Segundo dados divulgados pela Afubra, estado passou a ter mais de 27 mil produtores de tabaco em 2025. Em audiência pública, presidente da Assembleia Legislativa afirmou que estado teve um aumento de 35% na safra atual/Paulo Sava

O estado do Paraná superou a marca de 27 mil produtores de tabaco em 2025. Segundo dados divulgados pela Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), o estado teve um incremento de 10,10% na quantidade de famílias produtoras de fumo, que chegou a 27062. Entre os estados da região sul, Santa Catarina teve um aumento de 4,03%, chegando a 41720 famílias produtoras, e o Rio Grande do Sul teve um crescimento de 0,96%, passando para 69.238 produtores.
A área de cultivo do tabaco também aumentou nos três estados. O Paraná teve o maior percentual de crescimento na área plantada com o produto, totalizando 83.981 hectares.
Em audiência pública que tratou sobre dois projetos de lei (119/2023 e 110/2025) que buscam mudar o local de classificação do fumo das empresas fumageiras para as propriedades rurais, realizada na última terça-feira, 15, o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, deputado Alexandre Curi (PSD), destacou que a safra de fumo 2024/2025 no Paraná teve um aumento de 35% em relação à anterior. Ele também ressalta que, antes de aprovar os projetos, a Assembleia procura discuti-los com a comunidade paranaense e os produtores.
“O nosso compromisso e o destes deputados aqui é, antes de aprovar ou não este projeto, debatê-lo com quem está no dia a dia e enfrenta as dificuldades. A ALEP preza pelo diálogo, quer dar oportunidade a todos de participarem deste debate para que, lá na frente, se houver o consenso ou não, este projeto seja pautado, discutido, debatido e aprovado ou não por estes parlamentares”, frisou.

Cerca de 700 produtores estiveram na Assembleia Legislativa para participar do encontro. Várias pessoas representaram os produtores dos 10 municípios da Amcespar no evento. O deputado Luiz Claudio Romanelli, autor do projeto de Lei nº 110/2025, destaca que a apresentação dele fez com que o outro projeto (119/2023), que estava parado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) tivesse andamento.
“A apresentação do novo projeto fez com que o outro pudesse, de fato, ganhar uma relevância para tramitar. Eu devo isso, todos devem aqui, e creio que vamos aprovar este projeto de lei. É claro que os lobistas vão surgir de tudo quanto é lado, pedindo moderação e dizendo que isto vai trazer prejuízos. Sabemos que o prejuízo está no modo atual de comercialização do tabaco”, comentou.
De acordo com Romanelli, os dois projetos de lei têm como objetivo melhorar a vida dos produtores de tabaco no Paraná. “Esta audiência pública é para aperfeiçoar o Projeto de Lei, é para ver no que ele pode ainda ser mais melhorado e efetivamente fazer com que as condições de vida do produtor rural de fumo sejam diferentes do que são hoje. Nós vamos votar este projeto, mas vocês sabem que a indústria fumageira tem um lobby poderoso, vão ter defensores dos seus interesses. Mas este projeto, depois de aperfeiçoado, debatido e discutido por todos, virá ao Plenário e vai ser votado. Os que tiverem a coragem de votar contra o produtor rural e manter ele na condição de hipossuficiência frente ao poder dos que detém o capital e o poder de definir a classificação da folha de fumo, vão ter os nomes no painel, mostrando quais são os deputados que são a favor dos fumicultores e os que são contra”, destacou.
O presidente da Comissão de Agricultura e Agropecuária da ALEP, deputado Anibelli Neto, afirma que a audiência da última terça-feira, 15, será marcada como um dos momentos em que a Alep reconheceu a importância do trabalho dos produtores rurais. “É um dia para se lembrar pelo resto dos tempos, como um momento em que este Poder Legislativo reconhece o trabalho de todos, e através deste projeto, vai procurar dar uma condição melhor aos produtores”, afirmou.
Como funciona a legislação no Rio Grande do Sul
O deputado estadual do Rio Grande do Sul, José Nunes, participou da audiência de forma remota. Ele contou como se deu a elaboração da lei, que entrou em vigor neste ano no estado. “Nós, então apresentamos este projeto de lei, que demorou muito porque houve um grande debate sobre a constitucionalidade e a questão da inicativa e se o Estado tinha a prerrogativa de legislar sobre isto, e nós vencemos todas estas etapas. Eu quero dizer aos deputados do Paraná que fiquem muito tranquilos porque vocês vão legislar num tema de política agrícola, de classificação vegetal, e talvez tocando num ponto essencial para o produtor, que é o momento da definição da classe, que, do jeito que é hoje, não serve. Todos os produtos evoluíram na sua forma de classificação, de definição de qualidade. Veja a produção de leite, todos os produtos de proteína animal, o próprio grão, e o tabaco sempre da mesma forma. Sempre o agricultor, o produtor, foi o elo mais fraco”, relatou.
