Evento será realizado nesta quarta-feira (11), às 19 h, na Câmara Municipal
Edilson Kernicki, com reportagem de Jussara Harmuch e Paulo Henrique Sava
Em alusão ao Dia Internacional da Mulher, será promovido nesta quarta (11), às 19h, o “Painel Para Mulheres”, na Câmara de Irati. O evento, idealizado por lideranças femininas de variados segmentos e, inclusive, de partidos políticos, discute a importância da presença feminina na política local. Mulheres que atuam no cenário política de outros municípios virão para o painel, a fim de relatarem suas experiências.
Na contramão da maioria dos municípios que compõem a Amcespar, Irati e Guamiranga são os únicos sem nenhuma vereadora na atual legislatura. Rebouças, por sua vez, tem três vereadoras na composição da Mesa Diretora: Elizabete do Rocio Piani (presidente); Franciele Cararo Cabral (vice), que se afastou do cargo nesse mês para realizar tratamento de saúde, e Daniele da Conceição Andrade (secretária). A suplente Márcia Freitas também assumiu provisoriamente uma cadeira no legislativo reboucense durante o período de licença de 60 dias do vereador Roberto Túlio. Fernandes Pinheiro, Inácio Martins, Mallet, Prudentópolis, Rio Azul e Teixeira Soares possuem uma vereadora em cada Câmara Legislativa.
A última vez que Irati elegeu vereadoras foi há 20 anos, nas eleições de 2000, período em que havia 13 cadeiras no Legislativo. Poucas mulheres passaram pela Câmara de Irati: Avany Caggiano Santos (1963-1968); Severina Pereira da Silva (1983-1988), Ieda Regina Schimalesky Waydzik e Maria Helena Sékula Smolka (1993-1996), Márcia Podgurski (suplente, 1997-2000) e Maria Zuleika Onesko e Otília Setnarski (2001-2004).
No Poder Executivo, a situação piora: apenas o município de Fernandes Pinheiro tem uma prefeita: Cleonice Schuck. Em Teixeira Soares, Juliana Belinoski é a vice-prefeita e chegou a ocupar o cargo de prefeita em exercício. Guamiranga, no governo anterior, teve Telma Fenker como prefeita. Em Irati, Marisa Massa Lucas foi vice-prefeita na gestão de Sérgio Stoklos e atuou como prefeita em exercício.
No mais, sempre houve dificuldade em Irati, até mesmo, para efetivar candidaturas femininas ao Executivo: a ex-vereadora Ieda Waydzik foi a única mulher a concorrer ao cargo de prefeita, em 2012. Quatro anos depois, em 2016, nenhuma repetiu o feito. Das seis chapas concorrentes, em apenas duas havia mulheres candidatas a vice: Marli Traple, como vice de Nelsinho Antunes e Larissa Mazepa, como vice de Odilon Burgath, que concorria à reeleição.
A empresária Amanda Gryczynski, que integra o diretório local do PSD, destaca que o evento foi planejado nesse momento em que tanto se fala sobre a sororidade e empatia entre as mulheres, em contraposição a um estereótipo ultrapassado da competitividade feminina. “É preciso uma união, para fazer acontecer, para uma levantar a outra, uma apoiar a outra naquilo que for preciso. Com essa intenção, aproveitando esse momento em que Irati vivencia isso através de alguns grupos, alguns núcleos, pensei que seria prudente usarmos essa pré-candidatura para conscientizar as mulheres de que esse é um direito que já foi conquistado e que precisamos ocupar esse espaço”, afirma.
Segundo Amanda, a ideia, desde o início, era não restringir o debate apenas a um partido, mas chamar mulheres de vários partidos diferentes. “Entramos em contato com a Milene Galvão, do PSOL; com a Marli Traple, representando o PDT; a Lucimara, do PT; a Marina Leite, do PV e outras representantes de partidos, a fim de reunirmos o maior número possível de mulheres para, na quarta, discutirmos por que há essa resistência em ocupar o espaço na política”, diz.
A advogada Tânia Marina Vicente Leite, pré-candidata a vereadora pelo PV, participou da III Conferência Nacional da Mulher Advogada, realizada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no último fim de semana, em Fortaleza (CE). O evento teve como tema central “Igualdade, Liberdade e Sororidade” e abordou, também a inclusão da mulher na política. Marina aponta que muitas mulheres ainda se restringem à participação na política em função das demais responsabilidades diárias, como o trabalho e a casa.
“Acabamos pensando: para que mais um problema na vida, já que temos tantos? Confesso que carreguei este pensamento por muito tempo. No momento em que fui convidada a ser candidata a vereadora, minha primeira resposta foi ‘não’, justamente por esse pensamento. A deputada Leandre veio me convidar a ser candidata a vereadora do Partido Verde e eu disse, imediatamente, ‘não’, justamente com essa convicção: para que mais um problema na minha vida?”, admite Marina.
Em seguida, um novo pensamento ficou “martelando” na cabeça da advogada: qual o motivo da recusa em participar da política, uma vez que estava descontente com ela. “Se eu me tornar omissa, sou cúmplice desta política, que acredito que muitas pessoas não estão gostando do que estão vendo”, acrescenta.
“Acho que a mulher não tem participado da política porque ela acredita que a política é um ambiente masculino ainda. Precisamos quebrar esse tabu, porque hoje a mulher ocupa diversos cargos importantes: em multinacionais, no Exército, mulheres médicas, engenheiras… Por que não na política? Acredito que a mulher tenha diversas qualidades e virtudes, assim como o homem. Ninguém é melhor que ninguém e homem e mulher se complementam, não só na política, na empresa e na família, mas em todos os ambientes”, opina a advogada Rúbia Zarpellon, filiada ao PSD.
Amanda ressalta, ainda, que o movimento pretende desmistificar a ideia propagada há alguns anos de que “mulher não vota em mulher”. “Isso se tornou muito forte e causou certo medo em algumas mulheres, que até tinham vontade e um chamado político de sair [candidatas], pela falta de apoio que ela espera receber da própria mulher. Esse é o momento certo de apoiarmos as mulheres. Precisamos de representantes mulheres e vamos proporcionar muitas candidatas, com habilidades diferentes, que podem servir à comunidade nesse momento de transição e mudança”, afirma.
As organizadoras enfatizam que o evento não tem cunho partidário e que a intenção é encorajar as mulheres a participarem do pleito eleitoral, a fim de estimular o protagonismo feminino nas instâncias do poder. Mulheres filiadas a qualquer sigla – e mesmo as que ainda não são filiadas a nenhuma – são bem-vindas. “Nosso encontro não é para discutir partidos ou ideologias. É sobre o papel que a mulher precisa desenvolver e se apropriar”, comenta Amanda.
“Já aconteceu, sim, de por haver a obrigatoriedade [de 30% de candidatas] nos partidos de a mulher ser só ‘laranja’, mas porque ela consente. A partir do momento em que eu recebo convite para fazer parte de um partido, a primeira coisa que eu digo é que não vim para ser laranja; quero fazer minha contribuição nesse partido, ativamente”, acrescenta.