Municípios da região discutem a possibilidade de realizar um consórcio para produzir o plano de arborização/Texto de Karin Franco, com reportagem de Paulo Sava
Representantes dos municípios da região participaram de uma reunião na quinta-feira (31), na sede da Amcespar, em Irati, para discutir a realização de planos municipais de arborização. A intenção é que os municípios que ainda não conseguiram elaborar o plano, possam se reunir para concretizar o projeto.
O plano municipal de arborização é uma exigência do Ministério Público que tem cobrado as prefeituras. Em Irati, o plano já foi realizado pela equipe técnica da prefeitura. Já em Mallet, o plano está sendo realizado pela empresa Ideal Ambiental.
De acordo com o engenheiro ambiental da empresa, Luis Guilherme Vieira, municípios menores tem dificuldade de elaborar o plano e ter uma equipe que possa acompanhar o projeto. “Muitos municípios de pequeno porte não tem a capacidade técnica e financeira para poder tocar esse plano depois. O consórcio é uma saída para isso. Os municípios podem unir esforços, unir recursos também. Quando você faz uma divisão entre mais de um município, você consegue reduzir custos e, com isso, ter uma capacidade técnica e financeira muito maior para poder executar esses planos”, conta.
Em Mallet, a prefeitura começou a fazer o plano, mas por dificuldades técnicas, precisou contratar uma empresa para realizá-lo. O investimento foi de R$ 35 mil. “É importante destacar que o município já tinha começado a fazer um plano. Mas devido a carências técnicas, não foi possível a finalização. Nós entramos para refazer todo o levantamento e adequar o plano ao termo de referência disponibilizado pelo Ministério Público”, disse o engenheiro ambiental.
O projeto desenvolvido em Mallet foi apresentado pela empresa no encontro com representantes dos municípios na Amcespar. Além de mostrar como o projeto foi desenvolvido e como o plano pode ajudar as prefeituras, a equipe da empresa realizou um pequeno treinamento ao final da tarde com os participantes para demonstrar como são realizadas as medidas e análises de árvores em risco. O encontro contou com representantes dos municípios de Inácio Martins, Rebouças e Fernandes Pinheiro, além de Irati e Mallet.
Luis Guilherme explica que a elaboração do plano é importante para que os municípios saibam como planejar a arborização na área urbana. “O plano de autorização faz um levantamento de todas as árvores localizadas em um espaço público do município, ruas, calçadas, praças, parques e propõe medidas de melhorias. Quais são as mudas mais indicadas para serem implantadas naquele município, quais são as árvores que estão com risco de queda, que precisam ser substituídas, árvores exóticas invasoras que precisam ser retiradas. Todo esse conteúdo está disponível para a população, mas é muito importante que os técnicos da prefeitura saibam como utilizar e como atualizar esses dados depois”, explica.
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São necessários de seis a oito meses para realizar o plano de arborização, incluindo o tempo de levantamento de dados, como a identificação de todas as espécies de árvores. O analista de geoprocessamento, Rodolfo Ayub Virmond, conta que a equipe também realiza o mapeamento de solo e clima. “É muito importante, no início dos trabalhos, fazer um mapeamento da região, como o solo, o clima, o relevo. Todos esses mapas vão dar um indicativo de quais as espécies que são mais indicadas. É muito importante a parte final do trabalho, onde eu faço os mapas com o levantamento das árvores, quantas árvores devem ser substituídas, quantas devem ser podadas. Basicamente os mapas são o início e o final do trabalho”, disse.
O plano ainda traz as características do município. “Buscamos compreender muito bem o bioma em que o município está inserido. Nós buscamos espécies de árvores nativas, antigas, antes da mancha urbana aparecer para que possamos deixar esse ambiente mais natural possível. Buscamos as características da região para ficar um trabalho perfeito”, comenta Rodolfo.
O plano de arborização indica para a população quais espécies de árvores devem ser plantadas no município. “Essa questão da escolha da espécie mais adequada, tem que levar em consideração os equipamentos urbanos, como a rede de fiação elétrica, rede de esgoto e o porte das árvores. Se é uma rua que tem fiação elétrica, nós temos que escolher uma espécie que tenham crescimento pequeno para não entrar em conflito com fiação”, explica o engenheiro florestal, João Paulo Prutz.
