Pesquisadores apontam que indicadores, planejamento urbano e integração entre universidades e comunidades são essenciais para o desenvolvimento das cidades do futuro/Paulo Sava

Resumo – Para os pesquisadores, é preciso que existam cidades sustentáveis e resilientes;
- Cidades inteligentes precisam ser pensadas com uma visão de planejamento e de foco humano que as tornem ativos ambientais, sociais e econômicos;
- Participação dos estudantes universitários em projetos de extensão é essencial.
Um estudo realizado pelo professor Thiago Spiri Ferreira apontou alguns fatores que podem ajudar a transformar os municípios em cidades sustentáveis e inteligentes, que é o objetivo 11 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Em entrevista à Najuá, o professor contou que o objetivo do estudo é fazer a relação entre desenvolvimento comunitário sob a luz das cidades e comunidades sustentáveis com a normativa NBR 37120, que coloca alguns indicadores. Para o professor, é preciso que existam as cidades sustentáveis e resilientes. Ele acredita que são tantos os conceitos para as cidades que a contribuição principal são os indicadores e práticas a serem seguidos.
“Ou seja, você já tem algumas ações a serem seguidas, não precisa reinventar a roda, mas readaptá-la para fazer com que ela tenha máxima eficiência. Esses indicadores, métricas e ações são possíveis e hoje a dificuldade dos gestores municipais, dos envolvidos, está em fazer com que os atores envolvidos façam os trabalhos. Pensando nas cidades inteligentes, temos vários indicadores e mapeamentos de dados e tudo o mais, um banco de dados cada vez maior, mas a dúvida é sobre quem é o responsável por analisar as ações”, frisou.
O pesquisador afirma que seu trabalho apresentou como contribuição as classificações sustentáveis das capitais brasileiras. “Elas são referências para as cidades metropolitanas. Dentro das capitais, tem algumas que, por serem cada vez maiores, mesmo assim a população não difere nas práticas de indicadores. Nós analisamos que, quanto mais ao sul, mais elas seguem essas práticas. É interessante e possível de fazer clusters dentro das classificações. A normativa classifica as cidades em níveis de execução dos seus indicadores e das ações a serem realizadas”, pontuou.
O objetivo é buscar cada vez mais cidades inteligentes, resilientes, sustentáveis e conectadas, de acordo com Thiago. “Às vezes olhamos para fora e trazemos estas ações, fazemos práticas, buscamos editais, fomentos públicos e tudo o mais. Esta seria uma visão positiva. Uma visão negativa como barreira de desenvolvimento seria a necessidade de mais envolvimento dos atores”, frisou.

O professor Diogo Luders Fernandes, coordenador da Incubadora Tecnológica da Unicentro, contou um pouco da pesquisa que fez sobre os planos diretores que transformaram Curitiba em uma cidade inteligente.
“Curitiba utilizou toda a inteligência urbana que ela tinha alinhando mobilidade urbana, meio ambiente e qualidade de vida, criando uma infraestrutura que serve para o cotidiano das pessoas que ali residem, mas que chamou tanto a atenção que acaba encantando os visitantes que vão até lá. Alguém pode falar que quem mora em Curitiba não vê toda esta beleza que todo mundo fala, mas quem a visita vê. É engraçado porque foi criado um imaginário, uma imagem da cidade de Curitiba como cidade sustentável e planejada que isto transcende quem mora na cidade e passa e é percebido desta forma por quem visita a cidade”, frisou.
Para Diogo, as cidades inteligentes precisam ser pensadas com uma visão de planejamento e de foco humano que as tornem ativos ambientais, sociais e econômicos. “Eu acho que as nossas cidades estão muito alinhadas neste perfil, aqui em Irati. Eu estava conversando com o prefeito Emiliano e ele disse que a nossa cidade, no ranking das sustentáveis, está em segundo lugar no Paraná. Ele até se assustou, pois imaginava que estivesse bem, mas não tanto assim. Foi uma grande satisfação o recebimento desta notícia pelos órgãos que estavam ali falando sobre o assunto. As nossas cidades estão trabalhando nesta linha”, pontuou.
Pesquisas regionais
Na região, a Agência de Desenvolvimento da Região Centro Sul (ADECSUL) busca soluções políticas e estratégicas voltadas para cidades sustentáveis. Segundo Diogo, toda vez que a universidade desenvolve um projeto de extensão, tem que alinhá-lo com algum objetivo de desenvolvimento sustentável. “Qual ODS este projeto ajuda a solucionar, ou amenizar? Qual o objetivo ele vai ajudar a atingir? Temos trabalhado nesta linha, e como a Unicentro tem um campo de atuação em todas as cidades da região, muitas delas recebem estes projetos focados neste viés da sustentabilidade”, comentou.
Para Thiago, a integração entre universidades e municípios é importante para a transformação das cidades.“Nós temos sete universidades estaduais, e além da pesquisa, elas trabalham a extensão com foco na comunidade, de como fortalecer algumas ações, ou seja. Levar a teoria até a prática na comunidade com resultados. Nós entendemos, como docentes, que é importante não ter somente eficiência no desenvolvimento da extensão, mas também ter critérios de eficácia, terminar o projeto bem, e de efetividade, de contribuir com a sociedade. Eu vejo assim como as universidades, despindo-se dos seus muros teóricos e fazendo suas relações com as comunidades que estão abertas a receber, cada vez mais novos projetos surgem”, destacou.
O professor Thiago enfatizou que o papel da comunidade na transformação das cidades em inteligentes e sustentáveis é fazer uma organização civil e abrir para fazer estas relações.“Se aquela comunidade está aberta para receber, eles colocam dentro das ações pautadas por um docente quais as principais barreiras que elas têm. Elencar isto e alguns itens nós levamos para os alunos e eles pensam em boas ideias, e aí começa esta relação cada vez mais crescente. Todas as vezes que terminamos um projeto de extensão, a pessoa pergunta quando começa de novo. Eu acho isto bem bacana”, frisou.
Diogo ressaltou que a participação dos estudantes universitários em projetos de extensão é essencial. “O projeto de extensão é muito gratificante para a gente que atua, pois vemos um resultado praticamente imediato. Conseguimos ver a contribuição que damos para a sociedade junto. A pesquisa científica às vezes demora mais tempo para trazer um resultado que realmente possa vir a ser efetivado na sociedade. Na extensão é diferente: você atua diretamente com os alunos junto à comunidade e consegue ver o resultado”, pontuou.