Presos tentaram articular motim e rebelião e um deles chegou a gravar um vídeo em que acusa um policial de favorecer o acesso de drogas aos detentos
Edilson Kernicki, com reportagem de Sergio Soriani/Rádio Alvorada
A Polícia Civil de Rebouças quer esclarecer as circunstâncias em que foi gravado um vídeo divulgado na internet em que um preso da carceragem da delegacia acusa um policial de favorecer o acesso dos detentos a entorpecentes. Recentemente, os presos tentaram articular um motim e tiveram frustrados três princípios de rebelião. De acordo com o delegado Eduardo Mady Barbosa, os problemas teriam surgido como represália dos presos depois que houve uma apreensão de drogas dentro da carceragem. Câmeras de vigilância interna registraram que pessoas transitam de moto pela rua lateral da delegacia e lançam pacotes com drogas por cima do muro, para que caiam dentro do solário.
Conforme o delegado, os problemas observados na carceragem começaram a ocorrer há alguns dias, desde que houve apreensão de drogas junto aos detentos feita pelo investigador de plantão. Houve um princípio de rebelião em que os custodiados se recusavam a retornar para as celas. Para tanto, foi necessário apoio da Polícia Militar para uma intervenção, com a utilização de balas não letais.
“Fomos informados de que estão veiculando um vídeo que foi produzido dentro da cela, filmado com celular, acusando esse policial de ter recebido dinheiro para que drogas entrassem [na carceragem]”, comenta. De acordo com Eduardo, o policial apontado pelos encarcerados como suposto receptor de propina “é uma pessoa de extrema licitude, uma pessoa honrada vendo sua moral atacada por pessoas que estão presas, uma delas até já foi presa por tráfico de entorpecentes três vezes”, salienta.
O delegado informa, ainda, que foi instaurado um procedimento para que se apure como as imagens foram produzidas dentro da carceragem e como saíram para divulgação. Eduardo declara que não será conivente com o uso de drogas dentro da carceragem em qualquer delegacia onde venha a atuar e que não pode aceitar que a tentativa de reprimir o consumo seja motivo para que os custodiados tentem revidar contra a reputação de um policial.
Eduardo diz que teme que a divulgação do vídeo possa piorar a situação. Além disso, ele ressalta o teor de ameaça de vingança que o vídeo produzido pelos presos apresenta. O delegado indica que o policial deve procurar seus direitos individuais em relação às implicações que a publicação do vídeo pode representar a ele.
Esse tipo de problema ocorre, principalmente, pela superlotação do sistema carcerário, na visão do delegado. “Lugar de preso não é na delegacia. E as delegacias da nossa região estão nos centros das cidades. Temos aí verdadeiros barris de pólvora”, avalia o delegado. Ele aponta que, até a semana passada, a Delegacia de Rebouças abrigava 31 presos, hoje está com 25. A de Irati está com mais de 70.
O delegado demonstrou bastante indignação frente à atitude dos presos em divulgarem vídeo acusando um policial de favorecer a entrada de drogas na carceragem, o que ele diz não ter fundamento.
Em relação ao autor do vídeo, que alega ser viciado em drogas, o delegado disse que, uma vez identificado, deve ser encaminhado a um Complexo Médico Penal, para que receba tratamento de abstinência – isto é, para se livrar do vício. “Ele pode realmente ser viciado. Foi preso por tráfico. Ele pode ser viciado e traficante. Não quer dizer que o cara que venda não consuma e que o cara que consome não venda. Isso tem que ser apurado”, argumenta.
Quanto ao jornalista que divulgou o vídeo produzido pelo preso na internet, Eduardo diz que será enviada uma carta precatória para Curitiba, de modo que o divulgador deverá esclarecer como teve acesso ao material. No entanto, enquanto o delegado questiona a obtenção do material divulgado na internet, nada comenta sobre como o preso teve acesso ao celular utilizado na gravação.