Cantor Vitor Martim conta como surgiu ideia de retratar história dos artistas iratienses em livro

Livro “O Interior de Todo Artista”, escrito por Mario Lopes, retrata a trajetória de artistas…

15 de janeiro de 2022 às 13h56m

Livro “O Interior de Todo Artista”, escrito por Mario Lopes, retrata a trajetória de artistas iratienses e o desafio de fazer arte no interior do Paraná/Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava e Rodrigo Zub

Vitor Martim teve sua história retratada no livro “O Interior de Todo Artista”. Cantor faz parte da banda Rádio Radar desde o início há 15 anos. Foto: Juarez Oliveira

O cantor Vitor Martim, da banda Rádio Radar, foi um dos idealizadores do livro “O Interior de Todo Artista”, escrito por Mario Lopes e que retratou a história de artistas iratienses.
O livro “O Interior de Todo Artista” conta a trajetória do próprio Vitor e de Silton Dietrich, Maygon Molinari, Izabela Proceke, Lucio Robaszkievicz, Claudete Basen, Nelci Wolski, Leonardo Barroso e o professor José Maria Gracia Araújo (Zeca Araújo).

Vitor conta que a ideia de produzir o livro surgiu quando participou de um documentário sobre a Rádio Radar. “Ele surgiu logo após o programa Super Star, nós participamos de um documentário produzido pelo produtor cultural Luiz Roberto Meira, de Curitiba, onde nós (eu e a banda Radar) fomos integrantes desse documentário onde teve alguns artistas da cidade. Se não me engano, foram três ou quatro”, conta.

A quantidade de artistas surpreendeu a equipe. “E eu acho que nem o Luiz Roberto, nem ninguém envolvido no documentário imaginava que tinha tantos artistas em Irati. Num primeiro momento, foi estender esse documentário para os demais artistas e tentar mostrar um pouco mais a fundo a realidade da nossa região. Vimos que os conteúdos individuais eram muito ricos para serem tão superficiais numa passagem de alguns minutos. Então, como poderíamos resolver isso? Seria fazer um livro”, explicou.

A ideia inicial era realizar um catálogo de artistas de Irati, incluindo pessoas com profissões comuns, mas que possuíam alguma outra atividade artística, além da profissão principal. No entanto, a profundidade de cada história fez com que o livro abordasse apenas nove artistas. “Foi uma missão impossível porque quando se conversa com uma pessoa, não do dia para a noite que as coisas acontecem. E não tem como você começar e não mostrar o meio, o miolo. Então, uma ideia que seria para cerca de 100 artistas, se transformou em nove. É algo que tem muita água para rolar”, disse.

A discussão para a elaboração do livro foi realizada por aproximadamente um ano, até chegar em um formato próximo ao atual. Vitor conta que Mário Lopes foi convidado para escrever o livro, após uma recomendação de Luiz Roberto, que fez o documentário.

Para escrever o livro, Mário veio para Irati, onde passou algumas semanas entrevistando os artistas que participaram do livro. “Foi um trabalho bem minucioso mesmo e foi um grande presente que Irati teve. Ter uma pessoa tão dedicada escrevendo sobre artistas daqui porque é diferente. A ótica dele sobre Irati já é de fora. Então, um escritor daqui de Irati talvez não se preocupasse com coisas que para ele, como escritor, já fosse normal. Como o Mário era de fora, ele deu valor para muita coisa que para nós passa batido aqui. Isso enriqueceu muito o livro”, conta.

O livro traz a experiência de fazer arte no interior do Paraná, especialmente em um município que é próximo da capital, Curitiba. Para Vitor, essa característica elitiza a cultura e acaba não ajudando a valorizar a arte local. “Nós estamos perto de grandes teatros, estamos próximos de grandes shows. Grandes shows vêm em Curitiba, perto de duas horas. A busca por arte ficou um pouco elitizada. Você precisa de um investimento, mas está próximo, fica uma coisa bem estranha. Para o artista que é daqui, parece que ficamos um pouco na sombra”, disse.

A história de Vitor é uma das contadas no livro escrito por Mário Lopes. Lá ele conta como seu talento foi descoberto ainda quando era criança pelos seus próprios pais. “Quando era muito pequeno, eu ficava em casa com a minha mãe, tocava violão do meu irmão”, explica.

O interesse por instrumentos desde pequeno, fez com que seu pai buscasse alguma forma de matricular o filho em alguma aula de violão. Contudo, a matrícula só foi possível por volta dos sete anos, quando Vitor estava alfabetizado.

A partir desse tempo, ele não parou mais com a música. “Comecei a tocar na igreja católica. Tocava na São Miguel, aos finais de semana. Também aprendi muito. Eu era pequeno, estava tocando com músicos mais velhos e acaba aprendendo. Só que dali da igreja acabei montando a primeira banda que era banda Eutanásia. Saí da igreja e fui montar a banda chamada Eutanásia”, conta.

Depois de participar da banda Eutanásia, Vitor entrou na banda Snakes. “Na banda Snakes foi uma escola gigantesca porque músicos, sem comentários, todo mundo experiente e com muita história. Ali eu aprendi um pouco sobre o jogo da música. Como funcionava a estrada, como funcionava o mainstream. E me deu coragem de começar uma banda nova para tocar música autoral”, disse.

Foi a partir desse momento que começou a nascer a Rádio Radar. A banda teve a oportunidade de mostrar o seu trabalho nacionalmente em 2015, quando se apresentou no reality Super Star, da TV Globo.

