Em entrevista à Najuá, Denise contou detalhes desse tipo de teatro que as peças podem ter mímicas, gestos e palavras. Atriz já se apresentou em mais de 30 países/Texto de Karin Franco, com entrevista realizada por Rodrigo Zub e Juarez Oliveira
A atriz, diretora e escritora iratiense, Denise Stoklos, foi homenageada com o prêmio Colmeia de Ouro em Irati. Criadora do chamado Teatro Essencial, a atriz já se apresentou em mais de 30 países, com peças teatrais que foram elogiadas por jornais internacionais, como o The New York Times, dos Estados Unidos.
O Teatro Essencial é um método em que a disponibilidade do ator em cena é o mais importante. “Não precisa nem ter cenários, nem figurinos, nem nada. O importante é a presença do ator viva e estimulada pela sua própria criatividade, pela sua própria impressão da vida e seu testemunho sobre a sociedade, a convivência com o nosso planeta, com tudo que nos envolve, que o ator seja aquele arauto do que o espectador veio buscar no teatro, que é a transformação de si mesmo”, disse a atriz.
No Teatro Essencial, as peças podem ter mímicas, gestos e palavras. “Nesse tipo de teatro, nós não dispensamos nada que o ator possa ter como expressão, que é o corpo, a voz e esse terceiro elemento etéreo, que é o pensamento, a memória, a intuição, os aprendizados. Tudo isso faz parte do teatro que busca chegar ao espectador mostrando para ele que tudo aquilo que ele viveu e vive, ainda pode ser melhor. Melhor aproveitado, melhor transmutado nas suas experiências de vida, que há sempre uma esperança de amor e liberdade. Essa é a base do Teatro Essencial”, explica.
Denise destaca que a criação do método foi influenciada pela sua vivência em Irati. “Isso tudo foi construído a partir do meu olhar iratiense, porque aqui eu tive muitos estímulos extremamente positivos, desde os meus pais, minha família, meus amigos, meus amiguinhos de infância, o grupo escolar Duque de Caxias, onde eu estudei e que me formou intelectualmente, que me deu uma base muito boa de português, onde eu exercitei, principalmente, no jornal O Debate, do nosso querido José Maria Orreda, que me também propiciava acreditar tanto na arte”, conta.
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Denise revelou que foi o professor José Maria Orreda que a incentivou na produção do seu primeiro livro aos 18 anos. “Ele dizia, o que não se publica não existe. Já na minha primeira peça, com 18 anos, ele publicou em livro. O que fez com que me acostumasse com essa ideia e viesse a depois publicar mais sete livros meus, eu mesma publicando, baseada nesse princípio que ele trouxe para mim. Foi um formador para mim, muito grande, e eu prezo demais a memória de José Maria Orreda, do jornal O Debate, da editora O Debate e todos os meus colegas daqui, que também sempre me deram muito apoio e reconhecimento ao que eu fazia, fazendo com que eu achasse que tinha valor aquilo”, destaca.
Para Denise, esse reconhecimento no início do seu relacionamento com a arte a fez desenvolver a sua carreira. “Eu vejo tantos outros colegas ou pessoas que eu fico sabendo que não foram adiante nas suas profissões, porque não tiveram esse estímulo. Então, eu me vejo como privilegiada e só agradecimentos a Irati e ao iratiense”, conta.
A atriz saiu de Irati aos 14 anos e foi estudar em Curitiba. Durante este tempo, voltava sempre a terra natal. Depois de adulta, Denise morou no Rio de Janeiro e São Paulo, onde desenvolveu sua carreira no teatro, sendo diretora, escritora e atriz. Foi por meio dos trabalhos nessas duas cidades que Denise conseguiu se apresentar em 33 países, sendo considerada a atriz brasileira que mais atuou no exterior.
