Quatro atletas iratienses conquistaram o primeiro lugar. Eles garantiram classificação para o campeonato mundial em 2025/Texto de Karin Franco, com entrevista realizada por Rodrigo Zub e Juarez Oliveira
Treze atletas iratienses do grupo Muzenza conquistaram medalhas em um campeonato de capoeira ocorrido em Curitiba, no dia 3 de agosto. O campeonato reuniu cerca de 105 atletas dos estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Pará.
Ao todo, 15 atletas iratienses participaram, sendo que quatro conquistaram o primeiro lugar. “Desses 15 atletas, 13 estiveram no pódio. Foram quatro primeiros lugares, cinco segundos lugares e quatro terceiros lugares, mostrando a força e a potência dos nossos alunos da cidade de Irati”, disse o professor Leandro Muller Boza, mais conhecido como Pimenta.
Um dos destaques foi José Luís Galvão (Formiguinha) que com apenas três meses de treino conquistou o 1º lugar na categoria masculina, de 4 a 6 anos. Nas categorias juvenis, Lintsey Emanuele Oliveira (Elétrica) ganhou o primeiro na competição feminina de atletas entre 16 e 17 anos.
No adulto, os primeiros lugares ficaram com Jeferson Nepomoceno Cardoso (Surfista), na categoria Cinza masculino, e com Douglas Aparecido Reis (Mandaguari), na categoria Verde/Verde e Vermelha. Nas competições entre adultos, as categorias são divididas de acordo com a cor da corda de cada atleta. Cada graduação de cor representa a evolução do atleta dentro da capoeira.
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Nas categorias infantis, Maria Júllia dos Santos (Pipoca) e Laura Muller Boza (Amora) também conseguiram medalhas na categoria de 7 a 9 anos. Pipoca ficou em 2º lugar e Amora foi a 3ª colocada.
As duas atletas iratienses treinam juntas e chegaram a competir entre elas no campeonato em Curitiba.
Incentivada pelo pai e treinando a pouco mais de três meses, Pipoca levou a melhor e conseguiu a segunda colocação em sua primeira competição de capoeira. “Eu achei que eu fui bem. Eu até ganhei no primeiro jogo, no segundo eu perdi. Eu achei que eu fui bem assim. Fiz bastante entrada, saída, bastante golpe também e é bem legal”, disse Pipoca, que foi entrevistada no programa Meio Dia em Notícias da Super Najuá.
Para Pimenta, a evolução de Pipoca mostra que é uma atleta que tem futuro. “O trabalho que estamos fazendo com ela é de três meses de capoeira. Ela já tem uma evolução notável dentro da capoeira, desde a parte de movimentação. Desde o início, nós vimos que ela tinha um potencial incrível para capoeira e para prática da capoeira. Os pais incentivam muito ela também em casa. Sempre estão ajudando, sempre estão incentivando em casa. Conta também esses treinos fora da academia, que não é só na academia. Em uma hora não conseguimos passar todo o conteúdo. O aluno precisa estar se dedicando, precisa estar treinando em casa também. Os pais incentivando o aluno, treinando em casa, os resultados vêm”, conta.
No grupo de pais incentivadores está o próprio Pimenta, que incentiva a filha, Amora, a treinar capoeira. Amora treina há quatro anos e também participou da competição pela primeira vez. “Eu fiquei bastante nervosa no primeiro jogo, mas eu consegui me soltar mais com a Pipoca, como ela é minha amiga de treino”, disse.
Com as duas meninas competindo na mesma categoria, Pimenta conta que se dividiu entre pai e professor durante a competição. “Até para mim, é um trabalho que desenvolvemos porque você tem que tentar separar. Quando as duas foram jogar, as duas são as minhas alunas, nós procuramos ser o professor delas, incentivar tanto uma, como a outra. Teve casos também que três alunos participaram, se enfrentando, para disputar a primeira, segunda e terceira colocações. Você tem que deixar um pouco de lado e ser professor deles. Ser o técnico deles, ser o incentivador deles. Depois que acontece o resultado dos jogos, aí soltamos um pouco a emoção, fica com o coração apertado. Eu acho que esse sentimento de pai é quase para todos os alunos”, conta.
Pimenta também participou da competição se classificando em 3º lugar, na categoria Professor, em que a cobrança é maior. “As regras são as mesmas. Mas no volume do jogo, da técnica, do conhecimento de movimento é mais cobrado porque tem uma experiência, já tem um certo tempo de capoeira, é um professor. Muitos movimentos que tem um pequeno desequilíbrio em outras categorias, não sai tão perfeito, eles deixam passar pela categoria. Já nos de professores, eles descontam notas. Às vezes, não vale nota algumas movimentações porque precisa sair mais redondo, mais perfeito”, disse.
O grupo Muzenza também garantiu mais medalhas em outras categorias. Na categoria masculina, entre 10 e 12 anos, João Emanuel Rodrigues Biranoski (Raio) conseguiu o 3º lugar. Na categoria masculina, entre 13 e 15 anos, o 2º lugar ficou com o atleta Alex Gabriel Casimirski da Anunciação (Ben 10).
