Fonoaudióloga fala sobre mitos e verdades da amamentação

Coordenadora do “Cuida Bem” e professora da Unicentro, Cristina Fujinaga, fala sobre projeto que leva…

31 de agosto de 2022 às 23h53m

Coordenadora do “Cuida Bem” e professora da Unicentro, Cristina Fujinaga, fala sobre projeto que leva informações sobre a amamentação e esclarece sobre o processo de aleitamento materno/Texto de Karin Franco, com reportagem de Juarez Oliveira

Integrantes do projeto Cuida Bem realizaram uma ação de conscientização sobre a importância do aleitamento materno em Fernandes Pinheiro no dia 11 de agosto. Foto: Divulgação

Discutir a importância da amamentação e desmitificar alguns mitos do aleitamento materno foram os objetivos do Agosto Dourado, uma campanha realizada por profissionais de saúde para conscientizar sobre os benefícios do aleitamento materno.

De acordo com a fonoaudióloga e professora da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro), Cristina Fujinaga, o mês é marcado por ações que auxiliam a levar informações para a sociedade. “Embora o Brasil tenha números robustos – conseguimos aumentar a prevalência do aleitamento materno, desde a década de 80 e até os dias de hoje -, nós ainda precisamos avançar porque uma mãe e um bebê devem permanecer mamando no peito até o sexto mês de vida. Hoje ainda não chegamos lá. Não são todas as mamães que conseguem fazer isso. Ficamos esse mês todo falando sobre o tema, orientando, ajudando, apoiando e educando a amamentação”, conta. 

Em Irati, o curso de Fonoaudiologia da Unicentro possui o projeto “Cuida Bem” que busca levar informações sobre a amamentação de modo a desmitificar vários assuntos conhecidos da população em relação ao tema. Cristina também é coordenadora do projeto e explica que ele é desenvolvido com o auxílio dos estudantes da Unicentro. “Esse projeto é um projeto desenvolvido na Unicentro e ele é coordenado por mim, por outra professora Caroline Guisantes, do curso de Psicologia. Ele é um projeto que já nasce tendo informações tanto da fonoaudiologia, quanto da psicologia. Tem as estudantes envolvidas, então também dos cursos de graduação em Fonoaudiologia e Psicologia para trazer que tipo de informação? Aquelas informações do dia a dia”, disse. 

As informações são levadas ao público por meio das redes sociais. “Ali no Cuida Bem, na nossa página tanto do Facebook, quanto do Instagram, as informações elas estão numa linguagem, elas estão escritas de um jeito que qualquer pessoa pode entender. Nós temos um canal aberto que você pode interagir conosco na nossa página, você pode mandar sua pergunta, mandar um Direct, comentar que a nossa equipe vai estar disposta a orientar você e trazer as melhores informações”, explica Cristina. 

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Uma das preocupações dos profissionais da saúde é conscientizar sobre a importância da amamentação e especialmente o período dos primeiros mil dias do bebê, que são contados desde a gestação até o bebê completar seus 2 anos. “Esse período dos mil dias é um período crítico para o desenvolvimento do bebê, da criança. Isso vai resvalar depois na inteligência dessa criança, no comportamento dessa criança, na imunidade, o fato dele ficar menos doente, e estudos dizem que vai impactar até na renda per capita”, conta. 

A fonoaudióloga destaca que a amamentação auxilia na saúde da criança. “Na prática, vemos que a criança que é amamentada, é uma criança que fica menos doente, é uma criança que fica menos vulnerável e nesse tempo doido que temos vivido, com a volta de algumas doenças, o surgimento de novas doenças, nada como a mãe estar passando para o seu bebê, através do seu leite, todos os anticorpos das doenças que ela teve ou que ela tem. Digamos que é como se você tivesse dando em doses bem saudáveis e em doses bem grandes, uma espécie de um ‘remédio’ para o bebê”, explica. 

A amamentação é uma prática que pode ser levada até os sete anos de idade da criança. Cristina destaca que amamentar até esta idade é uma prática saudável. “Infelizmente, elas são muito criticadas e muito condenadas pela nossa sociedade. É muito triste vermos isso. Por exemplo, se pegarmos uma criança de sete anos, uma que mama no peito e a outra que mama na mamadeira. De quem que vão ficar reparando? De quem que vão ficar falando mal? Geralmente é da criança que está no peito. Por que será que ninguém acha esquisito estar na mamadeira? Porque é uma questão cultural. Nós nos acostumamos com esse tipo de comportamento. Só que não é legal. Nós não devemos julgar uma mãe e uma criança que estejam em amamentação, porque essa é uma decisão que cabe a ela, ao bebê, no caso a criança, e à família. Não devemos estar metendo a colher”, disse. 

A amamentação reúne também diversos mitos sobre o que pode acontecer ou não durante o período de aleitamento materno. Um dos mitos é que mães que não possuem um bico do seio, ou seja, bicos invertidos, não podem amamentar. “Isso é puro mito. O que temos que perceber? Nós não temos diferenças entre nós? Cada um tem um tipo de nariz, cada um tem um formato na orelha, cada um tem um formato no olho, até o meu é meio diferente daqui da região porque eu sou descendente de japoneses, mesmo assim todo mundo enxerga, todo mundo respira, todo mundo escuta. O bico é a mesma coisa. O bico da mãe tem variações. Alguns são mais curtos, outros são mais longos. Alguns são planos realmente, são retinhos e muito, mas muito raro, em torno de só 5% dos bicos são invertidos. Mas todas as mulheres podem amamentar”, explica Cristina. 

Fonoaudióloga Cristina Fujinaga é coordenadora do projeto Cuida Bem. Foto: Divulgação

A amamentação é possível nesses casos porque o leite não sai somente do bico do seio. “Dentro da nossa mama, tem o lugar onde é produzido o leite, que fica mais atrás, depois ela tem os canais por onde esse leite desce e tem um lugar aqui onde esse leite fica armazenado, que chamamos de ducto lactífero. Por dentro, não conseguimos ver, mas uma dica para você saber onde que é esse lugar por fora, é justamente na parte marrom do nosso peito, chamado de aréola. Quando o bebezinho vai mamar, ele não pode pegar só no peito. Inclusive isso vai prejudicar o bebê. Por quê? Porque ele não vai conseguir tirar o leite suficiente, ele vai ficar com fome, ele não vai ganhar peso. Onde é que o bebê tem que pegar? Ele tem que pegar justamente nessa parte marrom da auréola. E aí não é exatamente no bico, ele tem que pegar aqui atrás”, conta. 

Existem situações que o bebê não consegue aprender a fazer a chamada “pega” de forma correta. Por isso, a indicação é procurar um profissional que auxilie neste momento. “Procurar uma ajuda especializada e entre os profissionais que trabalham com isso que chamamos de manejo clínico é um fonoaudiólogo. Vamos te ajudar a ajustar a anatomia da sua mama para anatomia da boquinha do seu bebê”, disse. 

Outro mito muito propagado é que a amamentação diminui as chances de a mulher engravidar. A fonoaudióloga destaca que isso não é mais verdade. “Os estudos hoje, a ciência mostra que a mulher pode engravidar sim. Antigamente, o que acontecia? As mulheres faziam o resguardo de uma forma muito mais rígida. Esse bebê mamava muito nesse peito, exigia muito dessa mãe e fazia um controle hormonal. Essa mulher demorava para menstruar, depois que ela tinha esse nenê. Claro, sem a menstruação, não está tendo ovulação, não existe chance de engravidar. Só que hoje não é mais assim. A mulher é muito ativa. Ela tem o nenê, mas agora ela trabalha, ela faz os afazeres do lar, tem os outros filhos, ou seja, não temos uma mulher que faz aquele resguardo, que fica ali parada. E isso pode ter diferenciado os níveis hormonais dela e ela menstrua mais cedo”, explica. 

Com a menstruação mais cedo, isso significa que a ovulação também aconteceu mais cedo. “Mulheres que estão amamentando, por favor, se cuidem! Busquem auxílio com um profissional competente, com o seu médico de confiança, para você estar sim utilizando um método contraceptivo, porque senão vai dar neném aí”, conta. 

Cristina destaca que é preciso esperar o corpo da mulher se recuperar para ter uma nova gravidez. “O corpo da mulher se modifica muito para gerar uma vida. Depois que esse neném nasce, ela também precisa de um tempo para recuperar a sua saúde. Afinal de contas, carregamos um filho no ventre, não é pouca coisa. Quanto tempo deveríamos esperar o nosso corpo voltar a funcionar bem? Em torno de 24 meses, em torno de dois anos”, explica. 

O planejamento da gravidez é uma das formas para evitar uma gestação de risco. “Claro que estou falando do mundo ideal, às vezes, não é o mundo real, mas que planejamos a nossa gestação, que planejamos os nossos filhos e que dê um respeito até conosco mesmo, em relação ao nosso corpo, para que o nosso corpo consiga se recuperar. E você, mulher como eu, não corra o risco de ter uma gravidez que pode te levar a ter alguma doença ou algum risco pra sua vida e a vida do seu bebê”, disse. 

Outro mito é que a amamentação deixará o bebê mimado, especialmente depois de um ano de vida. Segundo a fonoaudióloga, isso não é verdade. “Pessoal, amamentar não deixa seu bebê mimado. A amamentação deve acontecer até o segundo ano de vida ou mais. Não sou eu que estou dizendo, isso é a Organização Mundial da Saúde, é o Ministério da Saúde, são os pediatras, ou seja, o bebê se beneficia muito do leite”, conta. 

