Em entrevista à Najuá, sacerdote fala sobre o significado de cada uma das celebrações desta semana/Paulo Henrique Sava
Cristãos de todo o mundo celebram a Páscoa neste fim de semana. As celebrações começaram nesta quinta-feira, dia em que é celebrada a Missa do Lava Pés e da instituição do sacerdócio, e seguem nesta Sexta-Feira Santa, com a celebração da Paixão e Morte de Jesus. No sábado, acontecem as tradicionais bênçãos dos alimentos e Vigília Pascal. Já no domingo, celebra-se a Ressurreição de Jesus nas missas de Páscoa.
Em entrevista à Najuá, o reitor do Seminário Mãe de Deus de Irati, Padre Hélio Guimarães, falou sobre o significado de cada uma das celebrações. Para ele, a Semana Santa é um tempo muito especial para a fé cristã.
“A Semana Santa é esse tempo muito especial para a nossa fé porque não envolve só a semana, mas de maneira muito especial aquilo que nós chamamos de tríduo pascal, que começa na quinta-feira, com a missa do lava pés e a memória da Ceia do Senhor, depois na sexta-feira a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, com o gesto da adoração da cruz e no sábado a solene Vigília Pascal, com a celebração do fogo novo, o Cristo que ressuscitou. São três celebrações como se fosse uma só. Os intervalos eh em que nós saímos da igreja são como se nós estivéssemos ansiosos aguardando retornar à igreja para continuar em oração e seguir com esta mesma e única celebração, que é o centro da nossa fé durante o ano litúrgico”, frisou.
Por conta da continuidade das celebrações, o padre recomenda que as pessoas participem das três celebrações e de preferência na mesma igreja. “Isso, não só participem das três celebrações, mas façam o possível para participar das três celebrações no mesmo lugar e com o mesmo presidente dessa celebração. No caso, por exemplo, se alguém participa aqui na Matriz Perpétuo Socorro, que participe aqui dos três dias, se alguém participa aqui na São Miguel, participe dos três dias ali na matriz ou na Nossa Senhora da Luz, ou mesmo os que participam na sua comunidade da celebração que é dirigida pelo diácono, a celebração da palavra ou pelo ministro e equipe litúrgica da comunidade, mas que se participe no mesmo lugar, nos três dias, o que dá uma inteireza para essa celebração”, comentou.
Quinta-feira Santa – Para entender o sentido das celebrações, é importante que os cristãos compreendam que o que está sendo feito nestes momentos não é apenas uma lembrança ou representação de um ato, mas sim a atualização do gesto de Jesus, que se tornou a base da fé cristã, segundo Padre Hélio. Ele conta que a celebração da quinta-feira santa, a missa do Lava Pés e da Ceia do Senhor, tem um significado de que o cristão precisa estar a serviço do próximo.
“Na quinta-feira, a missa do lava pés tem dois momentos importantes. Um deles é a recordação da instituição da Eucaristia, quando Jesus partiu o pão e entregou a seus discípulos dando a sua própria vida, o seu corpo e o seu sangue por amor dos discípulos, antecipando o que ele iria fazer no gesto da cruz, onde o seu sangue seria derramado por nós e o seu corpo, a sua vida dada inteiramente por nós, então ele antecipa isso na mesa da ceia pascal, fazendo memória da Páscoa dos judeus. Nós participamos desta memória acolhendo em nossa vida o corpo e sangue de Cristo para a nossa salvação. Então por isso, na quinta-feira, nós recordamos e fazemos memória da ceia do senhor, da instituição da eucaristia, mas também da instituição do sacerdócio, porque em toda missa o sacerdote está na pessoa de Cristo, dando a sua vida pelo próprio povo”, pontuou.
Em paralelo à instituição da Eucaristia, acontece também o Lava Pés, numa demonstração de que Jesus, mesmo sendo filho de Deus, está a serviço da humanidade. “No evangelho de São João, Jesus dá a sua vida lavando os pés dos discípulos, ou seja, amando até as últimas consequências. Uma palavrinha bem interessante que nós repetimos em toda missa e que Jesus repete após o lava pés, é a seguinte: “Fazei isto em memória de mim”. Ou seja, que nós possamos repetir na nossa vida esta partilha, este gesto de humildade, este gesto de amor que Jesus fez na quinta-feira por nós”, frisou.
Sexta-feira Santa – Na Sexta-feira Santa, sempre às 15 horas, é relembrada a Paixão e Morte de Jesus. Segundo o padre, o rito precisa ser realizado neste horário porque foi às 15 horas que Cristo morreu crucificado.
“Nós acompanhamos principalmente o Evangelho de São João, que gosta muito de trabalhar com as horas e elas têm um significado especial. A partir do meio-dia, começou a escurecer e acontecem os diálogos e as realidades que nós contemplamos na Via Sacra, as palavras de Jesus na cruz. As trevas cobrem a Terra, há aquele grande tremor justamente às 15 horas, quando Jesus entrega o espírito.
Nesta celebração, é feito o relato do Evangelho de São João sobre a Paixão. Em seguida, é feita a apresentação da cruz para a comunidade. O padre contou qual o sentido deste gesto.
“Nós cantamos a nossa vitória: não é um dia para celebrarmos a tristeza da dor e da morte. É claro que nós associamos os nossos sentimentos aos de Cristo, mas já na sexta-feira estamos celebrando a vitória dele porque nós chamamos estes três dias, quinta, sexta e sábado, de tríduo pascal. Então, já não é mais quaresma, é Páscoa. Até o jejum que fazemos na Sexta-Feira Santa é diferente do que nós fazemos na quaresma e na Quarta-feira de Cinzas, porque é pascal. É feita a apresentação da cruz, que muitas vezes é apresentada com o crucificado, mas o beijo que damos é numa cruz nua, sem Jesus, para relembrar não um sinal de morte, mas de nossa vitória, da vitória de Cristo sobre o pecado e a morte”, comentou.
