2º Encontro Estadual das Benzedeiras acontece neste fim de semana em Irati

Evento será realizado no sábado e domingo na Faculdade São Vicente. Objetivo do encontro é…

07 de novembro de 2024 às 23h18m

Evento será realizado no sábado e domingo na Faculdade São Vicente. Objetivo do encontro é compartilhar conhecimentos ancestrais/Texto de Karin Franco, com entrevista de Paulo Sava e Juarez Oliveira

Milene Aparecida Padilha e Rosalina Gomes dos Santos, que são representantes do MASA, falaram sobre os objetivos do Encontro Estadual das Benzedeiras em participação no programa “Meio Dia em Notícias” da Super Najuá. Foto: João Geraldo Mitz (Magoo)

O 2º Encontro Estadual das Benzedeiras acontece no sábado (09) e domingo (10) no auditório da Faculdade São Vicente, em Irati. O evento é organizado pelo Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA).

Em entrevista à Najuá, a representante do MASA, Milene Aparecida Padilha, explicou que o objetivo é compartilhar conhecimentos ancestrais. “O principal objetivo do nosso 2º Encontro Estadual das Benzedeiras é realmente fazer a partilha, a troca de saberes e conhecimentos tradicionais populares entre as benzedeiras e entre as pessoas que são aprendizes também. As pessoas que gostam de cultivar as ervas medicinais, que gostam de cuidar da água, que gostam de fazer algum tipo de massagem, de fazer alguma terapia holística, prática tradicional e querem aprender mais sobre o ofício do benzer, o ofício do cantar, o ofício do rezar. A principal proposta do nosso encontro é a partilha de saberes”, conta.

A programação inicia no sábado, às 8 h, com a recepção dos participantes. Às 9 h, acontece a Mística de abertura. Em seguida, às 10 h, será a vez da apresentação das caravanas, dos grupos e movimentos. Às 10h30, inicia-se a mesa de abertura. Já o almoço será servido ao meio-dia.

À tarde, a programação será retomada às 14 h com a apresentação da Romaria de São Gonçalo. Das 14h30 às 15h45 acontecem as oficinas que serão promovidas pelo MASA. Já entre às 16 e 17h45 serão oferecidas oficinas ministradas por visitantes.

Nas oficinas, os participantes terão a oportunidade de conhecer várias técnicas de benzimento. Serão oferecidas oficinas de Costura de machucadura e como tirar quebrante; Cone de ouvido; Como fazer Garrafada, Olina, Específico e Xarope; Harmonização pela cera; Limpeza do Organismo e Intestino segundo Ayurveda; Fitoterapia, o encontro da ciência com os saberes ancestrais; além da oficina Despertar para a arte do benzer, uma meditação com os tambores xamânicos para despertar a benzedeira/benzedor.

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Entre as oficinas, haverá um intervalo para o Café da Tarde às 15h45. A programação termina às 18 h, com mística de encerramento do dia.

No domingo, às 9 h, será servido o Café da Manhã. Às 9h30 acontecerá a Mística de abertura. Às 10 h está programada uma Roda de Conversa, com troca de experiências, saberes e práticas. Às 11 h, acontece a benção das plantas medicinais. Na oportunidade, os participantes poderão trocar mudas de plantas medicinais. O encerramento do evento acontece ao meio-dia com um almoço compartilhado. “No almoço do domingo, nós vamos fazer um almoço da partilha. É importante que cada um leve um prato de alimento para compartilhar com todo mundo, leve seu talher, leve seu prato, leve o seu copo, porque quando partilhamos, nós multiplicamos”, comenta Milene.

A expectativa é que o evento receba pessoas do Paraná e de outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. No ano passado, cerca de 300 pessoas participaram do evento.

