Decreto restringe para 50% a capacidade de público em estabelecimentos em Irati

Novo decreto também determina aferição de temperatura e controle de entrada nos banheiros durante eventos…

19 de janeiro de 2022 às 20h29m

Novo decreto também determina aferição de temperatura e controle de entrada nos banheiros durante eventos em Irati/Karin Franco, com reportagem de Rodrigo Zub e Juarez Oliveira

Imagem da rua Munhoz da Rocha, no centro de Irati. Foto: Rádio Najuá/Arquivo


Estabelecimentos de todos os ramos de atividades em Irati deverão restringir a capacidade de público para 50%, conforme decreto municipal que entrou em vigor a partir desta quarta-feira (19). O decreto não limita o horário de funcionamento dos estabelecimentos, mas estabelece multa para quem descumprir as regras.
No decreto, permanece a necessidade de aferir a temperatura e controlar a entrada de pessoas nos banheiros durante a realização de eventos e atividades em casas noturnas. Outras obrigações que ainda continuam é o uso de máscara e a necessidade de os responsáveis pelos estabelecimentos disponibilizarem álcool em gel 70% na entrada, banheiros e demais setores das empresas, além de manter a distância de um metro e meio entre as pessoas.

O novo decreto passou a valer após o aumento de casos de Covid-19 em Irati. Até o início da noite desta quarta-feira, 19, o município registrava 1.046 casos ativos da doença, sendo que 1.041 pessoas estão em isolamento domiciliar, quatro internadas em leitos de enfermaria e uma na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

De acordo com o coordenador do Centro de Operações Especiais e Fiscalização (COEF), Agostinho Basso, a nova variante (Ômicron) tem como característica a contaminação mais rápida nas pessoas, mas não há casos mais graves. “Ela não sobrecarregou o sistema hospitalar, nem das UTIs, nem das enfermarias, mas muito pelo contrário. Ela vem sobrecarregando o Sistema de Saúde Pública e na saúde pública, a Unidade Sentinela”, disse.

Com uma variante menos perigosa e uma vacinação avançada, o município decidiu restringir apenas a capacidade de público, mas não optou pelo fechamento de estabelecimentos. “Por saber também que esse momento é muito importante para a economia do município, a própria manutenção do emprego e da renda. E porque a gente percebe, através das falas dos infectologistas, dos pesquisadores, que essa variante tem essas características, nós achamos por bem não tomar atitudes mais drásticas, nem mais restritiva, nesse caso”, explica Agostinho.

A decisão de não fazer algo mais restritivo está relacionada à quantidade de casos em enfermaria e UTIs. Apesar de ter 1.046 casos ativos, apenas cinco iratienses estão internados. “O que sempre nos preocupou são os leitos de UTI e enfermaria na macrorregião leste. Não é nem na Santa Casa. A Santa Casa, inclusive, o Governo do Estado acabou descredenciando alguns leitos em vários hospitais, um deles a Santa Casa, mas a nossa referência, além da Santa Casa, é Curitiba e Ponta Grossa. E na macrorregião leste é aqueles leitos que nós nos baseamos. Hoje está numa situação bastante tranquila, está numa situação bastante equilibrada. Então, não vemos motivos para pensar em algo mais restritivo”, destaca o coordenador do COEF.

O decreto estipula que a pessoa que descumprir as regras do decreto pode ser multada em R$ 2.704,50, equivalente a 30 Unidades de Referência Municipal (URMs). O valor atual da URM é de R$ 90,15. Quem descumprir as medidas também será responsabilizado criminalmente, além de sofrer as sanções civil e administrativa.

Agostinho destacou que as fiscalizações acontecem principalmente com as rondas feitas pela Guarda Municipal. “À medida que ela está fazendo a ronda, eles têm toda uma comunicação via rádio, então uma vez que aconteça denúncias ou eles estejam passando em frente a estabelecimento, eles fazem essa verificação, eles chegam e podem orientar essas pessoas ou já podem notificar”, contou.

Segundo o coordenador do COEF, as fiscalizações realizadas desde o início da pandemia têm ajudado o município. “E tem dado certo. A fiscalização desde o início da pandemia até agora fica por conta da Guarda Municipal, também da Vigilância Sanitária, quando faz alguma blitz e tem feito assim como de rotina e em último caso também a gente precisa do reforço, não nesse caso específico, mas já precisamos também da Polícia Militar”, conta Agostinho.

