Ex-prefeito de Rio Azul rebate acusações de improbidade administrativa

No início de janeiro, o juiz da Comarca de Rebouças determinou a indisponibilidade de bens…

03 de fevereiro de 2016 às 09h59m

No início de janeiro, o juiz da Comarca de Rebouças determinou a indisponibilidade de bens de Vicente Solda e outras 16 pessoas físicas e jurídicas

Da Redação


Depois da decisão do juiz da Comarca de Rebouças, James Bordignon, de indisponibilizar bens do ex-prefeito de Rio Azul, Vicente Solda, e de outras 16 pessoas físicas e jurídicas, num processo que investiga corrupção e improbidade administrativa em processos licitatórios da Prefeitura, o ex-gestor conversou com a reportagem da Najuá para expor sua versão dos fatos (confira detalhes da entrevista no fim desta publicação). Solda resume toda a situação a uma “palhaçada” e a um “circo armado” dentro da Prefeitura de Rio Azul quando fala da chamada Operação “Tsunami”, que apura as eventuais irregularidades em licitações de sua gestão 2009-2012.

Solda também contesta o momento escolhido para que a administração municipal investigue os atos da gestão anterior da prefeitura. Para ele, o correto seria fazer logo que assumiu o mandato e não agora, a menos de um ano das próximas eleições, e diante de uma alegada rejeição do eleitorado. Nessa sondagem quanto à sucessão no Executivo, que teria sido encomendada por Silvio Paulo Girardi, haveria rejeição do eleitorado quanto à possibilidade de reeleição do prefeito e uma boa margem de aprovação de um dos filhos de Vicente Solda como potencial novo candidato, afirma o ex-prefeito.

De acordo com ele, essas acusações não vão manchar o legado de sua administração para a história de Rio Azul. Solda relata que, ao comandar a Prefeitura, depois de Ansenor Valentin Girardi, pai do atual prefeito, assumiu a administração de uma cidade “sem auto-estima, sem dinheiro, sem máquina, sem caminhão, sem trator, sem estrada, sem asfalto, sem iluminação pública, sem carro para transportar um doente, sem ônibus escolar. E fizeram de tudo para não me deixar ganhar aquela eleição, com a máquina pública”, alegou.

Solda disse que quitou todas as dívidas deixadas pelo pai de Girardi na Prefeitura. O ex-prefeito disse, ainda, que Girardi frequentava seu gabinete em busca de apoio político na última campanha eleitoral, mas Solda preferiu manter o silêncio. De acordo com ele, caso tivesse resolvido apoiar algum candidato, seria outro que teria sido eleito.

Ex-prefeito alega que deixou recurso em caixa

O ex-prefeito comentou que deu a Girardi uma acolhida que ele não recebeu de seu pai durante o período de transição de mandatos. De acordo com Solda, Girardi teria, inclusive, acompanhado a elaboração do orçamento para o exercício de 2013, seu primeiro ano de mandato. “Deixei R$ 3,5 milhões em recursos e R$ 12,5 milhões em obras. O melhor Parque de Máquinas da região”, comentou. Solda também sustenta que renovou a frota do transporte escolar, com ônibus zero quilômetro, que não teriam a manutenção adequada na atual gestão, segundo acusa.

“Essa operação [Tsunami] se formou porque estão mortos politicamente. Eu não tenho culpa se o meu nome e o nome da minha família aparecem; eu não mandei fazer pesquisa e não lancei ninguém de candidato. Se o povo está lançando [nomes] de pré-candidatos, é porque a voz do povo é a voz de Deus. Não sei se teremos alguém da família ou não”, diz.

Solda devolve as acusações de superfaturamento em licitações ao citar que há na Câmara Municipal uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a compra de ônibus por R$ 60 mil que valeriam um terço desse preço.

Falta de assinaturas e autorizações para realizar licitações 

Quanto à falta de assinaturas nos processos licitatórios, o ex-prefeito admite que ocorria, mas cita que não havia sequer armários para guardar os processos, que ocorriam por dispensa até ele assumir a Prefeitura. 

