Luana Ribeiro, de 16 anos, embarcou no sábado para a Nova Zelândia, onde ficará seis meses cursando o Ensino Médio do país, por meio do programa estadual “Ganhando o Mundo”/Texto de Karin Franco, com entrevista de Paulo Sava

A estudante Luana Ribeiro, de 16 anos, viajou no sábado (01) para a Nova Zelândia, por meio do programa estadual de intercâmbio “Ganhando o Mundo”. Aluna do Colégio Estadual Antonio Xavier da Silveira, em Irati, Luana ficará seis meses no país estrangeiro onde fará aulas do ensino médio do país, na escola Cullinane College High School, na cidade de Whanganui.
Em entrevista à Najuá, Luana contou como estava sua expectativa antes da viagem. “Todo mundo me diz que quando eu chegar lá vai ser um choque de cultura, mas eu acho que isso é muito importante para o crescimento pessoal, porque muitas vezes vivemos numa bolha, achando que é só a nossa cultura que existe. Mas precisamos expandir o horizonte e saber que existe nova religião, novas comidas, novas músicas, novas pessoas e tudo novo”, conta.
Critérios para participar do programa
A participação começou no 9º ano, do Ensino Fundamental, quando Luana começou a se preparar para preencher os requisitos do programa do Governo do Estado. O programa exige que o aluno tenha média iguais ou superiores à nota 7 nas disciplinas e ter frequência nas aulas de igual ou superior a 85%.
O programa é destinado exclusivamente a alunos que tenham cursado do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental em escolas estaduais e que também estejam cursando a 1ª série do Ensino Médio em escola estadual. A idade mínima para participar é de 14 anos e a máxima de 17 anos e 6 meses. Estudantes de famílias que recebem o Bolsa Família também possuem vagas reservadas.
Com os requisitos cumpridos, Luana se inscreveu no programa e conseguiu uma vaga das 200 disponibilizadas para ir à Nova Zelândia. Ao todo, o programa ofereceu nesta edição 1.200 vagas para intercâmbio em diversos países. Além da Nova Zelândia, 200 estudantes viajam para a Austrália, 500 para o Canadá, 150 para a Irlanda e 150 para o Reino Unido.
O intercâmbio é custeado pelo Governo do Estado que auxilia nas questões burocráticas como aquisição de visto e passaporte. Enquanto isso, o estudante também pode fazer sua própria preparação. “A minha preparação começou desde que eu fui selecionada. Só que quando me selecionaram, eu pensei: ‘É algo distante, ainda vai demorar para acontecer’. Mas quando me dei conta, era mês que vem, na semana que vem e agora chegou a hora de viajar. Está passando muito rápido. A minha preparação está sendo emocional, tentando aproveitar cada momento com a minha família, com os meus amigos, porque eu sei que quando eu estiver lá, eu vou sentir muita saudade, então para mim, a maior preparação está sendo emocional”, conta Luana.
Onde os alunos permanecem?
Os alunos que vão para o intercâmbio cursam seis meses ao equivalente ao Ensino Médio no país e moram em casas de famílias, as chamadas host family, onde compartilham da rotina familiar daquele país. As famílias são selecionadas para receber os estudantes. “Cada país tem um cadastro com uma agência. A agência separa a família para se adaptar com a gente. Eles tentam separar uma família que seja mais parecida o possível com a gente, só que às vezes não ocorre. Infelizmente, pode não ocorrer. Mas de qualquer forma, são pessoas muito preparadas, então a agência escolhe e a família entra em contato com a gente. A minha host family é um casal de pessoas aposentadas. Eles têm filhos, só que eles não moram junto porque os filhos já são casados, mas eles se reúnem a cada quinzena com os filhos e ela disse que estava ansiosa para me levar para os jantares de família”, disse.
Ter a convivência em uma casa de família também foi uma das características que fez com que os pais de Luana confiassem no programa. “Eu sou muito grata pelos meus pais, eles sempre me apoiaram em tudo e sempre disseram que eu ia voar muito longe. O meu pai, confesso, que ele está mais nervoso que a minha mãe, porque ele sempre foi mais protetor, mais seguro. A minha mãe sabe que vai dar tudo certo, mas a partir do momento que começamos a explicar para o meu pai que não são quaisquer pessoas que vai receber a gente, que a família, a host family que vamos ficar na casa, é uma pessoa muito selecionada e então ele está tentando ficar mais tranquilo”, explica.

Além do preparo emocional e burocrático, Luana também tem preparado o seu conhecimento de inglês. “A conversação está no dia a dia porque tivemos acesso a uma plataforma de inglês onde conseguimos conversar com professores filipinos, eles são nativos. Para mim, o que mais me ajuda é realmente as aulas ao vivo, porque é ali que você precisa pensar rápido, responder rápido e entender o que a pessoa responde de volta. Também eu acho que o que me está fazendo me preparar muito para o inglês é pensar que tudo que acontece agora, eu preciso pensar em inglês. Por mais que eu não precise responder em inglês na hora, tudo que acontece, eu preciso pensar em inglês”, disse.
Este é o segundo ano que o Colégio Xavier tem estudantes selecionados no programa. Para a diretora do colégio, Maria Amélia Ingles, o programa é uma forma de incentivar os alunos. “Na minha visão é um dos programas que mais incentiva os alunos hoje, no nono ano, a focarem nos estudos. Por quê? Porque eles têm que estudar no nono ano e eles são selecionados no primeiro ano. Eles têm que estar no nono ano muito focados, que eles querem esse objetivo, e aí faz com que eles estudem mais, queiram mais. E no primeiro ano do Ensino Médio eles são selecionados”, conta.
