Somente 30% das consultas e exames de especialidades do Consórcio Intermunicipal de Saúde estão sendo realizadas desde que iniciaram as medidas para conter a pandemia na região
Sala de espera do Consórcio Intermunicipal de Saúde – CIS Amcespar. Foto Najuá |
Jussara Harmuch
A lista de encaminhamentos de especialidades já era grande e, em período de normalidade, dependendo da especialidade, um paciente poderia esperar mais de um ano para conseguir ser atendido. Mas agora a espera é maior, com a pandemia do coronavírus.
Setor de especialidades municipal
A Najuá conversou com Cleri Chicalski, responsável pela área administrativa do setor de encaminhamentos da prefeitura de Irati para especialidades oferecidas pelo Consórcio Intermunicipal de Saúde (CIS/Amcespar) e com a médica Simone Schatkoski, auditora municipal, que avalia todos os encaminhamentos referendados pelas Unidades de Saúde e Santa Casa e define o grau de prioridade para o atendimento.
Os encaminhamentos são feitos mediante a escala do Consórcio, que foi reorganizada desde que se instalou a pandemia do novo coronavírus.
Cleri diz que todas as consultas são auditadas para definir a prioridade. “Segue escala do consórcio e todas as consultas são auditadas para definir a prioridade, dependendo do caso”, relata Cleri, que ao ser indagada sobre prazo, declara que, devido às circunstâncias, é impossível se estabelecer.
De acordo com Simone, os encaminhamentos levam em conta critérios técnicos definidos pelo médico que encaminhou, através do preenchimento da ficha de encaminhamento.
Contamos com o correto preenchimento para priorizar, eu faço a priorização média ou alta ou ainda altíssima e se vejo que é muito grave tento uma possibilidade de encaixe, consulta extra. Agora se o colega médico não preenche corretamente, não tenho meios de fazer isso, revela Simone.
Sobre uma eventual necessidade de avaliação física antes do parecer, a médica justifica que esse procedimento foi suspenso devido a maioria dos pacientes serem idosos do grupo de risco para Covid-19.
Com a pandemia seria contraditório chamar [pacientes para reavaliação], a não ser que eu fosse na casa para reavaliar, que na atual conjectura, com apenas ela e mais um médico no setor, se torna impossível.
Cleri conta que existem duas filas.
Existe uma fila normal e uma fila de priorização, se a prioridade for altíssima vai passar na frente de todos.
Sendo assim, o andamento da fila depende em primeiro lugar da demanda de urgência e com isso, o período de espera para atendimentos eletivos pode chegar a mais de um ano.
Uma alternativa para agilizar o atendimento estaria na questão dos retornos, das consultas de acompanhamento que, na visão do setor, poderia ser feita pelos médicos nas Unidades de Saúde, cedendo vaga de consulta para um novo atendimento.
Cleri Chicalski, responsável pela área administrativa do setor de encaminhamentos da prefeitura de Irati e Simone Schatkoski, auditora municipal. Foto Najuá |
Consórcio
Para o Coordenador do setor de encaminhamento de consultas e exames, Renato Marques, o problema da fila sempre ocorreu e agora só tende a aumentar porque a demanda diminuiu e o prazo de consultas que era de 15 dias passou para 30, desde o período que o paciente procurou para uma consulta, até ser encaminhado.
A maioria das secretarias de Saúde dos municípios têm o médico auditor e não pode encaminhar sem passar por ele, isso já é uma questão judicial, precisa ter uma justificativa de urgência, casos de fraturas, cateterismo, por exemplo.
Sobre a questão do retorno para acompanhamento, Renato aponta a necessidade de se ter um prontuário eletrônico único para que se estabeleça um atendimento adequado.
Tanto a referência, que é o que se informa ao encaminhar um paciente de uma Unidade, quanto a contra-referência, do Consórcio para a Unidade com o retorno do que precisa ser acompanhado, é uma dificuldade. Hoje já implantamos o prontuário eletrônico e teria de o paciente retornar para avaliar lá na Unidade de saúde, mas isso se perde no caminho devido a problemas que vão desde o paciente não retornar por demora de atendimento ou pelo paciente ter melhorado e deixado de comparecer. Não se consegue acertar este protocolo e perde-se o tratamento, relata, dando a entender que não se assegura um padrão e o retorno se dá no próprio Consórcio.