Ele ainda destaca que a fiscalização já notifica o estabelecimento que não estiver cumprindo as regras. “Depois de dois anos de pandemia, todo mundo sabendo das normas, o estabelecimento que ainda insiste em descumprir, ele acaba sendo notificado. Já são inúmeros casos de notificação, multas que já foram pagas, outras que estão em processo ainda de defesa. E claro, que não pagar entra como dívida pública no município, tem restrições para alvará, tem restrições para documentação, certidão negativa e tudo mais”, disse.

Os órgãos fiscalizadores tem poder de polícia e podem autuar os locais que não estão de acordo com o decreto. Agostinho conta que em Irati, os responsáveis pelos estabelecimentos comerciais têm sido receptivos com as equipes, mas há situações que acabaram parando na Justiça. “Graças a Deus, a comunidade de Irati é muito receptiva e muito educada, ela trata bem os agentes públicos de forma geral. Tivemos nos últimos meses, quando teve aquele auge dos casos, nós tivemos realmente alguns poucos empresários de estabelecimentos noturnos que tiveram uma certa asperidade no caso do trato com a Guarda Municipal. Teve dois casos em que foram conduzidos para a delegacia. É feito o B.O. [Boletim de Ocorrência], é feito o Termo Circunstanciado e depois responde”, conta.

O mesmo acontece com pessoas que descumprem as regras como o não cumprimento do isolamento ou de uma norma. “Além da sanção da multa, ele pode ser acionado, nesse caso, o Ministério Público. O Ministério Público foi acionado, foi provocado várias vezes e as pessoas ainda estão sendo chamadas para justificar porque não cumpriu o isolamento, porque não cuidaram. Já tivemos questões de tentativa de falsidade de documentos, com relação à Covid. Aonde existe o ser humano, existe esse tipo de coisa”, disse.

O coordenador do COEF ainda destacou que a nova variante não está trazendo casos mais graves, mas contamina muito mais. Por isso, o município deve em breve estipular algumas regras para o atendimento dos primeiros sintomas. “Ela tá trazendo uma sobrecarga no sistema público e no sistema da Unidade Sentinela. Então, até em função disso temos uma orientação mais à frente para fazer, no sentido de quem que deve procurar ou não”, conta.

Uma das diferenças é que pacientes com Covid-19 não deverão passar mais pela consulta. “Todas as pessoas que procurarem as unidades sentinelas – e é lá que elas devem procurar – serão atendidas. Primeiramente, será feita uma triagem, essa triagem por pessoal capacitado. Todas que procurarem a unidade serão testadas e sairão de lá se tiverem assintomáticas positivas, porém assintomática, sem sintomas, ou com sintomas leves. Elas sairão com Termo de Isolamento e elas sairão com alguma medicação sintomática, ou seja, analgésico, antitérmico, de repente, um antialérgico e irão para casa. Elas não passaram por uma consulta”, explica.

Segundo Agostinho, a consulta é uma das maiores demandas. “Hoje a maior fila que nós temos não é só para o exame, é para consulta porque todos que chegam lá, eles querem passar pelo médico, porque eles pensam que vão sair com aqueles medicamentos que eram dados anteriormente. E não é mais isso que está acontecendo”, conta.

O município não está mais distribuindo o chamado Kit Covid, com medicamentos como hidroxicloroquina e a ivermectina. O coordenador do COEF explicou que a distribuição não é mais feita porque há duas infecções ocorrendo ao mesmo tempo. “Hoje nós estamos medicando sintomaticamente, como qualquer estado gripal. Por quê? Porque nós vivemos hoje no Paraná duas infecções. Nós temos a pandemia do coronavírus e nós temos uma epidemia da influenza H3N2 e as duas são muito parecidas”.

O tratamento precoce não é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a OMS, no caso da hidroxicloroquina e da cloroquina, não há evidência científica até o momento de que esses medicamentos sejam eficazes e seguros no tratamento da Covid-19. Já no caso da ivermectina, a organização não recomenda o uso para quaisquer outros propósitos diferentes daqueles para os quais seu uso está devidamente autorizado, como para tratamento de oncocercose e sarna, pois a evidência atual sobre o uso desse medicamento para tratar pacientes com Covid-19 é inconclusiva.

