45 funcionários estão envolvidos na farra das passagens aéreas

Investigação envolve comissionados de 3 deputados federais paranaenses. Ao todo, 39 parlamentares são citados na…

06 de janeiro de 2010 às 13h03m

Investigação envolve comissionados de 3 deputados federais paranaenses. Ao todo, 39 parlamentares são citados na sindicância

Euclides Lucas Garcia – Gazeta do Povo

Quase nove meses depois de a farra das passagens aéreas vir a público na Câmara Federal, a Comissão de Sindicância da Casa investiga a participação de 45 servidores que seriam os responsáveis pelo escândalo. Os funcionários são ligados aos gabinetes de 39 parlamentares, entres eles três do Paraná: Affonso Camargo (PSDB), Cezar Silvestri (PPS) e Dilceu Sperafico (PP). De acordo com informações divulgadas pelo site Congresso em Foco, nenhum dos deputados paranaenses está sendo investigado por participação direta no caso. Os três negam qualquer envolvimento no esquema ilegal de venda de bilhetes da cota parlamentar.

A decisão de abrir processo contra 44 servidores – um deles faleceu e teve o caso arquivado – foi tomada pela direção da Câmara após analisar o relatório da Comissão de Sindicância, que é mantido em sigilo. Desse total, 15 continuam trabalhando na Casa e receberam, em sua maioria, aumentos salariais nos últimos meses. Dezenove funcionários acabaram demitidos depois da repercussão negativa do caso, enquanto outros dez já tinham deixado a Câmara antes do escândalo.
Além dos servidores, pelo menos oito deputados também são investigados pelo órgão. Até agora, apenas Eugênio Rabelo (PR-CE) teve o processo arquivado.

Sperafico

Representante do estado que mais utilizou bilhetes para fora do país – 17 no total, para Londres, Paris e Miami –, Dilceu Sperafico afirmou que seu ex-funcionário sob investigação, Vilmar Covatti, garantiu não ter cometido irregularidades na emissão das passagens. O ex-servidor é investigado se usou o cargo de secretário parlamentar para proveito pessoal ou de outras pessoas “em detrimento da dignidade da função”, se agiu “de forma desidiosa” (foi negligente) e se descumpriu os deveres de lealdade à Câmara. “Ele (Covatti) já fez sua defesa e, agora, vamos aguardar a posição que a Câmara irá tomar”, disse Sperafico. “A saída dele não teve relação com as passagens, já que ele saiu antes disso (em fevereiro de 2009).”

Durante toda a tarde de ontem, Covatti não foi encontrado pela reportagem. Ao site Congresso em Foco, porém, ele declarou que “nada foi feito de errado” e que “isso vai ser apresentado na comissão exclusivamente. Não tenho nada que declarar à imprensa”.

Silvestri

Cézar Silvestri, que emitiu 16 bilhetes para fora do Brasil (Londres e Buenos Aires), argumentou que as 10 passagens à Argentina em nome de uma mesma família foram comercializadas de forma irregular pelo jornalista Paulo Cruz, que prestava assessoria ao seu gabinete. Segundo o deputado, sua funcionária que está sob investigação, Clenúbia Maria Rodrigues, foi autorizada a repassar bilhetes a Cruz, mas, em vez de emitir a requisição em nome do jornalista, forneceu as passagens em forma de crédito, no valor de R$ 1,8 mil. “Depois disso, ele (Cruz) usou esse recurso indevidamente e com má-fé. Ela (Clenúbia) trabalha comigo há sete anos e nunca se envolveu em nenhum problema”, afirmou. “Agora, ele (Cruz) vai ter que esclarecer à Câmara como essas passagens foram parar nas mãos dessa família, que eu sequer conheço.”

Paulo Cruz, por outro lado, rebateu as declarações do parlamentar e disse não estar envolvido em irregularidades. Ele contou que, enquanto assessorava Silvestri, recebia uma passagem mensal de ida e volta para o trecho Brasília-Curitiba. “Um bilhete de, no máximo, R$ 700 não paga R$ 1.800. O valor que recebi sempre foi o mesmo e as passagens saíam no meu nome”, defendeu-se. “O deputado está querendo se livrar de uma situação incômoda, mas não me preocupo com isso.”

Silvestri confirmou que repassava passagens a Cruz, mas a cada 60 dias. De acordo com ele, os bilhetes supostamente comercializados indevidamente pelo jornalista pagaram, na verdade, as taxas de embarque das passagens emitidas para Buenos Aires em nome da família Bertolino.

Camargo

Affonso Camargo, cujo gabinete emitiu cinco passagens para Miami e Milão, contou que demitiu o funcionário envolvido no esquema, Rogério Pedrosa de Assis. Segundo o parlamentar, o ex-servidor era o responsável pela emissão dos bilhetes e, portanto, não houve outra alternativa a não ser demiti-lo. “Por que ele fez isso, como fez, não cabia a mim fazer esse tipo de sindicância. O que eu podia fazer era mandá-lo embora”, explicou. “Fiquei convicto de que ele era o culpado e o demiti no mesmo dia. Depois disso, sinceramente, não sei o que aconteceu.” O ex-funcionário do parlamentar tucano não foi encontrado pela reportagem para comentar o caso.

Inicialmente, todos os servidores seriam ouvidos até 27 de dezembro, mas, devido à suspensão dos trabalhos da Comissão de Sindicância no Natal e no Ano Novo, é possível que sejam dados mais 30 ou 60 dias para a conclusão dos trabalhos.
Senado

Em mais uma manobra silenciosa, a Mesa Diretora do Senado concedeu aos senadores um benefício em 2010, ano eleitoral: a possibilidade de usar a verba de passagem aérea que não foi utilizada em 2009. Essa prática havia sido proibida num ato aprovado em abril do ano passado que criou novas regras para o uso dos bilhetes depois do escândalo conhecido como “farra das passagens”. No dia 17 de dezembro, sem alarde, a Mesa Diretora recuou e autorizou os senadores a usarem a sobra de 2009 em 2010, aumentando a cota num ano em que 54 das 81 cadeiras do Senado serão renovadas nas eleições de outubro. 
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