É o caso de alimentos como a mortadela que possui 700 miligramas de sal, também chamado de cloreto de sódio. O alto consumo de produtos industrializados pode fazer com que ultrapasse o recomendado, que é 2,5 gramas de sal por dia. O recomendável é evitar os produtos industrializados e optar pelo sal integral, que é diferente do refinado, tem mais minerais e tem uma porção a menos de sódio.
O médico alerta que é preciso encontrar equilíbrio, já que estudos mostram que o consumo abaixo dos 2,5 gramas recomendados pode trazer problemas. “Quando você tem pouco sal, você estimula uma enzima que chamamos de sistema renina-angiotensina-aldosterona. Isso retém mais sódio, água e faz você aumentar a pressão. Você aumenta as catecolaminas que são enzimas que dão aumento de frequência cardíaca e aumenta vasoconstrição. Tudo que aumenta vasoconstrição, aumenta risco de infarto e AVC. Você vai estimular seu sistema. A catecolamina é quando você está nervoso, você está fugindo de algum inimigo. O coração acelera e a tua pressão sobe para te proteger. Com um consumo baixo de sal, você estimula todo um processo inflamatório que vai te aumentar a pressão, que vai te inflamar mais, que vai reter mais sódio e água pelo corpo”, disse.
Além da alimentação, o exercício físico também é uma boa maneira para prevenir doenças cardiovasculares. “O exercício físico tem estudos mostrando que se a pessoa fizer um exercício moderado de 15 minutos por dia, você diminui o risco de eventos cardiovasculares”, afirma Júlio.
O médico recomenda que o ideal é um exercício moderado de 20 a 40 minutos. “Se você está parado, começa com caminhada. Começa a caminhar uns 15 a 20 minutos. Depois de um mês vira hábito, fica uma rotina. É gostoso, você pega e entra no ritmo. Tem que ser um exercício que você não consiga conversar com ninguém ao seu lado porque isso indica que ele está moderado. Fez 15 a 20 minutos disso, está ótimo. Todo dia é ideal. Depois você incrementa”, explica.
Mas como tudo na vida, é preciso equilibrar a rotina de exercícios, já que uma atividade física intensa também pode trazer riscos. “Exercício demais faz mal também. Se você passar muito tempo, com exercício moderado, mais de 40 minutos, leva um quadro inflamatório, um quadro de inflamação”, disse.
Dormir bem também é outro requisito que ajuda a prevenir doenças cardiovasculares. O recomendável é que seja de sete a oito horas de sono por dia. “É à noite que produzimos todos os hormônios, testosterona, cortisol cai, a melatonina precisa dormir. À noite, tem a parte neurológica onde tem um sistema glinfático que é o sistema que drena todas as impurezas do nosso cérebro. Ele faz uma faxina do cérebro”, explica.
Júlio destaca que uma noite bem dormida traz benefícios à saúde. “Você vai otimizar teus hormônios, você vai melhorar a inflamação, melhora a depressão e você consegue evitar doenças neurológicas”, conta.
O sono bom é quando a pessoa acorda bem, de forma tranquila e descansada. O médico explica que quanto mais velho a pessoa é, diminui o tempo de sono que o corpo precisa. Por isso, há casos em que um sono de cinco horas pode ser o ideal. Mas recomendação médica é descansar entre sete a oito horas, não ultrapassando nove horas de sono. “O importante é que você durma bem, aquele sono gostoso e que você acorde de manhã revigorado, tranquilo. Se você achou que você acordou bem, você está disposto, está tudo bem, aquele tempo para você está bom”, avalia Júlio.
O estresse também é algo que influencia na manutenção da saúde e pode trazer doenças mais graves, se não tratado. “O estresse crônico leva um quadro de depressão. Baixa muito cortisol. É aquele paciente que acorda cansado, que fica cansado à tarde. Fica dependente do café, às vezes, do açúcar. O estresse faz mal. As doenças autoimunes, geralmente, aparecem depois de um quadro de estresse agudo. A perda de um ente querido, uma separação, geralmente, coisa de 60 dias. Aparece alguma coisa. Até o câncer também. Quando você tem um terreno biológico que não está bom, mais você fica propenso a ter doenças autoimunes. Vem o lúpus, vem um vitiligo, vem um artrite reumatoide, que não tinha antes”, conta.
De acordo com o médico, a indicação é que as pessoas evitem o estresse e passem a ressignificar momentos da sua vida, para prevenir uma piora da saúde mental. “Você ter uma ressignificação da tua vida. É quando você começa a dar valores à pequenas coisas que você esquece. Quando você era jovem, você dava mais valores, seja num abraço, num aperto de mão, de repente, num gesto de alguma criança. ‘Ah, mas não é nada demais’. Mas você começa a prestar atenção e começa a ressignificar as coisas. Isso ajuda muito no estresse”, disse.