Agostinho conta que sem a consulta, o paciente que tiver com sintomas mais graves poderá ser atendido mais depressa. “Quando nós tomamos essa atitude, de triar e mandar para casa com o Termo de Isolamento para que seja cumprido, nós estamos facilitando para que aquelas pessoas, que tenham sintomas moderados e graves, tenham acesso rápido a uma consulta ou encaminhamento para UPA [Pronto Atendimento] ou até da UPA para o hospital”, comenta.

Após a confirmação do diagnóstico da Covid-19, a pessoa precisa ficar isolada. Contudo, o número de dias dependerá da situação do exame. “Eu fui lá, testei positivo, comecei com sintoma ontem. Eu saio com Termo de Isolamento de dez dias. Porém, se no quinto dia eu não tenho mais sintomas, eu posso refazer o teste no sétimo dia. Se eu não tenho mais sintomas, eu estou liberado. Se eu permanecer com sintomas são dez dias”, relata o enfermeiro.

O isolamento também é diferente para quem é assintomático. “Se eu não tenho sintomas, eu positivei, mas eu fui assintomático. Mas estou positivo, são sete dias. Se eu tenho sintoma são dez, se eu não tenho sete. Isso para quem está positivo’, conta.

A diferença do período de isolamento segue com pessoas que tiveram apenas contato com moradores infectados. “Se elas tiverem assintomáticas no quinto dia, elas podem fazer o exame. Deu negativo, volta à atividade. Se deu positivo, começa o isolamento”, explica Agostinho.

Para o coordenador do COEF, é possível que em breve as doenças sejam diagnosticadas clinicamente, sem a necessidade do teste. Ele explica que essa seria uma medida para enfrentar a falta de testes de Covid-19 no mercado. “Eu acho que se os números continuarem crescendo, o Governo do Estado e o próprio Ministério da Saúde vai liberar a não realização do exame. Porque qualquer doença infectocontagiosa ou qualquer doença que seja, você pode diagnosticar de várias formas. A primeira dela é clínica. É o médico conversando com o paciente, o profissional de saúde que chega a um diagnóstico. O segundo tipo de diagnóstico é laboratorial, através de exames, de imagem, seja o que for. Se aumentar do jeito que está sendo esperado, e vai aumentar exponencialmente esses casos, eu quero acreditar que vai chegar o momento que será impraticável, até porque já está quase começando a faltar exames no mercado”, comenta Agostinho.

O município está comprando 5 mil testes rápidos e já enfrenta dificuldade em encontrar disponível no mercado. “Estamos comprando cinco mil testes rápidos e estamos tendo dificuldade para comprar. Tem farmácias que estão com dificuldade. Chegará um tempo, eu acho que não vai demorar, que o Ministério vai liberar necessidade do exame. Hoje quem chega na unidade com algum sintoma gripal é uma das duas: Influenza ou é Covid. As duas têm sintomas leves”, disse.

Uma das dificuldades no atendimento de casos suspeitos também é a falta de profissionais. Segundo Agostinho, o município não consegue preencher vagas. “Nós estamos com credenciamento aberto. Estamos precisando técnico de enfermagem e não tem, porque as pessoas já estão trabalhando ou se recusam a trabalhar na Covid neste momento”, revela.

A contaminação entre profissionais também é outro problema. Conforme Agostinho, a média de contaminação de profissionais de saúde em Irati é de 20 a 30%. O município chegou a fechar uma unidade de saúde por causa dos casos de coronavírus entre a equipe. “Antes, nas outras variantes sempre tínhamos, mas não era tanto. Agora, como essa tem um alto poder de infectibilidade, de passar a doença, nós temos caso de unidade que precisou fechar totalmente. Recentemente voltou a unidade da Lagoa, todos os profissionais acabaram [isolados]. Porque você pegou ou você é contato. Trabalhamos muito próximo, usamos a mesma copa, usamos os mesmos equipamentos, usa o mesmo telefone, telefone que que fica de mão em mão, o mesmo carimbo da instituição. Você tem o contato”, analisa Agostinho.

