Dia da Padroeira Nossa Senhora de Częstochowa foi celebrado na quinta-feira (26). Iratienses deram depoimentos sobre a padroeira da Polônia/Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava
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Genoveva Zavilinski exibe quadro de Nossa Senhora de Częstochowa, conhecida também como Nossa Senhora do Monte Claro. Foto: Paulo Sava |
Diferente de outros anos, Irati não teve a tradicional missa que celebra a data devido à pandemia de coronavírus. Contudo, a data está sendo lembrada no programa Godzina Polska, apresentado por Genoveva Zavilinski na Super Najuá, e também com publicações nos jornais locais.
Já em Curitiba, a comemoração será feita no domingo (29), a partir das 14h, quando haverá uma celebração cívico-religiosa no Memorial da Imigração Polonesa, localizado no Bosque do Papa João Paulo II.
Em participação no programa “Meio Dia em Notícias”, Genoveva contou que a data é muito celebrada pelos poloneses que realizam peregrinações no Santuário de Jasna Gòra, localizado na cidade de Częstochowa, na Polônia. “Na Polônia toda eles se dirigem a este santuário em algum momento da vida. Vão lá para pedir graças ou para agradecer as graças recebidas. E principalmente nessa época hoje na Polônia, apesar da pandemia, tem muita gente no santuário”, disse.
A presidente do Núcleo da Braspol de Irati, Nelsi Pabis, explica que a religiosidade é uma característica muito forte na etnia polonesa. “O povo polonês é profundamente religioso. A sua ligação com a religiosidade é antiga. A Polônia foi cristianizada no final do século X. Os poloneses formam convertidos ao catolicismo, firmaram-se como os mais ardorosos católicos do Leste Europeu”, explica.
Nelsi conta que a santa se tornou padroeira dos poloneses porque a independência do país é atribuída à Nossa Senhora de Monte Claro. “Consideram que conseguiram a sua independência graças à interseção de Nossa Senhora de Monte Claro a quem sempre recorriam. Os mitos em torno da permanecia do quadro da Nossa Senhora de Częstochowa, na Polônia, reforçaram a sua fé. Com a conquista da liberdade, tornaram-se mais fervorosos ainda”, relata.
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Imagem da presidente da Braspol, Nelsi Pabis, em frente à igreja de Swiecane, na Polônia. Foto: Arquivo Pessoal |
A devoção à santa chegou no País com os imigrantes poloneses. “Vivendo em outros países, continuaram firmes na fé, pois traziam na sua bagagem a fé, a devoção à Nossa Senhora e um quadro da mesma Nossa Senhora a quem pediam a sua proteção. Ao longo do tempo transmitiram a sua devoção a seus descentes. No Brasil, nas localidades onde existem a concentração de imigrantes e seus descentes, esta data como outras do calendário polonês é lembrada e comemorada”, disse Nelsi.
O quadro com a imagem da Nossa Senhora de Monte Claro, juntamente com o menino Jesus, está localizado no santuário de Częstochowa, onde fieis peregrinam a cada ano. O padre Anderson Spegiorin conta a história deste quadro. “A teoria histórica na Polônia é que seria trazido de Jerusalém. Mas pesquisas históricas mostram que seria uma cópia do original. O original deste ícone se encontra no Santuário de Lucas no norte da Itália”, afirmou.
O quadro, uma reprodução de uma pintura feita por São Lucas, possui diversas lendas de milagres atribuídos. Uma das lendas conta que a santa protegeu a Polônia durante a invasão nazista. “É uma história contada que já no fim da guerra, retirada dos alemães da Polônia, já voltando para casa, por causa dos aliados da Frente Rússia, Hitler mandou bombardear o mosteiro de Jasna Gòra”, conta o padre.
Os soldados obedeceram a ordem. “Hitler na retirada, ordenou que destruísse tudo que fazia parte da cultura, tudo que fosse importante para o povo polonês. E o santuário de Częstochowa é o centro, é a fé do povo, o povo polonês é muito mariano. Então, essa é uma lenda histórica que as bombas não explodiram. Aliás, nem caíram”, relata o padre.