Entre os adultos, Jessika Cristina de Oliveira (Nega) conquistou o 2º lugar na categoria feminina Crua. Rosmael Sebastião Gonçalves (Vassoura) e Anderson Mendes Pereira (Jacaré) ganharam, respectivamente, o 2º e o 3º lugar na categoria Verde/Verde e Vermelha.
Mundial: O próximo desafio dos atletas é a competição mundial que acontece em fevereiro de 2025, novamente em Curitiba. A competição do dia 3 de agosto serviu de preparação para o mundial. “A maioria dos alunos que participaram do campeonato, estão inscritos para o mundial em 2025, em fevereiro, dia 1º e dia 2. Essa é uma preparação que fizemos até para eles estarem adaptados, como que funciona o campeonato, como que funcionam as notas. Sempre dá aquele momento tenso neles. É normal, eles ficarem nervoso. Nós tentamos também fazer esse trabalho junto com eles, para estar perto, para estarmos orientando. Acho bem importante esse trabalho com eles”, conta o professor.
Além dos treinos, o foco do grupo Muzenza também é a busca de patrocínios para auxiliar os atletas a competir no campeonato. “Nós já temos nove inscritos. Nós queremos chegar a esse número de 15 atletas para conseguirmos levar 15 atletas, os mesmos que participaram agora desse campeonato. Também ver a possibilidade de levarmos mais, que temos mais alunos, que estão iniciando e que já estão há um tempo. Esse é o real motivo da importância do patrocínio, de um empresário adotar um atleta”, disse.
Pimenta destaca que além da divulgação em redes sociais, as empresas também podem incluir a logomarca nos uniformes. “O que nós queremos para eles é essa valorização porque eles não estão representando só o esporte ou só a capoeira. Eles estão levando o nome da cidade. Eles disputaram com gente de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e, mesmo assim, a cidade Irati, pequenininha, mostrou toda a sua força e o potencial que tem para capoeira”, explica.
No campeonato em Curitiba, as secretarias de Esportes e de Assistência Social auxiliaram com o transporte, com a disponibilização de um ônibus para a equipe competir. Pimenta destaca que esta ajuda é necessária porque inclui alunos que não tem outra forma de ir para as competições. “É muito importante o transporte porque muitos dos alunos têm o dinheiro para competição e não tem um carro. Às vezes, não fecha o carro. O transporte e o patrocínio para o almoço, inscrição, coisas assim básicas para isso, faz total diferença para nós”, conta.
O custo das inscrições para participar nas competições pode também ser um desafio para alunos de baixa renda. Em campeonatos regionais, as inscrições ficam em torno de R$ 30 a R$ 40. Mas em campeonatos mundiais, a taxa de inscrição pode chegar até R$ 200. “Existem campeonatos que é por faixa etária. Até 17 anos, é um valor. Adulto, já é outro valor porque tem as premiações. Teve uma surpresa nesse campeonato de agora. Quem foi campeão ganhou a inscrição para o campeonato mundial. Quatro atletas de Irati ganharam a inscrição para o campeonato mundial. Dois já estão inscritos e vamos ver, vamos fazer um sorteio ou alguma coisa para essas duas vagas, para passarmos para algum aluno que vai participar do mundial”, destaca.
Mesmo com a inscrição garantida, os atletas ainda precisam de auxílio para conseguir custear a sua participação no campeonato. Em sua maioria, são os próprios atletas que custeiam alimentação e hospedagem, incluindo, atletas que doam valores para outros poderem participar da competição. “Nós ganhamos um patrocínio do nosso aluno para o café da manhã. Como nós saímos muito cedo aqui da cidade de Irati, eu e a minha esposa pensamos que não tem a possibilidade de deslocarmos para tomar um café. ‘Vamos organizar um café’. Um aluno deu um valor para nós e levamos frutas, conseguimos água, conseguimos levar um lanche para eles. Eles tomaram café no local e o almoço foi por conta deles. Nós até queríamos um patrocinador que auxiliasse nas inscrições deles, no almoço deles, para incentivar eles”, conta.
O professor destaca os benefícios de os alunos participarem das atividades do grupo Muzenza. “Mostrar para elas também que, não só a parte da cultura, mas na parte da luta, mostrar para elas que a capoeira é um esporte. Mostrar para elas que elas podem com a capoeira, não só jogar capoeira, mas ganhar medalhas, ganhar títulos. Buscar o lado de esporte com a capoeira. Crescimento para elas, autoconfiança, autocontrole, autoestima também. Ensinar para elas que nem sempre vamos conseguir uma medalha, nem sempre vamos conseguir ficar nos pódios, mas também que vamos treinar cada vez mais para conseguirmos alcançar o objetivo. São vários fatores que eu tenho certeza que estamos estimulando neles e valorizando eles, principalmente, na parte do esporte”, afirma Pimenta.
Os treinos do grupo Muzenza acontecem no bairro Lagoa, na Avenida Noé Rebesco, nº 1600, em frente ao LavaCar Bartiko e no Clube do Comércio. O projeto também atua há quatro meses na Praça do CEU das Artes, no conjunto Joaquim Zarpellon.