Raíssa Negroni usa experiência com os trabalhos de malabares em semáforos para explorar arte urbana em Irati/Texto de Karin Franco, com entrevista realizada por Juarez Oliveira
O curta-metragem “Horizonte Interior” pretende explorar o espaço da arte urbana realizada em Irati. A obra é produzida pela artista de rua, Raíssa Negroni, que usa a sua própria experiência com malabares em semáforos para fazer um contraponto sobre arte, turismo, cidade e expressões culturais no município.
O curta-metragem é um dos projetos contemplados com recursos da Lei Paulo Gustavo em Irati.
A produção será uma continuação de uma amostra virtual que aconteceu na pandemia da Covid-19, em 2020. Sem poder trabalhar, artistas de cidades do interior do Paraná e de Minas Gerais se reuniram para filmar suas experiências com as artes urbanas.
O resultado foi a mostra de videoartes “Cidades Distantes Horizontes Interiores” que registra o trabalho de artistas de rua de Irati (PR), Faxinal (PR), São João Del Rei (MG) e Ubá (MG). A mostra ainda traz o trabalho feito por artistas de rua nômades. A exposição virtual foi uma produção de Arena Cultura e Circronicas Produtora.
Em entrevista à Najuá, Raíssa disse que o lançamento do edital Paulo Gustavo a motivou a dar continuidade no projeto. “Eu vi dentro do edital da Lei Paulo Gustavo, a oportunidade de poder refazer esse trabalho porque fizemos de uma maneira sem nenhum recurso. Fizemos com o celular. Eu mesma cheguei a editar o vídeo. Eu vi nesse edital do Paulo Gustavo, a oportunidade de refazer esse trabalho, tendo um pouco de financiamento, ampliando as minhas questões técnicas e melhorando a minha própria linguagem artística”, conta.
Ouça a entrevista completa com Raíssa abaixo
No curta-metragem, a artista busca contrapor as diferentes realidades do município. A obra mostra Irati e seus pontos turísticos, junto com sua arquitetura, vivências e tradições de seus cidadãos, mas também explora lugares subjetivos da artista e de outros moradores da cidade.
Um dos meios de debater esses assuntos é questionando os usos de espaços públicos e a relação com a arte urbana. “Como que pensamos o espaço público e consumimos o espaço público, a partir de outras ideias. Como que valorizamos outros lugares, que não são necessariamente aquele espaço público. Quando eu estou falando de arte de rua, estou falando também sobre imigração, estou me conectando com pessoas que estão viajando e estão consumindo o espaço público, de uma maneira também um pouco diferente”, explica a produtora.
A ideia do projeto é poder trazer a experiência de artistas nômades que fazem um trabalho de rua nos semáforos de Irati. “Eu pretendo fazer esse contraponto, do espaço público e do espaço turístico, com os lugares onde eu acabo acessando na cidade, que não são necessariamente conhecidos, bem vistos ou necessariamente espaços turísticos. Tentando fazer esse contraponto dos lugares e dos não-lugares. O espaço público que é bem visto, quanto aquele espaço público que também é marginalizado ou aqueles espaços que são até mesmo precarizados”, analisa.
Raíssa diz que os artistas de rua sentem necessidade de valorização. “Ele é um trabalho extremamente marginalizado. Você tem dois lugares e dois tipos de público. Tem um público que vai achar muito legal o que você faz, o que eu faço, o que os meus colegas fazem. Tem um outro grupo que vai achar isso extremamente desnecessário. Vai precarizar ainda mais o trabalho, vai botar um olhar negativo no que fazemos. Existe essa marginalidade”, disse.
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No curta-metragem, a artista quer trazer essa experiência de como a arte de rua é vista em Irati. “O semáforo para mim é um lugar muito próximo do grafite. Um lugar onde a arte fica numa fronteira. É demarcado uma fronteira. Ir para o sinal, é ir para um lugar de fronteira, para mim. É um lugar onde tudo é questionável, tudo fica muito aberto. Nós temos muitas dessas visões. Tem um olhar muito pejorativo, negativo e precário. Tem um outro, que é muito legal também, tem as crianças que gostam muito do que fazemos, tem famílias que nos acolhem muito bem. Tem essas duas coisas”, conta a produtora.
Para abordar todos esses assuntos na obra, a artista vai usar as suas próprias experiências com a arte urbana. A intenção é propor uma linguagem que mude a realidade com um relato mais poético sobre os artistas de rua. “Eu construo uma narrativa sobre a minha própria vida e sobre a minha carreira profissional, que perpassa esse lugar de como eu vejo a rua, como eu vi os artistas de rua, como eu fui para esse lugar. Ele tem algumas coisas que são mais fantasiosas, que são minhas, que fazem parte de um universo poético que é meu, que eu não, necessariamente, compartilho com todos os outros artistas. Estou tentando botar essas referências que são só minhas, que são só o que eu vi na arte de rua, que só eu vejo nos malabares. Quando eu estou lá na faixa de pedestre, jogando com os meus brinquedos, tem alguma coisa, na minha visão, sobre mim mesma, que se descola da própria realidade”, afirma Raíssa.
A previsão de estreia do curta-metragem “Horizonte Interior” é no fim do segundo semestre, no mês de novembro. O curta deverá ser exibido no YouTube e outras mídias sociais. O planejamento inclui lançamento no fim do ano e exibição do curta-metragem em escolas, junto com a mostra de videoartes “Cidades Distantes Horizontes Interiores”, feita com artistas do Paraná e Minas Gerais.
O curta-metragem ainda está em fase de produção e as gravações iniciam neste mês. Mais informações no perfil da artista no Instagram, @raissartinprogress.