Centro de Atenção Psicossocial realiza atendimento via Consórcio de Saúde

Saiba como funciona o atendimento do CAPS II que atende pacientes psiquiátricos dos nove municípios…

14 de fevereiro de 2024 às 22h48m

Saiba como funciona o atendimento do CAPS II que atende pacientes psiquiátricos dos nove municípios da região/Texto de Karin Franco, com entrevista realizada por Rodrigo Zub e Edinei Cruz

CAPS II fica na rua Barão do Rio Branco, em Irati. Foto: Paulo Sava

Um dos braços da rede de cuidados de saúde mental na região é o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II) que cuida de casos psiquiátricos mais intensos. “São pacientes em sofrimento psíquico intenso, devido aos transtornos mentais graves e persistentes. Esquizofrenia, ansiedade, depressão grave, a depressão maior, que falamos, entre outros transtornos que também causam esse tipo de sintoma como ideação suicida, pensamentos negativos, alucinações visuais e auditivas, que é quando a pessoa vê e escuta coisas que na verdade são irreais. É mais com esse público que temos trabalhado”, conta a coordenadora do CAPSII do CIS Amcespar, Luiza Maria Gaspar.

Os pacientes tratados no CAPS II são encaminhados pelos nove municípios da região que fazem parte do Consórcio Intermunicipal de Saúde (CIS/Amcespar). O encaminhamento acontece após o atendimento inicial desses pacientes no posto de saúde de cada município. “A porta de entrada é a unidade básica de saúde do território de onde o paciente pertence. Qualquer situação de saúde, a porta de entrada do SUS é a unidade básica de saúde. Para que sempre se vá no ponto certo de atenção à saúde, precisa ir na unidade básica de saúde. A não ser que você tenha uma emergência e precisa acionar o SAMU ou um pronto atendimento, mas quando é um atendimento eletivo, que é o caso de atendimento do consórcio, procura sempre a unidade básica de saúde”, explica a diretora técnica e administrativa do CIS/Amcespar, Angela Maria da Cruz Cardoso.

Após a primeira consulta, o médico analisa o caso e encaminha para o CAPS, caso seja necessário. “Todo o paciente que procura a unidade básica de saúde passa pela triagem e passa por atendimento do médico na unidade básica de saúde. Para todos os atendimentos e para quando o atendimento precisa ser encaminhado, existem instrumentos de avaliação. Para o CAPS tem a estratificação de risco. Para qualquer situação da saúde mental, o paciente vai passar por uma estratificação de risco, que são perguntas e são avaliações que o médico, o enfermeiro da unidade ou o psicólogo tem essa capacidade técnica de fazer essa estratificação. Dentro dessa estratificação, vai ser identificado o grau de atendimento que esse paciente precisa. Pode ser baixo, médio ou alto risco. Tem os serviços. Nós já temos um cronograma de atendimento para saúde mental, para onde cada unidade básica de saúde pode encaminhar o paciente. Quando o paciente, nessa estratificação, ele é identificado como um paciente para atendimento no CAPS, é feito o encaminhamento dele para esse atendimento”, relata Angela.

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No CAPS II, os pacientes realizam tratamentos terapêuticos e são acompanhados por uma equipe multidisciplinar. “O nosso carro-chefe são as oficinas terapêuticas. São as atividades em grupo. Nós realizamos atividades em grupo, tanto da especialidade da psicologia, da enfermagem e da assistência social, que são as disciplinaridades que temos ali. Além dos grupos, nós acolhemos as pessoas, fazemos a escuta qualificada para poder conhecer o paciente, conhecer a história, o que ele traz para nós, para que possamos conseguir identificar se ali é o ponto de atenção ideal para ele. Fazemos também discussões de casos, para conseguirmos definir o melhor plano de cuidado para o paciente. Além das oficinas terapêuticas e esse acolhimento, nós também contamos com consultas médicas com psiquiatra. Essas consultas são para os pacientes que já estão inseridos no CAPS”, explica Luiza.

Em entrevista no Meio Dia em Notícias, a diretora técnica e administrativa do Consórcio Intermunicipal de Saúde (CIS/Amcespar), Angela Maria da Cruz Cardoso (à direita) e a coordenadora do CAPSII do CIS Amcespar, Luiza Maria Gaspar (à esquerda), falaram sobre os atendimentos de saúde mental realizados no Centro de Atenção Psicossocial realizados via consórcio. Foto: João Geraldo Mitz (Magoo)

O CAPS II também realiza atividades externas, como a organização de festas e passeios, para que o paciente seja incluído na sociedade. As atividades externas acontecem em conjunto com as atividades internas. “Nós temos atividades internas que seriam as atividades em grupos. Lembrando que essas oficinas terapêuticas têm como alguns objetivos a reinserção social dessas pessoas, a reabilitação psicossocial e estímulo da autonomia. Esses são alguns dos objetivos que conseguimos atingir através das oficinas terapêuticas. Também acabamos realizando atividades externas como, por exemplo, o matriciamento das equipes da atenção básica porque nós, como ponto de atenção especializada, uma das nossas funções é realizar esses matriciamentos, para conseguirmos alinhar a conduta e o cuidado com esses pacientes. Nós fazemos algumas atividades externas com os pacientes, por exemplo, agora no mês que vem, nós temos as nossas atividades de carnaval. Nós promovemos essa festa para eles, justamente com esse intuito de lazer, entretenimento e reinserção”, afirma a coordenadora.

O CAPS II atende diariamente 17 pacientes da região. A maior parte dos pacientes é de apenas um município, mas a equipe também atende outras cidades que fazem parte do convênio. “Como nosso CAPS atende o modelo regional, nós acabamos atendendo os nove municípios da região. Irati, Imbituva, Inácio Martins, Rebouças, Rio Azul, Mallet, Guamiranga, Teixeira Soares e Fernandes Pinheiro são os municípios que temos pacientes. Nós fazemos todo um cronograma mensal para poder atender de forma igual todos, para que nenhum tenha um atendimento a menos ou a mais. Nós conseguimos administrar desta forma”, disse a coordenadora.

As atividades são realizadas semanalmente, mas se o paciente tiver sinais positivos, o atendimento pode ocorrer quinzenalmente. “É o nosso sonho sempre que eles possam trilhar um caminho de alta. O CAPS veio em substituição aos manicômios. O paciente não pode ser institucionalizado de uma forma aberta. Ficar por dois, três, quatro, cinco anos no serviço. Até porque não seria efetivo, se fosse dessa forma, mas por se tratar de uma área bem delicada, que é a área de saúde mental, o processo de alta na saúde mental, em todos os pontos de atenção, é muito difícil. Acaba criando um vínculo muito forte com os profissionais. Nós já tivemos situações do paciente estar no processo de alta e acabar regredindo, só por saber que ia sair do serviço”, conta Angela.

Uma média de 17 pessoas recebem atendimento no CAPS II diariamente. Foto: Paulo Sava

Por ser parte da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), o CAPS II recebe recursos do Governo Federal para manutenção das atividades. “Como os consórcios não tem um fundo de saúde – só o Estado, a Federação e o município – os repasses são feitos para um dos fundos municipais. Como Irati é a sede e o município maior que compõe o consórcio, esse recurso do CAPS, vem diretamente para o Fundo Municipal de Saúde de Irati e o consórcio faz um convênio com a prefeitura, colocando num plano de trabalho. Nós estamos sempre muito dedicados a cumprir com o plano de trabalho, exatamente com as metas e para o que foi definido cada centavo desse recurso. Irati repassa, através desse convênio, esse recurso para o CAPS”, conta a diretora do CIS/Amcespar.

No último ano houve um aumento do recurso disponibilizado. “Desde 2011, nós recebíamos R$ 33.086,25 do Governo Federal para manutenção de todo o CAPS. Pagamento de pessoal, internet, todos os materiais, monitoramento, água, luz, telefone. Todas essas despesas do CAPS eram mantidas com esse recurso. Há três anos, ele estava sendo insuficiente e os municípios estavam complementando com uma média de R$ 7.500. Em 2023, nós passamos a receber R$ 42.056. Já é suficiente para custear o que temos de serviços. Claro que desejaríamos ampliar a equipe, mas temos que trabalhar com aquilo que temos. A equipe hoje dá conta de todos esses atendimentos, mas também ficamos muito felizes porque teve esse aumento e nós conseguimos entregar mais qualidade. Principalmente, porque dentro do programa CAPS, é obrigatório o fornecimento de alimentação para os pacientes”, explica Angela.

