Caminhada do Meio Dia homenageia vítimas de feminicídio e pede o fim da violência contra a mulher em Irati

Evento fez parte da campanha estadual “Paraná Unido no Combate ao Feminicídio” e teve a…

23 de julho de 2024 às 11h17m

Evento fez parte da campanha estadual “Paraná Unido no Combate ao Feminicídio” e teve a adesão de várias pessoas que passaram pela rua Dr. Munhoz da Rocha no início da tarde desta segunda-feira, 22/Paulo Sava

Dora Leandra Violante lembrou a responsabilidade de cada um no combate ao feminicídio. Foto: Paulo Sava

As secretarias da Mulher, Criança e Pessoa Idosa e de Assistência Social de Irati organizaram a “Caminhada do Meio Dia”, realizada nesta segunda-feira, 22. O evento fez parte da campanha estadual “Paraná Unido no Combate ao Feminicídio” e teve a adesão de várias pessoas que passaram pela Rua Dr. Munhoz da Rocha no começo da tarde de ontem.

O movimento foi encerrado em frente à Prefeitura, onde foi feita uma homenagem às vítimas de feminicídio e tentativa de feminicídio em Irati. Foram citados os nomes de Sandra Mara Meira (assassinada pelo ex-marido em 2017, cujo corpo foi encontrado na cachoeira do Fillus), Veridiana dos Anjos (morta pelo ex-namorado quando saía do trabalho, na Rua Dona Noca, centro de Irati, em 2022), Mirela Maiara Ewerling Luís (morta pelo marido em 2023 durante uma confraternização) e de Ivanilda Kanarski (assassinada com dois tiros pelo marido no Parque Aquático de Irati em 2018). Porém, o caso de Ivanilda não foi considerado pela Justiça como feminicídio.

Além destes, houve também o caso de uma funcionária da Unicentro que sofreu uma tentativa de feminicídio no dia 08 de março de 2022. Ela foi internada em estado grave, mas conseguiu se recuperar. O autor, ex-marido da vítima, morreu logo depois da agressão ao se envolver em um acidente na BR 153, sentido Rebouças.

Faixas e cartazes – Participantes levaram faixas e cartazes pelo fim destes tipos de crimes e também da violência doméstica, além de estarem vestidos de branco e portarem balões para representar a paz.

Faixa que cita o caso de Ivanilda Kanarski, morta em 2018 no Parque Aquático de Irati. Foto: Paulo Sava

Participantes – Em entrevista à Najuá, a vice-prefeita Ieda Waydzik ressaltou a importância da realização do evento como forma de relembrar as vítimas do feminicídio em Irati. “O evento é necessário para relembrar todas aquelas que já se foram através do feminicídio, mas principalmente para alertar outras mulheres e proteger o futuro das nossas meninas, para que isto nunca mais aconteça a ninguém. A violência não leva nada, e nós perdermos vidas desta forma é muito triste. Movimentos como este são necessários para marcar a posição das mulheres contra a violência”, pontuou.

O participante Paulo Roberto avalia que o movimento é uma forma de a sociedade relembrar as vítimas e pedir o fim deste tipo de violência. “Além da memória das pessoas que foram vítimas das violências, eu penso que seja uma maneira de a sociedade dizer basta a esta violência e se conscientizar que, de fato, independentemente de gênero, devemos nos manter livres, saudáveis e em harmonia com a sociedade como um todo. Penso que todos nós temos que participar, colaborar com esta conscientização e mostrarmos para o Brasil e o mundo todo que, de fato, devemos manter esta sociedade mais limpa e sem violência, especialmente contra as mulheres, que são mais sensíveis em relação aos homens”, comentou.

Ronaldo Kanarski, irmão de Ivanilda, conta que a saudade da irmã é grande e que a tristeza causada pela perda é “uma ferida que não cicatriza”. “No coração, é aquela ferida que nunca cicatriza. Dia 26 vai fazer seis anos que nós passamos por isto, e não é fácil. Para quem passou é complicado, a dor passou, mas o coração sempre tem aquela ferida, aquele machucado que nunca vai cicatrizar. Passem seis, dez, vinte, trinta anos, a dor vai continuar a mesma. Queira ou não queira, convivendo com os filhos dela e olhando neles, lembramos dela. Pedimos que a população coloque na cabeça que a mulher tem que olhar com outros olhos e não é batendo que vão se resolver as coisas. Eu peço encarecidamente que o povo olhe com mais carinho para as mulheres e não bater, mas sim tratá-las com mais respeito”, comentou.

Concentração em Irati aconteceu na esquina das ruas Munhoz da Rocha e Carlos Thoms. Foto: Paulo Sava

A manifestante Dora Leandra Violante lembrou da responsabilidade que cada um tem para ajudar a quebrar os ciclos de violência.

“As violências que acontecem contra a mulher são por bases culturais, do machismo que mata. É na criação dos nossos filhos, das crianças, que tornamos esta relação desigual, dizendo que a mulher é quem cuida da casa, de tudo, e que o homem não pode chorar nem demonstrar seus sentimentos. Isto vai dar vazão em algum momento, e é muito normal fazermos isto na nossa casa. Então, o homem reprime todos estes sentimentos na sociedade e os demonstra em casa, com a mulher. Tem toda uma questão de posse, de ter o relacionamento como ser livre para amar de verdade, mas de possuir a outra pessoa. Então, o nosso papel para quebrar este ciclo de violência é na criação, que não distingue a menina do menino, mas sim igual, de permitir ao homem demonstrar seus sentimentos desde pequeno, de dar vazão e não ter estas diferenças de gênero. Eu acho que assim, no futuro, conseguiremos quebrar estas violências e não teremos estes casos tão tristes que estão ao nosso lado, na nossa cidade”, pontuou.

