Irati recebeu os jogos da Superliga C neste fim de semana. Ex-atleta olímpica, Elisângela Oliveira, foi uma das presentes no evento/Texto de Karin Franco, com reportagem de Ademar Bettes e Tadeu Stefaniak
A ex-jogadora de vôlei, Elisângela Oliveira, esteve em Irati durante a rodada da Superliga C que ocorreu no Ginásio Batatão, neste fim de semana. Em entrevista à Rádio Najuá, ela comentou sobre os jogos em Irati e falou um pouco sobre sua carreira.
Dirigente da equipe de Itajaí, a ex-atleta acompanhou as jogadoras durante a rodada em Irati. Para ela, a competição das equipes na Superliga C está equilibrada. “A competição em si está um nível bem equilibrado. Eu acho que hoje nenhuma equipe é assim: ‘essa equipe é favorita’, ‘essa equipe desvirtua das outras equipes’. Eu acho que é uma competição onde o nível está bem equilibrado. Irati está com um bom time. Até a própria equipe de São José dos Pinhais, eu não tinha noção, tem uma equipe montada, certo. Chapecó, nós já estamos acostumadas a jogar com elas lá no Catarinense. É uma boa equipe. Eu acho que é um campeonato equilibradíssimo”, comenta.
Durante a semana, a equipe de Itajaí decidiu ficar em uma chácara para auxiliar na preparação. Ao todo, a equipe é formada por 19 pessoas, incluindo atletas e comissão técnica. Elisângela conta que a decisão veio de uma experiência particular com hotéis durante sua carreira de atleta. “Foi uma das coisas que no final da minha carreira, eu mais me irritava. Era o tal do hotel. Por que hotel irrita? Porque você imagina que agora elas estão treinando, vão para casa, almoça. Se estão no hotel, almoça e vai jogar às 9 horas da noite. O que você faz a tarde toda? Ficar dentro de um quarto de hotel, trancado, olhando para parede? Isso era uma coisa que me irritava. Eu sou atleta que, quando eu jogava, eu não dormia depois do almoço, eu dava um cochilo de 20 a 30 minutos. Eu tinha tipo, das 13h às 13h30, presa num quarto às 17 horas da noite”, conta.
Na chácara, as atletas aproveitam para fazer fisioterapia, usar a piscina e relaxar para estarem preparadas para o próximo desafio. “Nós já vamos para uma competição, logo em seguida, que é os Jogos Abertos, onde elas vão ter que ficar alojadas porque os Jogos Abertos são por conta do município. É tentar diminuir esse nível de estresse”, explica.
Elisângela comentou também sobre as impressões das equipes em relação ao Ginásio Batatão. Segundo ela, um dos maiores problemas enfrentados pelas jogadoras foi a iluminação do ginásio. “Acho que o maior problema do ginásio é que ele é muito escuro. Tem uma certa dificuldade ali pra jogadoras estarem enxergando”, afirma.
Em relação ao piso, Elisângela disse não ver problemas com ele. “O piso foi um piso polêmico da CBV [Confederação Brasileira de Vôlei], mas eu acho que esse piso não é o que que atrapalha. Sinceramente, não houve nenhuma reclamação sobre os pisos. Agora, a luminosidade, ele é bem escuro esse ginásio”, comenta.
Ainda durante a entrevista, a ex-atleta relembrou um pouco da sua história. As Olímpiadas foram a inspiração para Elisangela entrar no esporte. Em 1992, ela assistiu a Seleção Brasileira de Vôlei masculino ganhar o ouro nos jogos em Barcelona, na Espanha. “Eu assistia aqueles jogos na televisão e depois daquilo ali eu resolvi que eu queria ser atleta de voleibol. Já era hiperativa. Acho que toda atleta vem com esse diagnóstico de imperativo. A minha mãe me incentivou bastante. Foi onde eu comecei a prática do voleibol. Foi assistindo uma Olimpíada”, conta.
Elisangela começou a carreira no Londrina Country Club, seguiu para Balneário Camboriú, chegando a ser convocada para a Seleção Paranaense e a Seleção Brasileira Juvenil. A atleta também jogou em Divinópolis e diversos outros clubes durante 20 anos de carreira. Em equipes internacionais, Elisângela também tem passagens na Itália e no Japão.