Entre suas peças de teatro apresentadas em vários países estão Desmedeia, Vozes Dissonantes, Um Fax para Cristóvão Colombo, Preferiria Não, Desobediência Civil, Vendo Gritos e Palavras, Abjeto Sujeito, Clarice Lispector e Extinção. Denise lembra que uma apresentação marcante aconteceu em Nova York, nos Estados Unidos. “Tem uma que marcou muito a minha carreira, chamada Mary Stuart, que foi a primeira peça que eu estrei em Nova York, no Teatro La Mamma, e que teve uma aprovação da crítica do New York Times. A partir disso, cada vez que eu me apresentava lá, porque eu recebi um convite para apresentar todo ano lá minhas estreias. Já antes de estrear, os jornais recomendavam como espetáculo da semana, porque lá eles cultivam muito a memória. Uma vez que você ganhou algum prestígio, aquilo é permanente, eles creem e impulsionam a vida desse artista e as suas apresentações”, disse.
O Teatro Essencial, desenvolvido por Denise Stoklos, também é reconhecido nos Estados Unidos. “Eu fui investigando mesmo o que fazia sentido para mim no teatro e cheguei a essa conclusão. Quando eu vi, era uma conclusão única, diferenciada, tanto que os Estados Unidos reconhecem como um método de teatro criado por mim, por essa iratiense, e que agora já existe no mundo como uma marca registrada, uma possibilidade a mais de teatro, de linha teatral, mas foi a partir das minhas experiências daqui”, conta.
Prêmio Colmeia de Ouro: O prêmio Colmeia de Ouro é concedido pela Academia de Letras, Artes e Ciências do Centro-Sul do Paraná (ALACS) e busca premiar pessoas que tem conexão com as áreas de letras, artes, ciências e humanidades. “Pessoas que realmente teriam mérito, reconhecimento público e da própria Academia para perceber a importância de ser reconhecido. A proposta foi de uma única pessoa no ano e prossegue assim até hoje. Todos, desde 2004 até agora, todos os anos foram preenchidos várias pessoas homenageadas”, disse o presidente da ALACS, Herculano Batista Neto.
Os homenageados são escolhidos por meio de votação. Os membros da ALACS apresentam nomes de pessoas que podem ser homenageadas e justificam sua indicação. Depois, os acadêmicos votam. “Uma vez que seja aclamado, todos se vertem para o mesmo lado e vamos convidar a pessoa, porque primeiro é preciso que a pessoa também aceite. Tem todo o direito até de não aceitar. Nós sempre deixamos, eventualmente, uma segunda opção. Diga-se de passagem, que a Denise não teve segunda opção. Nós todos, foi unânime de entender que cruzamos os dedos e vamos entender que ela vai aceitar”, explica.
Herculano conta que o nome de Denise Stoklos havia sido apontado no passado, mas nunca houve uma data em que a atriz conseguisse comparecer pessoalmente para receber o prêmio. “Esse ano deu certo, graças a Deus, encontramos uma data. Até porque a Denise estava com espera de alguns compromissos, mas para a nossa sorte esses compromissos não aconteceram. Esse ano, nós temos a Denise conosco. Para nós é uma grande alegria e já era uma situação de ter acontecido alguns anos atrás, mas tudo tem seu tempo, acreditamos dessa forma”, conta.
A homenagem aconteceu no sábado (9), em uma cerimônia na Câmara de Irati. Para Denise Stoklos, receber a homenagem de seus conterrâneos é especial. “Receber um prêmio de seus conterrâneos, de seus contemporâneos, é o que mais pode agradar alguém. Receber o reconhecimento, receber a vital importância de um abraço, que significa um prêmio desse, que nos eleva profundamente, é o mais destacado serviço de intensidade para nos estimular a continuar produzindo, porque é muito emocionante. Eu estou emocionada, estou até sem palavras aqui, para dizer o quanto significa quando nós somos reconhecidos no próprio lugar onde nós nascemos e de nós não saímos emocionalmente. É dali que nos energizamos e dali que nós retiramos toda a identidade para produzir o nosso trabalho. Para mim, Irati está no meu histórico e na minha alma. Eu não saio daqui, é a minha terra, eu não pertenço a nenhum outro lugar a não ser aqui”, disse.
