Espetáculo “Aranha” estreia nesta quinta em Irati

Primeira apresentação será na Unicentro, nesta quinta-feira, às 19h30. Peça também será realizada no Centro…

02 de julho de 2025 às 23h09m

Primeira apresentação será na Unicentro, nesta quinta-feira, às 19h30. Peça também será realizada no Centro Cultural Clube do Comércio e no CEU das Artes/Marina Bendhack com entrevista de Rodrigo Zub e Juarez Oliveira 

Estreia do espetáculo "Aranha" será nesta quinta-feira, às 19h30, no auditório Denise Stoklos, na Unicentro, em Irati
Estreia do espetáculo “Aranha” será nesta quinta-feira, às 19h30, no auditório Denise Stoklos, na Unicentro, em Irati. Foto: Divulgação

A artista iratiense Raissa Negroni apresentará o espetáculo “Aranha” em Irati e União da Vitória neste mês de julho. A estreia acontece nesta quinta-feira, às 19h30, no auditório Denise Stoklos, no campus da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro). A programação ainda prevê outras apresentações no Centro Cultural Clube do Comércio, e na praça do CEU das Artes, no Conjunto Joaquim Zarpellon.

O solo performático aborda uma experiência intensa e poética sobre o corpo, o território e a sobrevivência das mulheres trans no Brasil. A produção é de Raissa e da Arena Cultural, com recursos da Lei Paulo Gustavo, do Ministério da Cultura.

Em entrevista à reportagem da Najuá, Raíssa contou como foi o processo de produção da peça. “O projeto foi aprovado no ano de 2023. Em 2024, a gente começou a executar ele no mês de novembro. Então, desde novembro, a gente está trabalhando nessa peça. Mas é um projeto que eu venho idealizando já há muito tempo, é um projeto que vem lá do final da minha graduação em artes, licenciatura em artes na Unicentro, na qual eu desenvolvi uma metodologia para o meu trabalho de criação que chama ‘Projeto Erguer o Ventre’, pro meu trabalho de conclusão de pesquisa em arte. Eu costumo dizer que esse trabalho eu iniciei em 2013. E aí, só agora eu consigo um financiamento, um recurso para conseguir fazer essa peça do jeito que eu sempre sonhei”.

Raissa realizou um curso de produção cultural e possui o Registro Profissional de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões. A artista produziu “Aranha”, transformando uma ideia artística a partir de uma proposta técnica. O projeto foi aprovado pela Secretaria de Estado da Cultura, sendo um dos mais bem avaliados dentro deste edital, que contava com projetos de todo o estado, exceto de Curitiba. 

“Ele é um manifesto político para se reivindicar as estatísticas brasileiras que demonstram como é a obscuridade da vida da maioria da população trans”, diz Raissa Negroni, sobre seu espetáculo “Aranha”. Foto: Najuá

O espetáculo é produzido e interpretado por Raíssa, com participação na produção da Arena Cultural. A direção artística e preparação corporal são de Leonardo da Cruz (Kunta Leo Cruz), um artista quilombola e referência no teatro político e contemporâneo paranaense, a coordenação e design Gráfico é de Andrey Pereira, a figurinista é Ayala Costa dos Prazeres, artista trans e negra. A direção de palco é de Arabela Vieira de Souza, mulher trans que nasceu no interior de Rebouças e hoje mora em Curitiba. A trilha sonora é do DJ iratiense, Wesley Ripka, e a assistência de produção e maquiagem de Guilherme de Oliveira.

A maior parte da equipe está morando fora da cidade, o que tornou mais desafiador a produção do espetáculo, além do fato da própria artista o ter produzido.

Raissa caracteriza seu projeto “Aranha” como “work in progress”, ou seja, um trabalho que está em desenvolvimento ativo, onde o processo criativo é tão importante quanto o produto final. Sua elaboração parte, dentre outras coisas, da figura de Circe, a bruxa da mitologia grega que transforma homens em animais, figura central no episódio “Circe”, escrito por James Joyce. Raissa articula essa figura à transformatividade na linguagem teatral, “no teatro mais tradicional você se transforma em uma coisa.”, diz a artista. A figura de Circe também evoca o período histórico de perseguição às mulheres e a produção de Raissa busca provocar formas de se colocar no mundo e conectar alianças, principalmente entre mulheres.

A imagem da aranha é usada para simbolizar a transformação e as construções que o ser humano faz enquanto gênero. “Tentando relacionar a aranha numa ideia de como que a gente constrói as nossas identidades enquanto pessoas transgêneros, porque a gente não existe quando a gente nasce. Você nasce e você é definido ou definida como uma outra coisa, como aquilo que você não é. Quando eu nasci, o discurso médico, científico, a minha família, a igreja, tudo me disse que eu era uma coisa que eu não era. Então, enquanto eu trago esse símbolo da aranha, que a aranha tira de dentro dela mesma o material para construir sua teia e a sua realidade, é tudo que enquanto uma mulher trans, enquanto pessoa trans, eu faço na minha vida, é tirar coisas de dentro de mim e botar no meu mundo, e transformar isso em realidade, isso em espacialidade, em materialidade para construir minha vida, meus sonhos e tudo mais”, disse a produtora cultural.

