Em Irati, volume de chuvas passou de 115 mm. Em Rio Azul, chegou a 220 mm de água/Paulo Sava
As chuvas que afetam Irati e região desde a noite de ontem, 11, causaram alagamentos em vários pontos do município. Em Irati, foram mais de 115 mm de chuvas; já em Rio Azul, este volume chegou a 220mm.
Na região do bairro Canisianas, o Rio das Antas e seus afluentes acabaram transbordando e a água atingiu algumas casas nas proximidades da Rua Antônio Budel e do acesso à Vila Nova. Foi o caso da residência de Lourdes Aparecida Correia, que teve o terreno invadido pela enxurrada. ”Eu estou construindo aqui do lado e aluguei esta casa, mas agora olha aí, a água está subindo de repente. Meu marido está viajando e eu tive que pedir para o vizinho tirar o carro do pátio. Graças a Deus não teve prejuízo, mas eu espero que baixe a água porque está tudo alagado”, frisou.
Para Lourdes, a dragagem do rio ajudou para que a situação não se tornasse ainda mais grave. Ela acredita que outras obras devem ser feitas para resolver o problema dos alagamentos na região.
“Ajudou, mas tinha que ter feito mais. Não adianta só alargar o rio, mas afundar ele. As valetas é que voltam água para nós, que estão uma nojeira, não foram manilhadas e aqui volta bastante água também por causa dos bueiros entupidos”, comentou.
Em entrevista durante o programa Meio Dia em Notícias nesta quinta-feira, o prefeito Jorge Derbli afirmou que não é possível afundar ainda mais o Rio das Antas. Ele contou quais são os motivos.
“Porque ele (Rio das Antas) já está na pedra, na rocha. Inclusive, vocês podem perceber que, quando estamos fazendo a dragagem, a escavadeira hidráulica trabalha no leito do rio porque está na rocha, então não tem como afundar mais, seria o caso de alargar ele. Estamos com um procedimento junto ao IAT de algumas licenças para continuarmos a dragagem depois da BR 277. Queremos fazer uma dragagem, um alargamento e limpeza do rio para que ele tenha mais vazão e correnteza, fluindo melhor e muito mais rápido. Já fizemos a dragagem e endireitamos o rio, tirando várias curvas que a água fazia, tipo um “S”, onde vinha cada vez mais represando. Tentamos deixar o rio em uma reta para que a água tivesse mais velocidade e é a única maneira de resolver, uma das questões seria essa”, comentou.
O empresário Arildo foi ajudar a sogra, que mora no bairro Canisianas. Ele relatou o cenário encontrado na residência à nossa reportagem. “Já está entrando água nos fundos da casa e fechando aqui no bar do Barbosa, na esquina com a Antônio Budel, e já está com risco de alagamento. Os bombeiros já estão se mobilizando e tirando o pessoal, e agora a tendência é de subir mais o rio. Já tiramos a sogra e agora estamos erguendo as coisas, porque a previsão é para mais chuva e o risco é de alagar mais”, comentou.
O comerciante Barbosa tem seu estabelecimento nas proximidades do Rio das Antas. Ele estava atento e conseguiu salvar seus equipamentos e disse que não teve prejuízos. “A água só entrou um pouquinho, mas está baixando, eu levantei as coisas, freezer e tudo o mais, está controlado. Quem conhece sabe que é assim mesmo e não tem jeito. A solução seria dragar bem o rio lá para baixo do viaduto”, comentou.
Marcos, morador da Vila Nova, esteve nas Canisianas para prestar auxílio a alguns amigos que tiveram prejuízos com as chuvas. Para ele, é preciso que seja feita uma dragagem completa no Rio das Antas e limpeza nos bueiros das ruas próximas aos locais com mais tendência de alagamentos. “Só o que está precisando mesmo é uma dragagem bem-feita no rio e a limpeza nos bueiros. Não é por causa de mim, mas sim pelos outros vizinhos que sofrem”, pontuou.
