No Colégio Antônio Xavier da Silveira e na Escola Estadual Trajano Gracia, desocupações ocorreram de forma pacífica
Paulo Henrique Sava
Após o juiz substituto da Comarca de Irati, José Guilherme Xavier Milanezi, expedir uma liminar solicitando a reintegração de posse das escolas de Irati e Inácio Martins que estavam ocupadas, os estudantes obedeceram à decisão judicial. As desocupações nos colégios estaduais Antônio Xavier da Silveira, na área central, e Trajano Gracia, em Engenheiro Gutierrez, ocorreram na tarde desta quinta-feira, 27.
Grupos de alunos, pais, acadêmicos e professores se reuniram em frente às escolas para protestar contra a decisão da justiça.
Nas duas escolas, as direções, em parceria com a Patrulha Escolar Comunitária e as APMF’s, fizeram vistorias para avaliar se houve algum dano ao patrimônio das instituições. No Colégio Antônio Xavier, foi constatado que grande parte dos cadeados de portas e portões estava danificada ou havia sido trocada. O restante das instalações estava em perfeitas condições. Na Escola Trajano Gracia, houve um princípio de incêndio, o que acabou destruindo uma cortina de uma das salas de aula. Os estudantes alegam que o incêndio foi criminoso. Nas demais salas, as instalações estavam em ordem. A Polícia Civil também realizou vistorias nas duas instituições.
A aluna Estéfany Cristina Correia Custódio, uma das líderes do movimento de ocupação do Colégio Antônio Xavier, comenta que, durante os dias da ocupação, houve repressão, mas os alunos resistiram. Houve momentos de discussão e de reconciliação entre os estudantes. Estéfany relata que os manifestantes tiveram uma aprendizagem política e de cidadania. “Isso conta muito. Foram dias sem aula, mas que irão recompensar, porque este movimento está realmente incomodando o governo e tentando pressionar, mas a gente vai resistir”, destacou.
Segundo Estéfany, o próximo passo do movimento é viajar até Brasília, para prosseguir com a luta pelas reivindicações dos alunos. “Hoje, estamos desocupando, mas nada impede de voltarmos ainda com mais força. Nossa luta não parou, mas ela está apenas começando”, frisou.
Sobre as reivindicações dos alunos, a estudante considera que a reforma do Ensino Médio, da maneira que foi proposta pelo Governo Federal, é absurda. “O governo cria condições de itinerários, para começar. Vai ser mais difícil o acesso de pessoas do campo e de indígenas, que já têm dificuldades de acesso as escolas, e até de pessoas de cidades pequenas como Irati”, relata.
Estéfany acredita que a PEC 241 é contraditória até mesmo na reforma do Ensino Médio. “Se a reforma precisa de investimentos, a PEC corta, principalmente na educação, na saúde e na assistência social. O que o governo está propondo é um absurdo, existem outras medidas. O dinheiro deve ser controlado sim, mas não desta forma, cortando do que já é mínimo. Estamos lutando apenas para assegurar os direitos que já estão garantidos na Constituição”, comentou.
Ocupação na Escola Trajano Gracia
Na Escola Trajano Gracia, um grupo de alunos, que preferiu não se identificar, disse que o estopim para a ocupação da escola foi o princípio de incêndio que ocorreu na noite de domingo, 16. Do sinistro, houve danos em uma cortina e uma TV pendrive de uma das salas do Ensino Fundamental. Os manifestantes alegam não terem sido eles os causadores do incêndio. A pintura da parede de uma das salas também teria sido refeita pelos próprios alunos.
“A gente resolveu ocupar e mostrar que estamos juntos na luta pela educação, e que não estamos aqui para promover vandalismo ou invadir a escola, mas sim para ocupá-la”, declarou uma das alunas.
Segundo o grupo, os manifestantes realizaram diariamente a manutenção da escola, mantendo as salas em boas condições. Os alunos alegam que seus direitos vinham sendo atacados no dia a dia. “A gente não quer esta reforma, e não queremos a PEC, que vai acabar com a educação e com a saúde, e com a MP, vai acabar mais ainda. A escola, muitas vezes, não tem estrutura nem para as aulas normais, e agora eles [Governo Federal] querem ensino integral com a PEC, que vai congelar investimentos na educação e na saúde. Não vai ter como aprovar a MP com os investimentos congelados”, declarou.
Uma estudante, que também não se identificou, afirmou que a luta dos alunos deve continuar do lado de fora dos colégios. “A gente vai continuar até que o governo se acorde e perceba que isto que ele quer fazer não é o melhor para todo mundo, e sim o pior”, frisou.
De acordo com o grupo, cerca de 20 alunos participaram da ocupação, informação confirmada pela direção da escola. Os alunos afirmaram que todo o grupo estava presente no momento da desocupação, informação contestada pelo diretor da escola, Carlos Gutervil. Ele comenta que o grupo de manifestantes havia sido engrossado por acadêmicos e professores da Unicentro, além de pais e pessoas da comunidade favoráveis e contrárias ao movimento.
O diretor afirma que, durante os dias da ocupação, a situação transcorreu com muita tranquilidade, inclusive durante a desocupação. “Encontramos a escola funcionando com todos os seus ambientes dentro da normalidade, e está tudo tranquilo com relação a esta questão”, frisou.
“Vivemos um processo democrático dentro da escola, respeitamos a manifestação dos alunos durante todo este tempo, não houve intransigência, foi tudo pacífico da nossa parte. Temos a situação de greve de alguns professores e outros que irão trabalhar normalmente”, destacou.
A diretora do Colégio Antônio Xavier, Maria Amélia Ingles, comenta que encontrou a escola bem cuidada e com apenas alguns cadeados que foram danificados ou trocados. “Eles fazem as manifestações, inclusive fizeram uma recepção ‘calorosa’ para a diretora, mas em nenhum momento eu fiquei triste com isso, muito pelo contrário, eu acho que eles têm o direito de se manifestar. É um direito deles, assim como é o meu, como representante da escola, de vir para fazer a vistoria e todo este processo”, frisou.
Retorno as aulas
Nas duas escolas, as aulas recomeçam nesta sexta-feira, dia 28, em horário normal. Na próxima semana, os horários deverão ser revistos por conta da greve de parte dos professores da Rede Estadual.