Professores, funcionários e estudantes optaram pela manutenção da paralisação. Segundo representantes das categorias, reivindicações estão longe de serem atendidas
Em uma assembleia realizada na tarde desta terça-feira, 03, professores, agentes universitários e acadêmicos decidiram manter a greve na Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro) por tempo indeterminado.
Entre as principais reivindicações que ainda permanecem em pauta, estão o pagamento do terço de férias, prometido pelo governo estadual para o final deste mês, e a retirada em definitivo do Projeto de Lei que mexe com o fundo de previdência do funcionalismo público do Paraná, a Paranaprevidência. O projeto, se for aprovado, permitirá que o governo retire R$8 milhões do fundo para sanar os problemas de caixa que o Estado vem enfrentando.
De acordo com o professor João Carlos Corso, a questão da autonomia universitária seria debatida pelo Conselho Universitário através da formação de uma comissão com representantes dos alunos, professores, funcionários e sindicatos. Porém, a assembleia decidiu que este não é o melhor momento para a criação desta comissão.
“Não é hora de a gente formar uma comissão e fazer tudo aquilo que o governo do Estado está pedindo, não que a gente não tenha que discutir a autonomia, mas está se passando por cima de uma greve que está ocorrendo, e isso gera reunião de departamento, reunião de conselho, de setor, e portanto, o pessoal da comissão escolhida não vai realizar reunião, e o professor Aldo [Nelson Bona, reitor da Unicentro] terá que justificar isso na próxima reunião do COU”, comentou.
Além disso, o professor Pierre comentou que a universidade vem sofrendo uma defasagem no seu quadro de técnicos administrativos nos últimos anos. Ele conta que, em 2003, havia 280 funcionários contratados. Hoje, a instituição conta apenas com 250 funcionários efetivos.
“Nem a reposição das aposentadorias e exonerações está acontecendo. Uma universidade começa pela graduação e nenhum dos 38 departamentos pedagógicos tem funcionários há vários anos. Será que isso é a melhoria da universidade? A gente tem que verticalizar, mas se acabar a graduação, acaba a universidade”, destacou.
Em entrevista a reportagem, o secretário do Sindicato dos Docentes da Unicentro (Adunicentro), Denny William da Silva, destacou outros pontos de discussão dos grevistas com o governo do estado. “Primeiramente, nós temos um desacordo com o governo do estado quando ele procura retirar dinheiro para investimento em pesquisa, quando procura mudar o destino dos recursos do Fundo Paraná”, comentou.
Segundo Denny, outro aspecto diz respeito à reforma da previdência que o governo pretende realizar. “Nós não temos acordo com isso, pois vai acabar comprometendo o pagamento das futuras aposentadorias e esta é uma situação que unifica todos os funcionários públicos do estado do Paraná”, comentou.
De acordo como secretário da Adunicentro, os funcionários e professores exigem também o pagamento imediato do terço de férias. “Este é um direito de todo trabalhador e tem que ser pago com até dois dias de antecedência ao gozo das férias, mas o governo não fez isso”.
Ainda conforme Denny, há também a questão da discussão da autonomia universitária, o que poderia mudar radicalmente a estrutura e o funcionamento das universidades, abrindo uma perspectiva de privatização do Ensino Superior Público do Paraná.
Pautas estudantis
Denny ressaltou a importância da entrada dos estudantes na greve, levando consigo problemas pontuais da Unicentro para o centro da discussão. “A universidade pública é o espaço mais democrático que pode haver, porque ela não faz distinção de raça e nem se a pessoa é rica ou pobre e para a qual todo mundo tem a possibilidade de ter acesso. A assistência estudantil é fundamental para que nós possamos garantir que o estudante mais pobre, mais carente, possa concluir o seu curso, podendo ter uma alimentação subsidiada e o estudante do interior aqui do nosso estado possa ter uma moradia estudantil, o que já existe em outras universidades. Não é admissível que a Unicentro seja uma das poucas universidades do Paraná que não tenha isso”, desabafou.
Além disso, os próprios estudantes também apresentaram suas reivindicações durante a assembleia. A acadêmica do curso de psicologia, Marcela Pereira, falou em nome do Conselho de Entidades de Base da instituição, uma vez que o campus de Irati não tem um Diretório Central de Estudantes (DCE) ativo.
De acordo com Marcela, os estudantes não haviam entrado ainda na greve porque não existia uma pauta de reivindicações estudantis da greve. “Nós então definimos a nossa pauta de greve. É evidente que o movimento estudantil tem muitas outras pautas. Todo mundo sabe que a assistência estudantil da Unicentro é extremamente precária, mas para este momento nós elencamos quatro pautas que consideramos principais, compreendendo esta atual conjuntura e o cenário de greve”, comentou.
Marcela diz que as principais reivindicações dos estudantes são o repasse total da verba para o auxílio alimentação dos estudantes, que foi reduzido de pouco mais de R$1 milhão para R$350mil, a retomada da estadualização do Restaurante Universitário, o repasse das verbas do governo do estado para entrega do Centro de Convivência e a garantia de gratuidade de todos os cursos da Unicentro.
“Nós estamos receosos com a questão da autonomia e sabemos que este projeto do governo dá margem para a privatização das nossas universidades. Nós, enquanto estudantes, exigimos a gratuidade do ensino”, comentou.
Outras assembleias devem ser realizadas para definir as ações que serão tomadas e quais serão os rumos da greve na Unicentro.