Em Mallet, um município com pouco mais de 13 mil habitantes, foram identificadas 3.688 árvores. Para os especialistas, o número de árvores é bom, mas ainda é possível plantar mais espécies. “As principais espécies presentes em Mallet foram aroeira salsa, muito comum na região, a alfeneiro, o jerivá, algumas espécies de canelas. Estamos propondo outras espécies como, por exemplo, os Ipês. Ipê amarelo, ipê roxo, extremosa. São as principais. Sempre tem que pensar no porte delas e aonde que elas vão ser introduzidas”, explica João.
Também há as chamadas espécies exóticas invasoras, que devem ser substituídas. “Elas podem ser plantadas, mas tem algumas como, por exemplo, pinos e o alfeneiro estão na lista do IAT [Instituto Água e Terra], o Instituto Ambiental do Paraná [antigo IAP], como espécies invasoras. Aos poucos elas devem ser substituídas por outras espécies. Podem ser exóticas não invasores ou, de preferência, nativas”, conta o engenheiro florestal.
Em Irati, o plano de arborização realizado pela prefeitura já foi apresentado para o Ministério Público em 2021. “Este ano ele retornou para a prefeitura e para a Secretaria do Meio Ambiente com algumas recomendações às quais já foram realizadas e o plano já retomou para segunda avaliação pelo Ministério Público, pela Câmara Técnica”, conta a secretária de Meio Ambiente de Irati, Magda Adriana Lozinski.
Com a aprovação do Ministério Público será possível seguir o cronograma de arborização proposto pelo plano, que contempla atividades até 2030. “Ele contempla tanto o plantio de novas unidades de árvore, como também, diante do inventário florestal que foi realizado no município, a supressão de árvores que estão condenadas através de uma avaliação realizada no diagnóstico, as substituições e o plantio de novas espécies”, explica a secretária.
O plano traz regras para que a população tenha conhecimento de como realizar os plantios. “Esse plano vai trazer também para a população aquelas regras que dificilmente estão transparentes ou são publicadas. Qual é a distância que ele pode plantar da calçada, da pista de rolamento de uma via. Embaixo da fiação vai sugerir espécies de acordo com aquela localização. A questão, não só dos equipamentos urbanos, mas também se tem a presença de rede de água e esgoto na calçada. O tipo de árvore que deve ser plantada, devido à raiz poder trazer algum tipo de dano. Vai ser um plano que vai poder trazer bastante informação para a população em relação à espécie correta para o plantio daquela região, daquela residência, daquele bairro”, afirma Magda.
O engenheiro ambiental, Luis Guilherme Vieira, destaca que essa participação da população é importante para que o plano seja efetivo. “As espécies que foram recomendadas pelo plano de arborização devem ser seguidas também pela população, quando ela quer fazer um plantio dentro do seu lote, por exemplo, para questão ornamental ou justamente para ter um jardim, uma área um pouco mais agradável dentro do seu lote. Ao invés de plantar árvores, com espécies exóticas e invasoras, o que não é recomendado, pode se utilizar toda essa listagem desenvolvida pelo plano de arborização”, conta o engenheiro.
A recomendação também é válida para os plantios em frente às residências. “Pessoas que muitas vezes tem uma iniciativa de querer fazer um plantio em frente à sua calçada, ela deve consultar o plano de arborização, porque ela pode ter uma iniciativa boa, só que pode causar algum problema sério futuramente. Se eu plantar uma árvore que seja de grande porte numa área de calçada, que tem uma largura pequena ou que esteja embaixo de fiação elétrica, futuramente quando essa árvore se desenvolver, ela pode causar transtornos para a população. Sempre é importante ter esse alinhamento e a população conhecer o plano de arborização”, explica Luis Guilherme.
Os impactos positivos da arborização na área urbana são diversos, segundo o engenheiro ambiental. “Com relação, por exemplo, ao microclima daquela cidade. Quando você tem uma quantidade grande de ar, você tem mais sombreamento. Em dias de sol, ao invés de caminhar com o sol forte, quando você está caminhando embaixo das árvores o clima fica muito mais agradável. Indiretamente, as árvores, acabam auxiliando, por exemplo, no controle da erosão do solo e na questão das enchentes. As árvores acabam absorvendo essa água da chuva e diminuindo um pouco o escoamento superficial dessa água, reduzindo o tempo que essa água chega até o final da bacia hidrográfica. Então, a vazão de pico acaba diminuindo, facilitando e diminuindo também a questão das enchentes e alagamentos que ocorrem no município”, disse.