Atual presidente da associação foi reeleita para o terceiro mandato no comando da instituição. Objetivo de Bernadete é aumentar número de associados que colaboram com a entidade/Texto de Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava e Rodrigo Zub

Bernadete Joffe foi reeleita presidente da associação SOS Amigo Bicho na noite de terça-feira (28), em uma assembleia ocorrida na Faculdade São Vicente, em Irati. Ela foi reeleita para seu terceiro mandato que terá duração de dois anos. (Veja diretoria completa ao final da matéria).
Após a assembleia, Bernadete destacou que a instituição tem o objetivo de realizar novas parcerias e angariar novos associados, que possam contribuir financeiramente para o desenvolvimento de suas atividades. “Temos muita intenção de cada vez mais agregar associados para associação para que ela continue dando o melhor para os animais na compra de ração, pagamentos das clínicas [por procedimentos realizados em animais] e principalmente pensando na qualidade de vida desses animais”, disse a presidente reeleita.
Em entrevista à Najuá, Bernadete explicou que apesar ter sido caracterizada como ONG, o grupo sempre foi uma associação. Por isso, tinha limitações no recebimento de auxílios. O alto endividamento da associação também impedia que sobrevivesse sem auxílio. “A associação teria que ter sócios associados e ela deveria se manter com isso, mas quando pegamos a associação SOS Amigo Bicho, já começamos com muita dificuldade porque pegamos uma dívida de R$ 120 mil. Nós assumimos no dia 14 de janeiro de 2019, no entanto, havia dívidas desde 2013 nas clínicas e não havia nenhum atendimento mais. Isso gerou um grande desgaste para pagamento dessas dívidas e não conseguimos envolver em outras atividades que poderiam estar gerando o maior recurso. Apesar de buscar isso o tempo todo”, disse a presidente.
Outro problema enfrentado pela associação e que trouxe altos custos foi a falta de cuidados de muitas pessoas que abandonavam os animais. “As pessoas vendo como ONG, elas sempre acharam que nós tínhamos obrigação de atender todos os cachorros da cidade inteira de rua ou aqueles cachorros que as pessoas, por alguma doença, uma cirurgia, uma fratura, dizem que não são delas e não tem dono”, conta.
Atualmente, são 50 pessoas associadas a instituição, trazendo um recurso de R$ 2 mil. A associação agora busca mais associados para ter um rendimento fixo para continuar seus trabalhos. Durante a eleição foram realizados alguns cadastros, mas também é possível se cadastrar a qualquer momento com a diretoria. “A pessoa pode preencher essa ficha, mandar por WhatsApp. Vamos tentar facilitar o máximo para que realmente tenhamos um recurso mensal fixo”, disse.
Enquanto isso, as voluntárias seguem com os cuidados com os animais abrigados. Atualmente, há 120 animais abrigados no terreno doado pelo empresário Rogério Luiz Kuhn. No local, há baias onde os animais vivem. O restante dos animais continua sendo abrigado nas casas das voluntárias.

A presidente conta que a intenção é não ter um abrigo, mas os animais tiveram que ser colocados no terreno por causa de situações imprevistas. “Todos esses anos da associação SOS Amigo Bicho as voluntárias tinham seus cães em suas casas. Às vezes, em situação mais precária porque ia juntando e não tinha nem dinheiro para ração. Quando eu assumi, eu também não queria um local para ter cachorro e não queria um abrigo, mas na primeira semana do mandato, eu entrei dia 14, no dia 23, que era meu aniversário, teve o falecimento daquela senhora que deixou 39 cães e 19 gatos. No mesmo mês, nós ficamos com uma dívida de R$ 9 mil na clínica com os gatos porque não tínhamos onde levar, não tinha como soltar e não tinha para quem doar. Você veja que foram acontecendo as coisas”, conta.
Contudo, desde o ano passado, a associação não está mais recebendo animais. Bernadete explica que a recusa é porque não há mais condições de abrigar mais animais. “O nosso objetivo principal desde agosto é não recolher mais cães devido a nossa falta de infraestrutura e queremos conseguir dar alimentação para esses cães. Eu tenho encontrado muitas pessoas que estão chateadas comigo porque me mandam mensagens e eu digo: ‘Não posso recolher’, ‘não tenho como recolher’. Na minha casa tem bastante cachorro que não tem como ficar no abrigo, não tem baia sobrando e as pessoas acham que estamos de má vontade. Só que não é isso. E não é a solução da nova diretoria entrar lá e construir mais 20 baias. Não é o objetivo porque vai dar errado. Estamos vendo que não é o acúmulo de cães, o aumento da população canina num abrigo que resolve”, explica.
A presidente da associação Amigo Bicho conta que realizou um levantamento nos últimos anos que mostra o alto número de animais que precisam ser atendidos. De 2019 a 2022, o número de animais com fraturas aumentou. Em 2019, foram 16 animais fraturados e em 2020, 20 animais fraturados. Em 2021, o número teve uma leve queda com apenas 15 animais fraturados, mas em 2022, o número aumentou novamente para 21 animais fraturados.
