Algumas pessoas se encaixam nos critérios estabelecimentos pelo Ministério da Saúde para registrar a segunda contaminação. Porém, não há material genético para que seja feita a análise que confirma a reinfecção/Karin Franco, com reportagem de Rodrigo Zub
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O município de Irati oficialmente não registrou casos de reinfecção de Covid-19. Porém, eles podem estar subnotificados porque as investigações não puderam ser completadas por falta de material genético.
A chefe do Departamento de Vigilância Epidemiológica, a enfermeira Denise Homiak Fernandes, conta que o município de Irati registrou casos que se enquadravam como reinfecção, de acordo com os critérios do Ministério da Saúde. Mas a falta de material genético do primeiro exame fez com que fosse inviabilizado a análise do caso. “Existiram vários pacientes que se encaixaram nesses critérios. Eles tiveram duas infecções no intervalo maior ou igual que 90 dias. Porém, não houve a disponibilização da primeira amostra que ele fez a coleta pelo laboratório de apoio. Ou seja, quando a gente identificou, o paciente apresentou da segunda vez os sintomas, veio o resultado positivo e a gente solicitou que fosse feito o sequenciamento, porém a amostra já tinha sido descartada pelo laboratório”, relata Denise.
A chefe da Vigilância Epidemiológica explica que a Nota Técnica nº 52 do Ministério da Saúde elenca os critérios para confirmar um caso de reinfecção. Um dos critérios é que o exame utilizado para a confirmação precisa ser o RT-PCR. “Os critérios que o Ministério da Saúde nos recomenda é o uso do PCR, de ser a mesma metodologia. Então, a primeira vez que o paciente apresentou sintomas foi feito o diagnóstico por RT-PCR. Passou-se 90 dias e o paciente apresentou novamente os sintomas e fez novamente um RT-PCR e confirmou novamente. Tenho dois resultados de PCR num intervalo de 90 dias. Igual ou superior a 90 dias”, disse a enfermeira.
Para confirmar a reinfecção, uma análise genética é feita com o material do primeiro e do segundo exame. “O que eu preciso fazer é pegar essas duas amostras e fazer o sequenciamento genético dessas duas amostras para poder comparar as duas e realmente dizer que foi um sequenciamento diferente, que foi uma infecção diferente que ele teve nas duas ocasiões”, explica Denise.
Ela afirma que essa análise é necessária para diferenciar os casos de reinfecção das situações que a infecção permaneceu ao longo do tempo no corpo do paciente. Há possibilidade de a pessoa parecer curada, mas o vírus continuar no corpo do infectado, mesmo após o uso de medicamentos ou cura do paciente. “Existe também diferença na resposta imunológica de cada indivíduo. Às vezes, do uso de algum medicamento ou alguma doença de base desse indivíduo, que acaba a infecção, que aparentemente tivesse sido curada, ele permanece o vírus sendo identificado no exame. Por exemplo, eu posso fazer um PCR hoje, ele dá positivo para coronavírus, e daqui a um mês, se eu repetir esse teste ele ainda pode estar presente na minha mucosa nasal. Por isso, não recomendamos ficar repetindo coleta de PCR, até mesmo de critério de alta, que tem alguns profissionais que recomendam. Ele não é indicado por esse motivo. Ele pode persistir até 90 dias na mucosa do indivíduo”, disse a enfermeira
O exame ainda ajuda a verificar se é uma cepa homóloga. “Pode ser uma cepa homóloga, que a gente fala, que é o mesmo tipo de vírus, a mesma sequência genética do vírus. Pode ser, é uma possibilidade. Porém, precisa ser feito um sequenciamento desse gene para comprovar realmente que foi uma reinfecção, no caso, e não a persistência do vírus na mucosa do paciente”, afirma a chefe do Departamento de Vigilância Epidemiológica.
Denise destaca que é preciso que as pessoas continuem tomando os cuidados necessários, como o uso de máscara e evitar aglomerações, mesmo depois de ter sido contaminada. “A gente não tem a informação por quanto tempo os anticorpos duram no organismo. O que foi visto mesmo foram que os anticorpos produzidos pela doença, em algumas pessoas eles duraram pouco tempo. Foram menos de 90 dias. Foi uma imunidade bem curta e eles já tiveram a infecção novamente”, destaca.
Variantes: Outra preocupação é com as variantes do coronavírus. Em Irati, a circulação das variantes foi confirmada no fim do mês passado. “Já veio comprovado por exame que essa cepa nova está circulando também aqui em Irati”, revelou.
Por isso, a orientação dos profissionais de saúde continua sendo a de tomar as medidas preventivas, como uso de máscara e evitar aglomerações. A orientação vale inclusive para quem já tomou a vacina. “O pessoal que está recebendo a primeira dose da vacina ele ainda não está imune. A imunidade só é conferida, após 14 dias depois da segunda dose que o paciente receber. E ainda vai proteger contra as formas graves do Covid. Previne internamentos e óbitos. Não quer dizer que a pessoa não vai pegar a forma leve do Covid mesmo após a segunda dose”, disse.