Em entrevista à Najuá, a professora da Unicentro, Perla Martins, repassou algumas orientações e também falou sobre o trabalho realizado na Clínica Escola de Fonoaudiologia/Texto de Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava e Rodrigo Zub
O Dia Mundial da Voz foi celebrado no último domingo (16) com uma campanha que busca conscientizar a população sobre a importância da voz e dos cuidados necessários para preservá-la.
Criada em 2003, a campanha abordou neste ano o slogan “Voz: conexão sem fronteiras”. A professora da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro), Perla Martins, que atua na Clínica Escola de Fonoaudiologia da instituição, explica que o slogan quer mostrar a importância da voz para nos comunicarmos e como ela foi um meio de conexão entre as pessoas durante a pandemia. “Nos mostra a importância que a nossa voz tem para nos conectar com pessoas, para nos trazer a oportunidade de nós mostrarmos quem nós somos porque a nossa voz nos apresenta, a nossa voz nos representa e essa voz é um dos principais recursos que nós temos de comunicação, um recurso de conexão, de conectividade. Estamos vindo de uma situação importante relacionada à pandemia, onde nós tivemos um momento muito difícil, onde nós perdemos as conexões pessoais e a voz foi o principal recurso que nós tivemos para nos conectar com pessoas, através de telefonemas, através de redes sociais, através de videochamadas”, disse a professora.
Em Irati, a Clínica de Fonoaudiologia da Unicentro oferece atendimento gratuito a quem precisa, disponibilizando diversos serviços. “Nós temos a possibilidade de atender quaisquer casos relacionados à comunicação humana, a audição e a voz. Falando especificamente em relação à voz, nós trabalhamos e atendemos pessoas na área da reabilitação, que são os casos relacionados aos desvios vocais, distúrbios vocais ou alterações que limitam o bom uso da voz e que comprometem a qualidade de vida das pessoas”, conta Perla.
Outro serviço é na área de habilitação que atende diversos profissionais que usam a voz como ferramenta de trabalho no dia a dia, como locutores e professores. “Trabalhamos com essas pessoas em nível de habilitação. Habilitamos a voz, que já é uma voz boa, com qualidade, para que ela se torne um recurso com melhor desempenho. Nós trabalhamos em nível de habilitação e em nível de reabilitação vocal”, explica.
Na habilitação, os profissionais trabalham com o aprimoramento vocal buscando uma qualidade da voz. “É um padrão de qualidade geral, em relação à produção desse som, em nível de pregas vocais e também para que tenha um bom desempenho do funcionamento dessa musculatura porque a nossa voz é produzida por uma série de estruturas que se conectam no aparelho fonador”, disse a professora.
Quer receber notícias pelo whatsapp?
Neste momento, o fonoaudiólogo busca por meio de exercícios aprimorar a qualidade desse sinal sonoro, gerado pela voz e pelas pregas vocais, que se encontram nessa região do pescoço e na laringe. “Nós trabalhamos a qualidade desse som porque o som é gerado em nível de pregas vocais, mas ele precisa ser amplificado para ele ser percebido e ouvido com boa qualidade. Nós temos um som que é trabalhado nas estruturas do trato vocal para que tenha uma melhor qualidade em questão de projeção, em clareza do som, em nível de ressonância dessa voz e em nível de articulação dessa voz”, conta.
Para esse trabalho são realizadas diversas técnicas. “São várias técnicas, exercícios, desde técnicas de orientações corporais até o nível, principalmente, das técnicas e orientações relacionadas a respiração, à fonação, que é a produção da voz, a utilização desses articuladores que produzem os sons da fala e essa ressonância que é tão importante da voz relacionada à qualidade que ela tem”, comenta Perla.
O primeiro sinal para a procura de um atendimento especializado é perceber que a voz não está respondendo da maneira mais adequada. Quando ocorre isso, a orientação é buscar um otorrinolaringologista, que é responsável por avaliar as questões relacionadas ao ouvido, nariz e garganta. “Ele vai fazer uma avaliação específica e vai verificar como está essa voz. Como é que está essa laringe, em primeiro lugar. A questão da anatomia e a fisiologia da laringe. Ele fazendo esse exame, que é uma laringoscopia, ele nos envia um laudo”, explica a professora.