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Padre Anderson Spegiorin. Foto: Arquivo Pessoal |
Apesar de ser vista como uma lenda, um soldado chegou a confirmar a soltura da bomba. “Uns anos atrás um piloto da Força Aérea nazista confirmou que ele, no avião dele, soltou as bombas bem em cima do mosteiro. E depois ficou sabendo que elas não explodiram”, diz Anderson.
Em Irati, um quadro da Nossa Senhora de Monte Claro também guarda uma história muito curiosa. A Paróquia São Miguel possui um quadro da santa que foi presenteado pelo papa João Paulo II aos brasileiros. O quadro foi recebido pelo presidente da República da época, que acabou repassando o presente para o governador do estado.
Em 1994, o ex-prefeito Felipe Lucas estava à frente do município e era próximo do governador. “Eles tinham aquela amizade e o governador sabia que tem o CAIC João Paulo II em Irati. Então, ele disse: ‘Nada melhor do que vocês terem um quadro oferecido pelo papa João Paulo II. Foi nessa transação, vai pra lá, vai pra cá, um decide assim, outro decide de outra forma. Mas a ultima decisão foi que o quadro viria para Irati para ser colocado no CAIC”, afirma Genoveva.
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Quadro da Santa Padroeira da Polônia que foi doado pelo Papa João Paulo II está na Paróquia São Miguel, em Irati. Foto: Paulo Sava |
No entanto, a escola não possuía local apropriado para a imagem e foi decidido que o quadro seria colocado na Paróquia São Miguel. À época, uma celebração foi realizada incluindo uma procissão levando o quadro da prefeitura até à igreja, onde foi feito a entronização da imagem. O dia ainda incluiu comemorações com grupos de dança folclóricos e canções típicas.
A vice-presidente da Academia de Letras, Artes e Ciências da Região Centro-Sul (ALACS), Luiza Nelma Fillus, conta que a devoção dos imigrantes poloneses à santa permitiu que a fé também pudesse ser transportada para além-mar. “Era muito comum quando os poloneses que vinham como imigrante para o Brasil, relataram que todos colocaram na bagagem, que normalmente era pouca coisa, mas que não podia faltar o quadro de Nossa Senhora de Monte Claro”, conta.
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Luiza Nelma Fillus-Vice-presidente da ALACS. Foto: Arquivo Pessoal |
O resultado é que a fé se espalhou e ajudou com que os primeiros imigrantes se desenvolvem em novas terras. “Chegou com eles à Ilha das Flores, no Rio de Janeiro. Depois fizeram quilômetros e quilômetros de carroça. Muito mato. Florestas imensas. Construíram casas simples para morar. Mas lá estava quem: Nossa Senhora de Monte Claro. Num lugar bem especial da casa para que pudesse ser vista”, disse.
Hoje peregrinações marcam a vida dos fiéis, inclusive de brasileiros que voltam ao local de origem dos seus antepassados para expressar a fé. Um desses brasileiros foi a professora e ex-vereadora Maria Zuleika Onesko, que visitou o santuário em 2011. “O que mais me comoveu foi a comemoração do dia de Ação de Graças que é comemorado todos os anos no segundo fim de semana de setembro. Peregrinos de toda a Polônia, com faixas e bandeiras, várias romarias com trabalhadores das fábricas e outros setores, todos a caminho do santuário. Não só o povo polonês, mas Israel e outros países, milhares e milhares de romeiros com bandeiras de várias nacionalidades, rendendo graças à Virgem de Częstochowa”, conta.
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Maria Zuleika Onesko visitou santuário em memória a Santa Padroeira da Polônia em 2011. Foto: Arquivo Pessoal |
O presidente da ALACS, Herculano Batista Neto, também destacou a importância das celebrações locais para os descentes. “Toda essa manifestação para que possamos lembrar todo o sacrifício que tiveram os nossos pioneiros poloneses para estar aqui. Lembrando que a rainha da Polônia, Nossa Senhora do Częstochowa, está até hoje nos lares dos descendentes. Está ali na São Miguel, mas está presente no coração e nos lares de todos os descendentes”, afirma.
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Presidente da ALACS, Herculano Batista Neto, é neto de descendentes de poloneses. Sua mãe também tem descendência polonesa. Foto: Arquivo Pessoal |