Cabos de internet e telefonia soltos em vias públicas têm causado transtornos e acidentes em Irati. A Copel aponta que a responsabilidade é das operadoras, enquanto a prefeitura enviou à Câmara um projeto de lei que prevê penalidades para cabos abandonados/ Diego Gauron

Resumo
• Motociclista de Irati sofreu acidente grave após ser atingido por cabo de internet solto; vítima segue em recuperação e entrou na Justiça pedindo indenização.
• Copel afirma que a manutenção da fiação é responsabilidade das operadoras de telecomunicação; companhia anunciou ação para organizar cabos irregulares na cidade.
• Prefeitura enviou à Câmara projeto de lei que prevê multas de até R$ 10 milhões para operadoras que abandonarem cabos nos postes.
No dia 20 de maio deste ano, Matheus Santa Barbara sofreu um acidente de moto que mudou sua rotina. Enquanto seguia para o trabalho no bairro Alto da Glória, em Irati, foi surpreendido por um cabo de internet baixo estendido de um lado a outro da rua, o que quase custou sua vida.
“Esse cabo estava muito baixo e pegou no meu pescoço. A moto perdeu o controle, fui para cima da calçada e bati em entulhos de obra. Tive uma batida muito forte na perna, ralei braços, costas e pernas, além de fraturar a mão. Até hoje ainda estou em recuperação, esperando o médico liberar a fisioterapia”, contou.
De acordo com ele, os movimentos da mão fraturada continuam limitados. “Não consigo fazer força. Dependendo do movimento, a dor ainda é forte”, relatou.
Reincidência do problema
Situações semelhantes já foram registradas em outras regiões da cidade. De acordo com a vereadora Terezinha Miranda Veres, que acompanha de perto esse problema, incidentes com cabos soltos são recorrentes em Irati.
“Eu decidi, através da Câmara, fazer uma indicação para enviar um ofício à Copel. Fui prontamente atendida pelo responsável, que nos informou que a fiscalização é responsabilidade da Copel. Ele também disse que a operadora responsável por muitos dos cabos soltos em Irati é a Oi, que deixou de operar no município”, afirmou a vereadora.
Procurada pela reportagem, a Oi respondeu que atualmente não oferece mais serviços de fibra ótica para o varejo e que a operação foi vendida para a empresa Nio. No entanto, a operadora não comentou sobre a responsabilidade pelos cabos antigos em Irati.
Já a Copel informou que entre os dias 18 e 22 deste mês realiza uma ação de organização de cabos de internet em situação irregular em Irati, com notificações a todas as operadoras que atuam na cidade.
A companhia ressaltou que a manutenção da fiação é de responsabilidade das empresas de telecomunicação e que a população pode denunciar irregularidades pelo telefone 0800 51 00 116. A distribuidora destacou ainda que, em situações de risco, está autorizada a retirar imediatamente os cabos.
Prefeitura busca endurecer regras
Diante das reclamações, a Prefeitura de Irati encaminhou para a Câmara um projeto de lei que amplia a responsabilização das operadoras e prevê multas maiores para casos de abandono de fios.
O procurador-geral do município, Hermano Faustino, explicou que a lei existente era considerada tímida e não trazia resultados efetivos. “O projeto busca incluir Irati no contexto de punições mais severas. A lei anterior focava muito na concessionária de energia elétrica e previa multas pequenas. Agora, as penalidades previstas são de até 100 mil URMs, mostrando que o problema é muito sério”, disse.
Cada Unidade de Referência Municipal (URM) de Irati vale atualmente pouco mais de R$ 107. Assim, as multas podem ultrapassar R$ 10 milhões em casos graves.
O projeto de lei foi lido na sessão da última terça-feira, 12, e deve passar pelas comissões antes de ser analisado pelo plenário.
De acordo com Faustino, após a aprovação do projeto haverá um prazo de 60 dias para que as empresas façam adequações. “Finalizado esse prazo, caso não haja cumprimento, o município poderá instaurar multa administrativa”, afirmou.
Expectativa
Enquanto isso, Matheus entrou com um pedido de indenização contra a Copel. Ele busca reparação pelos gastos médicos, conserto da motocicleta — estimados em mais de R$ 4 mil — e também por danos morais. “Conhecemos a Justiça brasileira, então contamos com pelo menos um ano para frente até uma decisão. Mas esperamos uma indenização que cubra os danos materiais e também os morais, por toda essa situação”, disse.
Já a Prefeitura de Irati afirma que o objetivo a partir de agora é diminuir o problema com cabos soltos, prevenindo novos acidentes. “A gente até tem buscado diálogo com as vítimas para que uma reparação simbólica também seja a regulação voltada a fiscalização e uma punição mais severa para que não haja mais o dano. Esse também é um ato de responsabilidade do município: buscar proteger mais as pessoas para que esse problema urbano diminua ou deixe de acontecer idealmente”, concluiu o procurador Hermano Faustino.
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