Extensão de prazo do déficit atuarial pode ser alternativa para amenizar repasses, avalia superintendente do CAPSIRATI

21 de setembro de 2020 às 01h44m

Projeto de suspensão do recolhimento do débito tramita na Câmara, mas, a pedido do Executivo, foi retirado de pauta para reanálise

O projeto de lei 34/2020, que autoriza o Executivo a suspender contribuições previdenciárias patronais e a contribuição adicional do município ao Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), que seria discutido em 2ª votação na Câmara de Irati na semana passada, foi retirado de pauta, a pedido do Executivo, sob a justificativa de que se fazia necessário uma reanálise da conjuntura socioeconômica do município. O pedido de suspensão compreende o período de 1º de março de 2020 a 31 de dezembro de 2020. A proposição prevê que os valores devidos a título da suspensão serão calculados ao final da vigência da mesma e pagos em 60 parcelas mensais e sucessivas até o dia 31 de janeiro de 2021. A contribuição adicional corresponde ao parcelamento do débito do Executivo com a Caixa de Assistência Previdenciária dos Servidores de Irati (CAPSIRATI). 

A Najuá conversou com Edilson Bonete, superintendente CAPSIRATI, para saber qual a avaliação que a gestão desta autarquia faz a respeito da suspensão com um novo refinanciamento. (Áudio da entrevista completa no final do texto).

“O município tinha um financiamento que hoje está em torno de R$ 8 milhões feito em 2018. Iniciou com parcelas mensais de R$ 135 mil mensais, aproximadamente. Se fizer novo, com a suspensão do projeto 34, digamos que a parcela também seria de um uns 135 mil, então penso que seria mais viável o município juntar os dois financiamentos para pagar em 60 meses a partir de agora. Se não for aprovado pelo legislativo, o município corre o risco de perder a Certificação de Regularidade Previdenciária (CRP) deixando de receber recursos da União em convênios firmados, deixa de receber o Fundo de Participação dos Municípios, projetos Federais em andamento paralisam também. O Município conta com o apoio do legislativo, pois deve-se levar em conta a pandemia, a baixa arrecadação financeira nos últimos meses.”

O problema do município em agravar um aporte que hoje é de R$ 731 mil/mês para um valor maior não é para o momento próximo, avalia. 

“Alterando de 23 para 35 anos o déficit atuarial irá até baixar consideravelmente o valor de hoje e poderá reduzir de R$ 700 mil para menos de R$ 500 mil ao mês. O município terá de sustentar este déficit atuarial que hoje está em 23,03%, passa de R$ 207 milhões, chegando em 2041 em 60,61%, mas os municípios poderão aumentar este prazo para 35, que vai até 2055 (Portaria MFnº 464/2018), o que irá diminuir consideravelmente estes repasses dos aportes.”

Apesar de não estar sendo aplicado, o dinheiro do parcelamento retorna ao CAPS com juros e correção.

Para avaliar novos financiamentos é importante compreender como funciona o sistema de previdência dos servidores municipais desde sua criação. Os servidores de Irati eram regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e contribuíam para o INSS. Em 1991, a lei 1072 criou o primeiro fundo de previdência. A troca de regime para estatutário foi apresentada como opção aos municípios na época e os funcionários passaram a ser contratados mediante concurso público. Ponta Grossa, por exemplo, não fez a opção.  Irati optou pela troca de regime. 

“Em janeiro de 1996 este fundo foi extinto e os aposentados (cerca de 100) que existiam ficaram recebendo pelo caixa da prefeitura e junto foi o valor cerca de R$1 milhão na época (Lei 1342). Ficaram até julho de 2006 quando foi criada a lei do CAPS Irati que vigora até hoje, mas aquele valor de contribuição destes aposentados que saiu do fundo de previdência de 1991 a 1996 não foi agregado ao CAPS e nem foi feito um parcelamento para o aporte deste valor. Portanto, isso contribuiu para o déficit. Neste período foi também criada uma caixa de seguridade que ficou capitalizando as contribuições dos servidores ativos e da parte patronal, mesmo com alíquotas mais baixas do que prevê a lei Federal.”

Enquanto deveriam recolher no mínimo 11%, projetos de leis municipais autorizavam alíquotas menores, engordando o déficit atuarial. Em 2005, contribuíam com 5%, o reajuste {ação dos 35%] dado na lei em 1995 que foi revogado se tornou déficit atuarial, óbitos de servidores na ativa também entram, óbitos de servidores na ativa que contribuíram poucos anos e recebiam salário alto, influi mais ainda no déficit.

“A reposição salarial em 2013, 2014 2015 e 2016 (que resolveu parte da ação dos 35%) aumentou o déficit porque não houveram as contribuições previdenciária nem dos servidores e nem da patronal. Perdura ainda a outra parte da ação para pagar os anos dee 1995 a 2013, e o retroativo. Se der favorável, passará dos 200 milhões. Segundo o Sindicato tem algumas pessoas que já estão para receber.”

Os cálculos que antes, até 2010, eram feitos pela Confederação Nacional dos Municípios (CNN) e não existia déficit atuarial. Quando mudou para uma instituição especializada, no primeiro cálculo já foi detectado um déficit atuarial de quase R$ 54 milhões.

Perguntamos até quanto tempo este sistema de previdência se segura e como está a situação de Irati se comparado a outros municípios. 

“Se fosse só com este valor que temos hoje, quase R$ 118 milhões investidos, daria para uns 18 anos com as aplicações financeiras. Temos uma meta a cumprir, 5,58% mais a inflação no ano. Mas como todo ano tem um novo cálculo atuarial, novos refinanciamentos escalonados vão surgindo. Por isso não extingue-se, não quebra, mas vai onerando a cada ano. Para comparar com outros municípios depende do patrimônio dos RPPS , quando iniciaram, se fizeram segregação de massa e de quantos servidores tem  em relação aos aposentados pois quanto menos aposentados melhor fôlego financeiro para a previdência.”

O número de inativos em Irati hoje é de 478, entre aposentados e pensionistas (83 são pensionistas e 395 aposentados) e todo o mês tem os acréscimos, em agosto teve seis novos aposentados. A folha de beneficiários está em 1.343.787,15 quase um terço dos ativos (a folha dos estatutários que origina os repasses previdenciários está em R$ 3.175.597,55) e isso repercute no déficit atuarial, pois a cada mês vai crescendo o número de beneficiários e não entra servidores novos para a repor no quadro funcional. Foi preciso aumentar a alíquota de contribuição dos funcionários de 11 para 14%, e do patronal que foi de 13,92 para 14% por conta da reforma da previdência, para manter o sistema no futuro.

“Se não fizer isso agora num futuro, em breve ao invés de 14% ao servidor, poderia ser um percentual bem maior que este de 2%.  Foi uma reforma que pesa no bolso dos servidores, mas se estas medidas tivessem sidos tomadas a muitos anos atrás pelo governo Federal, talvez este não aumento nem precisasse ter.  Também é preciso salientar da necessidade em ter concurso e contratar mais servidores, consequentemente, arrecadar mais. Porém, a situação não é simples, de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal, Irati está no limite prudencial, o que não permite mais contratações.” 

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