Atualmente, os atendimentos de casos suspeitos de Covid-19 são realizados nas unidades sentinelas que funcionam no bairro Rio Bonito e na unidade François Abib, no bairro Joaquim Zarpellon, e no Pronto Atendimento da Vila São João. “Se caso aumentar o número de pacientes, nós já estamos prevendo e desenhando uma terceira Unidade Sentinela, mas que ainda demanda de médicos, demanda de técnicos capacitados e tudo mais”, disse.

Com essa situação, o alerta é que as pessoas estejam com a vacinação em dia para que os casos não piorem. “Dos internamentos que nós estamos tendo, a nível de Irati, de Paraná e do Brasil, o que que tá se percebendo é que as pessoas que estão pegando essa variante e estão adoecendo, adoecendo de forma grave quase na sua maioria, são não vacinados ou com esquema incompleto”, explica Agostinho.

Na região, a Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro) já divulgou que deve exigir a carteirinha de vacinação na retomada das aulas presenciais. Para o coordenador do COEF, as aulas presenciais nas universidades podem ser retomadas com segurança, já que atualmente há outros riscos maiores de contaminação do que as salas de aula. “Isso é apenas uma sugestão da própria Secretaria, mas que não vê, digamos assim, nenhum tipo de perigo real hoje do retorno às aulas devidamente verificando temperatura. As universidades já estão decidindo por adotar o comprovante da carteirinha de vacina. Eles podem fazer, eles têm autonomia. Mas eu acredito que há riscos bem maiores, no caso de contaminação, do que o retorno das aulas”, disse.

Agostinho ainda esclarece que a permanência em locais públicos e abertos, como parques e praças, continuam seguindo as mesmas regras, como o distanciamento de pessoas. “Nós tentamos acreditar que as pessoas sabem manter o distanciamento, sabem se comportar. Eu mesmo participo, às vezes, do Parque da Vila São João para uma caminhada. Não temos percebido aglomerações de nenhuma forma. Claro que o Parque Aquático aos domingos é bem mais frequentado, mas eu também participo e vejo, procuro estar sempre atento. Percebemos que quando há aglomeração, são famílias que já vieram no mesmo carro, estão tomando um chimarrão, mas é uma questão mais familiar. Não vemos basicamente tantos problemas”, conta.

De acordo com o coordenador do COEF, o problema maior está em estabelecimentos comerciais. “Nossa maior dificuldade ainda são grandes supermercados que tem os horários de pico, que é difícil o controle. Também o comércio em geral, principalmente nas ruas mais movimentadas, aonde a própria pessoa deve olhar dentro da loja, ver se é momento realmente dela adentrar ou esperar um instante”, explica.

Já em outros locais, não há muitos problemas, indica Agostinho. “A área industrial para nós nunca foi um problema porque é um ambiente controlado. Existe o técnico de segurança do trabalho que sempre está ajudando e nunca foi um problema, mas pedimos realmente a compreensão”, disse.

O aumento de casos fez com que a Prefeitura de Irati decidisse por não realizar nenhum evento de carnaval. “Não vai acontecer nada a nível municipal de iniciativa da prefeitura com relação a carnaval. Os números não nos favorecem. As coisas devem permanecer como estão. Cada um cuidando da melhor forma”, revelou.

Um dos fatores da decisão é o aumento rápido da contaminação, que tem tendência de crescimento. “Em dezembro, tinha uma média de quatro casos por dia. Hoje nós estamos com 88 casos por dia. E a probabilidade e as estatísticas nos indicam que nos próximos 15 dias, ou até em um mês, isso deva triplicar, quadruplicar”, relata.

Por isso, cuidados como a vacinação contra a Covid-19 e a continuidade de medidas preventivas são essenciais neste momento. Agostinho destaca que as máscaras são boas ferramentas neste combate, independente do material que for feita. “Uma vez que eu use a máscara, sendo cirúrgica, sendo a N95, até um pano como é as máscaras comuns, as gotículas eu acabo eliminando. Pode ser que passe alguns vírus? Claro, pode ser que passe, agora não se compara se eu não tiver uma barreira. Qualquer barreira que utilize, ela funciona”, disse.

Agostinho ainda destacou que a máscara é um complemento e deve ser usada com outras medidas. “Ela é um complemento. Máscara, lavagem de mãos, uso do álcool gel e distanciamento. Esse são os quatro alicerces para você se proteger da melhor forma possível”, afirma.

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