Formas de inscrição
Para participar do programa, é preciso que a família inscreva o aluno no site do governo. “Sempre que sai o edital, nós divulgamos em todas as salas dos nonos anos. Mas a inscrição é feita pela família e pelo aluno. A escola vai fornecer o que for necessário para que eles possam viajar depois. Mas a inscrição é feita com autorização dos responsáveis legais e é feita em casa, pelo aluno ou até no colégio. Se precisar, nós emprestamos os computadores do colégio, a internet do colégio. Mas eles precisam fazer junto com os pais, para que os pais leiam o edital e saibam como funciona”, explica a diretora.
Após selecionado, o estudante passa a ter auxílio da escola e do Governo do Estado para a preparação da sua viagem. “Depois disso é feita a seleção e divulgado o edital de seleção dos que entraram no critério das vagas. A nível de Paraná, é divulgado e depois vem a documentação. Essa fase que comentávamos sobre a documentação, que a Lise ajudou bastante, que a escola fornece. Fornecemos para eles, conforme o Estado do Paraná orienta, um notebook ou um netbook para que eles levem para que possam utilizar lá como estudantes. Tem todo um aparato feito para que esse jovem vá com uma qualidade também desse trabalho, desse intercâmbio para que não tenha nada que aconteça errado”, conta.
Maria Amélia ainda destaca que os alunos que participam do programa precisam apresentar um projeto ao retornar ao país. “Eu estou muito feliz com a Luana, que será a nossa segunda representante no ‘Ganhando o Mundo’, nesse programa tão interessante e ela traz para nós uma bagagem muito grande. Depois que eles voltam, a parte mais legal é essa. Quando eles voltam, eles têm que passar para nós os conhecimentos que adquiriram. Eles têm que fazer palestras, eles têm que fazer um projeto para poder contar para os colegas aqui na escola. Como é que foi essa vivência? Como é sair de um país que fala o português, chegar em um país que fala o inglês e ter que se adaptar? Ter que aprender? Ter que conhecer a cultura, como ela falou. Entender qual é o meio de vida dessas pessoas. E quando eles voltam, eles voltam com uma bagagem muito grande”, explica.
Além dos requisitos do programa, a seleção de qual aluno irá participar inclui o conhecimento de inglês, que pode determinar o destino do estudante. “Nessa seleção, eles fazem uma análise em inglês fluente ou não destes estudantes. Nós, aqui de uma cidade interior, nós não temos tanto investimento dos pais no inglês dos filhos. E acaba que, às vezes, outras cidades que se dão mais e melhor, acabam indo para outros centros que falam muito rápido o inglês e é diferente. A Nova Zelândia é um dos melhores países a nível mundial na educação”, conta a diretora.
O estudante precisa se adaptar ao currículo do país. Na volta para o Brasil, é realizado uma avaliação para verificar se o aluno precisa de uma complementação antes de voltar aos estudos normais nas escolas brasileiras.
“Nós não vamos conseguir entrar no intercâmbio e modificar o estudo de lá. Ela vai ter que se adaptar à grade curricular que existe lá. Depois que ela volta é feito uma outra análise com toda uma documentação. Tem uma banca que avalia. E aí sim ela vai voltar para o estudo dela, sem ter nenhum prejuízo legal. Nem faltas, nos conteúdos que ela perdeu. Ela vai ter como refazer esses conteúdos que ela perdeu, para que ela não tenha nenhum prejuízo na vida acadêmica dela durante esses seis meses. Então, adaptar lá não. Mas quando ela volta para cá, nós teremos que adaptar. Porque, com certeza, a grade curricular, as disciplinas do curso que ela faz, que é a formação de docentes, claro que não vão estar contempladas lá especificamente igual. Mas quando volta, fazemos todo um trabalho com uma comissão de profissionais da escola para que possamos acolher e para que eles consigam seguir os estudos aqui, sem nenhum prejuízo acadêmico”, explica a diretora.
O Ensino Médio da Nova Zelândia tem o formato parecido com o Ensino Médio dos Estados Unidos. O aluno se matricula em algumas aulas obrigatórias, mas pode escolher outras aulas que estão disponibilizadas para seu ano de formação. Luana conta que já decidiu cursar drama, dança, vôlei, patinação e biologia. “De matéria obrigatória, precisamos fazer ensino religioso, matemática e inglês. De resto, eu posso escolher drama, esporte, biologia, física, dança e, provavelmente, eu vou querer fazer algum esporte porque eu não vou querer ficar parada lá muito tempo não”, conta.
Luana viajou no sábado para Curitiba de onde seguiu até o Chile. Lá, ela fez uma conexão até a cidade de Auckland, na Nova Zelândia. Para chegar na cidade onde fará o intercâmbio, a estudante ainda embarcou de Auckland para a cidade de Palmerston, onde vai para o seu destino final, na cidade de Whanganui, em que ficará nos próximos seis meses.
Para Luana, a experiência irá contribuir para o seu futuro que deve seguir na área de educação. “O meu sonho profissional é conseguir trabalhar com algo que faça a diferença. Eu sou de formação de docente e eu acredito muito na educação. Até porque não tem como você ser um intercambista, sem acreditar na educação. Para mim, eu acho que a educação muda a vida de muitas pessoas. E quando você percebe que você é um adolescente e te falam: ‘Nossa, mas você está estudando, você não está saindo, você precisa manter o equilíbrio’. Para mim, o meu sonho é trabalhar com algo que faça a diferença na educação das pessoas. Eu vou querer matemática ou relações internacionais”, conta.