Cientista político diz que polarização nas eleições precisa ser tratada com calma

Em entrevista à Najuá, Gilson Aguiar destacou o poder da influência das redes sociais no…

01 de outubro de 2022 às 16h37m

Em entrevista à Najuá, Gilson Aguiar destacou o poder da influência das redes sociais no pleito que acontece neste domingo, 02/Paulo Henrique Sava


Cientista político, jornalista e professor Gilson Aguiar avalia que a questão da polarização precisa ser tratada com calma. Foto: Reprodução Youtube

Neste domingo, 02, eleitores brasileiros vão às urnas para eleger presidente da República, governador, deputados e senador. Uma das principais características deste pleito é a polarização entre esquerda e direita.

Em entrevista à Najuá, o cientista político, professor e jornalista Gilson Aguiar, formado em História pela Universidade Estadual de Maringá e doutor em História e Sociedade pela Unicesumar, comentarista e âncora da rádio CBN Maringá, avaliou que a questão precisa ser tratada com calma, uma vez que este não é um problema exclusivamente brasileiro, mas está presente no mundo todo. Ele cita como exemplos o Japão, cujo primeiro-ministro Shinzo Abe foi assassinado recentemente enquanto fazia um discurso em praça pública, e o caso da invasão do Capitólio nos Estados Unidos por parte de apoiadores do ex-presidente Donald Trump após o resultado das eleições de 2020, que terminaram com a vitória de Joe Biden. Aguiar destacou também o poder da influência das redes sociais, especialmente no último caso.

“Os exemplos de democracias, de países desenvolvidos, onde se é justo e se há liberdade, há radicalismo, e tudo isto convocado nos EUA por líderes dentro das redes sociais. O próprio Donald Trump, durante a campanha política, usou muito as redes sociais. São dois países com padrão de desenvolvidos, mas se você for à França, ao México, ao Chile, à Bolívia ou à Argentina, você vai encontrar estes discursos”, frisou.

Mesmo sendo uma grande ferramenta de comunicação e oferecendo uma gama muito grande de informações, a internet possibilita a aproximação de pessoas através das redes sociais e que elas expressem aquilo que, antes, não era possível comentar.

“Às vezes a gente não falava primeiro porque não tinha ninguém para ouvir, segundo porque ninguém daria muita bola para o que fôssemos falar, e terceiro porque, se eu quisesse falar para muita gente, eu teria que ir a uma praça no centro de Irati, subir no púlpito, no palanque, gritar e falar muito”, comentou.

Na internet e na vida real, algumas pessoas gostam de “fantasiar” os fatos, espalhando notícias falsas, especialmente no período eleitoral. No entanto, antes de espalhar as chamadas “fake news”, as pessoas não têm o hábito de verificar se aquela informação que estão repassando via redes sociais ou grupos de mensagens é verdadeira e se pode causar prejuízo a terceiros ou não. “Quando você vê a notícia que tem e precisa conhecer melhor aquilo que está sendo falado, isto implica em um tempo que as pessoas já não têm mais de estudar o negócio, ver dados estatísticos objetivos, qual é a fonte que está falando isto e se existe fidelidade em quem fala, vamos ver se as coisas aconteceram desta forma mesmo.

Para o professor, é preciso fazer o “desencantamento” da sociedade, ou seja, dar a ela uma coisa mais objetiva, mais racional e com a dimensão das coisas como realmente são, segundo Aguiar. “Ao mesmo tempo, vai te dando um comprometimento para discutir a questão que vai te acusando de que você não entende muito do negócio que você está falando. Quando a pessoa vai estudando e percebe a complexidade do que está por trás de uma falsa notícia, ela reconhece que não conhece certas coisas”, pontuou.

O pesquisador acredita que as notícias falsas representam o empobrecimento da inteligência humana. “É a comadre e o compadre falando mal da vida dos outros na Internet. Eu fico imaginando algumas pessoas da minha vida que eram fofoqueiras de plantão quando eu era mais novo, e elas falavam muito. Se elas tivessem a internet, o que isso viraria? Quanta coisa iríamos disseminar para fazer mal aos outros. Tem gente que vive disso e alguns levam isto como verdade, acreditando que é melhor viver com a distorção do que ter razão em alguns casos”, comentou.

Em um de seus artigos, Gilson coloca que parte da população mundial sofre com uma “ignorância crônica” por não querer se aprofundar nos assuntos divulgados na internet.

“Eu não estou falando só desta que faltou na escola, que nunca levou a educação escolar a sério, abandonou os estudos no Ensino Fundamental ou Médio ou não se dedicava. A ciência, o conhecer as coisas, estudar e compreendê-las racionalmente, de forma científica, nunca foi, para um grande número de pessoas no Brasil, uma coisa para se levar a sério, tanto que a gente quer da escola o diploma, e tendo ele, achamos que sabemos o que efetivamente o diploma não expressa, tanto que temos pessoas graduadas e pós-graduadas muito mal-educadas, e outras que não têm tanta formação e são um poço de educação”, comentou.

O professor considera a ignorância uma doença, que, se não for tratada a tempo, pode virar um problema muito sério. “A ignorância é muito perigosa por isto: se ela for crônica, vai nos condenando, porque não conseguimos entender por trás desta “febre”. No Brasil, o que temos hoje são pessoas que ‘ignoram’, e é complicado quando você quer construir uma sociedade melhor onde a relação entre as pessoas é carregada de ignorância, no sentido de ignorar aquilo que é mais profundo”, comentou.

O pesquisador comparou o eleitor a um pedinte, que, segundo suas palavras, “vive de migalhas” e vota em seus representantes públicos apenas em troca de ajuda, reproduzindo este problema e criando o político profissional e um cidadão “meia-boca”. Para solucionar este problema, o eleitor precisa acompanhar o histórico político e as ações dos representantes eleitos. Desta forma, ele poderá se tornar um cidadão politicamente coerente, na opinião de Gilson.

“Você tem que acompanhar o homem público, olhar quem é este cara, ver o que ele faz e ver se ele vende “analgésico, anti-inflamatório” para curar só a febre ou se ele é especialista, entende da situação e está disposto a resolver o problema”, frisou, fazendo uma analogia entre a política e a área da saúde.

Em fevereiro, o Instituto Data Senado publicou uma pesquisa indicando que 29% da população brasileira acompanha frequentemente as notícias relacionadas à política e têm um histórico de busca e dedicação sobre este assunto. Outros 55% acompanham de forma esporádica, ou seja, ouviram falar e até desconhecem a maioria dos nomes dos homens públicos. Muitas pessoas, por conta disso, acabam desacreditando da política, segundo Gilson.

“Elas só esquecem que a vida delas e o seu dia a dia, todas as coisas que elas fazem integram as políticas nacionais de emprego, educação, moradia, econômica e tributária que influenciam suas vidas. Você tem que saber qual é a participação do Estado na sua vida, e vai descobrir que ela é grande para caramba”, frisou.

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