Com o laudo, o fonoaudiólogo conseguirá começar o tratamento com o paciente. “Nós não enxergamos como nós produzimos a voz. É uma estrutura interna. Quando vem esse exame, nos dá uma segurança, um respaldo para que façamos uma melhor atuação em relação a um possível problema que essa pessoa venha a ter”, afirma a professora.
O atendimento começa com a verificação do paciente. “Nós vamos fazer todo um processo de verificação do histórico dessa pessoa, que nós chamamos de anamnese, uma entrevista inicial para conhecer qualquer queixa principal. E vem todo um procedimento relacionado à avaliação dessa voz, a auto percepção da pessoa em relação à sua voz. Nós gravamos a voz e fazemos uma análise mais específica, que é conhecida como analisa acústica, para verificar os parâmetros objetivos dessa voz. Depois analisamos tanto a parte da percepção dessa voz, da qualidade dessa voz que o fonoaudiólogo tem essa habilidade de avaliar a qualidade da voz, junto com a percepção do próprio paciente e essas questões acústicas relacionadas à voz, entre outros procedimentos. Nós vamos traçar um planejamento para um bom atendimento”, explica Perla.
Quem não possui problemas na voz também pode procurar atendimento especializado, especialmente se a voz for um instrumento de trabalho. Nesses casos, é realizado um atendimento preventivo para que a voz não seja danificada. “No caso dos profissionais da voz, esse recurso desse exame é um recurso preventivo para um acompanhamento de como está essa estrutura. É fundamental que façamos. É igual ter um carro. O carro precisa de manutenção. Se nós não colocamos combustível, não faz a manutenção nos pneus ou no motor, pode ter um problema. É a mesma coisa com a nossa voz”, conta.
Quem trabalha com a voz, também precisa cuidar da hidratação. “Nesse sistema respiratório, onde está laringe, nós temos uma série de líquidos e secreções que são geradas para a lubrificação do sistema. O problema é quando isso está muito denso. A água ajuda fluidificar esses líquidos também. E atuam do bom funcionamento muscular”, diz a professora.
Uma das dicas de hidratação é beber água duas horas antes do uso intenso da voz. “Existe uma hidratação que é mais direta que é a questão da nebulização que geralmente fazemos com soro fisiológico. Depois de 15 minutos, temos uma hidratação adequada, pensando em nível de laringe”, explica.
Perla destaca que há casos que precisam ter cuidados porque podem desidratar o corpo. É o caso do ar condicionado. “Nós estamos aqui no estúdio, que tem uma série de equipamentos e que ele está climatizado com ar condicionado. Esse ar condicionado pode potencializar o ressecamento. Um outro fator que pode potencializar ressecamento é o próprio uso da voz. Variação de temperatura, determinados tipos de alimento, como a cafeína, que tem uma tendência a desidratar o organismo. Precisamos fazer a reposição conforme o uso, o nosso corpo e a nossa demanda de uso corporal”, conta.
A quantidade de água a ser bebida será diferente para cada pessoa. Apesar de popularmente a dica ser de beber dois litros de água por dia, algumas pessoas precisam beber mais água do que outras. “A água deve ser ingerida em torno de 35 mililitros por peso ao longo do dia. A pessoa de 60 kg precisa ingerir quase três litros de água, dois litros e meio de água. Cada um vai pegar o seu peso corporal e vai fazer uma avaliação, uma verificação dessa quantidade de água fazendo uma multiplicação por 35. Então, cada um sabe quanto tem que ingerir de água ao longo do dia”, relata a professora do Departamento de Fonoaudiologia da Unicentro.