No bairro Nhapindazal, algumas casas foram atingidas pelo estrangulamento da água do arroio que deságua no Rio das Antas. Moradores tentaram salvar móveis e eletrodomésticos na manhã de hoje. Em alguns pontos do centro de Irati também foram registrados alguns alagamentos. A água do Arroio dos Pereiras invadiu a Rua Alfredo Bufrem. Houve registro de enxurrada também nas proximidades da Moageira. Já na Rua XV de Novembro, a água não chegou a invadir a rua, mas ficou na altura da ponte nas proximidades do Morro da Santa.
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No interior, também foram registrados pontos de alagamento. Desde a madrugada de quinta-feira, 12, a Secretaria Municipal de Viação e Serviços Rurais monitorou as estradas rurais e encontrou pontos de alagamentos nas proximidades da empresa Alessi, na estrada que liga Irati a Gonçalves Júnior, também no trecho que liga Gonçalves Júnior a Linha Pinho e nas localidades de Linha Ordenança, Rio do Couro, Palmital, Cachoeira do Palmital, saída para Vista Alegre e Água Mineral, que estão com pontes cobertas. A orientação é de que as pessoas evitem trafegar por estes locais, mesmo em estradas asfaltadas, segundo Derbli.
“Você está com seu carro lá e, às vezes, por causa de 10 ou 15 minutos, vai passar. Quem garante que a ponte ou o bueiro está lá, que a água não carregou? Se tem 20 ou30 cm de água, se você não enxerga a ponte ou o bueiro, espere 15 minutos para não perder a vida em 15 segundos”, comentou.
Para evitar alagamentos no interior, Rozenilda Romaniw Bárbara, coordenadora da Defesa Civil em Irati, sugeriu que sejam feitas limpezas nos rios, como a retirada de árvores que caem no leito, por exemplo.
“Tem muitas situações em que a água vai desbarrancando e a árvore normalmente deita e, numa próxima chuva, cai. O rio vira um lugar onde aquelas árvores vão segurando outras sujeiras que vão caindo e podem represar a área. Seria praticamente uma limpeza e não uma dragagem”, frisou.
Rozenilda destacou que esta foi a segunda intempérie de grandes proporções registrada somente nesta semana. A primeira aconteceu no domingo. Ela solicita que moradores de áreas com risco de alagamento monitorem a situação dos rios constantemente.
“Importante é, neste momento, as pessoas estarem monitorando porque elas conhecem a dinâmica do rio, retirarem seus veículos e erguerem seus pertences, para que não sejamos surpreendidos como aconteceu em 2014, que, quando a água chega, não dá mais tempo para fazermos grandes intervenções”, pontuou.
A coordenadora da Defesa Civil atribuiu o alagamento desta quinta-feira a duas situações: o solo encharcado e a grande quantidade de chuvas, que ultrapassou a marca de 115 mm. “Nós temos a referência de um único pluviômetro, que fica aqui na Serra dos Nogueiras, a 3km do centro da cidade. A partir da meia-noite, em 10 horas, tivemos uma ocorrência de 115 mm de água. Isto significa caírem 115 litros em um metro quadrado. Isto é muita água para um determinado tempo, que é curto. Em função de ter um solo encharcado, a água não tem mais por onde escoar”, comentou.
Medidas – Uma das medidas que poderia ajudar a minimizar o problema, segundo Rozenilda, é a realocação das famílias que residem na beira dos rios para outros locais para que elas não tenham prejuízos com as enchentes. Desta forma, as áreas onde hoje existem residências passariam a fazer parte dos rios.
Outra medida importante seria a utilização de áreas para contenção da água da chuva. “Aquelas áreas servem para que as águas das chuvas se acumulem ali e cheguem mais tardiamente no rio. Quem constrói casas acima de 100 metros quadrados tem que fazer o seu sistema de contenção das águas das chuvas para justamente ela também retardar”, pontuou.
Espaços com grama, terra ou pedra também podem ser adotados nos terrenos particulares para minimizar os efeitos das enxurradas. Haverá fiscalização da Prefeitura em relação a isto. “Esta lei agora tem que ser cumprida à risca, para que fiscalizemos e que realmente as pessoas deixem, no seu terreno, um pedaço sem construir para que absorva esta água, que não vai para o bueiro, nem para o rio e, consequentemente, para o Rio das Antas”, comentou.
