Neste ano, pela 3ª vez a entidade vai abordar a fome durante a campanha/Paulo Henrique Sava

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou nesta quarta-feira, 22, a Campanha da Fraternidade 2023. Neste ano, pela 3ª vez, a campanha aborda o combate à fome e adotou como lema o trecho do Evangelho de São Mateus, capítulo 14, versículo 16, que diz: “Dai-lhe vós mesmos de comer”. Lançada em 1964, anteriormente a CF já abordou o tema da fome em 1975 e 1985.
Em entrevista à Najuá, o administrador da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro de Irati, Padre José Nilson Santos, destacou que o período da Quaresma, no qual é realizada a Campanha da Fraternidade todos os anos, deve levar os cristãos a refletirem sobre a própria vida.
“Neste tempo da Quaresma, nós vamos refletindo sobre este amor imenso de Deus por nós, que assume até as últimas consequências. Diante deste amor de Deus, também olhamos para a nossa vida e vemos este contraste, que é o pecado. Então, este tempo da Quaresma é também para refletirmos sobre este fechamento a nos deixarmos conduzir por este amor”, frisou.
Ao citar o pecado, o padre se refere ao egoísmo do ser humano, quando ele pensa que é autossuficiente e não precisa de Deus. “Neste tempo da Quaresma, há este movimento interior de oração, jejum e meditação profunda da Palavra para pensar na realidade do pecado, que é algo real na nossa vida assim como o amor de Deus. Dentro desta dimensão, a CNBB traz a Campanha da Fraternidade com um tema central, no qual há um pecado e existe uma situação em que a vida está sendo ameaçada pelo egoísmo humano. Existe um pecado pessoal, comunitário e social, e o que está em voga é a pessoa humana, que está privada de sua dignidade pela fome, como consequência do orgulho, do pecado e da falta de compromisso”, comentou.
A campanha visa sensibilizar a sociedade sobre o sofrimento de mais de 33 milhões de pessoas que passam fome no Brasil. Além disso, a Igreja procura aprofundar a reflexão sobre o problema e denunciar suas causas, além de apontar soluções possíveis.
“Além de sensibilizar, neste tempo de Quaresma, a Igreja procura aprofundar e também denunciar as causas de fome. Vamos nos aprofundar e refletir à luz da Palavra de Deus e denunciar o porquê da fome, apontando soluções e ajudando as pessoas a buscarem ações concretas, seja na Paróquia, na Diocese, junto às organizações, aos poderes públicos municipal, estadual e federal, pessoas de boa vontade, enfim, o que for preciso fazer para sanar e estancar (o problema). A pessoa também é uma voz profética para denunciar o pecado, o egoísmo e a ganância que estão levando à disparidade das mesas”, frisou.
Lema – Baseado no lema da CF 2023, o padre aponta que todo cristão deve fazer algo para ajudar o próximo e ter compaixão por ele. “Jesus teve compaixão e se colocou no lugar das pessoas, mas ele agiu também. Então, estejamos atentos a não somente olhar a realidade das nossas ruas, do nosso bairro, da nossa cidade, da sociedade, do país e da fome do mundo todo, mas também olhar para a nossa realidade pessoal: na minha casa, será que eu não estou esbanjando? Será que eu não estou jogando muita comida fora? Será que não está tendo excesso nas minhas alimentações? Olhemos ao nosso redor e percebamos quais as situações extremas que às vezes estão na nossa porta. Devemos ter sensibilidade e não ficar de fora de somar forças”, comentou.
Há casos em que uma cesta básica de alimentos pode fazer a diferença para uma família com pessoas doentes ou desempregadas. “Existem situações nas quais a ajuda é urgente e uma cesta básica faz uma grande diferença. A pessoa tem o alimento para poder se alimentar e passar por aquele momento e, depois, buscar com suas próprias forças, o seu trabalho, o seu emprego, para manter a sua família”, destacou.
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Pastoral Social – Dentro da Igreja Católica, existe a Pastoral Social, formada por pessoas de outras pastorais que se unem para fazer um trabalho em prol da sociedade, como a Pastoral da Criança e a Pastoral Familiar. Dentro dela, existe a Pastoral da Solidariedade, que atende 60 famílias cadastradas somente na Paróquia Perpétuo Socorro. Cada uma delas recebe uma cesta básica, montada com a ajuda de todos os paroquianos que levam 1kg de alimento não perecível nas missas do 1º domingo de cada mês ou diretamente na Secretaria Paroquial. Mesmo parecendo pouco, o padre acredita que todas as doações são importantes, uma vez que, depois da organização das cestas, elas são levadas para as famílias que realmente passam por necessidades. “Às vezes, 1 kg de alimento abre a porta do céu para nós”, destacou José Nilson.
Para o padre, a Quaresma é o momento de os cristãos perceberem o amor que nasce da entrega de Jesus na cruz por toda a humanidade. Ele diz que o amor tem duas direções: vertical e horizontal, numa referência ao crucifixo. “No tempo da Quaresma, nos sentimos tocados profundamente neste amor de Deus e renunciamos ao egoísmo, fonte do pecado e da morte. Vencemos com a graça de Deus e redirecionamos a nossa vida para o essencial, que é a vivência do amor concreto, que tem um lado vertical e outro horizontal, o irmão, sobretudo o mais necessitado”, frisou.
Liturgia – A Quaresma se inicia na Igreja Católica com a Quarta-feira de Cinzas e termina com o Tríduo Pascal, composto pela Sexta-Feira Santa (que neste ano será celebrada em 7 de abril), o Sábado de Aleluia e o Domingo de Páscoa. O Padre Álvaro Nortok, pároco da Paróquia São Miguel, explica que este é um tempo novo, no qual a Igreja propõe a penitência, a oração, o jejum e a caridade.
“A oração coloca nosso coração em um relacionamento cada dia mais profundo com Deus. O jejum e a abstinência são obrigatórios para todos os cristãos na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa. Nós jejuamos especialmente do alimento, mas também de tantas outras coisas. A abstinência da carne, do café, do chá, de coisas que sejam muito pesadas nestes dois dias como alimento para o nosso corpo. Que nós possamos fazer este jejum na nossa vida cristã. Depois, vem a caridade, o amor que nos impulsiona a ir ao encontro do irmão, ajudar quem precisa e levar especialmente a boa nova, o Evangelho e a Palavra do Senhor”, frisou.
A Campanha da Fraternidade é organizada anualmente pela Regional Sul 2 da CNBB, com sede no Paraná. Álvaro lembra que, além de combater fome, é preciso ajudar as pessoas a encontrarem um sentido para a vida, combater a injustiça e dar esperança e acolhida. “Queremos que esta fraternidade e solidariedade vão nos ajudando no processo de penitência e conversão”, frisou.
Materiais – Para a campanha, são elaborados materiais que podem ser utilizados em reuniões, novenas e encontros dos pequenos grupos familiares e comunitários durante a quaresma. Entre eles, está o Hino da CF 2023. Nestes encontros, é feita uma meditação sobre o mistério pascal de Jesus Cristo.
“Este mistério tão especial, profundo e próximo de nós, nos insere na dinâmica de objetivos e propósitos novos. Neste ano, é a fraternidade e a fome, ajudar. Se houver no nosso grupo a possibilidade de ajudar alguém ou uma família, que seja realizado com todo amor e carinho, com o desejo de sermos caridosos, de levarmos mais que o alimento, mas a palavra de Deus e a acolhida a tantas pessoas que precisam. Por isto, os encontros são permeados por esta espiritualidade quaresmal, à luz da Palavra de Deus e dos ensinamentos da Igreja”, comentou.
Ao final dos encontros, o subsídio apresenta a Via Sacra e uma celebração da Páscoa, para que o grupo que está se reunindo possa viver a espiritualidade quaresmal e pascal. “Vamos caminhar com a certeza de que Jesus nos amou até as últimas consequências. Que estes encontros fraternos nos ajudem a crescer na fé, a sermos e permanecermos fieis na caminhada de discípulos missionários de Jesus Cristo, comprometidos com os valores do Reino de Deus”, pontuou o padre.