Os pacientes que realizam os tratamentos no CAPS II chegam ao local com o transporte do município ou com o do consórcio. Em sua chegada, recebem um café da manhã e após as oficinas é oferecido almoço. Antes de voltar para casa, os pacientes fazem um segundo lanche.

Além dos tratamentos terapêuticos, os tratamentos no CAPS II também incluem medicações para os pacientes, que são prescritas pelos médicos que realizam as avaliações de cada caso. A diretora do CIS/Amcespar explica que esta etapa precisa ser feita com um acompanhamento familiar ou próximo. “Nós sempre pedimos para que a família acompanhe esse tratamento, na parte dos medicamentos, porque o paciente pode estar apresentando um quadro mais crítico e ele acaba nem tomando a medicação de forma correta. Dentro do tratamento de saúde mental, fazer o uso da medicação de forma correta e periódica é o que resulta o bom resultado no tratamento. Nós sempre pedimos para que um familiar acompanhe se esse paciente está fazendo o uso correto dessa medicação. Se está fazendo a utilização, principalmente, dentro da dosagem. Se não está tomando a menos ou a mais, o que seria um problema maior”, explica.

A coordenadora destaca que apesar da medicação, o CAPS II também trabalha com a possibilidade de o paciente tentar se recuperar com outros processos. “Uma coisa que sempre lembramos junto nas oficinas terapêuticas são os tratamentos não medicamentosos. Se enquadra também exercícios físicos que sempre estamos propondo, estimulando o exercício físico, a psicoterapia com o psicólogo, uma sessão de terapia para alguns casos é indicada. Não são todos. Também diversos outros tipos de tratamento. Tem alguns tratamentos alternativos que eles podem estar fazendo no município. Inclusive tem alguns municípios que já contam com algumas atividades como acupuntura e coisas alternativas para também estar trazendo esse paciente de volta”, destaca.

O CAPS II é formado por uma equipe técnica com duas enfermeiras, duas psicólogas, duas técnicas em enfermagem, uma assistente social e um médico, e uma equipe de apoio, com dois motoristas e uma auxiliar de serviços gerais.

Luiza conta que o trabalho é multidisciplinar, atendendo o paciente de forma integral. “Enquanto a enfermeira está olhando uma questão do paciente, o psicólogo está olhando outra, a assistente social, outra. O médico está olhando outra questão também e assim por diante. Assim, nós conseguimos atender de forma integral o paciente, de todos os lados, e contamos com o apoio da unidade básica do município. Nós sempre falamos que o usuário é compartilhado. Ele não é paciente só do CAPS. Ele é do CAPS, da unidade básica e de onde mais ele seja atendido”, conta.

As atividades são feitas preferencialmente em grupos, mas há atendimentos particulares quando o caso necessita. Os pacientes atendidos pelo CAPS II são pessoas maiores de 18 anos e que são encaminhadas pelo município, a partir de uma avaliação feita pelo médico da unidade básica de saúde.

Angela explica que o atendimento é feito apenas por encaminhamento, pois cada município possui uma estrutura para a saúde mental. “Até porque tem uma especificidade de cada município. Como são nove municípios que compõem o CIS/Amcespar, cada município tem pontos de atenção diferentes. Todos têm a unidade básica de saúde, mas alguns municípios contam com mais ponto de atenção dentro da Saúde Mental. Tem municípios que hoje tem o eMAESM [Equipe Multiprofissional de Atenção Especializada em Saúde Mental]. Tem municípios que tem um ambulatório de Saúde Mental. Alguns tem apenas a unidade básica de saúde, mas todos eles, por fazer parte do consórcio, ainda podem compartilhar o cuidado, através dessa estratificação de risco. Depois que avaliar o risco do paciente, podem compartilhar com o consórcio. Todo o agendamento é feito pelo seu município, onde você reside”, explica.

