Ato integra campanha estadual e reforça necessidade de denúncia e prevenção/ Diego Gauron

Resumo
•Irati realizou a 3ª Caminhada do Meio-Dia pelo fim da violência contra as mulheres, como parte de uma campanha estadual.
•Autoridades e participantes reforçaram a importância da denúncia, da prevenção e da união da sociedade na luta contra o feminicídio.
•O evento marca o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, em memória da advogada Tatiane Spitzner, morta em 2018.
Foi realizada nesta terça-feira (22), a 3ª Caminhada do Meio-Dia, uma mobilização que reuniu mulheres, homens, crianças, lideranças e representantes de instituições públicas em defesa da vida das mulheres e pelo fim da violência de gênero. A ação faz parte de uma campanha estadual, realizada simultaneamente em diversos municípios do estado. Assista aqui.
A mobilização foi organizada pela Secretaria da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa, em parceria com a Secretaria da Segurança Pública do Paraná e com o apoio do Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM). Em Irati, a concentração ocorreu na Rua da Cidadania, reunindo participantes vestidos de branco e com cartazes, em um ato simbólico de conscientização, que seguiram pelas ruas do centro rumo à Prefeitura Municipal.
O evento marca o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, instituído em referência ao assassinato da advogada Tatiane Spitzner, ocorrido em Guarapuava no dia 22 de julho de 2018. Tatiane foi vítima de feminicídio cometido por seu então marido, que foi condenado a 31 anos de prisão. O caso teve grande repercussão nacional e se tornou símbolo da luta contra esse tipo de crime.
O feminicídio está acontecendo todos os dias
Em entrevista à Najuá durante o evento, a presidente do Conselho Municipal de Políticas para as Mulheres, Marli Traple, ressaltou a importância de manter a pauta viva durante todo o ano, e não apenas em casos extremos.
“O feminicídio fica às vezes meio escondido. As pessoas só falam nisso quando realmente acontece alguma coisa grave. Aí a cidade se mobiliza, a cidade se revolta. Mas ele está acontecendo todos os dias.”
Para ela, a caminhada realizada em Irati é um chamado por paz, por família e por amor.
“Não precisamos esperar uma mulher ser morta, uma mulher ser violentada, uma criança ser violentada para a gente fazer os movimentos. A gente precisa estar sempre conscientizando as pessoas, a comunidade — e começa pela gente.”
Marli também destacou o impacto do caso de Tatiane Spitzner na criação da mobilização estadual.
“Que bom que ela teve um destaque tão grande e que trouxe esse movimento para o Paraná. Mas se você observar no Brasil, a cada 15, 20 minutos uma mulher está sendo morta. Muitas ninguém sabe, muitas não são faladas, e muitas estão sofrendo agora, nesse momento, a violência física, psicológica, financeira — e a cidade não sabe”, observa.
Ela reforça que a caminhada pode ser o incentivo que muitas mulheres precisam para buscar ajuda.
“Quando você faz um movimento desse, é aquele movimento que realmente a mulher que está sofrendo na sua casa vai pensar também e vai buscar ajuda. Junto ao CIAMI que nós temos em Irati, junto à assistência social, e até mesmo junto ao Conselho da Mulher.”
A violência não é natural
A vereadora Silvana Teresinha Rzepka também esteve presente na mobilização e fez um apelo direto às mulheres que sofrem violência.
“As mulheres precisam ter coragem, as que estão sofrendo essa violência, elas precisam ter coragem de denunciar. Elas vão, com certeza, dar conta da vida delas, dos filhos. Temos relatos de pessoas que já passaram por isso.”
Silvana reforçou que a cultura do silêncio ainda é um obstáculo.
“Aquela história de que ‘na vida de marido e mulher não se mete a colher’, isso não é verdade. A gente tem que sim denunciar, para que a gente possa ajudar essas mulheres que, às vezes, numa conversa, têm a coragem de tomar conta e posse da sua própria vida.”
Rede de apoio e ações preventivas
O secretário municipal de Assistência Social, Denis César Musial, destacou o envolvimento coletivo necessário para combater a violência contra as mulheres.
“A violência contra a mulher não tem raça, não tem cor e não tem sexo. Todos precisam se abraçar, estar juntos nessa luta, ser resistentes a ela. Tanto homens quanto mulheres: o quanto é importante todos estarem envolvidos nessa causa.”
Ele explicou que o município conta com uma estrutura de atendimento e prevenção, liderada pelo CIAMI.
“Hoje temos uma estrutura, a Secretaria da Mulher com o CIAMI, que faz todo o atendimento a mulheres em situação de violência. Além disso, realizam trabalhos de prevenção nas escolas, com crianças, adolescentes, palestras, ações informativas nos territórios e comunidades.”
O secretário ainda reforçou a importância da denúncia por parte de quem presencia ou sabe de casos de violência.
“Sabendo de uma mulher que está sofrendo, uma amiga, soube de algum relato — procure apoio, procure os serviços. Temos o CIAMI, que funciona no Rio Bonito, temos o Disque 100, o Disque 180, a Patrulha Maria da Penha, a Polícia Militar. Busque esses órgãos.”
Basta. Já deu.
O prefeito de Irati, Emiliano Gomes, também participou da caminhada e fez um apelo contundente.
“Eu, enquanto prefeito, na função deste cargo que exerço, é conscientizar a população, especialmente os homens, que cometem esse tipo de situação. Precisamos cada vez mais mostrar que há punições — e punições severas, no rigor da lei.”
Para ele, é inaceitável que a violência doméstica ainda persista em pleno 2025.
“É importante esses homens entenderem que basta. Nós vivemos numa sociedade pacífica, que precisa de respeito. E a mulher não pode mais sofrer com isso. Violência doméstica, isso não pode mais acontecer em Irati. Então, basta. Já deu.”
Onde buscar ajuda
O atendimento especializado às mulheres em situação de violência em Irati ocorre no Centro Integrado de Atendimento à Mulher Iratiense (CIAMI) onde também está localizado o Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM). O local fica na rua Expedicionário José de Lima, s/n, bairro Rio Bonito (junto ao Parque Aquático). O telefone para contato é o (42) 99147-3174.
Denúncias anônimas podem ser feitas através do telefone 181; ou ainda para a Polícia Militar, no 190.
Assista à reportagem completa:

