Festividades incluíram apresentações de corais, orquestra, premiação literária e encerramento com lançamento de livro e homenagens a ex-presidentes e mulheres que participaram dos bailes de debutantes no clube/Paulo Sava
O Clube do Comércio de Irati encerrou as comemorações do seu centenário na noite de sábado, 26, data em que a entidade completou seus 100 anos de atuação no município. As festividades incluíram apresentações de corais, orquestra, premiação literária, um evento da Braspol, lançamento de livro e homenagens a ex-presidentes e mulheres que fizeram seus bailes de debutantes no clube.
Fundado em 26 de agosto de 1923, o Clube do Comércio tem guardadas todas as suas atas desde a fundação até hoje. Algumas cópias delas foram plastificadas e estão em exposição no salão superior do Centro Cultural, assim como fotos da construção do prédio atual, inaugurado em 1943, durante a presidência do ex-prefeito Edgard Andrade Gomes. No local, também é possível encontrar registros de eventos, como casamentos, bailes, festas, jogos de boliche, entre outros.
Debutantes – Fotos das mulheres que fizeram seus bailes de debutantes no clube também estão expostas no local. O Grêmio “Flores da Primavera” era o responsável por organizar estes eventos. Edite Schimalesky, mãe da vice-prefeita de Irati, Ieda Waydzik, foi presidente do Grêmio e recebeu uma homenagem durante o evento. Em entrevista à Najuá, ela contou que sempre gostou de festa e que adorou quando foi chamada para ser sócia do clube e cuidar do grêmio.
“Para mim, foi uma maravilha porque sempre gostei de festa. Quando eu vim para Irati, casada nova, logo me convidaram para entrar como sócia do clube e também ser da diretoria. De lá para cá, nunca mais parei, todo ano ajudava nas festas, que tinham bailes e outros esportes. Para mim, foram os melhores anos da minha vida”, frisou.
Edite demonstrou orgulho ao falar dos bailes de debutantes que ajudou a organizar, especialmente o da própria filha. “É uma maravilha, as filhas tanto dos conhecidos, principalmente a milha filha, que debutou em um dos anos em que fui da diretoria, apresentou um baile com o locutor Jamur Júnior. Tenho que acolher ao povo de Irati, que me recebeu maravilhosamente. O povo de Irati é acolhedor e não tem melhor que o nosso, é uma das cidades que mais sabe acolher o povo”, frisou.
Ieda, que está no comando da Prefeitura até o dia 06 de setembro e foi uma das debutantes do Clube do Comércio, falou sobre a emoção de poder relembrar aqueles bailes. “Naquela época, tínhamos esses bailes que eram muito bonitos e glamorosos, meninas com vestidos lindos, as famílias todas participavam, era uma noite histórica para todo mundo, em que a moça começava a ter a vida noturna. A partir dali ela poderia ir aos bailes e a tudo aquilo que representava a vida noturna. Era uma emoção muito boa, muito agradável”, comentou.
Ana Maria Mansur também debutou no clube em 1969. Ela falou sobre a emoção de rever a foto dela juntamente com as demais debutantes daquele ano. “Rever as companheiras da época é uma emoção muito grande”, frisou.
Lucas Antoszczyszyn, mestre em História pela Unicentro, foi o responsável por pesquisar e organizar a exposição de fotos das debutantes do Clube do Comércio, resultado de uma pesquisa feita por Lucas junto à entidade. O pesquisador teve acesso a atas, documentos oficiais, fotos e depoimentos sobre as vivências e pode saber como o Grêmio Flores da Primavera se organizava. No total, Lucas conversou com cerca de 10 a 15 mulheres que fizeram parte do Grêmio e que debutaram no Clube.
“As pessoas que eu encontrei foram facilitadoras neste sentido. Eu encontrei a professora Alexandra…, minha orientadora da graduação, e estávamos neste anseio de contar sobre as mulheres. Tínhamos presidentes e sócios fundadores do Clube do Comércio homens, mas cadê as mulheres? Será que elas estão guardando segredo de nós? Não estavam, mas sim faziam parte de outras organizações que eram ligadas com o Clube do Comércio, como era o Grêmio Flores da Primavera, que organizava estes bailes de debutantes”, comentou.
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Encontros de casais – O Clube do Comércio também foi palco de encontros de casais. O casal Ana Maria e Elias Mansur se conheceu no Clube em um baile animado pelo cantor Nelson Ned, que visitou Irati em 1970. Elias, que é vice-presidente da Associação Comercial e Empresarial de Irati (ACIAI) e um dos conselheiros do Clube, contou como foi o momento da conquista.
“Em 1970, teve um baile com Nelson Ned, mas já nos olhávamos de longe. Morávamos um de frente com o outro, mas não nos conhecíamos. Eu vim conhecê-la no baile e três anos depois nos casamos”, comentou.