Deputado pede que sejam feitas melhorias na rede elétrica da área rural
O deputado Arilson Chioratto (PT) pediu que seja feita uma solicitação para que a Copel providencie melhorias na rede elétrica para favorecer os fumicultores, que sofrem com as constantes quedas de energia nas propriedades. Eles utilizam a energia nas estufas, no momento da secagem do tabaco. “Há muita queda de energia no estado, o que prejudica o trabalho de vocês. Eu quero hoje ouvir bastante aqui, a audiência pública é para ouvir vocês que conhecem a realidade e me colocar à disposição. Falei com a ministra Gleisi Hoffmann neste momento da audiência, e o Governo Federal do presidente Lula está à disposição. Todos pela fumicultura do estado do Paraná, ao lado dos produtores e produtoras. Estamos juntos, contem com a gente”, comentou.
O presidente de Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), Ágide Meneguetti, apontou que, com a aprovação do projeto de lei, o produtor rural terá mais autonomia para acompanhar de perto a classificação do produto. “Desta forma, o produtor vai receber o valor real da qualidade do produto, não ficando mais refém da indústria. Isto é importante, pois o Paraná é o 3º maior produtor de tabaco do país, atrás do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Cerca de 95% da produção brasileira está concentrada nestes estados da região sul”, pontuou.
O prefeito de Vera Cruz-RS e presidente da Associação dos Municípios Produtores de Tabaco (AMPROTABACO), Gilson Becker, também participou da audiência pública. Ele ressalta que a lei que está em vigor no estado gaúcho ainda está em fase inicial. O prefeito enaltece a manutenção da cadeia produtiva do fumo, que é centenária.
“É uma cadeia produtiva que é exemplo para outras culturas, centenária e que precisamos, acima de tudo, estar batalhando pela diminuição das restrições da cultura do tabaco, pela questão de toda a convenção quadro, de todos os aspectos restritivos que vêm surgindo. Acima de qualquer debate, é muito importante estar se fazendo este aqui, que possamos avaliar todos estes aspectos em virtude de um possível aumento de custos neste processo de aquisição do tabaco na propriedade, da forma de logística, de como isto vai funcionar na prática. São aspectos que ainda, mesmo estando a legislação vigente no Rio Grande do Sul, ainda não estão muito claros e trazendo então este depoimento de possivelmente estar se fazendo esta análise e acompanhar como se tem um estado em prática, ver como realmente funciona e que há diferença da teoria e da prática, que nós produtores, sabemos que muitas vezes é grande. Vamos aprimorar e intensificar este debate e analisar com cautela as questões envolvidas para que se possa aprimorar da melhor forma possível e tomar a melhor decisão para que não venha a trazer prejuízo aos produtores”, afirmou.
Brasil é o maior exportador de tabaco do mundo
O presidente do Sindicato Interestadual das Indústrias do Tabaco (SINDITABACO), Walmor Tezin, destaca que o Brasil vem sendo o maior exportador de tabaco do mundo há 30 anos.
“O Brasil representa de 20% a 30% de todo o volume de tabaco que é comercializado ao redor do mundo. O Brasil é disparado o 2º maior produtor e o maior exportador, expostando mais que o dobro do 2º país que mais exporta. No sul do país, temos 138 mil famílias de pequenos produtores (de fumo), ou seja, um envolvimento de mais de mais de 600 mil pessoas no meio rural. O Brasil tem destaque porque exporta para mais de 113 países, com 3 bilhões de dólares de exportação no ano passado. Isto trouxe uma renda, no último ano, aos produtores, de 12 bilhões de dólares, e aqui para o estado do Paraná vieram em torno de R$ 3 bilhões. Para o nosso maior sócio, que é o governo, foram mais de R$ 17 bilhões. Estamos falando de uma cadeia de algo em torno de R$ 70 bilhões”, afirmou.
O prefeito de Rio Azul e presidente da Amcespar, Leandro Jasinski, levou uma boneca de fumo para a Assembleia. Ele destacou que há necessidade de uma maior participação dos produtores na câmara técnica do tabaco, que está sendo formada. “Nós queremos participar desta câmara técnica junto com os produtores, para elaborarmos esta melhor proposta. Todos os municípios que estão representados aqui dependem muito da fumicultura. Eu falo com propriedade do nosso município de Rio Azul, e posso dizer que existe um município antes da fumicultura e outro totalmente transformado depois da fumicultura. Hoje nós andamos pelo interior e vemos os nossos produtores vivendo muito bem. Eu cresci no comércio e vivi isto na pele: todos os comerciantes da cidade torcendo para o produtor vender bem o seu produto, o fumo, para que haja dinheiro para circular no comércio. Hoje eu sinto na pele administrando o município que depende tanto da fumicultura, e grande parte de sua fonte de renda vem dela”, pontuou.
Para o empresário, radialista e ex-deputado estadual Emerson Bacil, a defesa dos fumicultores precisa ser feita de forma constante. “Temos que dizer que a defesa tem que ser contínua, e não apenas em um projeto, pois temos mais problemas, como o reajuste do custo linear, diminuir a quantia de classes e outras ações para as quais temos que nos manter vigilantes”, finalizou.