De 2000 a 2005, foi convocada para jogar pela Seleção Brasileira, onde disputou duas Olimpíadas. “Eu joguei na Olimpíada de Sydney em 2000. Fui medalhista olímpica em 2000. Fui medalha de bronze. Em 2004, em Atenas, nós ficamos em quarto lugar. Em 2005, eu fui jogar na Itália, engravidei, voltei, tive meu filho e não voltei mais para a Seleção. Só fiquei nos clubes mesmo”, conta.
A ex-atleta lembrou também de uma das derrotas inesquecíveis para o vôlei brasileiro. Em 2004, a Seleção Brasileira feminina perdeu para a Rússia nas semifinais, após diversas falhas. Com a perda, a equipe não se classificou para as finais. “Estava ganhando de 2 a 0. O terceiro set estava 24 a 19. Eu lembro que eu estava no banco. A Mari era da minha posição e estava jogando. Eu lembro que segurei na mão da Fofão, na mão da Fabi. A Sassá estava no banco comigo também. Uma segurando a mão da outra. Eu falei: ‘Vamos invadir na hora que ganhar porque já somos finalistas olímpicas’. E tínhamos vindos de duas medalhas de bronze, que foi em 96 e 2000. O que que nós pensávamos: ‘No mínimo, somos prata’. Aquilo foi virando um filme de terror e as coisas não iam. Depois daquele jogo, eu acho que serviu muita coisa para outras gerações, para ganhar porque você vê que o jogo nunca está ganho até o árbitro dá uma apitar”, disse.
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Em 2017, Elisângela saiu das quadras e passou a trabalhar nos bastidores, administrando equipes. “Quando eu parei de jogar, eu sempre falava que seria bem difícil eu manter porque eu falei: ‘Não é um esporte fácil’. O voleibol é um esporte difícil, onde precisa um condicionamento. Se você me pega hoje despreparada. ‘Vamos bater uma bola’. O meu braço já não vai ter aquela velocidade, meu joelho vai sentir, pelo salto, faz tempo que não salto, os tendões, eu vou sentir. Você tem que manter uma rotina de treino para você conseguir jogar. Para você também conseguir jogar com jogadoras do teu nível, que eu digo assim, porque o voleibol é aquela coisa: você tem que ter alguém que saca bem, mas você tem que ter alguém que passa bem. Você tem que ter alguém que levanta bem, você tem que ter alguém que ataca bem, senão não dá jogo. Então, é complicado. Hoje eu não pratico mais. Eu só fico mesmo na parte administrativa, o qual o trabalho é muito maior do que na quadra”, explica.
Após a aposentadoria, Elisângela foi para Londrina, onde começou com um projeto. Mas foi em Itajaí, em Santa Catarina, onde encontrou apoio para montar uma equipe de vôlei profissional. Além de patrocinadores, um dos maiores apoiadores é o Poder Público que auxilia a equipe em competições. “Nosso maior incentivador, nosso maior patrocinador é a Fundação Municipal de Esportes. A Fundação Municipal de Esportes nos fornece 12 bolsas-atletas, fornece bolsa para comissão técnica, ela dá o transporte, toda a parte de transporte para campeonato estadual, para nós estarmos aqui hoje jogando, é a Fundação Municipal de Esporte. A Fundação Municipal de Esporte nos ajuda em taxas de Federação”, conta.
O município também tem apoiado a equipe por meios de leis de incentivo ao esporte. “Nós temos uma lei que é muito interessante na cidade de Itajaí. Itajaí, para quem não sabe, é o segundo maior PIB do estado. Tem muitas empresas, porto. Ela tem uma lei de ISS [Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza], aonde algumas empresas são beneficiadas por enquadramento deles, na Secretaria de Planejamento. Elas recebem um desconto. Desse desconto, elas têm um percentual para passar para o esporte. Nós conseguimos fazer a captação para suplementação. A suplementação é o quê? Suplementar um salário de atleta, moradia, alimentação, fazemos por essa lei de incentivo ao esporte”, explica.