O casamento de Elias e Ana foi o 1º a ter sua festa realizada em um domingo em Irati, justamente no dia 15 de julho, aniversário da cidade, nas dependências do clube. Elias contou como foi aquele dia. “Dá uma emoção muito grande voltar ao Clube depois de 50 anos e rever as fotos do casamento, que foi aqui, em um domingo, 15 de julho, aniversário da cidade. Nos casamos às 20 horas na Igreja Nossa Senhora da Luz. Quem fez o nosso casamento foi o Padre Wilson (Belloni, que faleceu em 2018 aos 85 anos em Belo Horizonte). Levou uma hora e meia contando da história da minha vida, do tempo que fui professor no Colégio São Vicente. Não tem palavras, é muito bonito ver isto tudo”, frisou.
Homenagem a ex-presidentes – Durante o evento, foram homenageados alguns ex-presidentes do Clube. Entre eles, Ravilson Chemin, de 91 anos, que conheceu o clube em 1953 e o presidiu de 1980 a 1982. Ele conta que tem muita saudade da época em que sua filha debutou no clube, em 1973.
“Fizemos uma festa tão grande que, no final, o garçom me apresentou a conta de 87 litros de whisky, que era a bebida do momento. Aqui, eu e minha esposa passamos a maior parte da nossa vida em um ambiente muito bom e saudável. Eu fico admirado porque a estrutura física do clube é como se fosse nova, não demonstra os 100 anos que ele tem”, frisou.
Além de Ravilson. os ex-presidentes Augusto Van Der Laars e Armando Van Der Laars receberam medalhas de condecoração. Vergílio Trevisan, atual presidente do Centro Cultural Clube do Comércio, recebeu uma placa alusiva aos 100 anos do Clube do Comércio.
Estrutura do prédio – O engenheiro civil Dagoberto Waydzik elogiou a estrutura do prédio, inaugurado em 1943. “Isto é uma outra coisa valorosa, várias vezes fomos chamados para atestar a solidez disso. Lógico que ficamos preocupados porque é madeira, existe o cupim, que é uma praga que não enxergamos. Eu acredito que as construções de antigamente, de madeira de cerne, ainda podem durar muitos anos, tomando todos os devidos cuidados”, comentou.
Trovadores – A escritora Caterina Balsano Gaioski exaltou as reuniões do grupo de trovadores, também realizadas nas dependências do clube. “Foi ali que, graças ao convite da Professora Luiza (Nelma Fillus), eu entrei para o Grupo de Trovadores. Eu já fazia parte da ALACS, e tanto as reuniões da academia quanto do grupo são feitas aqui no clube. Foram coisas que marcaram profundamente a minha trajetória”, pontuou.
Bailes de Carnaval – Além de casamentos, festas de 15 anos, reuniões e outros projetos, o Clube do Comércio também fazia bailes de carnaval. O historiador José Maria Gracia Araújo fez parte de um dos blocos que frequentava estas festas, o “Nem que tussa”. Zeca contou como surgiu esse bloco.
“Esse bloco foi maravilhoso, era composto de 8 pessoas, moleques que frequentavam os bailes de carnaval. Perguntaram qual nome vamos dar, e eu disse: ‘vamos dar ‘Nem que tussa’’. Então, fundou-se o bloco com poucas pessoas, depois chegou a 40, 50, 60 participantes na época. Desfilávamos pela Munhoz da Rocha e passávamos por todos os clubes, mas terminávamos a noite no Clube do Comércio, que tinha o salão mais social de todo o Paraná”, comentou.
Fim dos bailes – O presidente do Centro Cultural Clube do Comércio, Vergílio Trevisan, lamenta o fato de alguns clubes terem acabado com o costume de realizar bailes, o que aconteceu em grande parte por questão de segurança nas ruas.
“Se você vai em um baile para voltar as 03h ou 04 horas da manhã, já fica com medo. Então, os bailes começaram a acabar e os próprios costumes. Eu e minha mulher adoramos dançar, e graças a Deus quando tem evento para dançar, vamos, mas foi-se perdendo este costume”, comentou.
Dificuldades e possibilidade de doação para o município – Em 2007, quando Irati completou 100 anos, o clube tinha apenas 52 sócios. Diante das dificuldades, a diretoria da época cogitou doar o prédio para a Prefeitura, o que não aconteceu. A partir disso, foi criado o Centro Cultural Clube do Comércio, que recebe diversos projetos culturais. Entre eles, 60 crianças carentes do município têm aulas de música às terças e quartas-feiras. O projeto é realizado em parceria entre as secretarias municipais de Educação e Cultura e Turismo e um empresário da cidade, que patrocina os lanches dos alunos e leva marmitas de comida para as crianças levarem até suas casas.
“Você precisa ver as crianças saírem de lá com a marmitinha, tem algumas bastantes carentes mesmo. Tivemos relatos de professoras e diretoras das escolas de que valeu a pena, pois as crianças melhoraram muito no desempenho social, foi impressionante de ver como a atividade de estudo de música interfere na formação dessas crianças. Só isso já paga o preço de fazer um trabalho voluntário”, comentou.
Homenagens – Durante o evento, também foi homenageado o 1º sócio e fundador do Clube, Godofredo Varela, sócio-fundador do clube, na oportunidade representado por seus netos José Cláudio e Gabriel, vindos de Curitiba para receber a homenagem do avô. Também foi homenageado Edgard Gomes, idealizador do prédio do Clube do Comércio, que foi representado por Nezinha Gomes Kominski.