Poder público – O prefeito Jorge Derbli afirmou que é importante o Poder Público se engajar neste movimento e reforçar o pedido pelo fim do feminicídio. Ele avalia que a quantidade de solicitações de medidas protetivas, que chega a 10 por semana em Irati, de acordo com dados repassados pela Delegacia de Polícia Civil de Irati, é muito alta.

“Este é um número muito alto que não pode ter. Infelizmente ainda existe isto, e este é um número absurdo, mas as mulheres precisam se garantir e ter uma segurança, e a única situação que tem é pedindo esta medida protetiva. Para nós, é um número que indica que precisamos encontras soluções e ações positivas e concretas para baixar isto. Eu acho que devia endurecer mais a lei na questão dos homens que violentam, surram e agridem as mulheres. Precisava ter uma lei mais enérgica, pois isto acalmaria um pouco esta questão da violência contra a mulher”, comentou.

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Na foto, o prefeito Jorge Derbli, a assistente social Eliane Maria da Silva Carungaba e a vice-prefeita Ieda Waydzik. Foto: Paulo Sava


Fim de relacionamento como causa de feminicídio – A assistente social Eliane Maria da Silva Carungaba, que atua junto ao Centro de Referência em Atendimento à Mulher (CRAM) de Irati, ressaltou que muitos casos de feminicídio acontecem porque o agressor não aceita o fim do relacionamento com a vítima. Ela espera que as futuras gerações não precisem fazer caminhadas por conta de situações de violência de gênero. “Que o feminicídio acabe, que os homens entendam que as mulheres têm tanto direito quanto eles. Quando as mulheres nascem, a primeira coisa que elas recebem é uma boneca, para desenvolverem seu sentimento de cuidar. As mulheres cuidam da família e dos filhos, e os homens têm que entender que as mulheres não são nem o sexo frágil, mas são tão fortes e batalhadoras quanto eles e merecem todo o nosso respeito”, frisou

FECCOMPAR – A presidente da Federação dos Conselhos da Comunidade do Paraná (FECCOMPAR), Maria Helena Orreda, ressaltou que uma das funções dos Conselhos da Comunidade é combater a violência, especialmente contra a mulher. “A FECCOMPAR também é parceira e incentiva os Conselhos da Comunidade a trabalharem a prevenção da violência, principalmente contra a mulher. Estamos dando muito valor e importância a esta movimentação realizada em Irati e também em todo o estado. Entendemos a importância de a sociedade estar alerta, divulgar os canais importantes para a mulher buscar auxílio sempre que necessário”, pontuou.

Recuperação de agressores – Os Conselhos da Comunidade também fazem trabalho com grupos reflexivos para homens que cometem violência doméstica. “Aqueles homens que passaram pela Justiça, estão Respondendo a um processo e o juiz determinou como pena a participação no grupo reflexivo são encaminhados para o Conselho da Comunidade em grande parte do Paraná. Aqui em Irati também é assim: nós já fizemos sete grupos de homens e estes têm demonstrado um resultado muito grande. Dos nossos grupos, apenas três pessoas reincidiram, ou seja, é um grande número de homens que até o momento não reincidiu, não praticou nenhum ato, ou pelo menos não houve registro. Estamos acompanhando e esperamos que esta seja uma das alternativas para acabar com o feminicídio”, frisou.

Denúncias – Em casos de violência, a mulher pode procurar ajuda na Delegacia de Polícia Civil, com a agente da Guarda Municipal Patrícia Isaura Bonato Pedroso dos Santos, através do WhatsApp (42) 3422-5176. A vítima também pode pedir auxílio à Polícia Militar pelo 190, à Guarda Municipal pelo 153 ou no WhatsApp (42) 3423-2833, pelos telefones do disque-denúncia 180 ou 181, e ainda no Núcleo Maria da Penha (NUMAPE) da Unicentro pelo telefone (42) 99904-1423.

Concentração na Praça dos Ferroviários, em Rebouças. Foto: Elis Daiane Ribeiro Sava

Região – Na região centro-sul, outro município que realizou a caminhada foi Rebouças. Lá, a concentração foi feita na Praça dos Ferroviários e a caminhada seguiu até a Delegacia de Polícia Civil. Diversas pessoas participaram com camisetas e balões brancos, e também levaram faixas e cartazes pedindo o fim da violência contra a mulher.

Movimento no Paraná – Em todo o estado, de acordo com a Agência Estadual de Notícias, mais de 100 cidades organizaram eventos em alusão ao dia de Combate ao Feminicídio. A 2ª edição da Caminhada do Meio Dia contou, ainda, com o apoio de outras secretarias do Governo do Paraná, da Ordem dos Advogados do Brasil, de clubes de serviço, como o Lions e o Rotary; e de entidades da sociedade civil, como o Conselho Estadual da Mulher. A data de 22 de julho foi escolhida em referência à morte da advogada Tatiane Spitzner, em Guarapuava. O Dia Estadual de Combate ao Feminicídio foi estabelecido por lei, sancionada pelo governador Ratinho Junior.

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