Santa Casa de Irati e o Pronto Atendimento da Vila São João não possuem leitos disponíveis. Novos casos de internamento para Covid-19 entrarão na Central de Leitos e poderão ser transferidos para outros municípios/Karin Franco, com reportagem de Rodrigo Zub e Paulo Sava
Imagem de ambulância no Pronto Atendimento Municipal. Foto: Luciane Batista |
Com o aumento de internamentos de pessoas diagnosticadas com coronavírus nesta semana, a Santa Casa de Irati e o Pronto Atendimento da Vila São João não possuem leitos disponíveis. Na tarde desta quarta-feira (28), o município de Irati tinha 37 pacientes internados, sendo 11 em enfermarias, dez em UTIs e 16 no Pronto Atendimento da Vila São João. Os dados são do sistema de monitoramento da Secretaria de Saúde de Irati (Ecovid).
De acordo com o coordenador do Centro de Operação Especiais e Fiscalização (COEF), Agostinho Basso, o município atingiu seu limite. “As coisas não estão boas. É visível tudo isso. Estamos fazendo realmente o que é possível, mas tudo tem um limite de capacidade, aonde chegamos neste limite de capacidade”, conta.
O coordenador explica que os casos aumentaram após o feriado de Páscoa, onde muitas pessoas viajaram e fizeram reuniões familiares. “Isso veio como fruto, e nós já esperávamos esse aumento no número de casos, em decorrência para a saída para as compras da Páscoa, do domingo de Páscoa que teve toda a questão de encontro familiares, que acabaram acontecendo. Pessoas que viajaram, receberam visitantes e tudo isso fez com que a gente acabe esse aumento do número”, disse.
O prefeito de Irati, Jorge Derbli, destacou que o aumento de casos sobrecarregou os sistemas de saúde. “Mas em Irati houve essa alta esses dias que nos surpreendeu. 37 pessoas internadas hoje. Nós temos muita gente. Nós tínhamos uma média de cinco, seis, sete pessoas lá no Pronto Atendimento, agora chegamos a 17. E não temos estrutura necessária no pronto atendimento”, comentou Derbli.
Mesmo com o aumento de casos, o prefeito garantiu que o comércio não deve ser afetado com um novo decreto. O decreto que está vigente atualmente termina na sexta-feira (30) e deve ser prorrogado. “Eu fechar a cidade inteira de Irati não resolve porque todos os municípios em torno estão abertos. Ou nós fechamos tudo ou não fechamos nada. A minha opinião é mais radical agora. Não adianta eu fechar o município de Irati e o pessoal nosso aqui ir para lanchonete de outros municípios em torno, ou ir em outros supermercados. É um desespero na população quando fecha no fim de semana. Então, eu tomei a seguinte decisão que não vamos fechar. Vamos fiscalizar e pedir consciência das pessoas”, disse o prefeito.
Agostinho explica que o COEF tem observado, por meio dos monitoramentos feitos com pessoas infectadas, que a contaminação está acontecendo nas atividades recreativas. “A grande maioria nos relata que se contaminaram em festas de famílias, em aniversários, jantares, confraternizações, ou foi através de uma pescaria que foi e ficou junto com mais pessoas. Ou seja, daquilo que se faz depois do horário de trabalho. No horário de trabalho é um trabalho controlado, tanto no comércio, como no mercado, quanto na indústria. Ali tem um gerente que está sempre de olho, os próprios colegas ficam fiscalizando e tudo mais. O problema é que sabemos que as pessoas saem depois do trabalho e vão num bar e no bar não usam máscaras. Todo mundo fica aglomerado. Nós sabemos das pescarias dos finais de semana. Nós sabemos das festas clandestinas ou não”, disse Agostinho.
Segundo ele, como os municípios da região não tem tomado as mesmas atitudes, muitas pessoas se deslocam para outras cidades. “Nós não vemos que o fato de Irati acabar restringindo algum segmento vai melhorar significativamente esses números. Até porque tivemos como experiência que somente Irati tomou certas atitudes. Os demais prefeitos da Amcespar, ou é feito com os dez municípios, ou senão não surge aquele efeito realmente esperado e acaba penalizando, de certa forma, a economia e as finanças do município que também é importante”, afirma.
O coordenador destaca que o município tem realizado fiscalizações desde o ano passado, mas há dificuldades operacionais. “Nossa Guarda Municipal tem um efetivo reduzido. Polícia Militar tem nos ajudado muito, a Vigilância Sanitária. Mas nós não temos como estar ao lado de 60 mil pessoas porque é o que Irati tem, 61 mil pessoas. As pessoas acabam se reunindo por exemplo, no interior, nas cachoeiras, se reunindo em ambientes fechados. Nós tivemos um bar aqui da cidade que estava com ambiente fechado, solicitou que os usuários deixassem o carro bem longe”, contou.
Agostinho ainda destacou que pessoas que vão a esses lugares podem prejudicar inclusive colegas de trabalho. “Quem sai no final de semana ou depois do ambiente de trabalho e vai para esses lugares, ele acaba contaminando a esposa, que trabalha numa empresa, trabalha numa loja. Nós tivemos uma loja de confecções que tiveram um surto dias atrás. Origem aonde? Origem de uma saída no final de semana”, explicou Agostinho.
Sem leitos para novos casos, os pacientes que precisam de internamento entram na Central de leitos do Estado do Paraná, onde serão transferidos para outros municípios.
O prefeito de Irati disse que o município está em seu limite de atuação e que não há possibilidade de compra de equipamentos porque há falta de produtos. Além disso, com a compra de equipamentos, é preciso contratação de equipe especializada, que também está em falta no mercado. A mesma situação acontece com as vacinas, onde os municípios não possuem autorização para compra e há falta no mercado internacional para a compra pelo Governo Federal. “O problema nosso não é dinheiro, tanto é que eu já falei que tenho R$ 3 milhões guardados para a compra das vacinas aonde tem vacina, onde está vendendo? Já vacinamos 8.700 pessoas em Irati, isso dá em trono de 14% [da população]. Nós estamos dentro da média. A vacina chegou e é imediatamente aplicada. Agora não podemos comprar mais. Que bom seria que pudesse vacinar umas 40, 50 mil pessoas aqui no município”.
Derbli ainda mencionou que no ano passado, o município reforçou o sistema de saúde local. “O município de Irati, através da prefeitura, nós adquirimos três respiradores no ano passado e também mandamos arrumar nove respiradores que estavam na Santa Casa que tinham algum tipo de problema. A prefeitura fez o aporte financeiro para arrumar esses respiradores. Compramos também cinco monitores e mais bombas de infusão que é necessário para as pessoas internadas na UTI. Na época, adquirimos o necessário para suprir a necessidade da Santa Casa, onde foi aberto mais aqueles quatro, cinco leitos de Covid”, contou.
Outros dois respiradores também foram colocados no Pronto Atendimento da Vila São João. “Quando houve a superlotação na Santa Casa nós destinamos uma ala do Pronto Atendimento da Vila São João específico para cuidar do Covid. São 15 leitos, onde são 13 de enfermarias e dois onde a gente consegue entubar as pessoas, mas por um curto período, porque no Pronto Atendimento da Vila São João, nós não temos uma UTI. Seria um internamento por curto período até abrir uma vaga aqui na Santa Casa ou em qualquer outro hospital do estado do Paraná”, relata.
O prefeito relatou que o Poder público está fazendo o possível, mas é preciso que a população colabore com distanciamento social e medidas de prevenção, como uso de máscaras e álcool em gel. “Estamos fazendo o que nos podemos, só que infelizmente, é muita gente que está sendo contaminada e não tem condição”, disse.