Livro “Vozes do Verbo: um álbum de opiniões sobre tópicos regionais”, Haroldo José Andrade Mathias aborda temas ligados à cultura, planejamento urbano, sociedade, políticas públicas e meio ambiente e tem como objetivo mostrar a importância da democratização da escrita/Paulo Sava
Refletir sobre questões ligadas a temas locais e a democratização da escrita é o principal objetivo do livro “Vozes do verbo: um álbum de opiniões sobre tópicos regionais”. Lançada recentemente pelo escritor Haroldo José Andrade Mathias, a obra trata sobre temas como planejamento urbano, meio ambiente, políticas públicas, cultura e sociedade.
Em entrevista à Najuá, Haroldo contou que o livro tem como principal objetivo mostrar que todas as pessoas têm algo a escrever. “Ainda hoje, quando falamos em escrever um livro, as pessoas associam à ideia de ser algo acadêmico, intelectual, de alguém que tem algo técnico a expressar. Na verdade, não precisa ser algo assim: pode ser uma coisa democrática. A leitura e a escrita têm um papel social muito importante, tanto na questão de ascensão profissional, desenvolvimento pessoal, transmissão e registro de conhecimentos e na manutenção da cultura, mas também tem um papel de exercício ativo da cidadania. Quando você promove e incentiva a escrita, de certa forma você está contribuindo para o exercício da cidadania. Esta é a ideia que está por trás deste projeto, tentar democratizar a escrita”, apontou.
Cultura popular – Em toda a região centro-sul, há pessoas que têm uma vasta cultura popular. Porém, segundo Haroldo, a maior parte dos conhecimentos se perdem por falta de registro. Ele afirma que até mesmo receitas de bolo podem conter histórias. “Quando você tem uma receita de bolo, por que ele é feito desta forma? Por que se usa tal ingrediente? Tudo tem uma história por trás e isto acaba sendo menosprezado. Todos têm algo a escrever, a relatar, e eu acho que seria muito importante ter políticas que incentivassem a escrita”, afirmou.
Recomendação das almas – Uma das histórias relatadas por Haroldo fala sobre a manifestação cultural e religiosa da “recomendação das almas”. O escritor afirma que, atualmente, poucas pessoas conhecem esta prática. “Era uma prática que existia nas comunidades do interior. No caso de Rebouças, acontecia em algumas comunidades faxinalenses. Hoje em dia, quando você conversa com as pessoas, no geral, poucas sabem o que era e o que significa. Esta falta de registro acaba fazendo com que isto se perca”, frisou.
Apesar da existência de vídeos e artigos sobre a prática na internet, em cada comunidade a recomendação das almas tinha suas peculiaridades. Registros de cada pessoa que viveu esta época poderiam fazer a diferença, segundo Haroldo.
“É isto que eu acho importante. Quando eu escrevi sobre tópicos regionais, eu acho importante o contexto. Quem o vive, ao mesmo tempo é sujeito e objeto dele, ou seja, você está sofrendo as influências, mas também influenciando o contexto em que você vive. Isto traz uma riqueza muito grande e você tem um olhar sobre o contexto em que está que muitas vezes uma pessoa de fora ou você mesmo, quando faz uma análise em uma escala maior, não consegue captar esta riqueza de detalhes”, comentou.
Obras – Além de abordar a cultura, Haroldo também cita no livro algumas obras de cidades da região, partindo delas para reflexão sobre diversos temas. “Por exemplo, eu pego o Centro Cultural Denise Stoklos e não trato especificamente da obra parada, mas a utilizo como reflexão para gerar uma ideia, que pode ser ampliada para outros casos. No caso do teatro, eu falo da questão da sustentabilidade. Em Rebouças, tem as ruínas do antigo matadouro, uma construção em um formato bem típico e interessante, que há muito tempo está abandonada. Chamamos a atenção para a municipalidade desenvolver alguma forma de aproveitar estes espaços. No caso do matadouro, este espaço retrata um período da história do município que não existe mais. Houve mudanças, mas ficou uma certa marca e que foi importante para a história do município”, comentou.
O livro também cita o Parque da Pedreira, em Rio Azul, onde passavam trilhos de uma ferrovia, e a rodovia PR 364, entre Irati e São Mateus do Sul, cuja pavimentação foi inaugurada recentemente.
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Título do livro – O título do livro é baseado no blog “Vozes do Verbo”, criado por Haroldo em 2008 como um espaço de expressão de ideias e opiniões de forma livre. Alguns textos foram revisados e adaptados para o livro. Já o subtítulo “um álbum de opiniões sobre tópicos regionais” remete a uma analogia entre os textos e um álbum de fotografias.
“Se você tirar uma foto de uma árvore no verão, no inverno, durante a noite ou o dia, serão fotos diferentes, embora a árvore, o fotógrafo e até a câmera que você usa sejam os mesmos. Isto traz uma noção de mudança contínua, de que o contexto é importante e de subjetividade, e eu complemento reforçando a questão de opiniões”, apontou.
Haroldo contou que o livro não tem qualquer pretensão de apresentar verdades absolutas sobre os temas abordados. “O que eu faço é um convite para a reflexão: eu coloco a minha visão subjetiva e convido o leitor a trazer sua opinião sobre o tema. Por isso eu reforcei que é um álbum de opiniões. É um convite à reflexão mesmo, até de certa forma é um exercício da cidadania porque você pode pegar um problema isolado que tem na sua comunidade e na própria cidade. Para você, uma solução seria plausível, mas para outra, aquela solução não iria atender as necessidades e poderia apontar outra. Este diálogo eu acho interessante, e seria pretensioso demais colocar conclusões para os problemas. Não é este o objetivo do livro, mas sim despertar para esta temática”, destacou.
Custos – Haroldo custeou a produção do livro, que teve poucos exemplares impressos. Para outras pessoas, ele estará disponível on-line no blog “Vozes do Verbo”.
“Este livro vai estar disponível em formato PDF. Eu creio que é uma forma de, com menos custos, você conseguir pulverizar o conteúdo da obra e de fazer com que mais pessoas possam produzir também suas obras. Foi um livro para o qual eu não tive subsídio, patrocínio e nenhum tipo de financiamento, eu mesmo banquei os custos dele. Por esta razão, foram impressos poucos exemplares. Uma forma de contornar isto que eu pensei foi de distribui-lo livremente, até para ficar coerente com o objetivo do projeto. O PDF será disponibilizado o máximo possível de forma gratuita”, comentou.