Raissa afirma que o espetáculo é uma forma das pessoas trans serem inseridas na sociedade. “Não somos nem homens, nem mulheres, somos gente”, enaltece a artista, que cita o grupo Dzi Croquetes, fazendo referência a universalidade da condição humana.

O espetáculo também possui uma esfera obscura, diz a artista. “Ele é um espetáculo que tem muita variedade. Eu tenho uma base que trabalha com figurino, então trabalho com três figurinos que se desmontam e se remontam. Ele vai ter uma duração aproximada de 30 a 40 minutos. É um espetáculo que tem uma base física bem grande, então tem bastante coisas que se desmontam, trocas de roupas, desfiles, malabares. Eu me defino como uma multiartista, ele tem texto, ele tem dança, ele tem malabares. É um espetáculo que busca ser bem dinâmico”.

Além disso, ele foi pensado como um manifesto para mostrar a realidade de vida das mulheres trans no País. “Ele é um manifesto político para se reivindicar as estatísticas brasileiras que demonstram como é a obscuridade da vida da maioria da população trans. Eu posso dizer que consigo ainda emergir alguma bolha, mas a expectativa de vida das mulheres transgênero no Brasil é de 35 anos. Eu tenho 34 anos. Quando uma mulher trans é negra, ela tem uma expectativa de 28 anos. Então ele é primeiro isso, é um manifesto para a vida, dizer que a gente precisa ter condições de vida e ter condições de falar sobre nós mesmas a partir das nossas linguagens”.

Segundo Raíssa, o espetáculo é um manifesto para reivindicar o direito das mulheres trans usarem outras linguagens e de serem inseridas no teatro, na arte e no mercado de trabalho. “No Brasil, hoje, 90%, que é uma estatística extremamente abusiva, coloca as mulheres trans no mercado de trabalho da prostituição. Isso é inaceitável. A maioria das mulheres trans não chega a terminar o ensino médio, são expulsas de casa, não estão acessando a universidade, não estão acessando o mercado de trabalho. Onde estão as mulheres trans no Brasil? Como estão vivendo?”, indaga Raissa.

O espetáculo estreia no Auditório Denise Stoklos, na Unicentro – Irati, que é um local especial para a artista. “A gente tem estreia no dia 3 de julho, às 19h30, lá no auditório Denise Stoklos. Aranha também fez parte da programação do FIDS, que foi o Festival Internacional Denise Stoklos. Tenho muito carinho por aquele espaço que recebe o nome da maior artista iratiense e de uma das maiores artistas do teatro do mundo. Eu tenho muita influência do trabalho dela para fazer esse trabalho solo, eu gosto muito desse espaço. Então, no dia 3, a estreia, às 19h30, e no dia 4, pela manhã, às 10h, e às 19h30, temos duas sessões [também na Unicentro]”, conta a artista.

O espaço da universidade é importante pela obra ter sido pensada também para atingir o público universitário. “Ela é também uma peça de uma artista pesquisadora. Eu sou uma artista pesquisadora. Comecei a fazer esse trabalho na faculdade, que estou pesquisando uma linguagem, que estou investigando uma linguagem. Então, aparecem questões que têm a ver com pessoas que estão na academia também. Discuto a partir de questões, por exemplo, questões de gênero que estão a ver com pessoas que estão no meio acadêmico. Vou estar, de alguma forma, pensando Judith Butler, pensando Michel Foucault, pensando Silvia Federici, pensando o feminismo, pensando coisas que envolvem a militância e a academia”.

Além da Unicentro serão realizadas mais duas apresentações em Irati, no Clube do Comércio e na praça CEU das Artes, no Conjunto Joaquim Zarpellon. Outra apresentação acontecerá em União da Vitória, no Teatro Cineluz. Todas as apresentações são gratuitas e tem classificação indicativa de 16 anos, pois tratam de temas delicados, como violência.

Raíssa reforça o convite para a comunidade acompanhar o espetáculo. “Participar da estreia é um momento extremamente mágico. Espero todos vocês, todos e todas aí, para estarem conhecendo esse ritual performático que vai ser Aranha. Convido principalmente as mulheres. Mulheres, venham, venham assistir, vamos nos unir, vamos nos fortalecer e encontrar na arte um espaço para lutar, um espaço para ter coragem, para seguir e reivindicar e reverter vários dados e várias violências que sofremos todos os dias”.

O instagram para acompanhar mais detalhes do trabalho de Raissa é o @aranha.lpg  

Todas as apresentações são com acessibilidade em Libras e as datas são as seguintes:

Irati

Auditório Denise Stoklos na Unicentro:

Quinta-feira, dia 3, às 19h30

Sexta-feira, dia 4, às 10h e às 19h30

 Centro Cultural Clube do Comércio:

11/07 e 12/07 às 19h30

Praça CEU das Artes:

17/07 e 18/07 às 19h30

União da Vitória

Teatro Cineluz:

25/07 às 19h30

Este site usa cookies para proporcionar a você a melhor experiência possível. Esses cookies são utilizados para análise e aprimoramento contínuo. Clique em "Entendi e aceito" se concorda com nossos termos.