Há também um pedido da Prefeitura para que o Instituto Água e Terra (IAT) autorize a realização da dragagem em afluentes do Rio das Antas. Porém, o órgão ainda não liberou que o serviço fosse feito por conta da preservação da mata. “Tem que manter esta preservação, no que eles estão corretos. Eu falei para eles que queria que eles morassem na beira do rio. Se a água tivesse um metro dentro da casa de vocês, teriam uma visão diferente”, ponderou.
Lixo no rio – Durante a entrevista, o secretário de Obras e Serviços Urbanos, Wilson Pedroso (Buzina), enviou para o prefeito fotos de lixo acumulado próximo à ponte sobre o Rio das Antas que dá acesso ao bairro Floresta. Derbli repreendeu a população e pediu mais consciência em relação à questão ambiental.
“É lixo que as pessoas jogam nos rios, sem consciência, e depois reclamam, a grande maioria, que tem que desentupir os bueiros. Eles têm razão porque isto é função da prefeitura, mas os bueiros estão entupidos pelo lixo que jogam. É sacola plástica, galão de óleo de 5 litros, garrafa pet de refrigerante, enfim tanta coisa que jogam nos rios, nos bueiros, vai para o rio e depois começa a obstruir tudo, porque vai trancando e é nisto que dá. Eu tenho certeza que tem muito bueiro entupido em Irati por causa do lixo. Eu não sei quando vão se conscientizar de realmente não jogar o lixo nas ruas e valetas. Esta foto é o testemunho real do que está acontecendo em Irati”, frisou.
Fernandes Pinheiro – Em Fernandes Pinheiro, também ocorreram problemas relacionados às chuvas. A prefeita Cleonice Schuck relata a situação do município. “Houve chuva torrencial durante a madrugada e pela manhã. Houve vários pontos de alagamento, onde, por conta de destocas e também do preparo do solo para o plantio, alguns bueiros acabaram entupindo com a erosão dos terrenos. Temos alguns pontos de alagamento no interior e alguns locais onde o rio saiu para as estradas. Na sede, o tanque do Parque da Prainha já está saindo para cima do asfalto. Estas chuvas torrenciais danificam ainda mais as estradas, alguns pontos já estão sendo recuperados. Depois de ficarmos 10 meses sem cascalho, com estas chuvas o dano vem sendo ainda maior”, comentou.
Rio Azul – Em Rio Azul, o volume de chuvas chegou a 220 mm, o que causou alagamentos que afetaram diversas famílias em alguns pontos da cidade e do interior. “Foi muito maior que o do último domingo, em que aconteceram enchentes e alagamentos. Agora, um número muito maior de famílias foram afetadas. Agradecemos a população que já está contribuindo com colchões, cobertores e móveis. Muitas famílias acabaram perdendo tudo por conta da enchente”, frisou o prefeito Leandro Jasinski.
As regiões mais baixas de Rio Azul, especialmente as Vilas Miroto, Abib, Veronez e as proximidades do trevo do meio, foram as mais atingidas pelas chuvas. Jasinski pede que a população tenha calma, atenção e se mantenha alerta a respeito das condições climáticas. “Pedimos a compreensão e muita atenção de toda a população neste momento, até porque tem mais previsão de chuvas para as próximas horas. Então vamos ficar atentos aguardando o que vai acontecer nos próximos momentos”, comentou.
Previsão do tempo – Nesta sexta-feira, segundo o Sistema de Monitoramento Ambiental do Paraná (SIMEPAR), as chuvas devem ficar concentradas entre os Campos Gerais, Leste e Norte do Paraná. Nas demais regiões, o sol volta a predominar. As temperaturas devem apresentar um declínio expressivo nas áreas próximas à divisa com Santa Catarina. Em Irati, há previsão de tempo nublado, com temperatura mínima de 13 e a máxima não ultrapassando os 16 graus.