Evento promovido pela Associação Irati TEABraça busca ampliar conhecimento da população sobre o autismo e fortalecer o apoio às famílias atípicas de Irati e região/ Texto de Diego Gauron

Acontece em Irati neste sábado (5) a terceira Blitz e Caminhada de Conscientização sobre o Autismo, promovida pela Associação Irati TEAbraça. O evento tem como objetivo informar a população sobre o transtorno do espectro autista (TEA), divulgar o trabalho da associação e reforçar a necessidade de apoio às famílias atípicas. A concentração ocorre a partir das 10h na Rua Munhoz da Rocha, em frente ao Banco Bradesco.
Conscientização
A vice-presidente da Associação Irati TEAbraça, Gilvana Mirelli Assis, e o segundo tesoureiro, Leandro Maximiano, são pais de Maria, uma menina autista. Eles ressaltam a importância de informar a população sobre o autismo e fortalecer o acolhimento às famílias atípicas.
E com esse propósito, surgiu a ideia da caminhada, que neste ano será realizada na região central de Irati. “A gente vai sair ali da frente do Bradesco, fazer a concentração com as famílias e seguir pela rua Munhoz da Rocha, pela frente da Caixa Econômica e retornamos pelo restaurante Italiano, chegando novamente ao ponto de partida”, descreve Gilvana.
Após a caminhada, vai acorrer a Blitz Informativa, onde serão distribuídos panfletos com informações sobre o autismo e sobre a própria associação. “Vamos distribuir panfletos com informações sobre associação, sobre o que é o autismo, sobre o diagnóstico. Vamos convidar as famílias para ajudar na panfletagem também, e vamos ficar até umas 2 horas da tarde”, acrescenta Gilvana.
Direitos
Leandro conta que a associação Irati TEAbraça nasceu a partir da mobilização de pais e mães que, ao levarem seus filhos para terapias, perceberam a necessidade de lutar pelos direitos das crianças autistas.
A associação é uma entidade sem fins lucrativos formada por famílias atípicas. Ele enfatiza que a TeAbraça também tem um papel fundamental no suporte às famílias. “Após o diagnóstico de uma criança autista, a base tem que ser também tratada, e a base que eu digo é pai, é mãe. A gente precisa dar atenção para todo esse pessoal; e a associação veio nesse intuito, de ajudar, de fortalecer, de buscar recursos”, explica Leandro.
Ele destaca também que no final do ano passado a associação conquistou o reconhecimento de utilidade pública pela Câmara de Vereadores de Irati. “Agora a gente já tem a fonte para buscar recursos, para que possamos desenvolver um trabalho melhor, buscar mais ajuda. São muitas terapias, a gente necessita de ajuda. A nossa entidade veio para esse fim, para que a gente possa, cada vez mais, trazer um pouco mais de conforto para as nossas crianças”, explica Leandro.
Desafios
Um dos principais desafios enfrentados pelas famílias de crianças autistas é na educação. Segundo Gilvana, o início do ano letivo sempre traz reclamações sobre a falta de professores de apoio capacitados. “Infelizmente, é muito difícil, porque os professores de apoio que entram em sala de aula não têm um curso, especialização, para entrar em sala com as crianças. Esse professor se depara com uma criança autista, fica dois dias, e, infelizmente, pede a conta, porque ele sabe que não consegue dar conta de cuidar daquela criança”, afirma.
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Ela destaca que a associação cobra da secretaria municipal de Educação cursos de capacitação para esses profissionais. “Hoje o diagnóstico mudou, as mães já estão correndo atrás desse diagnóstico, já verem ele muito precoce, e quando entra na escola municipal, já precisa de um professor de apoio. A demanda está muito grande, a prefeitura, infelizmente, não tá conseguindo acompanhar essa demanda, e essa é a reclamação dos pais”, acrescenta.
Descobertas
Leandro compartilha a experiência pessoal de como descobriu que sua filha é autista. “Quando a Maria fez 10 meses de vida, ela começou com a fala, começou a dar alguns passinhos, e quando ela completou um ano de idade, ela simplesmente cortou a fala, cortou o andar, e a Gilvana – eu acho que o instinto de mãe é muito mais aguçado do que o do pai –, falou para a gente ir atrás de algum recurso”, relata.
Gilvana conta que Maria apresentava atraso na linguagem, crises de choro difíceis de acalmar, comportamento repetitivo, além de andar na ponta dos pés e ter seletividade alimentar. No caso da filha, ela só aceitava alimentos amarelos. Segundo Gilvana, esses foram alguns dos primeiros sinais observados.
Leandro conta também que a busca por respostas começou quando sua filha passou a se incomodar com barulhos e a presença de algumas pessoas. “O barulho começou a incomodar ela demais, a presença de algumas pessoas próximas da nossa família também. Fomos atrás de especialistas, da pediatra que foi uma pessoa fundamental nesse processo. Ela não é da área, mas encaminhou para uma pessoa responsável, e foi aí que a nossa caminhada começou, quando teve o diagnóstico da Maria”, lembra.
Ele afirma que, apesar dos desafios e muitas vezes da falta de apoio e suporte, cada esforço tem valido a pena. “A gente teve que se adaptar, não a Maria se adaptar para o nosso mundo. No começo, ficamos um pouco relutantes, mas eu aprendi a amar minha filha, dou a vida por ela do jeito que ela é. Ela não tem doença, é um jeitinho diferente de ser das outras crianças. Tudo valeu a pena, eu faria um milhão de vezes tudo que a gente já fez. A nossa história não é fácil, a gente precisa ir atrás de recursos, porque o valor do tratamento é elevadíssimo. Na rede do SUS não conseguimos apoio, então, depois do diagnóstico, é uma outra realidade, a tua vida muda completamente, mas muda pra melhor”, descreve.
União
Leandro reforça que o objetivo da ação de sábado em Irati é ampliar a compreensão da sociedade, pensando no futuro das pessoas autistas. “A nossa luta é para trazer essa conscientização para o pessoal do Irati e das cidades vizinhas, que vai muito além de uma fala. A gente traz orientações, os processos que acontecem na nossa associação, mas, principalmente, a nossa mensagem é sobre o que é o autismo, pensando num futuro, no mercado de trabalho, numa faculdade, porque não há limitações, é fazer a conscientização para que as pessoas tenham a consciência de que o autismo não é uma doença”, descreve.
Desde sua criação, a associação acolhe todas as famílias que descobrem o autismo e buscam apoio. “Tem muito pai, tem muita mãe que está descobrindo o autismo, e você tem que ter uma mentalidade muito boa pra aceitar. A nossa própria presidente da associação é uma mulher autista, e segue uma vida normal, tem o seu trabalho, é mãe, é esposa, é amiga. E a associação foi criada pra esse fim, para que a gente possa receber quanto mais pessoas, para tirar o sofrimento dessas pessoas, para que a gente compartilhe junto”, detalha Leandro.
Ele destaca que com o apoio e a união de pessoas solidárias, é possível superar desafios e descobrir um mundo cheio de possibilidades. “A gente precisa aceitar os nossos filhos de como eles são, como vão ser, como vão se comportar. O amor cura tudo. Então, para as famílias que estão passando por isso que a gente passa, tenham muita fé, procurem pessoas parceiras para te ajudar. Tem muita gente de bom coração que quer te ajudar e a nossa caminhada só está começando, pois tem um mundo incrível para eles e para nós descobrirmos, todo mundo junto”, conclui.
Mais informações sobre a caminhada deste sábado e também sobre a associação podem ser obtidas através do telefone (42) 9 8881-4534; ou através da página do Instagram da associação, no @iratiteabraca