Cardiologista, ortopedia, neurologia e endocrinologia, são as especialidades mais procuradas. Como acontece com a fila que aguarda por encaminhamento no município, no Consórcio existem dois controles paralelos: o agendamento normal e a urgência que se encaixa nas vagas de pacientes faltosos.
De 20 a 30% a gente já tem a certeza de que vai faltar paciente, desde antes da pandemia, então se coloca duas ou três consultas a mais. Tem médico que oferece além da cota, então fica liberado para qualquer município. Neste período além da diminuição, os pacientes também não estão vindo [por conta da pandemia] e no caso de exames, às vezes por não ter feito o preparo ou devido à dificuldade no transporte, fora de Irati, esclarece.
Ele destaca que isso tudo origina também um problema para os profissionais médicos que vêm de outras cidades e com a redução dos atendimentos o valor não cobre o custo do deslocamento.
Renato Marques. Foto Najuá |
Prontuário Eletrônico
Imbituva, Rio Azul e Inácio Martins adotaram o mesmo prontuário eletrônico que é usado pelo Consórcio. Isso facilita a troca de informações, o que é fundamental para acompanhar a referência e contra-referência retornos e confirmar preparos para exames. No caso dos demais municípios não há como ter acesso contíguo, segundo Renato.
Os municípios têm prontuários distintos o que não possibilita acesso às informações de nenhum dos lados. É uma questão de licitação e o município decide pelo menor preço. O Consórcio se disponibiliza a fazer uma licitação para todos, mas são nove municípios e cada um tem uma política diferente.
A obrigatoriedade do prontuário eletrônico foi instituída pelo governo Federal em 2018. Os valores para implantação em um município como Irati giram em torno de R$ 50 mil, mais os equipamentos que são computadores, internet, treinamento e a manutenção com uma mensalidade de R$ 8 mil.
Nossa reportagem entrou em contato com a secretária de Saúde de Irati Jussara Aparecida Kublinski Hassen sobre a questão da licitação única via Consórcio para implantação do prontuário eletrônico, mas não obtivemos resposta. Em novo contato com o coordenador do Consórcio, ele relatou que ocorreu uma reunião com os secretários na semana seguinte à entrevista, quando o assunto foi colocado em pauta e as discussões pelo consenso da licitação única estariam bem adiantadas. No entanto, a Najuá conversou com alguns secretários, em separado e percebeu que há uma certa resistência de trocar ferramentas devido a questões que vão desde a preocupação em manter o banco de dados ao treinamento de equipes para operar um novo sistema.
Detalhe: O SUS repassa verba específica para que os municípios mantenham os prontuários eletrônicos. Ou seja, o sistema se auto sustenta.
Oferta de consultas antes e depois da pandemia do novo coronavírus
Especialidade
|
Antes
|
Depois
|
Cardiologia
|
440
|
144
|
Cirurgia Geral
|
45
|
36
|
Dermatologia
|
460
|
260
|
Endocrinologia
|
120
|
40
|
Gatroenterologia
|
50
|
40
|
Ginecologia
|
240
|
160
|
Mamografia
|
–
|
131
|
Nefrologia
|
125
|
80
|
Neurologia
|
120
|
60
|
Oftalmologia
|
1258
|
380
|
Ortopedia
|
770
|
400
|
Otorrinologia
|
335
|
80
|
Pediatria
|
120
|
80
|
Psiquiatria
|
–
|
120
|
Ultrassonografia
|
203
|
–
|
Urologia
|
152
|
–
|
Vascular
|
80
|
–
|
Sala de espera do Consórcio Intermunicipal de Saúde – CIS AMCESPAR |
Sala de espera do setor de encaminhamentos de especialidades da prefeitura. Foto Najuá |
Prédio onde está instalado o setor de encaminhamentos para especialidades da prefeitura de Irati. Foto Najuá |
Prédio do Consórcio Intermunicipal de Saúde CIS AMCESPAR, em Irati |