Como especialistas interpretam o endurecimento e afrouxamento das medidas para conter a pandemia

Se você chegou ao ponto que já não sabe mais em que acreditar, não deixe…

08 de maio de 2020 às 18h19m

Se você chegou ao ponto que já não sabe mais em que acreditar, não deixe de acompanhar o debate entre os infectologistas Marcelo Burattini e Arnaldo Lichenstein que divergem, mas também concordam em questões importantes da pandemia de Coronavírus.

Jussara Harmuch

Este texto relata a participação dos infectologistas Marcelo Burattini, professor da Universidade Federal de São Paulo – UFS e da Universidade de São Paulo – USP e Arnaldo Lichtenstein, diretor técnico do Hospital de Clínicas de São Paulo, no programa “Opinião” da TV Cultura, sob a condução foi da jornalista Andresa Boni, que abordou a questão do endurecimento e flexibilização das medidas para conter a pandemia de Coronavírus.

O programa foi ao ar na quarta-feira, 06 de maio, pela TV Cultura e pelos canais da emissora na internet. Você pode assistir na íntegra acessando o vídeo no final desta matéria.

Ambos concordam que a quarentena adotada em boa parte das cidades, como foi em especial na cidade de São Paulo, achatou a curva que vinha crescendo em sentido exponencial.

O isolamento quebrou o componente exponencial. O mal é que ela vai afetar a população tanto quanto deveria se afetar. A pergunta é quanto tempo a população e o governo vão conseguir manter as medidas propostas até agora, inicia Dr. Marcelo Burattini.

O mundo optou por durante a epidemia proteger os vulneráveis com acesso à Saúde. Não há dúvidas que o isolamento social achatou a curva, a situação atual é melhor do que se não fosse adotado, pontua Dr. Lichtenstein.

UTI

Nunca se falou tanto em ventiladores e Unidades de terapia Intensiva – UTIs quanto agora, isso decorre do fato de que os poucos indivíduos que evoluem com quadros graves da doença precisarem de tratamento nestas unidades e o tempo de permanência nelas é grande, de 4 a 5 semanas, maior do que em outras doenças, e isso estrangula o sistema de Saúde.

A decisão pela flexibilização deve levar em conta a capacidade de comprometimento dos serviços e a taxa de ocupação das UTIs.

Favelas e barracos

O problema social do Brasil e África difere da Europa.

A Alemanha está saindo do isolamento, mas a taxa de ocupação de UTI está em 60% e se mantém nisso com ações de rastreando, com exame PCR (teste para detectar o vírus), rasteio via celular e isolamento de contatantes e, mais tarde, vai ser feito a sorologia para verificar se está perto da imunização de rebanho, diz Lichtenstein e completa, a mortalidade não vai ser só do Covid, vai ser dos pacientes com câncer, com infartos que não estão tendo acesso às UTIs, diz o Dr. Arnaldo Lichtenstein.

Só não concordo com saídas do tipo uma solução serve para todos. Uma das principais medidas deveria ser a flexibilização dos horários das atividades econômicas, escolas e transporte, por exemplo, em turnos, quebrando horário de picos. Não tem sentido reduzir o número de transporte coletivo porque mantém o ônibus lotado. Mas estas medidas só tem sentido junto de um planejamento de retomada de atividade econômica e temos que antes discutir os locais onde há concentração, shoppings, comércio de rua. Mas o comércio regional não aglomera tanto. Tudo isso deve ser feito de forma responsável, com [a adoção] máscaras, lavar mãos, [em coletivos] assentos um sim ou não, aponta Burattini.

Lichenstein assente com o que foi pontuado por Burattini, só não concorda de tomar esta decisão agora, ele está preocupado com o repique.

Mais uma vez o questionamento da quarentena

A opinião de outro médico, Dr. Anthony, que é pediatra, que não concorda com a quarentena e justifica que o Brasil é composto por gente jovem, foi trazida para o debate.

Todos que tentaram adiar medidas tiveram catástrofes, Estados Unidos, Inglaterra, Itália, comenta Lichenstein.

A quarentena é importante e achatou a curva, assente DR Marcelo Burattini, mas ele questiona se outras medidas de distanciamento social bem planejadas não poderiam ter o mesmo efeito que a quarentena.

O que eu questiono é se hoje não deveria prorrogar porque a pressão é focal, nos centros urbanos e não nas cidades menores, no interior. O estado de São Paulo SP hoje tem transmissão ativa em mais ou menos 30% dos municípios, quando começou tínhamos em 15%. Será que precisaria ser feito a quarentena em todos, como foi?

O matemático Tiago Pereira de matemática que faz parte de um grupo que estuda a evolução do Coronavirus no Brasil defende a quarentena, mas diz que o planejamento foi equivocado, mal planejado ou precoce.

A jornalista pergunta a respeito da forma mais rigorosa de isolamento que já está sendo aplicada em quatro cidades no Maranhão e alguns especialistas defendem adotar no Rio de Janeiro, o lockdown.

O Rio tem uma aglomeração enorme nas comunidades com histórico de corrupção e má administração. Mil pessoas esperando vagas de hospital e mais de 300 esperando UTI. No Rio fica inviável, é mais fácil fazer em cidades menores, apesar de que em Nova Iorque foi feito, mas é outra realidade, responde Dr. Arnaldo.

No Rio, 60% da população em casa estaria mais exposta do que fora porque vivem em aglomerados, eles não ficam em casa e sim circulando em torno, lembra o Dr. Marcelo.

Escolas

Em relação à atividade nos estabelecimentos escolares, em especial para os menores de 10 anos, que não são as maiores vítimas, os especialistas divergem totalmente.

A doença é menos grave, isso não quer dizer que são menos contaminadas e menos contaminantes. Acho [adequado] começar o retorno por esta faixa etária, quando for flexibilizar, opina Lichenstein.

A evidência acumulada hoje nos permite dizer que as crianças sim não só tem menos formas graves mas são menos infectadas do que a população adulta. Estudos mostraram que abaixo de 10 anos menos de 1% é positivo e entre 10 e 20 em torno de 5%. Aqui no Brasil a escola pública infantil não deveria ter sido fechada, questiona Burattini.

Combate

O combate da pandemia está calcado na ciência, na cidadania e na condução do governo, finaliza Lichenstein

Dr. Marcelo concorda e acrescenta que para que isso aconteça tem de haver credibilidade da população no gestor público.

Se a população perder a credibilidade adotando cada um por si as atitudes, aí se perde o controle da situação, finaliza Dr. Burattini, rechaçando o uso político da pandemia, que tem sido feito nas várias instâncias, finaliza Burattini.

Assista o programa na íntegra

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