Neste dia, muitas comunidades também fazem a tradicional Via Sacra pelas ruas e casas para relembrar a morte de Cristo na cruz. Durante estas caminhadas, as pessoas entoam cantos que relembram este fato.
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Na Sexta-Feira Santa, em Irati, também é realizada a encenação do Teatro da Paixão de Cristo, feita pelo Grupo de Teatro São Francisco de Assis. Neste ano, a apresentação vai acontecer no Estádio Municipal Abrahm Nagib Nejm a partir das 19h30min. O padre avalia de forma positiva a realização deste trabalho.
“É um momento muito emocionante não só para quem atua, porque envolve toda uma preparação, um tempo de oração, mas também para quem está acompanhando e assistindo. Eu gosto muito do teatro porque ele envolve todos os sentidos, e principalmente do Teatro da Paixão, pelo espaço em que é expandido o cenário, as pessoas estão ali como se estivessem nas ruas de Jerusalém, acompanhando o que estava acontecendo. Ora estamos diante da casa de Pilatos, diante da Ceia do Senhor, no Monte das Oliveiras, no lugar da flagelação. O próprio público vai se deslocando por aquilo que está acontecendo, então é como se estivéssemos em Jerusalém participando daquilo que Jesus viveu”, frisou.
A musicalidade da peça também é importante para ajudar o público a entrar na encenação, segundo o padre. “Ela ajuda as pessoas a serem introduzidas na emoção, no sentimento daquilo que está sendo celebrado, e é claro, a atuação também é importante. Nós sabemos, de maneira extraordinária, ver como Deus trabalha os seus dons: são pessoas que, no seu dia a dia, estão atuando nas mais diversas atividades na sua família e na sua casa. Naqueles dias, elas têm o dom de incorporar justamente aqueles papeis que estão representando. Esta é uma grande graça e que bom que temos esta oportunidade em Irati” pontuou.
Sábado Santo – O Sábado Santo é considerado o dia do grande silêncio, uma vez que Jesus ainda permanecia no sepulcro. Algumas comunidades realizam o chamado Ofício das Trevas, no qual se reza acendendo algumas luzes da igreja, aproximando-se da ressurreição de Cristo. Tradicionalmente, este é o dia em que as famílias preparam a Páscoa. Por isto, as pessoas procuram, neste dia, abençoar os alimentos que serão servidos na ceia, segundo o Padre Hélio.
“Esta alimentação que está sendo preparada é como se fosse tudo novo, nós vamos começar uma nova vida com a Páscoa. Então, não podemos pegar alimentos velhos ou fazer a ceia pascal com coisas que estavam guardadas. É o boi, a carne de porco, o frango que serão preparados naquele dia. Assim também é com os pães e tudo o que é preparado. Por isto, tudo deve ser levado para ser abençoado, é como se fossem os primeiros frutos da nossa colheita oferecida a Deus, os primeiros frutos do nosso trabalho que são os alimentos da cesta para serem abençoados no Sábado Santo”, comentou.
No Sábado Santo, os padres não atendem confissões nem fazem a Unção dos Enfermos. No fim do dia, quando começa a escurecer, é feita a Vigília Pascal, que começa fora da igreja com o acender do Fogo Novo, onde é aceso o Círio Pascal, que representa a luz do Cristo ressuscitado. Em seguida, são acesas as velas do povo e o sacerdote ou diácono proclama o “exulte”, contando toda a história da salvação cantada, agradecendo pela ressurreição de Cristo e pelo perdão. Em seguida, as pessoas sentam para ouvir a Palavra de Deus. Nesta celebração, são feitas 9 leituras e salmos responsoriais.
“Vem tudo em um crescente, assim como as luzes da igreja vão se acendendo aos poucos, a Palavra de Deus vai iluminando as trevas do nosso coração e nós vamos ressuscitando com Cristo. O sepulcro vai se abrindo para, lá nas últimas leituras, entoarmos o Glória, o Aleluia solene e proclamarmos que Jesus ressuscitou. Aí, voltam as imagens para o presbitério da Igreja, voltam as flores, enfeitamos a igreja e tocamos o sino, é festa porque Jesus ressuscitou”, comentou.
Domingo de Páscoa – No domingo de Páscoa, a Igreja já vive o tempo Pascal, que tem o significado da vida nova com a ressurreição de Cristo. “Para nós, o significado da vida nova vem no dia em que Jesus ressuscitou. Por isto, guardamos o domingo e o de Páscoa é o primeiro. É importante que os nossos fiéis, mesmo tendo participado do tríduo pascal, escolham uma das missas do domingo de Páscoa para poder participar, se não, vai acabar ficando sem o primeiro domingo do tempo pascal”, comentou.
Páscoa não tem data fixa – A Páscoa não tem uma data fixa no calendário gregoriano, mas segue o calendário lunar, que atribuiu a data da comemoração ao dia 14 do mês de Nissan, correspondente a abril. Este é o dia em que a lua cheia aparece ao longo de todo o mês. “Todos os anos, precisamos dar uma pesquisada, para saber quando vai cair a Páscoa, porque ela não segue o nosso calendário civil, ela segue, o calendário no qual foi atribuído a data da Páscoa no Antigo Testamento para o dia quatorze, do mês de Nissan, que para nós corresponde ao mês de abril, mas que é a lua cheia deste mês”, pontuou.