Perla alerta que não é apenas sair bebendo água, mas é preciso procurar profissionais para uma orientação mais adequada. “O melhor na verdade é passar por especialistas da área e verificar quais são as suas necessidades hídricas. Além das suas necessidades, que são comentários básicos que fazemos, cada pessoa é uma pessoa. Se uma pessoa tem alguma alteração de saúde como uma questão renal. Às vezes, não pode ingerir mais do que a quantidade de dois litros de água ou uma água estipulada por um profissional. Por isso, falamos que o nosso corpo precisa ser verificado pelos profissionais adequados, por uma rede de especialistas e profissionais que vão nos ajudar a manter o funcionamento desse corpo”, conta.
O uso de cigarros também é um dos fatores que prejudica a voz. A professora destaca que o cigarro possui 4.500 componentes químicos que geralmente são muito tóxicos para o organismo, podendo comprometer principalmente o pulmão, mas também, a laringe. “No meio do caminho, para chegar no pulmão, nós temos a laringe. A função da laringe no nosso organismo é uma função protetiva. Ela tem a função de proteger o sistema respiratório. Quando falamos de cigarro, estamos falando de um uso de uma substância que produz uma fumaça que entra sem nenhum tipo de proteção no nosso organismo. Essa fumaça tóxica de 4.500 produtos que são prejudiciais à saúde”, explica.
Perla destaca que o uso do cigarro é prejudicial na vida das pessoas e que deve ser eliminado. “O principal fator relacionado ao cigarro são as alterações que ele pode trazer em relação à estrutura. O cigarro é uma das principais substâncias que estão relacionadas ao câncer de laringe, câncer de pulmão e isso tirando a pré-disposição da pessoa em relação a uma doença”, conta.
Um dos meios que as pessoas têm procurado para se livrar do vício é o uso do cigarro eletrônico. Este tipo de cigarro tem de nove a 400 vezes menos impacto em relação à voz, mas pode trazer prejuízos à saúde. A professora alerta que médicos otorrinolaringologistas estão detectando doenças na laringe, no pulmão ou em regiões da cabeça e do pescoço relacionado ao cigarro eletrônico. “Eles não vão substituir o tabagismo, o cigarro tradicional de uma forma saudável. Eles também causam problemas muito importantes. Em relação à saúde, principalmente, estão muito associados à questão do câncer de laringe, de pulmão. Em nível de câncer de laringe, eles podem ser potencializados, inclusive, na associação com bebidas alcoólicas, que é muito comum nas pessoas que são tabagistas”, explica.
Outro uso muito comum na região é o do narguilé que também é prejudicial à saúde das pessoas. “Existem estudos na área da fonoaudiologia que comprovaram que uma tragada do narguilé equivale a 100 tragadas de um cigarro tradicional. Também ele tem um efeito muito prejudicial na saúde. A dica que deixamos em relação a isso é tente evitar o uso de um cigarro, de qualquer tipo de cigarro”, disse.
Para tentar largar o cigarro, a professora dá a dica de uma técnica que tem funcionado com os pacientes chamada de Técnica dos 5 Minutos. “Pegou um cigarro. Olha para ele e fala: ‘Daqui cinco minutos, eu vou fumar esse cigarro’. Deixa ele lá do lado. Não estamos nem falando para não fumar. Mas deixa ele ali do lado e depois você vai talvez usar essa substância se tiver muito necessidade, porque o cigarro mexe em questões em nível de sistema nervoso central. Depois até fuma esse cigarro ou se conseguir fica mais dez minutos. O que os pacientes nos relatam e o que observamos na prática clínica? Isso não é evidenciado, infelizmente, ainda em pesquisa, mas compartilhando um pouco de prática-clínica, que os pacientes vão eliminando o hábito. Se chega a fumar dois maços, que são 40 cigarros em 24 horas, e sabemos que tem o horário de dormir. [O hábito] cai para dois maços, cai para um maço. Cai para dez unidades e com o passar do tempo, com muito esforço, força de vontade, vai eliminando o hábito. Às vezes, elimina de uma hora para outra. ‘Eu não vou mais fumar’. E elimina esse hábito porque ele é extremamente prejudicial para a vida da pessoa”, conta.
O atendimento na Clínica-escola de Fonoaudiologia da Unicentro é gratuito à população. Mais informações podem ser obtidas nos telefones (42) 9-9904-0346, (42) 3421-3228 e (42) 3421-3224.