Família Acolhedora: Irati amplia rede de proteção a crianças e adolescentes

Programa atende menores que precisam ser afastados temporariamente de suas famílias de origem por medida…

04 de abril de 2025 às 11h20m

Programa atende menores que precisam ser afastados temporariamente de suas famílias de origem por medida de proteção/Paulo Sava

Secretária de Assistência Social, Maria Helena Orreda, e a assistente social Jennifer Lopes detalharam durante o programa Sabadou sobre como funciona o programa Família Acolhedora. Foto: Paulo Sava

Acolher é um gesto de amor e cidadania. Em Irati, o programa Família Acolhedora oferece uma alternativa humanizada para crianças e adolescentes que precisam ser afastados temporariamente de suas famílias de origem por medida de proteção.

Existem dois tipos de acolhimento no município atualmente: o institucional, no qual os menores em condição de vulnerabilidade são levados para a casa lar do município; e o acolhimento familiar, que é o programa Família Acolhedora.

Para entender como funciona o programa, nossa reportagem conversou com a secretária de Assistência Social de Irati, Maria Helena Orreda, e a assistente social da Prefeitura de Irati, Jennifer Lopes. “É onde famílias voluntárias que têm perfil e amor para dar a estas crianças e gostam de acolher, se prontificam a participar do programa. Existem alguns critérios, como por exemplo, precisa ter mais de 21 anos, não pode ter interesse ou estar no Cadastro Nacional de Adoção. O acolhimento é temporário e dura enquanto estiver rolando o processo. Cada caso é diferente: às vezes, a criança vai ficar alguns meses conosco, tem casos em que vai um tempo maior. É muito importante que as famílias tenham esta consciência, que é de aceitar receber a criança em sua casa por um período de tempo determinado”, frisou Jennifer.

Maria Helena enfatiza que o acolhimento é feito apenas por um período de tempo e não pode ser confundido com adoção, que somente é aplicada em casos extremos. “A criança somente irá para adoção em casos extremos em que realmente, após um longo trabalho, todas as tentativas e tratativas necessárias que foram realizadas com a família de origem não possibilitaram o retorno à família, aí sim esta criança vai para a adoção. A adoção realmente é algo muito sério, é um trabalho longo e técnico, que exige muita metodologia e cuidado, porque envolve a vida de uma criança e de sua família”, afirmou.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) norteia o acolhimento e traz a importância de se trabalhar com as vulnerabilidades das famílias. O objetivo deste trabalho é de fazer com que as crianças ou adolescentes voltem para casa o mais breve possível.

Lei municipal amparou criação do Programa Família Acolhedora

No total, duas equipes atuam nas casas lares e junto às famílias acolhedoras de Irati. Uma lei municipal criou o programa em 2018, porém ele começou em 2019. Atualmente, 13 famílias habilitadas estão recebendo crianças. Entre os menores, 20 estão em famílias acolhedoras. Para Jennifer, a oportunidade de estar em uma família, ainda que temporariamente, é melhor que se a criança for transferida para uma casa lar.

“O acolhimento por si só já é um rompimento de vínculos, então já é traumático. Estar em uma família propicia a esta criança que esteja inserida em um ambiente mais individualizado, onde se respeite a individualidade dela, que ela possa acompanhar a família nas rotinas básicas do dia a dia, ir ao supermercado, à igreja, e conviver naquele espaço com uma pessoa, um casal de referência, diferente do ambiente coletivo da casa lar, onde são muitos acolhidos com idades diferentes, cuidadores que trabalham em ritmo de escala. Esta vinculação na família acolhedora é muito melhor, todos os estudos que nós temos acesso trazem os benefícios do acolhimento familiar na vida das crianças e adolescentes que precisam passar por este período”, frisou.

Avaliação

A família candidata a acolher uma criança passará ainda por uma avaliação da equipe técnica do programa, que vai avaliar o real motivo dela querer participar do programa e se ela está preparada naquele momento para assumir esta responsabilidade, de acordo com Maria Helena.

“É maravilhoso ter uma criança adentrando à família da gente, principalmente para quem gosta de criança. Muitas pessoas que sonham em cuidar de uma criança. Para isto, você tem que ter habilidades, e não é só o desejo, tem que ter algumas habilidades específicas para bem exercer este cuidado, que é temporário. Esta criança vai acabar, por decisão judicial, no momento em que o juiz definir, certamente ela será encaminhada, ou retornando para sua família de origem, ou, excepcionalmente, se for o caso, para adoção”, afirmou.

A família candidata a participar do programa deve residir em Irati há pelo menos dois anos, não pode ter usuário de substâncias psicoativas (bebidas alcoólicas e drogas), comprovar a saúde física e mental dos seus integrantes e não ter antecedentes criminais. Para participar, basta procurar a equipe da Assistência Social, que fará dois dias de capacitação com as pessoas, de acordo com Jeniffer.