Na região, ainda faltam estruturas para o atendimento especializado de casos para dependentes químicos e para crianças e adolescentes. “Os usuários de álcool e droga devem ser direcionados ao CAPS, no modelo AD, e que não tem na nossa região hoje. O nosso CAPS II não tem esse perfil. O CAPS AD é para atendimento de álcool e drogas e o CAPSi é para atendimento de crianças. Hoje a nossa região não tem nem CAPS AD e nem CAPSi. Hoje é no ambulatório PASA [Ponto de Atenção Secundário Ambulatorial], que absorve todos esses atendimentos de menores de 18 anos e também de usuários de álcool e drogas”, explica a diretora.

Contudo, a rede tem trabalhado para tentar absorver e melhorar o atendimento, especialmente, de crianças. Um dos motivos são o aumento de diagnósticos de TDH e autismo, além de situações que foram decorrentes do isolamento durante a pandemia.

Angela explica que o trabalho ainda está em um estágio inicial, sem uma previsão de realização. Os nove municípios estão unidos e criando já um novo serviço. Mas ele está muito delicado. É uma situação que precisa ter muito cuidado, mas logo teremos novidades também para o atendimento de autismo. Como é algo novo ainda, precisamos ter uma estratificação, de um instrumento que possa estratificar, assim como todas as linhas de cuidado. Também já tem do Governo Estadual esse cuidado e essa atenção, da Secretaria de Estado da Saúde. Já estão criando esses instrumentos para que possamos, depois dentro dos municípios, partindo desse instrumento, criar os instrumentos que serão utilizados nos municípios para atendimento das crianças”, afirma.

Como ainda não foi criado essa estrutura de atendimento, a orientação é que os pais procurem o posto de saúde mais próximo nos primeiros sinais de dificuldade que a criança mostrar. A ação auxilia que a criança entre no Sistema Único de Saúde (SUS) e acesse os cuidados necessários. A diretora destaca que a orientação também é válida para as escolas. “Nós pedimos aos pais que sempre fiquem de olho, observem. Nós sabemos que tem muitos encaminhamentos das escolas. Sabemos que tem uma demanda muito grande que vem da educação, mas se seguirmos exatamente, da forma correta, o que cada serviço tem, vai dar certo para todo mundo. Se a escola, que é a que teve o primeiro contato com a criança, identificou, a escola encaminha para a unidade básica de saúde. Orienta os pais a procurarem a sua unidade básica de saúde, que dessa forma, a unidade básica de saúde vai encaminhar, se for uma questão de saúde”, explica.

Os primeiros sinais que uma pessoa com problemas mentais mostra podem ser sutis, mas algumas ações podem apontar que algo anormal está acontecendo “Alguns dos sinais e sintomas mais comuns são isolamento, a tristeza persistente, acompanhado ou não de choro. Às vezes, uma apatia, que é quando a pessoa está ali, mas não esboça algum tipo de sentimento. São sinais e sintomas que eu estou citando que são muito gerais. Eles podem servir para vários tipos de transtornos. Mas a pessoa consegue esboçar algum tipo de sofrimento. Aquela pessoa que trabalha e nunca falta, daqui a pouco está faltando. É sinal que alguma coisa está estranha. Varia de pessoa para pessoa essa questão da comunicação, mas ela vai falar de alguma forma ou de outra, seja faltando no trabalho, seja sendo mais agressivo nas palavras. Tem diversos sintomas que essa pessoa pode apresentar”, conta a coordenadora.

A diretora do CIS/Amcespar destaca que o diagnóstico leva tempo e que o atendimento segue etapas, já que a área da saúde mental é delicada. “Às vezes, o familiar gostaria que o paciente já fosse internado, já fosse encaminhado imediatamente, mas a saúde mental é uma das áreas mais delicadas e não é em apenas um atendimento que o profissional que está atendendo vai identificar o risco desse paciente. Às vezes, ele vai se apresentar para o profissional de uma forma. Num segundo momento, ele pode estar melhor ou talvez não. São vários atendimentos para poder certificar o risco, para poder identificar qual o serviço correto para encaminhar esse paciente. Até porque os sintomas são gerais, desde uma depressão, uma melancolia, uma tristeza, uma crise de ansiedade momentânea. O profissional qualificado que vai poder fazer essa identificação, após os atendimentos”, disse.

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