Em relação às afirmações de Girardi de que as investigações sobre o mandato do prefeito que o antecedeu iniciaram logo que começaram a chegar contas em haver e cobranças de obras que estavam em execução, Solda comenta que o atual prefeito permaneceu com ele três meses durante o período de transição de governos e que, ao final, “já estava mandando mais que o prefeito”. “Como sou humilde, deixei as coisas acontecerem. Ele coage funcionário público até hoje”, sugere. Além disso, Solda acusa Girardi de nepotismo.

Empenhos e restos a pagar

Ainda sobre os empenhos a pagar que ele teria deixado para o atual prefeito, Solda rebate as acusações e diz que Girardi, mesmo tendo para o orçamento deste ano R$ 10 milhões a mais do que na época de seu último ano de mandato, falta dinheiro em caixa na Prefeitura hoje em dia. Solda disse que acompanha trimestralmente as prestações de contas de Girardi, que são encaminhadas para a Câmara Municipal. A esposa de Vicente, Jane Skalicz Solda, exerce o mandato de vereadora. Solda também cobra promessas de campanha não cumpridas por Girardi, como a Usina de Asfalto.

Para ele, a Operação Tsunami não passa de uma “política baixa”. “Meus bens não estão para vender. Não tem problema, podem ficar [indisponíveis], sei que vou ganhar e vou desbloquear. Fiz tudo com muito trabalho e suor. Trabalho desde meus 18 anos. O maior bem que o município tem, que é o povo, está triste, desesperado, sem auto-estima, com a saúde deteriorada, as estradas e ônibus também”, argumenta.

Compra de motoniveladoras
Questionado sobre a licitação para compra de uma motoniveladora em 2010 e sobre a nova licitação depois que a máquina apresentou problemas, Solda responde que, ainda que a máquina tenha sido produzida em 2008, ainda era nova quando foi adquirida em 2010. Ele reforça que os problemas que a máquina teria apresentado foram detectados no período em que ele esteve afastado do cargo, por denúncias. Solda enfatiza que não vai permitir que a Prefeitura venda as máquinas ou as leiloe como bens inservíveis, pois elas estão em condições de uso e não sabe porque estão paradas.

Solda também acredita que a Operação Tsunami seja ilegal. “Uma coisa cria outra: vou fazer minha defesa e vou também fazer muitas denúncias de quem me denunciou”, promete. “Nós fazíamos licitação e ele diz que não tinha assinatura. Pode ser que uma ou outra não tinha assinatura”, admite.

“Mas eu estranho que ele mandou o vice-prefeito atual [Professor Júnior] há pouco tempo na minha casa pedir para eu assinar um convênio do Ministério do Turismo com data de dois anos atrasados, porque o Ministério não tinha pegado minha assinatura”, questiona.

“Todo prefeito faz o possível e o impossível, ao contrário desse, que faz o possível para desmoralizar os outros. Mas Rio Azul sempre teve prefeitos preocupados com a população e que, às vezes, nem tinham tempo de ficar assinando um ‘documentozinho’. O prefeito não faz o processo licitatório. Ele autoriza a compra depois que a licitação está pronta. Quem traz os documentos para o prefeito assinar são funcionários. Às vezes, pode até faltar uma. Quando eu assumi a prefeitura, eu assinava todos os cheques dos funcionários. Hoje já não se assina mais, são bem menos assinaturas”, compara.

“Em vez de ficar bisbilhotando coisas para tentar prejudicar o adversário, por que ele não foi melhor ou fez mais do que eu? Aí ele teria meu apoio, meu voto e dos meus seguidores e da população de Rio Azul. A população de Rio Azul não vai eleger agora o próximo prefeito para revidar essa pouca vergonha”, reclama.

Uso de querosene 

Quanto à afirmação de Girardi que a Prefeitura não teria motivos para consumir querosene, por não ter máquinas movidas a esse combustível, Solda explicou que os funcionários utilizavam querosene nos tanques dos caminhões “porque faz bem para as bombas, principalmente quando trabalha na poeira. Colocávamos querosene nos tanques porque havia ferrugem. Tínhamos dois tanques de 15 mil litros cada um e chegou uma época que o combustível estava dando muito problema nas bombas injetoras dos veículos”, justifica.

“Eu moralizei esse município e por isso que esse município cresceu”, argumenta o ex-prefeito ao rebater as acusações de desvio de verbas.


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