Bernadete conta que a situação é difícil para a associação porque para cada fratura há mais de R$ 1 mil em gastos, o que endivida a associação. A dificuldade também ocorre porque muitas pessoas não assumem a responsabilidade no cuidado dos animais. “Veja o ralo que é a questão das fraturas, porque é sempre assim, não tem dono. Mesmo que o cão esteja bonito, saudável, gordinho. Não tem dono”, disse.
Outro fator é que muitos procedimentos são realizados fora de Irati, exigindo o deslocamento. A presidente conta que esse deslocamento é feito pelas próprias voluntárias e com auxílio de doações. “Combustível que eu pago. Agradecer também ao Posto Aquarius que ele nos fornece 30 litros de combustível. Já faz quase dois anos. Nós mandamos para todos os postos de Irati, somente eles que fornecem. Eu sou muito grata também à proprietária que tem colaborado”, conta.
A associação também viu os números aumentarem com as consultas para os animais. Em 2019, foram 171 consultas. Em 2020, as consultas subiram para 268 consultas e começaram ter uma queda em 2021, com 196 consultas. Em 2022, o número reduziu drasticamente para 80 consultas.
Bernadete destaca que essa redução em 2022 é resultado das consultas de emergência que começaram a ser feitas pela prefeitura de Irati, a partir da criação da Secretaria de Defesa Animal. “Diminuiu porque agora tem a Secretaria de Defesa Animal e temos comunicado muito a questão de muitos casos que tem uma licitação que algumas clínicas estão atendendo esses animais”, explica.
Entre as soluções debatidas para diminuir o número de animais nas ruas está a realização de um abrigo para animais. A presidente explica que mesmo que seja construído um abrigo, é preciso infraestrutura para abrigar os cães. “Os cachorros eles são territorialistas. A partir do momento que você chega e solta um cachorro, eles vão matar porque eles não querem mais um lá competindo. Tem que ter uma baia. Ele tem que ficar meses na baia. Tem que ter um processo de adaptação e as pessoas realmente têm essa dificuldade de entender”, explica.
Um dos resultados da discussão sobre a realização de um abrigo foi a doação do terreno do empresário Rogério Kuhn, que transformou galpões em 27 baias onde cabem até cinco cães. Os cães são abrigados de acordo com as afinidades. “Eu não posso por cães grandes com porte pequeno. Não posso pôr uma mãe gestante com filhote com outros cães. Depende a afinidade. E essas baias ficam muito limitada porque nós temos cachorros que já faz três anos que estão lá. Se você mudar esse cachorro para outra baia, ele não se adapta. Nós temos mais de 30, ou, às vezes, chega a 40, que eles não ficam mesmo com as telas em volta. Eles fogem porque cachorro de rua é assim”, conta.

O local ainda sofreu danos em algumas tempestades que trouxeram prejuízo à infraestrutura. Na primeira vez, houve danos no telhado de um galpão aviário que foi adaptado para o abrigo. A prefeitura, por meio da Secretaria de Defesa Animal, auxiliou na reconstrução do telhado. “Nesse segundo vendaval que foi maior e mais destruidor, quem nos auxiliou e deu toda a parte de infraestrutura financeira foi Instituto Garagem, com o Natan e o Murilo Pepe. Eles que patrocinaram tudo aquilo lá. Fizeram toda a parte da erguer os portões. Nós fizemos a parte também com dinheiro da Modab que também nos auxiliou com R$ 2 mil, erguemos as cercas com paletes”, conta.
Para a presidente, a manutenção auxiliou para evitar que os cães fugissem. Sobre reclamações de cães que fugiram do abrigo e que estariam atacando pessoas, Bernadete disse que há animais que não estão nas baias, mas que é preciso verificar se são os cães do abrigo ou de rua. “Esse caso, de eles estarem avançando, eu não sei exatamente se são os nossos. Tem três para fora, que se elas entrarem, os outros atacam. Elas estão para fora”, disse.
Apesar das voluntárias abrigarem cães e gatos, a presidente destaca que a solução ideal é que os animais possam ser adotados nas feiras realizadas pelo município e que não se tenha um abrigo onde o animal pode ser descartado. “Nós estamos fazendo uma campanha muito forte, as pessoas que estão acompanhando no Facebook para doação de cães. Estou muito feliz e queria agradecer a todas as pessoas que estão adotando. Inclusive, a porte grande com 40 kg a 45 kg que faziam anos que estavam conosco e agora tem um lar. É muito gratificante esse trabalho”, conta.
A presidente enfatizou que a associação não irá sacrificar animais para diminuir a população de animais de rua. “Nós só fazemos a eutanásia quando o veterinário atende, faz o Raio-x, faz ultrassom e diz: ‘Esse cachorro não tem sobrevida, você vai ter que manipular para fazer xixi, você vai ter que fazê-lo fazer cocô’. Não é viável”, disse.
