Escritor tem trajetória contada no livro “O interior de todo artista”

A trajetória do escritor Maygon André Molinari foi contada em um dos capítulos do livro…

03 de dezembro de 2021 às 18h33m

A trajetória do escritor Maygon André Molinari foi contada em um dos capítulos do livro “O interior de todo artista”/Karin Franco, com reportagem de Juarez Oliveira e Paulo Henrique Sava

Escritor Maygon Molinari é um dos personagens do livro “O interior de todo artista”, de Mário Lopes. Foto: Juarez Oliveira

O escritor Maygon André Molinari é um dos artistas que participam do livro “O interior de todo artista”, de Mario Lopes. O livro conta sobre a trajetória dos artistas e revela os desafios de produzir arte no interior do Paraná.
Maygon conta que recebeu o convite para participar do livro pelo artista Vitor Martim, que abriu para outros artistas participarem da obra. “Achei que foi bom porque tinha muita gente que precisava ser falada. O Mário, que é o escritor do livro, entrou em contato, acertamos alguns detalhes, ele foi na minha casa e nós começamos a contar essa história”, conta.

No capítulo dedicado à sua trajetória, Maygon conta sobre os questionamentos sobre a humanidade que o levaram a produzir arte. O escritor destacou que hoje possuir muitos questionamentos sobre a existência humana é algo mais tranquilo em sua vida. “Acho que o ser humano tem uma certa dificuldade em lidar com a dúvida. Nós sempre buscamos a certeza. E naquele tempo a dúvida me incomodava. Hoje a dúvida é que me acalma. Porque eu penso que quanto mais perguntas a gente tiver, quanto menos certezas nós tivermos, nós estaremos mais abertos. Às vezes, achamos que temos certezas de um certo tema, e na verdade, estamos nos enganando”, disse.

No livro, Maygon conta que os questionamentos começaram desde criança. Para ele, é importante manter essa sede por questionamentos que a infância traz. “Deixa a criança continuar que ela vai crescendo e vai transformando isso em motivo para ela se mover”, conta.

Essa experiência também refletiu na vida adulta quando teve que criar seus dois filhos. “Eu, primeiro de tudo, escuto muito as crianças e elas sabem muita coisa. Como nós soubemos. Eu tive sorte que emus pais não me influenciavam. ‘Ah não, para de perguntar isso’. Eu costumo perceber o desejo deles. Uma coisa que me incomoda é que às vezes um pai dá 500 brinquedos para o seu filho. Aí você pergunta: ‘Qual o brinquedo preferido do seu filho?’. Ele não sabe responder. Ou seja, é muito cômodo dar presentes, mas é muito incomodo escutar crianças. Sentar com a criança”, disse.

As perguntas da infância levaram o escritor a escrever obras que questionam o mundo em que vivemos, trazendo a filosofia para o mundo atual. Em seu capítulo no livro, Maygon ainda comenta a sua relação com a religião e Deus. “Hoje acredito em Deus, mas eu gosto de pensar que deus é tão grande que não conseguimos dar conta de quem ele é. E quando tentamos nos dar conta, entra numa coisa meio arrogante, meio presunçosa: ‘Ah, Deus é isso’. Eu prefiro continuar aberto. Não sei se devemos tanto nos preocupar em acreditar em Deus, quanto se preocupar em sentir Deus, de vivenciar esse Deus no seu dia a dia. Porque, de repente, você cumpre um monte de rituais, da religião que for, mas não é capaz de se abrir à experiência do divino perante o outro, de quem sofre”, explica.

Uma de suas principais obras foi o livro “Do Grito de Sobrevivência ao Último Silêncio”. Neste livro, Maygon conta que falou sobre a sociedade atual. “Esse livro eu escrevi há mais ou menos 12 anos e a ideia é questionar porque estamos nos tornando esse tipo de pessoas que nos tornamos. Na minha leitura é que nos tornamos mais fracos com o tempo. Nossas gerações são mais fracas que as gerações anteriores”, conta.

Para ele, a comodidade é um fator que explica. “Depois de muita pesquisa eu percebi que isso está nas nossas origens. Que nos tornamos essa espécie que nós somos e buscamos muito o cômodo, a comodidade”, relata.

O escritor destaca que as pessoas também mudaram a meta de vida. “Quanto mais passa o tempo, mais a meta humana está fora de nós. Vou dar um exemplo: as nossas metas de vida não são relacionadas a nós, mas às coisas. Por exemplo, ano que vem quero trocar o carro, quero uma televisão maior, quero trocar o celular. As metas são sempre coisas. É difícil alguém que diz: ‘Aminha meta para o ano que vem sou eu mesmo. Eu quero me tornar uma pessoa um pouco melhor, um pouco mais generosa, um pouco menos mesquinha’. Aí eu sou a minha meta. Mas o que observamos no dia a dia, infelizmente, é que as nossas metas são sempre fora de nós”, disse.

O escritor lançou o livro em Engenheiro Gutierrez. Para ele, isso manteve a lealdade sobre quem ele é. “Eu fiz esse lançamento em Gutierrez, com amigos, num momento bem intimista. E veja que interessante, não fiz em São Paulo, em outros lugares, e pessoas de fora começaram a se interessar fator da obra. Acho que um livro você não tem que forçar uma pessoa querer ler. ‘Olha aqui está meu livro’. Acho que você tem que seduzir a pessoa para que ela leia seu livro”, afirmou.

O lançamento no interior não impediu que outros lugares o conhecessem. “A principal revista de ciência e filosofia do Brasil escreveu um artigo sobre esse livro. Veja que interessante, eu fiz uma coisa em Gutierrez e justamente não indo ao encontro dos grandes centros, e os grandes centros vieram em busca do livro. Acho que fiz o caminho certo”, conta.

Maygon também relembrou um período em que realizou publicações em Irati com muita crítica e humor. A publicação teve uma curta duração e foi feita com a ajuda de um amigo. “Não ficava viável financeiramente. Ficava muito difícil de manter. Mas a ideia era justamente não se render nunca, manter aquela perspectiva, aquela posição. E durou até um pouco mais, teve algumas edições independentes, meio clandestinas. Eu gostei muito do resultado. Causou algumas polêmicas bem saudáveis na universidade, na prefeitura, na época”, disse.

Além dos livros, Maygon também integra a banda “Escultores de alento”, da qual é vocalista. A banda está em um projeto para gravar um disco. “A ideia é a gente gravar. Temos material, começou a gravar um pouco antes da pandemia e teve que parar. Acho que é a mesma regra da literatura. Não fazemos pensando no que vai ser acerto. Mas o que faz parte de quem eu sou”, contou.

Depois de ver a sua trajetória e de outros artistas escritas no livro, o escritor destaca que o legado da sua obra é de inspirar outras pessoas a questionar o mundo. “Acho que o legado é assim, a provocação para que novas pessoas continuem lutando pelo que acreditam, dentro dessa concepção de que a arte e a beleza de certa forma nos trazem uma espécie de salvação”, disse.

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