“Nós fazemos capacitações com esta família, em dois dias, onde é explicado o que é o programa, a questão de ser temporário, as possíveis demandas que podem surgir. Nós somos humanos e nos apegamos às crianças, geramos este vínculo, o que é muito bom. Mas vai chegar um tempo em que vai ter um rompimento. Enquanto equipe técnica, vamos orientando e dando todo este suporte. A partir da capacitação, tem toda uma análise documental para levantar mesmo todo o histórico desta família junto ao Conselho Tutelar. Em seguida, a equipe faz uma visita domiciliar para conhecer a casa desta família, sua realidade e para fazer uma entrevista mesmo, sobre os motivos que a levaram a entrar no projeto. Se a família concorda, ela está habilitada a receber crianças”, comentou.

Capacitações mensais

As famílias acolhedoras passam por capacitações mensais, ministradas pela equipe da Assistência Social do município, para sanar dúvidas sobre o dia a dia e as demandas que vão surgindo, segundo Jennifer. “São crianças, cada uma do seu jeito, que, ao se inserir neste ambiente, vai gerar uma coisa ou outra, demandas próprias do dia a dia. Estamos sempre dando este suporte para as famílias sobre como trabalhar estas questões. Como o nosso trabalho, enquanto acolhimento, é a proteção integral desta criança, então nós somos responsáveis por tudo a partir do momento em que uma criança vem acolhida: demandas de saúde, escola, lazer, tudo é de responsabilidade do serviço de acolhimento. Nós ajudamos a família neste sentido, neste suporte”, comentou.

Cada família pode acolher um menor ou até mesmo grupos de irmãos, de acordo com Maria Helena e Jennifer. “Quando, por exemplo, tiverem irmãos juntos, acolhidos, e esta família tiver esta predisposição e for avaliada de forma positiva, também tem esta possibilidade de colocar grupinhos de irmãos, tanto de crianças pequenas quanto de pré-adolescentes ou adolescentes. Vai depender do perfil da família acolhedora. Cada família acolhedora pode receber dois casos diferentes, dois processos diferentes ou acolher grupos de irmãos. Atualmente, temos uma família acolhedora que está acolhendo um grupo com cinco irmãos. É uma família que está conosco há muito tempo. Temos duas ou três famílias que estão desde 2019 no projeto, que se você for olhar, já acolheram mais de 10 ou 12 casos, todos com idades diferentes”, comentou.

Critérios

Entre os critérios, um dos membros da família precisa ter renda fixa. Além disso, o programa paga uma bolsa-auxílio de R$ 1.518 (um salário mínimo) para custear as despesas com o menor. A faixa etária dos atendidos pelo programa vai desde o nascimento até 18 anos. Segundo Jennifer, o público atendido é bem diversificado. Na maioria dos casos, as crianças não conseguem identificar qualquer tipo de erro ou violência na forma de vida que levavam com a família de origem.

“Tem toda aquela resistência no começo em entender por que a criança não está com o pai e a mãe. A violência é muito sutil em algumas formas, e as crianças e adolescentes têm dificuldade em perceber que aquilo não era cuidado. Tem todo um período de adaptação, para entender e perceber que o jeito correto de ser cuidado por uma família, como é. Percebemos que, a partir do momento em que conseguimos inserir as crianças em família acolhedora, como isto reflete positivamente na vida delas. Às vezes, elas aprendem com a família acolhedora o que é carinho, amor, que eu preciso sim ter limites e isto faz bem para mim. Nós atendemos até 18 anos. Quando atingem esta idade, os adolescentes saem da casa lar, mas é muito diferente esta inserção na vida adulta pós acolhimento de um adolescente que ficou em família acolhedora, pois ele sai mais preparado para encarar a realidade”, comentou.

Trabalho de cuidadores

Quando as crianças vão para as casas lares, elas recebem atendimento de cuidadores que trabalham nestes locais. Além disso, trata-se de um ambiente coletivo, no qual tem até 10 crianças em uma casa, com diferentes idades, traumas e histórias de vida, de acordo com a secretária de Assistência Social.

“Muitas vezes, a criança traz um trauma, uma dor que precisa ser trabalhada. Então, também para os cuidadores, é muito mais difícil você dar a atenção devida e adequada para cada criança, o afeto e principalmente o acolhimento que cada uma precisa por ser uma grande quantidade de crianças. Hoje, estamos com uma grande quantidade de bebês, de crianças pequenas, e se torna mais difícil ainda porque as cuidadoras ficam se desdobrando para tentar atender as demandas dos bebês, e às vezes não conseguem dar a devida atenção e cuidado para as crianças que são um pouquinho maiores. Por isso, o programa Família Acolhedora é maravilhoso para dar oportunidade justamente para que cada criança possa ser acolhida e olhada na sua singularidade, com suas questões particulares, por uma família que vai dar toda a atenção, amor, carinho, vai se preocupar com o sono, a questão escolar e a saúde dela”, comentou.

Para Maria Helena, é importante que as pessoas que vão acolher os menores compreendam que cada um deles tem sua peculiaridade e necessidade de afeto. “Às vezes é uma criança que vai querer mais colo, vai exigir um pouco mais de atenção, vai exigir às vezes que este adulto para um pouco mais para pensar em que respostas vai dar para esta criança. É uma experiência fantástica, que traz algo que chega a mudar realmente a vida de muitas famílias”, finalizou.

Mais informações sobre o programa podem ser obtidas na sede da Secretaria de Assistência Social, na rua Doutor Correia, antigo prédio da APAE de Irati. O telefone para contato é (42) 99107-9780.

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