Neste ano, o encontro terá uma taxa de inscrição de R$ 20 a R$ 25. Milene explicou que a taxa é cobrada para pagar os custos do evento. “Da vez passada nós não cobramos, mas, infelizmente, temos alguns custos com a manutenção do próprio evento, a impressão de banner, cartazes. Nós precisamos adquirir algumas ervas medicinais, para as próprias oficinas, potinhos e embalagens. Nós temos alguns custos e como o movimento não tem nenhum subsídio (nós conseguimos os recursos através das leis de incentivo), nós vamos precisar cobrar dessa vez para custear o custo com o evento, o aluguel do espaço, o som, a iluminação. Então, é entre R$ 20 e R$ 25 a taxa de inscrição”, explica a integrante do MASA.

A inscrição pode ser feita por meio de um link disponibilizado no perfil do Instagram @movimentobenzedeirasparana. O link também pode ser obtido no grupo do WhatsAapp chamado “Encontrão das Benzedeiras”. Para entrar no grupo, é só acessar o link do WhatsApp disponível no perfil do Instagram. O link de inscrição também pode ser fornecido nos números de WhatsApp das representantes do MAPA: 9-8427-9867 (Milene) ou 9-9946-3451 (Rosalina). Também haverá inscrição na hora do evento.

As pessoas que não moram em Irati podem obter mais informações sobre hospedagem e alimentação por meio do grupo no WhatsApp. “Para você que vem de fora e pensa em pernoitar, nós temos um link, onde estamos disponibilizando a lista com todos os hotéis, que selecionamos os mais próximos do São Vicente. Também todos os restaurantes e lanchonetes, para que quem venha de fora possa pernoitar, possa se abrigar e também possa fazer sua refeição com calma e tranquilidade. Nós já pensamos em fazer um horário de almoço também mais espaçado entre meio dia e duas horas, para as pessoas se organizarem, quem vem de fora. Não teremos alojamento dessa vez, na vez passada tivemos alojamento, dessa vez não vai ser possível ter alojamento. Mas temos uma lista, temos um grupo de WhatsApp”, conta Milene.

MASA: O Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA) completa 15 anos em 2024. O grupo busca a autonomia e preservação do conhecimento das benzedeiras. O movimento mapeou em todo o estado mais de 600 benzedeiras.

O grupo é reconhecido como patrimônio cultural do Paraná, mas não possui subsídios. Os recursos são obtidos por meio de editais. “Nós inscrevemos projetos para captação de recursos de leis estaduais, federais, municipais, para podermos fazer os encontros, para podermos fazer cartilha, para podermos fazer encontros nas comunidades. A própria festa do Monge João Maria, que foi agora dia 1º de setembro, em Rebouças, foi muito linda também”, conta Milene.

O MASA já participou de editais e foi contemplado nas leis Paulo Gustavo e Sérgio Manberti. No entanto, Milene conta que os recursos não são suficientes. “Os projetos nem sempre garantem o recurso necessário para fazermos todas as atividades. Por exemplo, na Festa do Monge, foram gastos quase R$ 10 mil para fazer a festa porque não teve apoio do Poder Público, por conta de ser ano eleitoral. Fica difícil. O movimento também precisa caminhar com essa autonomia financeira. Termos um histórico de atuação, termos o nosso recurso financeiro para que possamos desenvolver as nossas atividades. A partir do momento que ficamos amarrados com o Poder Público, nós ficamos engessados. Existem algumas coisas não podemos fazer porque aquele é o limite da possibilidade dentro do Poder Público, dentro das leis. Mas, tendo autonomia financeira, nós podemos falar que o nosso encontro vai ser assim, vai ser desse jeito, vai ter essa programação. Quem fala, quem não fala”, afirma.