A recomendação de especialistas é que o bebê seja alimentado exclusivamente com leite materno até os seis meses de vida. Cristina destaca que essa alimentação nos primeiros meses de vida auxiliará no intestino do bebê. “O nosso intestino tem ali dentro, vários serezinhos morando com a gente. Chamamos isso de microbiota intestinal. Tem ali bactérias do bem e bactérias do mal. Como é que vamos fazer para que tenhamos um intestino saudável para o resto da nossa vida? Justamente recebendo o leite materno. Até o sexto mês de vida realmente precisamos receber o melhor alimento que é o leite materno. ‘Ah, mas eu vou dar um chazinho, não dá nada’. ‘Ah, está com cólica, eu vou dar ali uma funchicória’. Isso não é nada legal. Por quê? À medida em que você introduz outro alimento, você vai estar desequilibrando essa flora intestinal, essa microbiota intestinal, você vai estar alimentando as bactérias do mal. E aí essa criança pode ter diarreia, essa criança pode ter cólica e você pode estar desequilibrando a saúde intestinal do seu bebê”, disse. 

A fonoaudióloga ainda destaca que outro mito é que, depois de um tempo amamentando, o leite ‘afina’, virando uma água e não possui mais nenhum nutriente. Cristina explica que isso não é verdade e o que acontece é que o leite materno vai se modificando de acordo com o que o bebê precisa. “Durante o desenvolvimento do bebê, esse leite da mulher vai se transformando para atender exatamente a necessidade do que ele precisa. Determinada época da vida, esse bebê precisa de mais gordura, a mãe produz o leite com mais gordura. Depois, precisa de mais proteína, produz mais proteína. Esse bebê ficou doente. Gente do céu, a imunidade para esse bebê vai ser produzida pela mãe. Além de não mimar o bebê, ele também não faz mal. Essa é uma escolha que deve pertencer ao bebê e à mamãe”, conta. 

Apesar de existirem vários mitos sobre a amamentação, há um que é uma verdade. O uso de bico, chupeta, mamadeiras ou bicos de silicone pode fazer com que o bebê largue a amamentação. “Se você está com o seu bebê, especialmente, nos primeiros três meses, que você quer amamentar, que você quer ali oferecer esse peito para o bebê, por favor, não introduza o bico. ‘Ah, todo o bebê que usa bico vai largar o peito?’. Nem todos, mas o risco é grande. Por quê? Durante os três primeiros meses, o bebê vai exercer uma sucção aqui no peito que tem um padrão, que vai adaptar a mamada que ele vai fazer no seu bico. É muito único, é muito especial, é ali, só você e o seu bebê. Se você introduz um bico aqui, você vai confundir o seu bebê. Até o terceiro mês, essa sucção ainda é o que chamamos de primitiva, um reflexo primitivo, ele vai ficar confuso e ele pode soltar do seu peito. Infelizmente, essa é uma verdade, se você quer amamentar, evite a introdução de bicos”, explica. 

Outro mito que acaba sendo uma verdade é que se a mãe fica estressada, o bebê fica irritado. A fonoaudióloga explica que o estresse interfere na produção do leite materno e pode afetar o bebê. “Quando a mãe está estressada, ela está triste ou ela está com muita dor, vocês acreditam que além de bloquear um dos hormônios responsáveis pela amamentação, que é a oxitocina, ela libera uma outra substância chamada cortisol. E vocês acreditam que esse cortisol nos deixa com batedeira no coração, acelera, deixa o olho meio dilatado, quando o olho fica esse estatelado. Infelizmente, essa substância passa para o bebê e o bebê também se estressa. Então, papai e rede de apoio, vamos ajudar essa mulher a amamentar porque se você fica criticando a sua esposa, cobrando, não fazendo um elogio, não dando um colinho para ela, vai estar prejudicando, vai estar estressando a sua mulher e prejudicando o seu bebê”, conta. 

Algumas mães podem não conseguir produzir leite. Em alguns casos, o banco de leite pode auxiliar essas mães. Contudo, em Irati, não há banco de leite. Os mais próximos ficam em Guarapuava e Ponta Grossa. 

Por isso, a fonoaudióloga destaca que é importante procurar ajuda caso tenha dificuldade de produzir leite. “Sempre há um motivo pelo qual essa mamãe não está produzindo leite. Claro que existe em casos raríssimos de hipogalactilia, que é realmente a mãe não produzir leite pela glândula mamária, que é todo esse conjunto aqui responsável por realizar a produção do leite, tem mamães que elas não têm essa glândula totalmente desenvolvida que são esses casos tipo hipogalactilia, de hipoplasia mamária, mas isso é muito raro. Geralmente, descobrimos porque que ela não está produzindo leite. Às vezes, é muito estresse, é falta de comer bem, falta de beber muito líquido, falta de alguém ajudando-a com as tarefas. Ela está muito estressada, cheia de coisas para fazer. Às vezes, esse bebê está pegando só na pontinha e não está estimulando verdadeiramente essa mama para produzir o leite. Por isso, não se apure, procure ajuda”, aconselha. 

O projeto Cuida Bem pode ser acessado no Instagram pelo perfil @projetocuidabem. Mais informações também podem ser conferidos no perfil @cris.fuji, no Instagram.

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