Colégios de Irati realizam atendimentos gratuitos para pessoas com problemas de visão

Projeto auxilia a adaptar rotinas do cotidiano de pessoas com baixa visão ou deficientes visuais/Texto…

08 de fevereiro de 2024 às 23h04m

Projeto auxilia a adaptar rotinas do cotidiano de pessoas com baixa visão ou deficientes visuais/Texto de Karin Franco, com entrevista realizada por Rodrigo Zub e Edinei Cruz

Professora Marilda Efigênia Moro (em destaque na imagem) atua nas salas de recursos da área visual nos colégios Duque de Caxias e CEEBJA. Foto: João Geraldo Mitz (Magoo)

O Colégio Estadual Cívico-Militar Duque de Caxias e o Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEEBJA), ambos de Irati, realizam atendimentos gratuitos para pessoas com problemas de visão. O projeto é mantido pela Secretaria de Estado da Educação (SEED).

O objetivo do projeto é auxiliar as pessoas com baixa visão ou deficientes visuais a conseguir adaptar a sua rotina no cotidiano. “A pessoa tem uma diabetes e ela acaba perdendo essa visão. Ela era uma pessoa ativa. Fica em casa, sem ter muito o que fazer, achando que tudo acabou. E não acabou porque podem estar indo. É uma sala de recursos. Nós trabalhamos o Braille, que essa pessoa vai poder estar fazendo leitura, podemos fazer jogos e até a questão da adaptação na vida social, andar de bengala, que é a atividade de vida diária. Com a bengala, ele vai poder se locomover para onde ele quiser”, conta a professora Marilda Efigênia Moro, que atua nas salas de recursos da área visual dos dois colégios.

Para participar do projeto, é preciso ter um laudo médico. A professora explica que as atividades seguem as orientações médicas. “É o estímulo visual, que o médico manda descrito tudo o que ele quer que seja trabalhado. Nós fazemos o estímulo visual. Trabalhamos a orientação e mobilidade, que é a questão da bengala. Trabalhamos a atividade de vida social e autônoma, para a pessoa se movimentar em casa, até a questão de dobrar uma roupa, a questão de guardar alguma coisa”, explica.

O projeto atende pessoas de qualquer idade, desde bebês de menos de um ano até pessoas idosas. Crianças e adolescentes recebem atividades como reforço escolar e auxílio em atividades escolares. Já pessoas adultas e idosas também tem a possibilidade de melhorar a atividade social. “O professor manda uma prova. Aquele aluno não vai ler a prova. Eu leio a prova e ele responde. Ou passamos aquela prova para o braile. Às vezes, ele manda uma prova e eu falo: ‘Esse conteúdo não vai acrescentar em nada’. Eu mando uma mensagem: ‘Professor, e se fizermos um texto sobre essa atividade?’. Como em química, nós fizemos as questões das fórmulas em alto relevo. Ela fez com colagem. Tudo é adaptado. Nós fazemos jogos adaptados. Vai uma pessoa que tem mais idade. Tem duas pessoas. Você vai jogar alguma coisa, vai descontrair, vai auxiliar aquela pessoa a melhorar a vida social dela”, conta Marilda.

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No caso de bebês de menos um ano, a adaptação é feita para que a criança consiga se desenvolver. “Se ele for cego total, nós vamos ter que ajudar ele a ter uma vida dita normal. Nós vamos trabalhar a mobilidade, o sentar, o engatinhar. Eu tenho uma aluna, que ela é minha aluna até hoje, ela foi com dois anos porque a mãe achava que ela nunca ia aprender nada. Levou na APAE, a APAE encaminhou para a sala de recursos e hoje ela vai terminar o Ensino Médio esse ano”, relata a professora.

O atendimento da sala de recursos também é disponibilizado para as pessoas que queiram fazer a Educação para Jovens e Adultos (EJA). “Uma pessoa que é adulta. Não terminou o Ensino Médio. Ela pode estar indo no CEEBJA. Ela faz o Ensino Regular lá. Se ela tiver 18 anos é no Ensino Médio, com 15 anos, é no Fundamental. Nós ajudamos essa pessoa a se adaptar no local, para ela terminar esses estudos. Pode até seguir uma profissão, que são tantas profissões que, mesmo não enxergando, a pessoa pode estar trabalhando”, conta.

A professora destaca que a deficiência visual não é o fim da vida de uma pessoa. Por meio da adaptação, Marilda conta que é possível incluir as pessoas com deficiência em atividades do dia a dia. “Eu tenho um aluno de Teixeira Soares. Ele terminou o Ensino Médio. Quando o médico falou para ele que ele estava perdendo a visão, ele disse que saiu do consultório e falou: ‘A minha vida acabou’. E não acabou porque ele terminou o Ensino Médio. Hoje ele vai continuar e vai seguir. É um incentivo para quem está em casa e pensa que acabou”, disse.

A adaptação também auxilia em casos em que há pouca visão e risco de cirurgia. Contudo, a professora alerta que essa ajuda acontece somente em crianças e que é preciso buscar o atendimento o mais rápido possível. “Ele usava aqueles óculos oculares. Eles até fizeram na época como uma rifa para fazer uma cirurgia, que eles o levavam para Curitiba. Eu trabalhava o estímulo visual com ele. Quando chegaram lá, a médica falou: ‘Em toda a minha carreira, eu ainda não tinha feito isso, mas vocês não vão fazer cirurgia porque ele não precisa. O estrabismo dele foi corrigido’. Só que também tem uma fase. Se eu descobrir que eu tenho estrabismo hoje, eu não vou conseguir corrigir. É até sete a oito anos, a visão está se desenvolvendo. O ideal é que se descubra quando é bebê e vá trabalhando essa questão”, conta.

O atendimento é realizado em grupos de dois a três alunos, mas há casos de atividades individuais. Cada atendimento segue um cronograma de acordo com a necessidade de adaptação. Há alunos com dois atendimentos por semana e outros com três. Cada atendimento dura em torno de 40 a 50 minutos.

A inscrição para participar do programa é feita nas secretarias das escolas. É preciso levar os documentos pessoais e o laudo médico. Após a inscrição, será feita uma avaliação. “Eu tenho uma avaliação que fazemos com a pessoa porque eu preciso saber o quanto que a pessoa enxerga. Saber o que a pessoa está desejando naquele momento. Ela só quer fazer orientação e mobilidade para andar com a bengala. Ela quer aprender o Braille. Fazemos uma entrevista com essa pessoa para estar auxiliando no que a pessoa precisa. Quando vem com o laudo médico, trabalhamos segundo o laudo médico, o que o médico está pedindo”, disse.

O atendimento no Colégio Estadual Cívico-Militar Duque de Caxias acontece das 13 até às 17h30. No CEEBJA, o atendimento é noturno, das 18h30 até às 23 h.

Além da sala de recursos para pessoas com baixa visão, Irati possui outras salas em escolas que auxiliam a adaptação de pessoas com alguma deficiência. Há salas de recurso na área intelectual, de surdez, de superdotação e altas habilidades. Todas as salas são custeadas pela SEED, que repassa verbas para as escolas que implementam os projetos.

A professora comenta que as salas de recurso são projetos antigos que sofreram modificações ao longo do tempo, se dividindo em áreas. “Antigamente eram Centro de Atendimento de da Área Visual. Ele se transformou na Sala de Recursos da Área Visual. É de muito tempo. A instrução que usamos é de 2010. Já saíram algumas resoluções, adaptando algumas coisas, mas a instrução é bem antiga. É de 2010”, conta Marilda.

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