Milene destaca que a intenção é dar continuidade a uma tradição. “O Movimento Aprendizes da Sabedoria, o MASA, como chamamos, é um movimento aqui da região Centro-Sul do Paraná. Em 2024, nós estamos comemorando os nossos 15 anos de existência, desde 2008 estamos na trajetória. E queremos falar sobre a nossa região, que é a Floresta das Araucárias, e também queremos falar sobre os saberes e as práticas tradicionais das mulheres, porque o Movimento Aprendizes da Sabedoria é 90% constituído por mulheres. Temos os homens, temos os benzedores, os romeiros, os capelãos, mas ele é 90% constituído por mulheres. Vamos reverenciar a Floresta de Araucária e vamos reverenciar o saber tradicional dessa mulherada de fé”, disse.

Rosalina Gomes dos Santos, mais conhecida como Dona Rosinha, é uma das representantes do MASA e relembra que no passado, as benzedeiras foram discriminadas na região. “É que antigamente nós não tínhamos liberdade. Éramos discriminadas. Éramos tomadas de bruxa, feiticeira”, conta.

Com o movimento, Dona Rosinha destaca que as benzedeiras passaram a ter mais autonomia, com a aquisição de carteirinhas em Irati, Rebouças e São João do Triunfo. “Hoje nós temos as carteirinhas para entregar às benzedeiras, benzedores. Para poder ir até no hospital fazer uma oração, se for pedido pela família. Para nós, o objetivo foi esse. Saber que tem uma carteirinha, que nós podemos sair e ir até no hospital, fazer um benzimento ou fazer uma oração para pessoa que, às vezes, está precisando apenas daquela oração para descansar”, destaca.

Milene conta como o saber das benzedeiras está conectado com a região. “Quando falamos de benzedeira, é muito comum que as pessoas tenham preconceito. Porque o preconceito, ele está aí. Não só com benzimento, mas com várias coisas. A prática do saber tradicional está tão enraizada no nosso dia a dia, que fazemos as coisas e não nos damos conta de que aquilo é uma prática tradicional. Quando eu vou na minha casa, no quintal, colho um boldo e maceto na água fria para tomar para o estômago, é porque é um conhecimento tradicional. Alguém me ensinou que aquilo faz bem. Não precisa eu pegar um Omeprazol na UPA. E eu vou desafogar a fila do SUS”, conta.

Um dos objetivos do movimento é permanecer com a tradição das benzedeiras na região. Com o envelhecimento de muitas benzedeiras, o conhecimento não tem sido passado para as novas gerações. Por isso, o movimento busca com eventos, como este do fim de semana, de dar continuidade a este projeto de levar a sabedoria do benzer a mais pessoas, como explica Milene. “Precisamos de aprendizes. Eu, inclusive, sou uma aprendiz. Eu gosto muito das ervas, mas eu acredito que eu sempre vou ser uma aprendiz. Porque para chegar como essas mãezonas são, é muita trajetória. Mas precisamos de aprendizes, precisamos de pessoas novas, que se interessem, que queiram engajar”, explica.

O movimento também tem aceitado integrantes de todas as religiões para continuar com a tradição das benzedeiras. “O Movimento Aprendiz da Sabedoria não tem religião. Nós temos fé. O nosso lema é: cuidar da vida é a nossa missão. Nós temos benzedeiras católicas, nós temos benzedeiras que são da umbanda, do candomblé, nós temos mães de santo que participam dos nossos eventos, nós temos pais de santo que participam, como também nós temos pessoas evangélicas. Claro que eu não vou dizer, não vou contar o nome do santo, mas as pessoas evangélicas também se interessam. Se interessam pelo benzer? Não. Se interessam pelas ervas medicinais. Querem aprender como usar a erva medicinal que tem no quintal de casa, no jardim, como cultivar, como plantar, e se interessaram pelo plantio do alimento, porque a nossa saúde também começa pelo que comemos. O teu prato diz muito sobre você. Se come veneno, você está se envenenando. Tudo isso o movimento cuida”, disse Milene.

Para as benzedeiras, a história do movimento nos últimos anos está ligada à história das benzedeiras na região. “O movimento tem uma história. Pra nós, ele tem uma história. E ele é infinito. Ele não tem fim”, destaca Dona Rosinha.

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