Bernadete ainda destacou que a pessoa interessada em se associar terá que entender que o recurso será usado na recuperação dos animais. “A pessoa que quer contribuir, vai ter que saber que esse dinheiro vai ser muito bem usado, mas ele vai ser utilizado para reabilitação desse animal. E não vai pra rua. Pretendemos não soltar ele na rua, mas ele ter um lar. E não um lugar onde vai ficar amarrado, vai passar fome, vai ter sede. Muitas pessoas também criticam e criticavam já no começo que não doamos para qualquer pessoa. Realmente, não doamos para qualquer pessoa. Nós fazemos muitas perguntas, é muito chato. Vai atrás, liga, pede a mensagem no WhatsApp, pede foto. Por quê? Porque se for para sair de um lugar ruim, ir para um pior, então fica no ruim”, conta.
Entre os recursos recebidos pela Associação Amigo Bicho está um subsídio anual dado pela prefeitura de Irati no valor de R$ 84 mil, dividido em R$ 7 mil por mês, que podem ser usados em determinadas situações. “Tem um plano de trabalho também que é bem restritivo, então não podemos atender qualquer coisa”, disse.
Uma das situações é a castração de animais que é a aposta para diminuir a população de animais de rua. O procedimento é realizado pela associação que em 2019, mesmo sem recursos e só com o pagamento de dívidas, conseguiu fazer castrações em 210 cães e 39 gatos. Em 2020, foram 316 cães e gatos castrados. Em 2021, foram apenas dez cães castrados. “Por causa que estava a pandemia e nós não tínhamos recurso. Estávamos só pagando dívida e agora em 2022, fizemos muitas castrações para parte da comunidade. Com o recurso da subvenção, que era uma das coisas do plano de trabalho”, explica.
A castração realizada atingiu famílias com vulnerabilidade social. “Se essa pessoa não está conseguindo alimentar essa cachorra que teve dez filhotes e não intervemos com a castração, daqui a pouco ela está com mais dez filhotes. Não está tendo doação de filhotes. Temos bastante dificuldade. Pensamos muito nessa questão da vulnerabilidade social, tanto que a Nota Paraná também atendemos todas essas consultas com o dinheiro da Nota Paraná, que é um recurso público e que é a contribuição das pessoas com os impostos”, conta.
Outro projeto que pode contemplar a associação são as castrações que o município realizará em parceria com o Centro Universitário Campo Real. “Os animais da associação não fazem parte dos animais de rua, mas nada impede que no novo projeto a partir do momento que todos os animais de rua estejam com suas castrações em dia, os animais do abrigo sejam castrados. Nós já desenvolvemos um trabalho por meio da subvenção da prefeitura que é justamente na questão de vulnerabilidade social e das famílias de baixa renda que vamos castrando as fêmeas para que não tenham novos filhotes e não aumentem a demanda de animais em nossa cidade”, disse Bernadete.
Para que o recurso da Nota Paraná seja revertido para a associação, é preciso que pessoas cadastrem as notas recolhidas em supermercados para o sistema. “Nós precisamos muito de mais cadastradores porque nós temos até alguns locais que conseguimos que as pessoas disponibilizassem os cupons fiscais, mas ainda estamos com falta de cadastradores. Qualquer pessoa pode pegar o seu celular, abrir lá na Nota Paraná, colocar a sua senha e colocar ‘Doar Notas’, passar o leitor e doar para nós. Lá vai pedir o CNPJ ou tem uma listinha de causa animal que vai aparecer o nosso CNPJ”, explica a presidente da associação.
Entretanto, o valor não cobre todas as despesas. “Nós recebemos dois meses posterior, e veio R$ 6 mil. Nós só vamos conseguir comprar a ração. Só. Esse mês, por exemplo, já pagamos 3.325,00 da ração. Vamos pedir mais de R$ 2 mil em novos sacos e não vamos conseguir pagar nenhuma clínica esse mês”, conta.
Além do subsídio, a prefeitura também disse no ano passado que iria doar outro terreno para a associação, mas ainda não há previsão se o local poderá ser usado pelas voluntárias. “Se chegou a fazer um projeto, mas nós não tivemos mais retorno. Soube que é uma área federal que não poderá ser construída, mas não tive nenhum retorno da prefeitura a respeito disso. Foi uma informação extraoficial. Quanto ao chalé que nós chamamos, que é o local onde armazenamos nossos produtos para doação, foram duas vezes fazer as medições, conferir o espaço. No entanto, não tivemos nenhum resultado a respeito disso. Por causa disso também, não estamos fazendo os bazares devido ao acúmulo de coisas que nós temos que estão embalados”, explica.
Confira abaixo como ficou a diretoria da Associação SOS Amigo Bicho:
Presidente: Bernadete Joffe
Vice-presidente: Camila Biranoski
Secretário: Sandra Mara Campos
Segundo secretário: Maria do Socorro Souza
Tesoureiro: Josivânia Rolim de Moura
Segundo tesoureiro: Layla Oliveira
Diretor social: Bárbara Jagiello Ramos
Conselho fiscal
Relator: Vânia Rosetto Marcelino
Membro: Zélia Joffe
Membro efetivo: Leandro Rodrigues da Silva
Relator suplente: Pâmela Cristine Barbosa
Membro suplente: Ana Lúcia de Oliveira da Silva
Membro suplente: Vera Lúcia Alessi