Divisão geográfica que denomina região como Centro-Sul foi feita pelo IBGE em 1968 e acabou institucionalizada pela criação da Amcespar, que adotou a nomenclatura com base nesse critério
Edilson Kernicki, com reportagem de Rodrigo Zub
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Único município da Amcespar que pertence ao Centro-Sul é Inácio Martins
A divisão geográfica das mesorregiões do Estado do Paraná envolve algumas divergências, como é o caso da dúvida levantada pelo ouvinte da Najuá, José Augusto Gueltes, morador de Rio Azul. Ele questiona o fato de, convencionalmente, nos referirmos à nossa região como Centro-Sul enquanto que, na capital, ela acaba sendo denominada como Sudeste.
Para melhor compreender a questão, procuramos o professor Zaqueu Luís Bobato, do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro). De acordo com ele, as divisões geográficas no Brasil permitem uma orientação geral para definir recortes espaciais, com diversas finalidades. “No caso aqui de Irati, é interessante, porque no ano de 1983 foi fundada a Amcespar – Associação dos Municípios do Centro-Sul do Paraná. Nessa época, a criação da Amcespar levou em consideração, obviamente, a regionalização do IBGE, que foi a de 1968, publicada em 1969”, explica.
Entretanto, com o passar do tempo, o IBGE adotou novos critérios que o levou a repensar a regionalização do Estado. Um estudo realizado em 1989 e publicado em 1990 acabou reorganizando essa divisão geográfica do Paraná em mesorregiões e o até então Centro-Sul passou a ser denominado Sudeste do Paraná. “Portanto, nossa região aqui, levando em consideração os critérios adotados pelo IBGE, nós pertencemos ao Sudeste do Estado”, reforça.
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Paraná é dividido em 39 mesorregiões
Segundo o professor, o equívoco reside em considerar municípios como Irati, Imbituva, Ivaí, Guamiranga e Prudentópolis como sendo Centro-Sul. O que justifica o fato é que esses municípios pertencem à Associação dos Municípios do Centro-Sul do Paraná (Amcespar), a partir de critérios político-administrativos – e não geográficos – autodenominando-se como Centro-Sul sem se readequar, posteriormente, a essa nova proposta do IBGE. Já municípios como Inácio Martins, Guarapuava e Pitanga, por exemplo, fazem parte do Centro-Sul, de fato, e são dessa forma reconhecidos em outras regiões do Estado.
“É comum em bancas, defesas de pós-graduação, inclusive, alunos aqui caracterizarem a região de Centro-Sul sem definir que é o critério da Amcespar, o que gera equívoco. Um professor que vem de fora vai considerar o que diz o IBGE”, comenta.
Zaqueu sugere que os prefeitos da Amcespar deveriam atualizar a denominação da associação, levando em conta o critério adotado pelo IBGE, que é o oficial para demarcar as regiões. Entre os municípios da Amcespar, o único que, de fato, integra o Centro-Sul paranaense é Inácio Martins. “Ela serve como parâmetro para políticas públicas. Será que o Governo Federal, quando alguém leva alguma sugestão, uma reivindicação, se referindo a aqui como Centro-Sul, será que eles vão mesmo considerar como Centro-Sul?”, questiona.
Sobre o fato de que essa nomenclatura da divisão regional do Paraná não ser tão debatida nas escolas, Zaqueu associa à confecção dos livros didáticos, que é feita em editoras situadas em grandes centros, como Rio de Janeiro em São Paulo, onde a Amcespar talvez nem seja conhecida.
Politicamente, o professor descarta a possibilidade de que esse equívoco na nomenclatura possa prejudicar a região quanto a investimentos do governo estadual e federal. “Eles têm essa dimensão e trabalham a partir do que é oficial. O equívoco maior se situa no âmbito do dia a dia das pessoas, por uma questão de localização, para se referir à nossa região, para reivindicar algo”, comenta. Ele cita o fato de as pessoas se reportarem a deputados federais e manifestarem que “a região Centro-Sul necessita disso”. Zaqueu questiona se o deputado federal consideraria o Centro-Sul tomando a Amcespar por critério ou se levaria em conta a divisão regional do IBGE. “Acredito que ele vá levar em consideração a regionalização oficial. Neste sentido, a importância de pensar uma padronização, para que não se gerem esses equívocos”, opina.
O professor considera que ao se referir ao Centro-Sul, tanto um político quanto um estudante, por exemplo, é necessário deixar bem claro qual é o critério adotado: se pautada na abrangência da Amcespar ou se pelo critério do IBGE. “Isso, sobretudo, no meio acadêmico, nos trabalhos monográficos, nas dissertações, nas teses, se você afirma que aqui é o Centro-Sul, deixe bem claro que você está pautado num critério político-administrativo da Amcespar. Agora se quer destacar que aqui é o Sudeste, deixe bem claro que leva em consideração a definição do IBGE e que o IPARDES (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social) também adotou”, recomenda o professor.
Microrregião de Irati
Cada mesorregião é subdividida em microrregiões. Ao todo, o Paraná é dividido em 39 microrregiões, explica o professor Zaqueu. “O IBGE caracteriza uma região a partir da similaridade econômica, cultural, distribuição de renda, de terra. Ou seja, a microrregião geográfica de Irati – e aí Irati leva a denominação da microrregião – possui municípios que a configuram: Rio Azul, Rebouças e Mallet. Esses municípios formam essa microrregião porque há uma característica, certa homogeneidade no sentido econômico, de pequena propriedade, questões culturais”, explica.
Outra microrregião próxima é a de Prudentópolis, que reúne em torno de si municípios com características similares: Imbituva, Ipiranga, Guamiranga e Ivaí. “O interessante é que Teixeira Soares e Fernandes Pinheiro fazem parte dessa microrregião prudentopolitana”, indica. Boa parte dessas 39 microrregiões reúne em torno de cinco a seis municípios, segundo características e especificidades que as aproximam.
“O IPARDES produziu uma regionalização administrativa, que é uma regionalização política. Dentro dessa regionalização administrativa, Irati passa a ter mais municípios, além daqueles que compõem a micro. Imbituva passa a integrar também, assim como Teixeira Soares, Guamiranga. Ou seja, há outra regionalização, que é administrativa. Mas reitero que, para nós, o que interessa, para nossa localização, para nos situar, se você é munícipe de Irati, você pertence à mesorregião Sudeste do Paraná e está na microrregião de Irati, que é composta, portanto, pelos municípios de Irati, Rio Azul, Rebouças e Mallet”, salienta.
Zaqueu recomenda que os professores tanto na Rede Municipal quanto na Rede Estadual de ensino levem esse debate às salas de aula, para que os alunos tenham a dimensão das mudanças e das reconfigurações territoriais promovidas pelo IBGE há mais de 25 anos.
© Rodrigo Zub
Professor Zaqueu Luís Bobato foi consultado pela reportagem da Najuá para esclarecer dúvida: estamos no Centro-Sul ou Sudeste do Paraná?