A presidente da Associação Cultural Denise Stoklos, Luiza Nelma Fillus, destaca que a atriz sempre lembra de sua terra natal. “Nós estamos trazendo uma grande artista, que é de Irati e que é conhecida mundialmente. Que faz, especificamente, teatro dentro de todas as possibilidades possíveis. E sempre ela coloca em qualquer texto, normalmente, ela diz nasci em Irati. Nasci em Irati, uma cidade do Sul do Brasil. Parece uma bacia e assim vai. Com tanta naturalidade que são as suas raízes”, destaca.
Luiza Fillus ainda lembra de um episódio em que um estagiário da Unicentro a acompanhou em uma peça na Itália. “Ela decorou em italiano o texto, porque você tem esse poder de decorar. Fez com que ele estudasse com você para ver, se vocês não se perdiam. Quando terminou, os italianos foram lá falar com você. Você disse: ‘Eu não falo italiano’. Isso é fofoca, mas é verdade. O Anderson falou que você falou para ele: ‘Então, você abre a cortina e vai fechando, enquanto o pessoal estiver aplaudindo. Você vai abrindo e fechando’. Ele disse que ele cansou de abrir e fechar a cortina, de tanto que você foi aplaudida”, conta.
Essa não é a primeira homenagem que Denise Stoklos recebeu em Irati. A atriz foi homenageada com seu nome no chamado Teatro Denise Stoklos, que agora se transformou no Centro Cultural Denise Stoklos.
A atriz comentou sobre a obra inacabada e destacou que o projeto faz parte da área da educação. “Eu fui uma criança em Irati que não tinha teatro, que só havia teatro no circo e no cinema do João Wasilewski. Os filmes maravilhosos com os nossos comediantes brasileiros. Aliás, é o patrono meu, da cadeira da ALACS, João Wasilewski, que trouxe o cinema que é tão importante para todos nós. Penso sempre que as crianças dessa cidade vão se beneficiar tanto com o teatro local. Vão se desenvolver nessa área. Vão poder assistir espetáculos diferentes e trazer novas informações culturais, artísticas. É também relativo à educação um projeto cultural desse”, disse.
Para a presidente da Associação Cultural Denise Stoklos, é essencial que a comunidade se una para cobrar o término da obra. “Quando for coletivo, como nós abraçamos a faculdade e também dentro da arte, dentro do teatro, dentro da música, dentro da cultura, de um modo geral, nós só temos a ganhar”, disse.
Trabalhos profissionais: Além de promover um curso online sobre Teatro Essencial no início do próximo ano, Denise Stoklos tem trabalhado em peças de teatro. Atualmente, tem a peça em cartaz com textos de Clarice Lispector.
Em 2025, Denise Stoklos fará uma peça em parceria com a atriz Alessandra Maestrini, que foi intérprete da personagem Bozena, da série Toma Lá Dá Cá, da TV Globo. O texto da peça está sendo escrito pelo diretor e ator, Miguel Falabella. “É mais uma experiência, e também estou dirigindo, junto com ela, atores que se identificam com o Teatro Essencial e querem se desenvolver nessa área”, conta.
Denise e Alessandra vão se apresentar em Irati, no Centro Cultural Clube do Comércio, no dia 23 de dezembro (segunda-feira), às 19h, com entrada gratuita. Denise Stoklos ainda dirige uma peça com a atriz Gabriela Duarte, filha da Regina Duarte, que trata sobre a opressão. A peça também tem direção de João Paulo Lorenzon. “Nós vamos fazer trechos da filosofia de Nietzsche, que fala justamente dessa ideia de super-homem, no sentido do homem que muda, o ser humano que muda o seu status quo, que não tem que se submeter às questões de poder que são sempre muito destrutivas para o homem, mas sim a fé no ser humano como transformador, o grande transformador”, explica.