Programação em homenagem ao Monge João Maria conta com atividades religiosas, como romaria e batizados. Evento será realizado no parque ambiental de Rebouças/Texto de Karin Franco, com reportagem de Rodrigo Zub e Juarez Oliveira

No sábado (19) acontece a 2ª edição da Festa do Monge João Maria no parque ambiental de Rebouças. O evento é organizado pelo Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA) em homenagem ao santo popular Monge João Maria.

A programação no sábado contará com atividades religiosas e uma romaria. “É uma festa para oração, para devoção, para rezar um terço, para participar de uma Romaria de Santo, para agradecer as graças recebidas pelo monge, para fazer promessa, para fazer batizado no Olho d’Água também”, disse a assessora técnica do MASA, Milene Aparecida Galvão.

As atividades iniciam às 8 h, com uma procissão em homenagem ao monge, saindo do cristo até o parque ambiental Monge Joao Maria. Às 9 h, acontece a reza de um terço em homenagem ao monge. Já às 9h30 será realizado o Café da Partilha no parque. “Você vai levar sua caneca, seu talher e seu prato. Se você puder, você vai levar também alguma coisa para o café, para você partilhar. Não precisa ser muita coisa porque quando falamos em Café da Partilha, se cada um levar um pouquinho, todo mundo come de tudo e sempre sobra. É estilo tradicional. Você leva teus talheres, teu prato, teu copo e leva alguma coisa para partilhar no café”, explica Milene.

A programação segue com uma caminhada ecológica no parque ambiental a partir das 10h30. Às 11h30, inicia a partilha dos milagres do monge. “Nesse momento, as pessoas vão contar as graças que receberam, promessas que fizeram e foram alcançadas. Vai ser um momento de partilha de milagres”, conta a assessora técnica do MASA.

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Às 12 h ocorre o almoço. “Para o almoço, vamos fazer uma farofa com pão caseiro, um suco e uma salada. Cada um se serve. Por isso que é importante cada um levar seu prato, seu talher e seu copo porque como falamos de natureza, precisamos pensar o ecologicamente correto. Quando levamos o nosso prato, o nosso utensílio, evitamos de produzir lixo”, afirma Milene.

Às 13h30, também haverá um momento para batizados no Olho D’Água. “As pessoas podem levar crianças, podem participar pessoas mais velhas também. Quem não recebeu o sacramento do batismo na igreja, o batismo em casa, o batismo no Olho d’Água, podem ir lá, as benzedeiras vão organizar as pessoas que quiserem se batizar, que quiserem receber uma benção, vão fazer o batismo nos moldes tradicionais”, conta.

Durante as atividades, os fiéis também poderão levar pequenas garrafas para pegar água do Olho D’Água do parque ambiental.

Ainda durante a tarde, a partir das 15 h, acontece a apresentação da Romaria de São Gonçalo, um evento que reúne os fiéis devotos do santo São Gonçalo de Amarante. Nesta romaria, os fiéis que tiveram um pedido atendido pelo santo agradecem por meio de uma reza cantada. “A romaria tem toda uma trajetória para ser feita. Se chama valseada. É feito um altar com São Gonçalo, é um santinho que tem um violão, na imagem dele é um santo com violão e elas colocam bastante fitas coloridas em volta dele, acendem a vela e colocam ele na mesa. É montado um par, um homem e uma mulher. Eles fazem uma fileira e tem uma forma de dançar. Os pares vão dançando, chegam na mesa, abaixam a cabeça em reverência ao santo e não pode dar as costas. Você vai com o teu par, até o santo, reverencia ele e você troca de lugar, de frente e volta para que o próximo casal possa ir para frente, sempre sem dar as costas para o santo”, conta Milena.

O evento ainda contará com a troca de mudas de plantas medicinais. “Cada pessoa que tem uma muda na sua casa, pode levar na festa, que vai ter um momento de fazermos uma mandala, uma mística que chamamos e colocar todas as nossas mudas ali no meio. Num dado momento, nos reunimos, abençoamos as mudas que estão ali e cada um pode pegar outra muda que não tem, que queira levar para casa, podem levar”, explica.

Todas as atividades acontecem no parque ambiental Monge João Maria que foi criado em homenagem ao santo popular. O Monge João Maria é uma figura histórica que esteve presente nos estados de Santa Catarina e Paraná no final do século XIX. Na crença popular, o monge é representado por três figuras, mas historiadores acreditam que havia apenas um monge. “O que se sabe é que foi uma figura, uma liderança muito importante tanto religiosa como política durante a Guerra do Contestado e que passou pelos Estados do Paraná e Santa Catarina, sempre lutando em favor dos mais pobres”, conta Milene, que é graduada em História.

Para os devotos, o Monge João Maria realizava milagres enquanto estava vivo. Segundo a lenda, onde o monge dormia nasciam olhos d’água que possuíam uma água cristalina e milagrosa. “O monge era uma figura religiosa muito importante. Ele se hospedava na casa das pessoas e ele se alimentava da comida mais simples possível. As benzedeiras contam que onde ele dormia nascia um olho d’água, nascia um pé de couve, nascia uma roseira. Isso vai da fé de cada um, da crença de cada um, mas onde você vai e tem um olho d’água, tem uma roseira ou tem um pé de couve perto”, explica.

A criação do parque ambiental também está ligada ao monge. De acordo com as benzedeiras, o local possuía várias nascentes de Olhos d’Água, considerados locais de devoção pelos fiéis que acreditam que a água é abençoada pelo monge. Após uma luta das benzedeiras, o local se tornou uma reserva de preservação permanente e possui uma estrutura para receber visitação, com banheiros e quiosque.

O local ainda possui uma escultura de dois metros de altura do monge e uma gruta onde há uma fonte de água preservada, além de espaço para acendimento de velas. Agora, o espaço é palco das comemorações da Festa do Monge João Maria.

A festa é organizada pelo Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA), criado em 2008 a partir da reunião de homens e mulheres que conhecem as práticas e saberes dos ofícios tradicionais de cura e reza. “Os famosos e famosas benzedeiras, benzedores, costureiras de machucado, de rendidura, parteiras. Ele surge da demanda dos povos faxinalenses, através das reuniões que existiam dos povos faxinalentes em 2006 e 2007, justamente com o objetivo de fortalecer a comunidade que já tinha essas práticas de curas, esses dons e esses ofícios. Se organizaram em um movimento social”, conta.

Com reconhecimento estadual e municipal, o movimento social busca por reconhecimento federal da atuação das benzedeiras. O trabalho do movimento pode ser acompanhado no Instagram no perfil @movimentobenzedeirasparana.