Vitor conta que a banda se inscreveu no reality inspirada na banda Malta que mostrou músicas autorais no programa. Contudo, na sua vez, a banda teve que apresentar um cover. “Chegando lá, nós vimos que não era bem assim. A produção escolhia as músicas. E a primeira música tivemos que tocar conforme era a música deles lá. Abrimos o primeiro programa tocando Foo Fighters”, conta.

Na segunda apresentação, a banda iria apresentar o cover de “All My Loving”, dos Beatles. Contudo, a banda decidiu mostrar seu trabalho e negociou para que a música autoral fosse apresentada no lugar do cover. “Nós conversamos e se não fosse dessa forma, para nós não valia a pena continuar. Que nós queríamos tocar música nossa. Tivemos a oportunidade de tocar ‘Tão Perto’. Mostramos nosso trabalho e voltamos embora”, explicou.

Vitor disse que não se arrepende da decisão porque essa foi a chance de a banda mostrar seu trabalho, já que não havia garantia que a banda iria voltar em uma terceira semana. “Não nos arrependemos não. Porque muitas coisas boas aconteceram dali. E isso foi muito produtivo para nós. Mesmo não tendo seguindo na competição, muitas coisas boas aconteceram depois disso”, disse o cantor.

Uma das coisas boas foi o contato com o cantor Paulo Ricardo, que era um dos jurados do programa e chegou a elogiar a apresentação da banda em um dos programas. O cantor ajudou na indicação da banda para um produtor. “Esse contato com o Paulo Ricardo, ele abriu portas com um produtor musical que se chama Guto Campos, que era produtor musical dele na época, que lançou as nossas músicas. As nossas músicas foram lançadas por esse produtor. Que na sequência acabou engatando o que hoje é nosso contrato atual que estamos em fase de produção de lançamento a nível nacional”, contou.

O contrato atual é feito com o produtor Rick Bonadio, que já produziu e empresariou grupos como Charlie Brown Junior, Mamonas Assassinas, Titãs, Rouge, Ira! e NX Zero. A banda assinou o contrato em 2019 e começou a gravar em fevereiro de 2020, mas chegou a gravar apenas três músicas antes da pandemia ser declarada. O trabalho foi interrompido e retomado apenas no final do ano passado, quando a banda retornou à São Paulo para fazer as gravações no mesmo estúdio usado pela banda Mamonas Assassinas.

A previsão é que sejam lançados singles em plataformas a cada três meses, sendo o primeiro a partir de fevereiro. “Já gravamos algumas músicas, estamos em fase de masterização das músicas. Só que agora é diferente. Não lançamos mais álbum. Agora serão singles. Então, vamos lançando singles pelas plataformas”, disse.

Os integrantes da banda ainda moram em Irati e costumam viajar para outros locais quando há oportunidade. Segundo Vitor, a decisão foi tomada porque é mais barato apenas se deslocar do que morar em São Paulo. “Se a Rádio Radar ficasse com a equipe inteira morando em São Paulo, nós não teríamos condições financeiras de investir nas produções musicais. Nossa opção foi vamos continuar morando em Irati, sempre que tiver uma opção interessante nós vamos. Nunca negamos um contato. ‘Vem, vamos fazer em tal lugar’. A gente vai. E temos mais energia para continuar investindo nas nossas músicas”, conta.

Além da banda, Vitor também trabalha como técnico em radiologia. Ele conta que consegue conciliar os dois trabalhos porque a carga horária de trabalho de radiologia é menor. “Tenho parte do meu dia disponível para trabalhar com música. Isso é uma coisa que sempre agradeço por ter essa liberdade de tempo”, disse.

Os integrantes da banda também possuem outras profissões. Vitor conta que o fato de serem autônomos ajuda a conciliar as duas funções. “A gente tem flexibilidade. Precisa sair amanhã, a gente sai. Precisa ficar uma semana fora, a gente fica. Porque como não temos ainda um investidor para a banda Rádio Radar, alguém que nos auxilie com questões básicas para que a gente siga, tudo que nós ganhamos com a banda é investido na banda. Então, nós não misturamos as cosias. Por isso, também que a banda nunca acabou”, conta.

Já são 15 anos da banda Rádio Radar. Para Vitor, o segredo para que a banda continue é que os integrantes possuem uma perspectiva diferente de sucesso, o que os leva a serem persistentes. “Para alguns, sucesso é você estourar no Brasil inteiro, é fazer 30 shows por mês, é você estar na televisão. Todo artista quer isso. Mas se você não é escravo disso, aí rola essa persistência naturalmente. Porque todos os integrantes da Rádio Radar são felizes tocando num bar ou na Globo. Acho que é isso que faz com que a banda não desista”, disse.

Vitor ainda destaca a importância de o artista mostrar o seu trabalho, por mais que ele ache que não esteja perfeito. “Tem muita gente que acha que tem que ser muito perfeito para mostrar o trabalho. Que tem que estar num ponto muito… Poxa vida, gravamos algumas músicas no início da carreira, deve ter no histórico da Rádio Najuá, gravamos músicas na garagem, gravamos música em estúdios independentes em Curitiba. Fizemos muitas gravações ruins e a gente vinha na rádio, pedia para tocar e tocava. Agradeço até hoje porque isso deu corda”, conta.

É essa história de persistência que o livro “O Interior de Todo Artista” quer trazer para o público, conta Vitor. “Todos tem uma história que não foi assim toda linda, toda maravilhosa. E acho que isso é o importante. Não ficar esperando esse glamour acontecer para dar a cara”, destaca.

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