Outro aspecto que influencia na saúde das pessoas é o equilíbrio hormonal. Segundo Júlio, a alteração dos hormônios afeta na saúde do paciente. “Quando você tem a carência hormonal, você tem perda de massa muscular. O paciente vai envelhecendo. As doenças aparecem com a perda hormonal, com envelhecimento a partir dos 35 anos, você começa a perder”, conta.
O médico explica que em algumas situações, a atividade física já equilibra os hormônios. “Às vezes, um paciente está com dificuldade de perder peso, que está obeso, o excesso de peso aumenta algumas enzimas que chamamos de aromatase que diminui a testosterona. Você tem que entender tudo isso porque você melhorando o peso, você não precisa repor o hormônio. Alguns não, eles testosterona muito baixo. Tem que repor”, explica.
No caso de mulheres, a reposição hormonal pode influenciar na existência de uma doença cardiovascular. É o caso do tratamento com estrogênio conjugado que é um estrogênio equino que possui efeitos colaterais. “Ele não é igual o nosso e que tem seus efeitos colaterais. Se você vai no cardiologista hoje tradicional, mulher de moderado a alto risco, não pode fazer reposição hormonal porque são estrogênios conjugados, eles não são iguais. Se você vê a bula, está lá, risco de infarto, AVC, risco de câncer de mama, risco de câncer. Quando você uma modulação com hormônios bioidênticos que são iguaizinhos dos teus, você melhora. É o efeito ao contrário. Melhora o microbioma intestinal, pele, ressecamento vaginal na mulher, libido, melhora, massa muscular melhora, mas tudo dentro de um critério”, disse.
A prevenção também está ligada ao acompanhamento da saúde com um médico de confiança. Contudo, o médico alerta que, em alguns casos, os exames podem detectar uma gravidade maior do que o paciente realmente tem. “Esse check-up que você vai no consultório, você faz todos os exames de sangue, não muda a tua rotina, faz um teste de esforço que, na verdade, é contra indicado para o paciente assintomático. Isso não é prevenção, é detecção. Algumas lesões acima de 70% aparecem e as menores não aparecem no teste de esforço. Fora falando iatrogenia. Você faz o teste de esforço, 45% dos homens tem falso positivo e mulher chega a ter 65%. O que isso quer dizer é que o exame dá positivo e a pessoa não tem a doença coronariana grave. Não estou falando que não tem nada”, conta.
As doenças cardiovasculares são hereditárias, mas o médico destaca que há apenas 15 a 20% da chance de alguém com algum caso na família desenvolver uma doença cardiovascular. Isso significa que há outros fatores que podem ser mais responsáveis pelo surgimento da doença do que apenas a genética.
O médico explica que há uma diferença entre a genética, que recebemos dos familiares, e a epigenética, que desenvolvemos ao longo da vida. Assim, o estilo de vida da pessoa pode reduzir a chance de desenvolver uma doença, mesmo com pré-disposição. “A genética é que nascemos com ela. É [risco de desenvolver]15% a 25% das doenças. A epigenética é a forma como vivemos, como nos alimentamos, como conduzimos a nossa vida. Você consegue com uma epigenética boa, vivendo de forma saudável, você consegue silenciar alguns genes”, explica.
A busca por atendimento deve acontecer quando o paciente sentir dor por um período maior de tempo. “O paciente teve falta de ar, dor no peito, qualquer desconforto, se você estiver com esse quadro há mais de dez ou 20 minutos, tem que ir no pronto-socorro. Tem que ser avaliado. Um eletrocardiograma tem que ser feito, os exames de sangue”, conta.
Entretanto, o médico explica que é possível que um paciente que esteja infartando apresente um eletrocardiograma normal. Neste caso, os médicos precisam estar atentos para evitar cometer um erro. “Eu não posso chegar no pronto-socorro com o eletrocardiograma normal e o médico não investigar, ainda mais paciente de alto risco, como eu comentei, mulher acima de 57 anos, homem acima de 49 anos, fumante, hipertenso, diabético. São pacientes de alto risco, eu tenho que investigar. Muitas vezes, você faz um eletrocardiograma e dá normal. ‘Não é infarto’. E dá um remédio para dor. Dá o remédio para dor, o paciente vai infartar ou morrer em casa. É muito complexo. O paciente de alto risco tem que ser investigado, tem que ir no pronto-socorro, porque ele está com dor contínua. É diferente de você ter uma dor esporádica que com 10, 15 minutos, passou”, disse.
O médico cardiologista, Júlio Nahas, atende na clínica Reviver, na rua Conselheiro Zacarias, número 445, em Irati. O telefone para contato é 9-9137-5321 ou 3422-1941.