Movido por um forte senso de justiça, o malletense Gabriel Lopacinski, de 22 anos, decidiu se alistar para lutar ao lado das forças ucranianas. Sua morte em combate deixou um vazio imensurável na família, que agora relembra sua trajetória e os momentos vividos ao seu lado/ Texto e reportagem de Diego Gauron e Paulo Sava

Gabriel Lopacinski, um jovem de 22 anos, natural de Mallet (PR), perdeu a vida em combate na Guerra da Ucrânia em dezembro de 2024. Movido por um forte senso de justiça, ele decidiu se alistar e lutar ao lado das forças ucranianas. Sua história é marcada por coragem e determinação, mas também deixou um vazio imensurável na família e na comunidade Malletense, que tem raízes históricas na imigração ucraniana. Sua mãe, Aliteia Cornelo, e sua prima, Amanda Cornelo Surmacz, relembram sua trajetória, sua decisão de partir para o front e o impacto de sua perda. Assista à reportagem completa abaixo.
Uma dor sem fim
A mãe de Gabriel, Aliteia Cornelo, expressa a dificuldade de lidar com a perda do filho. “Um dia a gente levanta bem, outro dia a gente não quer nem levantar, outro dia você está revoltado. É uma dor que você não tem explicação, você não tem data de término, não tem nada. Você perde o seu chão, o seu rumo, tudo.”
Ela descreve a sensação de vazio deixada pela morte de Gabriel. “É como se você estivesse dentro de um buraco e você não vê mais saída, você não vê luz, você não vê explicação, você não encontra respostas. Você só fica se perguntando o porquê e o ‘se’: se não tivesse ido, se tivesse ouvido, se tivesse voltado antes.”
Para a família, a perda ainda é recente e muito dolorosa. “Meu pai era muito apegado a ele, o Gabriel era como um filho para ele. Meu irmão também. Estamos todos muito abalados. Às vezes eu penso que é um pesadelo, que tudo vai terminar de uma hora para outra. Mas está muito difícil. Só quem perdeu um filho sabe o que estou passando.”
O desejo de lutar por justiça
Aliteia conta que desde sua infância, Gabriel já demonstrava um forte senso de justiça. “Ele era um menino muito bom, alegre, sempre companheiro. Quando precisava de alguma coisa, ele fazia. Ele não gostava de ver as coisas erradas. Tanto é que ali na parte da Ucrânia, ele chegou a falar para mim: ‘Você não imagina como são as coisas aqui, as injustiças que fazem aqui’. Eu até falava para ele: ‘Filho, nem me conta, que eu não gosto de ouvir essas coisas'”, relata.
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Enquanto estava em missão na Guerra da Ucrânia, Gabriel ligava para a mãe todos os dias. “Todo dia ele me ligava. A diferença de horário era de cinco a seis horas. Então, às vezes eu estava levantando e ele já estava me ligando ou mandando mensagem. No último dia, antes de acontecer, no dia 22 de dezembro, um domingo, ele me ligou várias vezes por vídeo. Eu sempre dizia para ele: ‘Filho, a mãe ama você e que Deus abençoe’. Agora, só restam as lembranças.”
A decisão de ir para a guerra
Quando Gabriel decidiu ir para a Ucrânia, ele não pediu permissão à família. “Ele me mostrou o passaporte e disse: ‘Mãe, eu só estou te mostrando. Não estou nem te pedindo se eu posso ou não posso. Eu vou’. E ele foi”, recorda Aliteia.
Para a prima, Amanda Cornelo Surmacz, a escolha de Gabriel não foi uma surpresa. “Ele sempre demonstrou esse interesse na área militar, de polícia, exército. Na verdade, ele não contou para ninguém que estava indo. Eu acredito que, no máximo, umas cinco pessoas sabiam. Assim como todo mundo, eu fiquei sabendo por uma rede social”, conta.
O luto e as lembranças
Amanda se recorda com carinho da infância ao lado de Gabriel. “A gente sempre estava brincando. Quando eu penso no Gabriel, me vem à mente os momentos bons da infância.”
Ela também fala sobre o arrependimento de não ter falado mais com ele enquanto ele estava na Ucrânia. “Eu não queria incomodar ele lá. Eu não conversava com ele todos os dias, não mandava mensagem, porque eu achava que ia atrapalhar ele, nessa vida que ele estava tendo lá. Porque ele estava realizando o sonho dele. E hoje eu me arrependo. Eu confiava muito que ele ia voltar.”
Para ela, Gabriel sempre será um herói. “Eu tenho muito orgulho pela pessoa que ele sempre foi, desde criança. O que eu posso dizer é: aproveitem cada minuto, porque a gente nunca sabe o dia de amanhã. O caso do Gabriel foi específico, porque ele foi para uma guerra, mas hoje estamos vivos, e amanhã podemos não estar.”
A missão cumprida
Para Aliteia, a ida do filho fazia parte de algo maior. “Eu pedia a Deus que colocasse um empecilho, que trouxesse ele de volta, mas isso não aconteceu. Então, eu creio que o que eu queria não era o que Deus queria. Essa era a missão dele e ele terminou. Como diz o versículo bíblico: ‘Combati o bom combate, terminei a corrida e guardei a fé’.”
A dor da perda de Gabriel ainda é profunda para sua família, mas seu legado de coragem e justiça permanece vivo nas memórias daqueles que o amavam.
Assista à reportagem completa: